Meu Vizinho Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 29
Posso ir, papai?


Notas iniciais do capítulo

Outro...



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“Levanta... Daí.” Falou ele bem devagar tentando com todas as suas forças manter a calma.

“Ok.” Respondeu Apolo se levantando. Eu agradeci o fato dele estar com roupas de frio, e não de pijama ou coisa parecida.

Eu me levantei também.

“Nós caímos no sono ontem. Estávamos conversando e...” Eu tentei contar, mas meu pai não quis ouvir.

“Alice... Você não vai querer conversar com ele.” Falou meu pai de um jeito que a palavra ‘conversar’ significasse outra coisa. Ele parecia extremamente calmo.

“Pai eu... Apolo me salvou ontem.” Eu contei.

“E isso quer dizer o que?” Perguntou ele. “Que você tem que conversar com ele?”

“Nós não...! Estávamos conversando! Mesmo!” Eu insisti. “Pare com isso... Não precisa se preocupar.”

“Ah, eu espero que não.” Ele lançou um olhar feroz para Apolo. Depois ele se deu por vencido e suspirou. “Eu vim aqui falar com você.”

“Tudo bem... Eu volto depois.” Falou Apolo. “Tranqüilidade, Hermes.”

Ele piscou para o meu pai com um sorriso torto no rosto, e desapareceu. Hermes revirou os olhos.

“Só você mesma...” Ele falou sem acreditar. “Tenho mesmo que falar para você pensar melhor sobre isso também?”

“Não...” Eu ri. “Mas... O que queria falar comigo?”

“Primeiro... Que eu estou tremendamente feliz por você não ter se matado ao pular do sétimo andar de um shopping enquanto lutava com uma hidra.” Falou ele como se eu fosse completamente louca. “Deve ter unas parafusos a menos na cabeça, mas pelo menos está viva.”

“Obrigada... Eu acho.” Eu assenti.

“E segundo... A sua mãe está voltando de Paris.” Ele contou como se não soubesse se ficava triste ou feliz. “É... É aniversário dela daqui á uns dias... E eu ainda tenho que pensar em um presente.”

“Você ainda dá presentes de aniversário para ela?” Perguntei.

“Todo ano, Alice.” Ele falou como se aquilo fosse óbvio. “Eu nunca deixo de comprar ou fazer alguma coisa para ela. Você... Você comprou um presente muito legal.”

“Obrigada.” Eu sorri. “Eu... Espero que ela use. Queria que ela tirasse fotos como quando vocês se conheceram. Ela nunca me contou que gostaria de ser fotógrafa.”

Ele franziu o cenho.

“O que? Mas... Como você sabe que ela tirava fotos?” Ele perguntou.

Eu contei sobre os meus sonhos, mas deixei de lado aquele do terreno com os cães infernais. Ele assentiu ouvindo com bastante atenção, e por fim sorriu triste. Parecia que ele estava se lembrando dos “velhos tempos” e estava um pouco desanimado por tudo ter mudado.

“Sua mãe sempre foi uma grande artista.” Ele sorriu. “Ela gostava de pegar a estrada e ir para qualquer lugar tirar fotos. Não importava o país, o bairro, a cidade, a sua mãe sempre conseguia tirar fotos magníficas. Ela começou a tirar fotos de monstros... Conseguia enxergar através da névoa. Logo depois disso, ela me conheceu. Eu contei para ela sobre tudo depois de uns... 2 encontros. Ela ficou maravilhada.”

“Imagino.” Eu assenti. “Se me contasse sobre isso quando eu era menor...”

Ele olhou para mim em dúvida.

“Eu lembro que você gostava muito de mitologia. Você desenhava e tudo... O que... O que aconteceu?” Ele perguntou.

Era uma parte do meu passado que eu odiava, mas o que eu podia fazer? Eu sentei no sofá e contei.

“Meus desenhos eram uma droga.” Eu sorri me lembrando. Eu fitei o chão distraída, como se estivesse passando por um momento flashback.  “Eu... Eu amava mitologia. Eu via muitos desenhos e filmes na TV. Eu desafiava o Will a lutas de espadas. Era tão legal.”

Meu pai sentou do meu lado. Martha e George sibilaram para eu continuar. George pediu um rato, e Martha o mandou calar a boca.

“Eu... Lembro que eu tinha uns 8 anos eu acho.” Eu franzi o cenho tentando lembrar. “Eu fui expulsa da minha escola por... Acho que... Eu arrumei alguma briga. Mas enfim... Quando eu voltei para casa o Will me deu uma bronca enorme. Ele disse que isso só acontecia porque eu só me interessava por essa história estúpida de mitologia. Disse que nós íamos nos mudar de novo, e de novo, e de novo... Disse que isso nunca ia acabar se eu não parasse de ser tão...”

Meu pai cerrou os punhos. Se Will estivesse na frente dele, aposto que Hermes o daria um belo soco.

“Tão o que?” Ele perguntou.

“Estranha.” