Meu Vizinho Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 30
Sequestro relâmpago


Notas iniciais do capítulo

Olha outro capítulo novinho!



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POV Hermes.

O aeroporto não estava lotado, mas tinham várias pessoas lá. A maioria dos mortais vestia roupas descontraídas, como se os vôos que tinham sido feitos fossem exclusivos para turistas.

Eu andei no meio deles. Me senti um pouco deslocado, já que era o único que estava de terno. Eu realmente odeio andar de terno, mas... Ela dizia que eu ficava mais bonito assim. E se era para deixá-la feliz, então valia a pena.

Enfim... Eu cheguei até uma parte do aeroporto onde as pessoas procuravam entre várias malas que passavam em uma esteira rolante qual era a delas. Algumas procuravam por outras pessoas, e outras nem mesmo sabiam o que estavam procurando. Bem... Eu sabia exatamente o que estava procurando.

Lá estava ela. Falando no celular com uma expressão cansada no rosto. Nem parecia que tinha acabado de sair de Paris.

“Não... George, eu já disse... Só volto semana que vem.” Falava ela para seu chefe do outro lado da linha. “Se tem uma pilha tão grande de papéis, então deixa na minha mesa e eu dou um jeito quando as minhas férias acabarem.”

Ela estava empurrando um carrinho de malas, enquanto equilibrava uma bolsa no ombro, e segurava o celular com a outra mão. Seu cabelo não era mais como quando a conheci. Antes era picotado e agora estava em linha reta.

Seu rosto também não era o mesmo. Tinha envelhecido é claro, mas aparentava 30 ao invés de 42.

“Eu estou cansada disso...” Suspirou ela. “Já disse que tenho de tratar de assuntos pessoais. Tenho que ir, George. Tchau.”

Ela desligou o celular e o jogou na bolsa. Estava irritada, frustrada e cansada. Eu podia ver isso mesmo estando longe.

Era a minha hora de entrar em cena. Me transportei atrás dela e tampei seus olhos com minhas mãos.

“Adivinha quem é.” Eu disse sorrindo e lembrando dos velhos tempos.

“Will?!” Ela exclamou surpresa.

Parecia que eu tinha levado um belo tapa na cara. Tirei as minhas mãos de seus olhos, e ela se virou vendo quem era de verdade.

“Não. Mas se você prefere ele...” Eu resmunguei decepcionado.

“Hermes!” Ela exclamou surpresa. Seus olhos brilharam e ela me abraçou. Isso me fez sorrir. Sempre fazia. “Ah! Que bom que você apareceu! Não te vejo há tanto tempo! Nossa... E está de terno! Isso é algo raro.”

“Eu sei, Jenny.” Eu sorri. Ela me soltou e olhou para mim. Uma coisa que nunca mudava era o brilho dos seus olhos quando ela estava feliz. Era algo lindo de se ver. “Como foi em Paris?”

“Foi demais!” Ela sorriu mais ainda. “Tinha que ver o céu de noite! Era tão... Uau! Eu não sei explicar.”

“O céu de Paris sempre foi lindo. Ainda me lembro de quando nós o víamos...” Eu suspirei saudoso, e ela revirou os olhos sorrindo.

“Bons tempos, é verdade. Mas não começa, certo? Senão não vou agüentar ficar longe de você.” Ela falou olhando para mim. “Nossa... Você nunca muda. Nem envelhece.”

Não mesmo. Como eu poderia? O tempo não exerce influência sobre mim.

“Faz parte da imortalidade.” Eu assenti. “Mas você também quase não mudou.”

“Ah, para com isso. É claro que eu mudei.” Ela falou fazendo uma careta. “Sabe muito bem que eu fico velha.”

“Se você acha.” Eu encolhi os ombros. “Mas para mim está perfeita. Comprou muitas coisas lá? Tirou muitas fotos?”

“Sabe que eu não tiro mais fotos...” Ela suspirou triste. Depois que teve a Alice, ela quase não tinha tempo para trabalhar como fotógrafa (o que ela sempre quis), mas eu vivia dizendo para ela que aquilo era um desperdício de talento. “Mas...”

Ela olhou para mim sorrindo.

“Eu comprei sim!” Ela pegou uma caixa de miniatura da Torre Eiffel e me entregou. “Olha só que legal. Eu lembrei de você... Se apertar esse botão...”

Eu apertei e a Torre começou a piscar e reproduzir “Your Song” do Elton John no piano. Eu ri. Nosso primeiro encontro foi perto da Torre Eiffel, e estava tocando essa música.

“Eu não acredito que trouxe isso para mim.” Eu sorri. “É demais mesmo.”

“Que bom que gostou.” Disse ela. “Eu não sabia o que comprar, já que você já tem tudo, mas... Achei que iria gostar disso.”

“E você acertou.” Eu assenti.

“Bom saber disso.” Ela falou ajeitando a bolsa do ombro que estava caindo. “Eu comprei algumas outras coisas para mim também, e umas para a... Alice! Eu esqueci... Como ela está? Digo... Agora que... Sabe de tudo.”

Meu sorriso diminuiu um pouco. Eu olhei para ela um pouco sem jeito.

