Meu Vizinho Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 7
Dor, dor e muita dor


Notas iniciais do capítulo

Mais um.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/126061/chapter/7

Lá estava eu nos meus últimos segundos de vida.

A lâmina da espada de Ares brilhava acima da cabeça dele, com o efeito da luz branca da sala de estar. Eu sentia cada parte do meu corpo doer.

Olhei para o lado. A qualquer momento ele poderia acabar comigo, por isso preferi não olhar.

Do lado direito da porta de entrada, tinha um arco enorme que mostrava a cozinha. Tão vazia e calma... Eu desejei com todas as forças que me restavam estar lá. Não parava de me culpar por ser tão estúpida. Como eu podia ter desafiado um Deus para uma briga?!

Eu olhei novamente para a espada. Não sei como explicar, mas podia ver tudo passando em câmera lenta. Assim que a espada começou a se aproximar de mim, eu fechei os meus olhos e esperei pelo golpe.

Fui surpreendida com um barulho alto. “Crack!”. O som de madeira sendo quebrada violentamente. Eu abri os olhos a tempo de ver que Ares tinha acertado o local exato onde eu estava.

Não, eu não estava morta.

Demorou um pouco para eu me tocar que tinha observado a cena de um ângulo diferente. Eu olhei em volta e notei que estava embaixo do portal que mostrava a entrada da cozinha. Ares tinha afundado a espada no chão no chão de madeira, quebrando-o.

Eu não tina a mínima idéia de como eu tinha parado ali. Foi aí que me lembrei do que meu pai tinha falado. Algo sobre eu ter poderes que nem mesmo conhecia. Ótima hora para eles virem á tona.

Obrigada! Obrigada mesmo!” Agradeci olhando para o teto. Esperava que Hermes ouvisse aquilo.

“O que?!” Rugiu Ares desapontado.

Ele olhou para o lado e me viu. Seu rosto foi tomado por surpresa, porém só por alguns segundos.

“Não ache que só porque você sabe um truque novo você vai fugir de mim.” Rugiu ele com raiva.

Odiava admitir, mas ele tinha razão. Com a mesma facilidade que teve para quebrar o chão de madeira, ele retirou a espada quebrando todas as minhas esperanças dela ter ficado presa lá.

“Você já era!” Anunciou ele andando na minha direção.

Eu olhei para o chão. Lá estava a minha bolsa. Perfeito, ou... Quase. Eu a peguei, mas ainda não tinha certeza do que iria querer.

“Um... Um... Escudo.” Desejei em silêncio, por fim.

Eu a abri e, por mais incrível e impossível que pareça, retirei de lá um escudo feito de prata. Tinha alguns desenhos gregos enfeitando-o, mas isso não era o mais importante para mim naquele momento.

Ares investiu outro golpe na minha direção, e eu consegui defender com o escudo. Ele ficou irritado, e atacou novamente, mas eu estava começando a pegar o jeito.

Só que... Quando eu menos esperava, ele fingiu um outro ataque. Eu me defendi do vento com o escudo, que por reflexo puxei para o lado quando pensei estar segura. Foi por míseros segundos, entretanto foi tempo suficiente para que ele acertasse minha barriga com a parte lisa da espada.

Eu voei uns... 6 metros? Não tinha como saber. Mas eu atingi com uma força impressionante o balcão de mármore que ficava na cozinha. Minha cabeça latejava.

Ele tinha me empurrado com muita força mesmo. A parte de trás da minha cabeça atingira o balcão em cheio, o que, não preciso nem falar, doera demais. E a dor aumentava a cada segundo. Estava ficando insuportável.

Queria ver se estava sangrando, mas não tinha coragem de mover nem um músculo, com medo da dor aumentar mais. Se é que era possível.

Isso não impediu que Ares continuasse se aproximando. Só que dessa vez bem devagar. Não sabia se era algum tipo de poder dele, ou se aquele efeito fora produzido pela pancada na cabeça, mas eu podia ver três Ares caminhando na minha direção com um sorriso triunfante no rosto.

“Eu te avisei...” Falou ele. “Disse para não se meter comigo.”

Queria tanto ter te ouvido, pensei comigo mesma. Se eu não estivesse com tanta raiva dele, não teria me metido naquela luta. Por outro lado, se aquele imbecil não tivesse me feito ficar com tanta raiva, eu não teria nem mesmo saído de casa. Poderia estar dormindo tranquilamente naquele momento.

Eu me levantei com muita dificuldade. Enquanto eu tentava me por de pé, a minha cabeça me empurrava para baixo.

