Meu Vizinho Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 32
Diferentes pontos de vista


Notas iniciais do capítulo

Nesse capítulo nós começamos a ter diferentes POVs.

Espero que gostem.



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“Eu... Não vou conseguir chegar lá tão rápido.” Eu insisti. “Se não fizer alguma coisa, eu...”

“Eu realmente não posso, Alice.” Ele falou pesadamente. “Eu...”

“Você ao menos se importa?!” Eu exclamei furiosa. “Ouviu tudo isso, mas não fez nada para impedir. Nada!”

Ele ficou em silêncio. Não tinha o que dizer. Eu estava com tanta raiva que podia começar a chorar. Coisa que eu sempre faço. Choro de raiva. Mas... Eu me contive.

“Vai.” Falou ele. “Você... É a única que pode fazer alguma coisa. Se...”

“Se? Se o que?!” Eu quis saber.

“Se já não for tarde demais.” Disse Ares cruzando os braços.

Eu cerrei os punhos. Estava com vontade de bater nas paredes até a casa inteira cair, mas ao invés disso eu preferi correr. Ia ao menos tentar chegar ao terreno de obras. Mas antes... Eu parei na porta e me virei para o meu pai.

“Ela e o Will estavam certos. Mitologia só dá dor de cabeça.” Eu disse e pude ver o meu pai fitar o chão envergonhado. Talvez tivesse sido um pouco demais, mas... Eu estava com raiva demais para pedir desculpas, ou até mesmo pensar em pedir.

Saí correndo de casa deixando os dois para trás.

Quando eu cheguei à esquina da rua sem saída, eu vi algo que fez o meu coração se apertar. Virado de cabeça para baixo, estava um taxi amarelo amassado e quebrado. Estava tão retorcido que eu duvidava que alguém que estivesse lá dentro poderia estar vivo.

“Mãe?” Eu chamei tentando não chorar. Minha pergunta saiu em forma de um grito falhado, e ninguém respondeu.

“Esqueça, Alice.” Dizia a parte de mim que representava a razão. “Se quer saber se sua mãe está viva, então vai ter que procurar em outro lugar. Nesse taxi não teria chance nenhuma.”

“Eu sei...” Murmurei para mim mesma. Eu olhei para o terreno. Podia ver vários cães infernais que, naquele momento, estavam dormindo. Era a minha única chance. Se ela não estivesse lá, então não estaria em lugar nenhum.

Eu corri em silêncio até o canteiro, e me escondi atrás de um pedaço de cimento jogado no chão. Aquilo seria um trabalho duro. Eu poderia morrer, mas... Eu quase morri várias vezes durante esse meio tempo. Se eu morresse daquele jeito, procurando a minha mãe, então eu não tinha nada á reclamar.

Rodei pelo terreno sempre me escondendo atrás de algumas peças ou caminhões deixados no caminho, até que...

“Mãe!” Exclamei baixinho para que nenhum daqueles cães ouvisse. Ela estava sentada contra algumas vigas enormes de metal. Não parecia machucada. A sua roupa só estava um pouco suja de poeira, mas acho que isso não chegava a ser um problema tão grande.

Eu corri até lá na ponta dos pés. Apareci do lado dela, ela quase gritou de susto. Tampei rapidamente a boca dela com a minha mão e fiz “Sh!”.

“Ainda bem que você não morreu.” Falei baixinho.

“Alice...” Ela sussurrou me abraçando. “Achou que eu ia morrer assim? Ser namorada de Hermes por alguns bons anos me fez aprende como me defender de monstros. Agora... Que bom que você está bem!”

“Eu sei. Eu sei.” Concordei. “Mas agora temos que sair daqui.”

Eu olhei para os cães. Eles estavam dormindo. Se nós nos levantássemos juntas para fugir, eles notariam. Foi aí... Que eu tive a idéia mais louca e suicida da minha vida.

“Mãe... Eu vou cuidar deles, e você corre. Entendeu?” Falei devagar.

“O que?! Não. De jeito nenhum que você vai.” Ela falou.

“Vou sim.” Peguei a minha bolsa que tinha aparecido no chão e tirei de dentro o arco. Escolhi uma flecha e preparei. “Eu treinei. Sei fazer isso. Vou ficar bem, pode deixar.”

“Como assim você treinou?” Ela perguntou sem entender.

“Apolo, o Deus do Sol me treinou com o arco e flecha. Eu vou ganhar, mãe. Agora vai.” Quis parecer confiante, mas no fundo não tinha certeza se iria sair viva.

Eu contei até três mentalmente e pulei encima das vigas de metal. Os cães infernais acordaram. Eles olharam para mim ainda sonolentos, e aos poucos foram notando o que estava por vir.

Aqui vou eu.” Pensei ao acertar o primeiro cão com uma flecha. Rapidamente peguei outra e acertei mais um. Ao todo eram uns 10. Eu pulei e corri para o lado contrário ao da entrada do terreno, para que minha mãe não chamasse a atenção deles.