“Desculpe. Eu... Não queria que ela soubesse desse jeito.” Eu falei sem graça. “Mas ela aceitou isso com grande facilidade. É claro que levou um tempo para entender, mas... Agora está tudo bem. Ela me chama de pai.” Não consegui deixar de sorrir.

“Que bom.” Suspirou ela. “Depois vou visitá-la. Assim que conseguir um taxi, e deixar essas coisas em casa. Mas... Ela está bem? Está tendo problemas com monstros?”

Não, Jenny. Ela só foi amaldiçoada por Ares e corre risco de vida todo o dia.

“O que? Não! Ela está... Bem.” Eu menti. Não podia contar para ela que eu tinha deixado isso acontecer. Poderia, em parte, não ser culpa minha, mas... Isso ainda pesava na minha consciência.

“Ufa...” Fez ela. “Bem... Eu tenho que levar isso para casa. Talvez ainda dê para visitá-la no fim do dia.”

“Ela vai adorar, tenho certeza.” Eu sorri.

Nesse exato momento, um monstro chegou perto de Jenny e de mim. Bem... Eu chamo de monstro. Ela chama de...

“Will.” Ela sorriu forçada. “Então... Conseguiu pegar as outras malas?”

“Sim, estão todas aqui.” Ele assentiu. Will mostrou para ela as duas malas verdes, e a beijou. Bem na minha frente! Maldito...

“Ei! Olá.” Sorriu ele para mim tentando ser simpático. “Você é... Amigo da Jennifer?”

Amigo?! Não, idiota. Eu sou só o pai da filha dela. Além de ser o cara que ela mais ama nesse mundo. Chama isso de amigo?

Sim.” Concordou Jenny sorrindo. “Esse é Hermes, um dos sócios da empresa. Veio aqui dizer um oi.”

“Ah, muito prazer.” Ele estendeu a mão e eu (infelizmente) tive que apertar. “Eu sou William, o marido da Jennifer. Então, Hermes... Trabalha com o que?”

“Entregas.” Eu sorri forçadamente. “Cartas, correspondência, mensagens... Todo o tipo de coisas.”

“Sério? Que interessante.” Concordou ele com a cabeça. William tinha cabelos pretos e bem cortados. Seus olhos eram extremamente azuis. Estava vestindo bermudas e camisa uma camisa simples, o que me fez sentir extremamente superior. “Tem a ver com o seu nome, não é? Não entendo muito bem... Mas Hermes tem alguma coisa a ver cartas.”

“É... Hermes é o Deus mensageiro.” Eu disse, e Jenny me fuzilou com o olhar. “Digo... Na mitologia.”

Ele riu, e eu quis socá-lo. Porém isso me causaria problemas.

“A minha filha Alice amava isso. Essa historinha de mitologia. Lembra como ela falava o tempo todo sobre isso? Nossa... Era uma paixão mesmo.” Ele disse.

“Sério? A minha filha também ama.” Eu sorri, e Jenny me deu uma cotovelada discreta.

“Então tem uma filha também? Que legal.” Assentiu ele. “Bem... Eu queria continuar a conversar, mas acho que você prefere falar com a Jennifer, não é? Eu vou levar essas coisas para o ponto de taxi e vejo você lá fora, certo amor?”

“Claro.” Jenny assentiu. O Will saiu com as malas, nos deixando sozinhos, mas não antes de se virar para mim e dizer que eu era um cara legal. Faça-me um favor e se mate.

“Nossa... Como ele adivinhou que eu prefiro falar com você á falar com ele?” Eu perguntei fingindo ingenuidade.

“Escuta... O Will tem sido um bom pai para a Alice. Será que não pode reconhecer isso?” Jenny perguntou e eu neguei.

“Bom pai uma ova. Ele só sabe reclamar com ela, e falar que mitologia é besteira. Acha que isso é ser bom pai?” Eu falei irritado.

“Ele não entende.” Defendeu ela.

“Ele é um mortal ignorante.” Eu resmunguei, mas me arrependi daquilo. Jenny se ofendeu. Ela também era mortal, e eu tinha esquecido daquilo.

“Oh, desculpe.” Falou ela. “Sinto muito que a população mortal seja tão burra. Mesmo. Deve ser muito chato para vocês Deuses ficarem perto de nós.”

Ela começou a andar em direção a porta e eu a segui. Seu ritmo era rápido, mas nada que eu não pudesse acompanhar.

“Jenny... Desculpa. Eu não estava me referindo á você! É só que... Nossa... Eu odeio aquele cara!” Eu falei isso e ela se virou para mim de repente.

“Devia tentar odiá-lo um pouco menos.” Ela falou cruzando os braços.  

 “Ele é casado com a mulher que eu amo. Como eu vou fazer isso?” Eu reclamei.

Ela me beijou, e isso me surpreendeu. Quando se afastou ela sorriu de leve.

“Seu... Idiota.” Disse sorrindo. “Eu amo você, sabia Hermes? Mesmo sendo cabeça dura ás vezes.”