Por fim, consegui. Mesmo não tendo a mínima idéia do que iria fazer a seguir. Ares desenhou um “X” no ar com a sua espada e chegava cada vez mais perto. Com um movimento cortou a mesa de jantar que estava próxima dele ao meio. Sabia que eu seria a próxima se não fizesse nada.

Não podia deixar ele acabar comigo assim tão fácil. Eu tinha metas, sabe? Ainda queria me formar na faculdade, queria comprar um carro... E por cima de tudo, eu não queria morrer.

Tateei a superfície do balcão, e por sorte eu consegui encontrar algo útil. Um faqueiro.

Tirei a primeira faca. Era enorme. Daquelas que os açougueiros usavam para cortar carne. Ótimo.

Me concentrei no meu alvo. Agora os Ares estavam se juntando em um Ares só. Mirei o melhor que pude e lancei a faca. Ela girou no ar e passou a centímetros dele. Peguei a outra. Não desistiria. Tinha que acertá-lo, senão ele iria me acertar. E isso não era bom.

Continuei jogando as facas. A maioria passou longe dele. Algumas ele desviou facilmente com a espada. A última é que foi a melhor. Eu a lancei com toda a minha força restante, tentando mirar o melhor possível. Aquela era uma das minhas últimas chances.

Lancei. Ela girou no ar, e por um segundo achei que tinha acertado. Iria parar exatamente no nariz dele. Só que... Não parou. Ele a segurou milímetros de distância, e a levantou para que eu visse. Mesmo que o tivesse acertado, não iria fazer diferença nenhuma, pois ele a tinha transformado em uma colher.

“Tente outra vez.” Encorajou ele. “Se tiver chance.”

Ele correu na minha direção com a lâmina brilhante apontada para minha garganta. Foi aí que eu tive uma idéia. Olhei para o topo da escada e desejei estar lá com toda a minha força, do mesmo modo que fizera antes com a entrada da cozinha.

Fechei os olhos e quando abri novamente... Lá estava eu. No topo da escada do jeito que eu queria.

“Obrigada Hermes!” Exclamei baixinho.

Eu corri até o fim do corredor. Todas as portas estavam trancadas. O piso também era feito de madeira. Eu podia ouvir os meus passos enquanto corria, sem nenhuma chance de escapar. Parei quando cheguei ao fim. Tinha uma parede vermelha como o resto do corredor, e isso significava: “Fim da linha para você.”

Virei-me. No começo do corredor, que virava para a esquerda da escada estava Ares. Estava encurralada. Aquilo estava me cansando. Não poderia ficar trocando de lugar o tempo todo. Fugir não resolveria nada.

“Eu não disse?” Riu ele. “A única coisa que você é boa, é em fugir.”

Ele continuou andando em minha direção. Não tinha lugar nenhum que eu pudesse correr. Estava encurralada.

Olhei para o meu ombro, e lá estava a bolsa.

“Qualquer coisa... Qualquer coisa que possa ferir esse cara! Ou deixá-lo inconsciente. Por favor!” Pensei.

Eu pus a mão dentro da bolsa, e para a minha surpresa retirei de lá... Um grampo de cabelo.

“Vai tentar me derrotar com isso?” Perguntou Ares em um tom triunfante. “Hermes não sabe como ajudar ninguém!”

Um raio caiu em algum lugar lá fora. Eu acharia aquilo muito estranho, pois o céu estava sem nenhuma nuvem, mas estava ocupada demais no momento tentando não ser morta por um Deus raivoso.

“Um grampo?! Você quer que eu morra pai?” Perguntei mentalmente. “Bem... A culpa foi minha de qualquer jeito... Obrigada por me ajudar. Sinto muito não ser... Heróica como Perseu.”

Eu baixei os olhos. Senti pena de mim mesma, o que era uma coisa completamente deprimente.

“Acabou...” Murmurei mais para mim mesma, do que para qualquer um.

Me sentindo a maior derrotada de todo o mundo, eu tentei quebrar o grampo abrindo-o no meio. O que foi uma excelente idéia!

Do nada, o grampo cresceu se transformando em uma espada de prata, com uma única linha fina de ouro no meio. Eu fiquei alguns segundos olhando para ela, e tenho certeza de que Ares fez o mesmo.

“Tsc!” Fez ele. “Você nem mesmo sabe usar isso.”

Ele avançou e eu defendi seu ataque de um jeito ágil do qual nunca pensei que fosse capaz.

Ele piscou os olhos surpreso. Eu não sabia como tinha feito aquilo. A espada era tão leve, e tão... Perfeita para mim, que os movimentos pareciam naturais, e aconteciam por puro impulso.