Consegui destruir mais três. Não era difícil se você mirasse bem, mas... Eles eram ágeis. Um deles pulou na minha direção. Eu me abaixei rapidamente e acertei a barriga dele com uma flecha. Ele caiu no chão e eu mirei na sua testa. Menos um.

Faltavam uns... Seis. Eles tinham corrido cada um para um lado. Tentariam me cercar, e eu não podia permitir. Quando acertei um que pulou de cima de um monte de terra, eu pude ver outro chegando por trás de mim. Me virei o mais rápido que pude, mas ele me acertou. Eu caí no chão deixando o arco e a flecha caírem longe de mim.

POV Ares.

Ela estava completamente perdida. Seria extremamente engraçado, se não fosse tão trágico. Hermes olhou para mim sem ter o que dizer, por isso eu sugeri.

“Ela vai se meter em encrenca. Eu vou ver no que isso dá. Você não?”

“Como sabe que ela vai se meter em encrenca?” Perguntou ele.

“Porque ela sempre se mete em encrenca.” Falei. Dãã! Aquilo não era óbvio?! “Deixou ela irritada. Acho que o mínimo que pode fazer é ver o desenrolar da luta, não é?”

“Ver o desenrolar da luta.” Repetiu ele. Hermes riu com raiva e tentou me dar um soco. Eu segurei o seu punho e o empurrei para trás. “A minha filha me odeia, e você age como se isso fosse uma novela?!”

Novela não! Eu não vejo esse tipo de besteira.

“Se liga! Ela odeia todo mundo agora. Você não é especial por causa disso.” Falei indo até a porta. A casa dela estava uma bagunça, mas se era a culpada pelo desaparecimento da minha espada, então ela merecia. “Eu vou ver. Se você quiser... Fica aí se lamentando. Estou pouco me lixando.”

Pude ver Hermes pegando uma das facas jogadas no chão e lançando em mim, mas eu me transportei para a esquina da tal rua e não fui atingido.

Logo de cara já deu para ver que eu tinha perdido uma cena interessante. Um taxi estava completamente retorcido e amassado. Como se um ciclope tivesse usado ele como chiclete.

“Jenny!” Exclamou alguém atrás de mim. Hermes.

“Sh!” Fiz. “Quer anunciar que estamos aqui?!”

“Ela... Ela estava em um taxi.” Falou ele me ignorando.

Era verdade. Que droga... Imaginei onde a Filhinha de Hermes estaria. Ou qual fora a reação dela ao ver aquilo. Mas de qualquer jeito, meus pensamento foram cortados por uma outra pessoa.

Uma mulher passou correndo pela rua, esbarrou em mim e quase caiu. Hermes a segurou no último instante, e ela olhou para ele.

“Ah! Você está bem!” Comemorou ele sorrindo. “Como conseguiu escapar?”

Definitivamente devia ser a mãe dela.

 “Anos de prática.” Ela sorriu desajeitada. “Acho que em grande parte, devo isso á você. Obrigada.”

“Deixa isso para lá.” Falou ele. “Eu não fiz nada. Infelizmente.”

“Mais do que imagina.” Ela sorriu. “E... Apolo também. A Alice está lutando contra os cães infernais.”

“O que?!” Hermes exclamou. “Por quê?! Era só dar o fora dali!”

“Teimosa que nem o pai.” Retrucou ela se levantando. Ela ajeitou a camisa e depois olhou para ele novamente. “Ela vai ficar bem, não vai? Ela... Tem que ficar.”

“Ela...” Eu ia responder que sim, porque não queria uma mãe preocupada reclamando na minha cabeça, mas Hermes me interrompeu.

“É tudo culpa sua!” Rugiu ele se virando para mim.

“Culpa minha?!” Aquilo me surpreendeu. “A filha é sua! Logo a culpa também!”

“Nada disso teria acontecido se você não tivesse feito aquela ridícula maldição!” Exclamou ele irritado.

“Não jogue a culpa para cima de mim, Fedex!” Protestei. “Se tem um culpado aqui, esse é você!”

Como que do nada, Apolo apareceu de carro. Ele desceu e nós três olhamos para ele.

“A Alice...!” Ele parecia preocupado, mas eu o interrompi.

“É culpa sua também!” Reclamei. Apolo parou de andar e olhou sem entender para nós três. Ele não sabia nem mesmo o que o atingira...

“O que? Culpa da que?” Perguntou Apolo.

“Se você não tivesse treinado ela, incentivado ela, e saído com ela, nada disso teria acontecido!” Falei fazendo pose de “Você me decepcionou”.

“Por quê?! Ela morreu?!” Exclamou Apolo sem entender.

“Não! Ela está lutando contra uns cães infernais, sua anta.” Respondi.

“Ah...” Ele sorriu, mas depois se tocou do que eu tinha dito. “A culpa não é minha! Se quer saber... Eu acho que além da culpa ser sua, Ares, a culpa também é de Hermes.”

“Como é que é?! Minha culpa como?!” Perguntou ele indignado.

“Você deixou ela de lado por muito tempo. Devia ter explicado tudo isso antes. Assim ninguém teria problemas.” Falou Apolo e eu assenti.