Eu sorri involuntariamente. Não tinha como não sorrir! Jenny provocava esse efeito em mim. Eu olhei para ela fingindo estar sério.

“Cuidado. Você não pode me ofender desse jeito.” Eu ameacei.

“Oh, não?” Ela perguntou fingindo estar assustada. “O que vai acontecer agora?”

“Vai enfrentar as conseqüências!” Eu exclamei e então a beijei. Ela retribuiu o beijo, e depois me empurrou para trás.

“Que castigo maligno!” Ela exclamou fingindo estar com medo. “Você é cruel demais. Fique longe de mim, ouviu?”

Fiz uma careta para ela e ela retribuiu.

“Me sinto jovem quando estou perto de você. É tão engraçado.” Ela riu.

“Sinto o mesmo.” Eu concordei. “Parece que eu tenho uns 1000 anos a menos.”

“Pois é...” Ela riu, mas logo parou ao olhar para trás. “Eu tenho que ir Hermes. Ele está me esperando. Eu... Vou visitar a Alice essa tarde. O Will tem que trabalhar. Se você quiser... Pode ir também.”

“Pode deixar comigo.” Eu concordei. “Acho que o seu... Marido está te esperando.”

Ela assoprou o beijo para mim e correu para a o ponto de taxi. Eu fiquei parado lá a vendo ir embora com ele. Ao menos ficaria a tarde toda junto dela e da Alice, que esperava que estivesse bem.

POV Alice.

Eu não estava nada bem! Por ter faltado tantos dias a faculdade, eu estava extremamente atrasada nas matérias. Eu teria de me matar de estudar para conseguir passar nas provas. Mesmo.

Estava na hora do almoço. Devia ser quase meio dia. Apolo não estava na calçada me esperando dessa vez, de forma que eu teria de ir para casa á pé. Para mim, sem problemas. Ou foi o que eu pensei.

Enfim... Eu estava na calçada, pronta para atravessar a rua. Ela estava vazia, não tinha nenhum carro, e o sinal estava verde para os pedestres. Eu dei um passo, mas parei ao ver que tinha uma moto em alta velocidade vindo pela rua. Se ela continuasse em linha reta, não bateria em mim nem nada, mas mesmo assim eu tentei recuar instintivamente.

Só que... O motorista da moto estendeu o braço para o lado e, em alta velocidade, agarrou a minha cintura. Eu fui levada junto com a moto, e teria certeza que ia morrer se não fosse pelo fato... De em um piscar de olhos eu notar que estava no banco de carona de um carro.

“O que...?!” Eu olhei para o lado e entendi quase tudo. “Ah... Você de novo.”

“Não venha com ‘Você de novo’ como se fosse ruim para você me ver. Acredite... Para mim é muito pior.” Retrucou ele irritado.

“Então para o carro e me deixa ir. Problema resolvido.” Eu falei sem entender. “E... Como isso aqui é um carro? Era uma moto há poucos segundos...”

“Ele muda de forma se eu quiser. Não que seja da sua conta, nem nada.” Respondeu ele me interrompendo. “Agora eu é que faço as perguntas. Onde está?”

Eu não entendi. Olhei pela janela e depois olhei para ele. O carro continuava andando bem rápido. Não tanto quanto o de Apolo é claro, mas ainda assim rápido.

“Onde nós estamos? É isso que você quer dizer?” Eu perguntei sem entender.

“Não se faça de idiota!” Reclamou ele, mas aí parou para pensar. “Ah, é. Eu esqueci... Você é idiota.”

“Engraçado.” Eu retruquei. “Para onde estamos indo?”

Ele parou o carro. Já tínhamos chegado. Estávamos na frente da minha casa. Eu olhei para Ares ainda sem entende nada, mas ele estava só se olhando no retrovisor. Ele ajeitou os óculos escuros e estalou os dedos da mão apertando o punho.

“Vamos acabar logo com isso.” Ele fez um movimento com a mão e o carro se transformou em uma moto novamente. Como motos não têm banco do carona, eu cai sentada no chão. Aquilo doeu. Ares se levantou da moto e parou na minha frente. “Não enrola, Filhinha de Hermes.”

“O que você...?” Eu ia perguntar uma coisa, mas Ares fez algo que me irrita desde que eu conheci ele. Ele me pôs sobre o ombro com extrema facilidade e saiu andando como se eu fosse uma mochila bem leve. “Ei! Me põem no chão!”

“Se você não consegue andar, eu te carrego. Viu como eu sou um cara legal?” Eu aposto que ele estava sorrindo malignamente como sempre. Eu tentei socar as costas dele, mas pareciam uma parede de tijolos.

Ele abriu a porta da minha casa, e a fechou com um chute. Ele me lançou no sofá, e novamente... Aquilo doeu.

“Ai...” Eu gemi, mas logo a minha raiva dele voltou. “Qual é o seu problema?!”

“Você é o meu problema!” Respondeu ele como se aquilo fosse óbvio. “Agora não enrole, sua ladrazinha, e me diga onde está!”


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Notas finais do capítulo

Tam tam tam taaaam! (Amo escrever isso)

Em que encrenca a Alice se meteu agora?

Leiam e descubram!