Outro ataque. Eu defendi e o empurrei um pouco para trás. Não sabia se podia ganhar dele, mas tinha certeza de que tinha diminuído a diferença de vantagens da luta. Eu não estava mais indefesa, e isso era um ótimo começo.

“O que você disse sobre eu não saber usá-la?” Perguntei sorridente.

Ele não gostou nem um pouco.

“Não conte vantagem só porque ganhou um brinquedinho novo.” Resmungou.

Ele começou a atacar sem parar. Golpe atrás de golpe do jeito mais violento que ele podia. Eu tentava defender todos, mas estava ficando realmente difícil. Sabia que se fizesse um movimento em falso, eu morreria.

Por fim, notei que ele tinha chegado para trás, ou eu o tinha feito recuar. Não sei qual dos dois, mas eu podia ver novamente os degraus da escada mai perto. Estava logo ao lado direito dele.

Achava que estava ganhando, porém quando menos esperei, ele fez um movimento girando a espada que me fez derrubar a minha. Rapidamente eu me abaixei para pegar, antes que ele me atacasse novamente, mas foi tarde de mais. Ele conseguira. Apontou a arma para mim, e vi meu próprio reflexo ali.

Estava horrível. Se tirassem uma foto de mim e me mostrasse eu acharia que era uma mendiga. Meu cabelo castanho estava completamente desgrenhado. Meu pijama laranja estava rasgado em algumas partes. Principalmente nos ombros. Meu rosto tinha um pequeno corte do lado da bochecha esquerda, que eu não tinha idéia de onde arrumara.

Mas enfim... Quando senti a espada tocar o meu pescoço de leve, entendi a mensagem que ele queria mandar. “Toque na sua espada, e eu te mato. Sacou?”.

Eu me levantei de vagar. O sorriso triunfante voltara para seu rosto. As bolas de fogo ardiam mais do que nunca.

“Você perdeu...” Falou devagar e em um tom bem grave. “... Fihinha de Hermes.”

Depois disso foi bem rápido. Ele me girou com o cabo da espada e me jogou contra a parede que estava atrás dele. Agora eu é que estava do lado direito dos degraus da escada, e aquilo não era nada bom.

Ao bater contra a parede, senti a dor na cabeça voltar. Reprimi um grito. Com outro movimento igualmente rápido ele me jogou escada a baixo. Eu caí de cara no chão, e pode crer... Aquilo doeu.

Estava sentindo tudo girar. Girar, e girar, e girar, e girar... Tentei me arrastar para frente, pois a minha bolsa estava á poucos centímetros de mim, mas assim que estiquei os meus braços, senti algo segurar o meu pé. Ares.

“De jeito nenhum.” Falou e tive a ligeira impressão de que ele estava achando aquilo extremamente divertido.

Ele puxou o meu pé, e eu tentei me segurar no chão, mas acabei sendo arrastada para trás. Eu rolei para o lado, de modo que pudesse ficar de barriga para cima e ver o que estava acontecendo. Assim que fiz isso seu pé pressionou a minha barriga contra o chão.

Senti como se estivesse debaixo da pata de um elefante. Em vão, tentei tirar o pé dele de cima de mim, mas não tinha tanta força. Acho que nem mesmo um lutador profissional teria.

“O que foi? Não tem mais brinquedinhos?” Perguntou ele. “Viu só? Hermes não veio te ajudar.”

“Eu não pedi ajuda!” Exclamei com dificuldade.

Ele riu, encostou a espada no meu pescoço. Começou a fazer pressão e senti um fino fio de sangue escorrer. Estava começando a arder, e sabia que só iria piorar.

“Sabe o que eu mais gosto quando venço uma luta?” Perguntou ele, mas eu resolvi esperar que ele respondesse. “Ouvir as idiotas últimas palavras do meu adversário.”

Ele sorriu. Tinha certeza de que já tinha enfrentado vários heróis antes, e devia estar se lembrando das palavras dos pobres coitados naquele exato momento.

“Quais são as suas?” Perguntou ele. “Quer dizer alguma coisa para o seu papai?”

Não tinha idéia. Queria dizer tchau para a minha mãe, sinto muito para o meu pai, e talvez um “Obrigada” também. Mas eu não diria nada para ele. Não mesmo.

“Nenhuma?” Perguntou ele. “Ótimo... De qualquer jeito... Vai ser divertido.”

Ele levantou começou a fazer mais força com a espada, e eu tentei me afundar mais ainda no chão, mas não tinha como. O pé dele não deixaria que eu me transportasse para outro lugar da casa. De jeito nenhum.