“É. É tudo culpa sua, Hermes.” Assenti para que não sobrasse para mim.

“Escutem aqui...!” Hermes ia começar a rugir novamente, mas a mãe da Alice interveio.

“Esperem. Os três.” Ela olhou para cada um de nós. “Você amaldiçoou ela?”

Opa. Sobrou para mim.

“Ahm... Você não entende nada.” Falei. “Mortais não tem idéia do que...”

“Não venha com essa história de que mortais são idiotas, porque eu sei mais do que você pense.” Ela falou com firmeza apontando para mim. Nem mesmo a minha mãe agia daquele jeito. “E você é o cara do telefone. O tal vizinho da Alice.”

“Eu... É.” Concordei um pouco tenso. Aquela mortal me incomodava.

“Ainda acho que formariam um belo casal se não tivesse esse problema da maldição.” Falou ela pensativa. “E se você não fosse um idiota, é claro.”

Que?! Quem ela pensa que é para me chamar de idiota?!

“Você não tem idéia de com quem está se metendo...!” Estava pronto para ameaçá-la, mas Apolo começou a rir.

“Há Ha!” Riu ele. “Se tivessem uma filha ela poderia se chamar Arice. Não ia gostar disso, Ares?”

Pronto. Eu queria esmurrar Apolo, mas a mãe da Alice meio que fez isso por mim. Ela apontou para Apolo e ele parou de rir.

“Você não é diferente.” Falou ela em um tom severo. “Mesmo com todos esses problemas você ainda incentivou ela á continuar? Treinos, encontros, lutas... Será que você não enxerga o que fez?”

“Eu... Bem... Nós...” Apolo ficou completamente sem graça e com medo, o que me deixou bem feliz.

“Exatamente!” Falou Hermes fuzilando nós dois com o olhar. “Eu estava dizendo isso, mas...!”

“Ah, mas o pior Hermes...” Ela olhou-o ainda severa. “É que quando eu te perguntei se a Alice estava bem, você me disse: ‘Claro que sim, Jenny. Ela está ótima! ’. Você sabia disso tudo e não me contou!

Hermes arregalou os olhos ao ouvir aquilo. Eu pensei que ele ia tomar coragem e enfrentar a situação como um homem, mas ao invés disso...

“Jenny, eu... Eu... Eu não...” Hermes gaguejava tentando encontrar palavras, mas não conseguia. O olhar dela era intenso demais.

“Você nada!” Interrompeu ela. Eu pensei que aquela mulher fosse puxar uma arma e começar a atirar em Hermes, mas ela fez algo muito pior. Respirou fundo e ficou em silêncio por alguns segundos. “Acho melhor... A seu treino ter sido bom, a sua maldição não piorar as coisas, e a sua falta de responsabilidade não causar nenhum dano á ela.”

“Sim, senhora.” Assentiu Apolo como se ela fosse um general. Eu estreitei os olhos para ele. Que mané “Sim, senhora” o que! Ela era um mortal! Nós éramos três Deuses! O que ela iria fazer?!

“O quanto á vocês?” Perguntou ela nos fuzilando com o olhar.

“Sim, Jenny.” Concordou Hermes.

“Sim o caramba.” Resmunguei.

“Como é que é?!” Exclamou ela olhando para mim.

“Sim, senhora.” Eu concordei com medo ao a ver fazendo uma cara amedrontadora.

Está bem... Escuta aqui, leitor. Vou deixar uma coisa bem clara aqui. Se um dia você contar para alguém que eu tive medo daquela mortal, eu vou tornar a sua vida um inferno. Isso antes te de matar de um jeito extremamente doloroso, sacou? Fica esperto, porque depois de ler a história até aqui, você pode notar que eu não sou o tipo de pessoa que se deve incomodar.

Espero que tenha entendido o recado. Continuando...

“Vou voltar para a casa dela, pois infelizmente eu sei que não posso ajudar em quase nada.” Jenny parecia magoada, mas logo voltou a ser durona novamente. “Quando... A luta terminar... Levem-na para lá. Eu... Vou estar esperando, certo?”

Ela sorriu triste para Hermes e desejou boa sorte. Depois se virou e foi embora pela rua. Infelizmente... Eu entendi o que ela estava sentindo. Eu odiava a Filhinha de Hermes mais do que eu já odiei algum vizinho ou coisa parecida, mas... Vê-la morrer desse jeito seria horrível.

“Então... Vamos nessa.” Falei indo para o terreno de obras.

“O que nós podemos fazer?” Perguntou Apolo.

“Sei lá. Mas acho que ficar aqui na esquina não ajuda em nada.” Falei.

“Vamos observar da grade. Ela divide o campo, do resto da rua.” Sugeriu Hermes correndo até lá.

Apolo seguiu ele correndo, e eu não tive escolha senão fazer o mesmo.

Espero que você não morra Filhinha de Hermes.” Pensei eu ao ver da grade os cães infernais se aproximando dela.


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Notas finais do capítulo

Não vou nem comentar que quero reviews.

Ops. Eu acabei comentando... He he.