Porém, quando pensei que estava completamente morte, e que Ares iria cortar o meu pescoço fora, ele... Parou.

Puxou a espada de volta. Seus olhos estavam arregalados. Ou pelo menos... Pareciam. Seu rosto foi tomado de pavor. Alguma coisa aconteceu, mas eu não sabia o que.

“Ah não...” Murmurou ele esquecendo que eu estava ali ainda.

Ele olhou em volta apressado. Olhou para a mesa cortada ao meio, para o som que ainda tocava rock bem alto, e para o chão de madeira quebrado. Fora todas as outras coisas que foram arrancadas do lugar por causa da briga.

Ele tirou o pé de cima de mim e correu para perto do som. Era tão bom poder respirar de novo. Mesmo que eu sentisse todas as minhas costelas latejarem.

Ares estalou os dedos e tudo voltou ao lugar. A sala ficou arrumada como se nada tivesse acontecido. Não entendi nada até que...

Iuhuu-uh! Ares!” Falou uma voz charmosa do outro lado da porta.

“E-Eu estou indo!” Meio cantarolou ele.

Aí... Ele fez o mais incrível... Não. Ele não fez a casa toda se transformar em uma mansão. Ele também não me fez desaparecer em poeira. Ele... Abaixou o som! Arregalei os olhos sem acreditar.

Vou entrar.” Falou a voz.

Ele entendeu isso como um sinal de: “Abra a porta para mim agora” e correu para obedecer a ordem.

Quando ele abriu a porta, pude ver... A mulher mais linda do mundo. Era a atris que o tinha visitado antes de limusine. Ela estava totalmente deslumbrante.

Dessa vez usava um vestido branco justo, com saltos altos pretos. Seus cabelos loiros... Não sei dizer se eram loiros... Talvez foi a pancada na cabeça, mas eu não conseguia dizer de que cor era o cabelo dela. Enfim... Acho que era loiro mesmo. Ele estava solta e bem penteado. Tinha ondas largas e ia até mais ou menos... A sua cintura.

O cheiro dela... Não sei como nem porque, mas me fez lembrar de todos os garotos por quem me apaixonei na escola. Todos os atores e cantores mais lindos que já vira na TV. Tive vontade de visitar todos eles. Achava que podia me apaixonar pelo primeiro galã que passasse por mim na rua. E ainda por cima... Eu não sentia mais a dor de cabeça, nem mesmo a ardência no pescoço. Nada.

Estava completamente curada.

“Desculpe fazê-la esperar.” Sorriu Ares tentando parecer tranqüilo. “É que não sabia que você viria.”

“Resolvi fazer uma surpresinha.” Ela levantou a sobrancelha e sorriu para ele.

Eu me levantei aos poucos, um tanto relutante, e ela me viu. Quando seus olhos encontraram os meus ela ficou surpresa.

“Ah! Você tem visitas?” Sorriu depois do momento de surpresa. “Mas... O que houve com ela?”

Senti o meu rosto inteiro ficar vermelho. Me lembrara de como estava horrível depois de lutar com ele. Meu pescoço deveria estar sangrando, meu cabelo parecia um ninho de passarinho, e eu ainda estava vestindo meu pijama laranja rasgado e provavelmente sujo.

“E-Ela?” Gaguejou Ares. “Ah! Não é ninguém!”

Ele riu e foi até mim. Segurou o meu braço e me levou até a porta. Ele estava me segurando forte demais, e estava doendo, mas não consegui dizer nada de tão envergonhada que estava por deixar ser vista por ela daquele jeito.

“Ela já está indo embora.” Apressou-se em dizer. “Agora... Tchau!

Ele me empurrou para fora e eu quase perdi o equilíbrio. Consegui me manter em pé, e quando me virei para vê-lo notei que sua expressão tinha mudado.

Ele encostou a porta para que ela não ouvisse, e disse:

“Teve sorte, pirralha.” Falou ele baixinho. “Agora saia daqui antes que eu decida terminar a luta. E é melhor eu nunca mais te ver de novo.”

Ele fechou a porta com força. Eu fiquei ali parada atônita por alguns minutos. Quando me toquei que tinha passado um tempo e que estava ficando frio, resolvi ir para casa, mas aí...

A porta se abriu. Me virei para ver o que tinha acontecido, e lá estava Ares. Sorrindo.

“Me desculpe.” Falou ele entre os dentes sem desfazer o sorriso. “Gostaria de entrar?”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam?

Desculpe pela demora. Posto o próximo capítulo logo logo!

Reviews, hein?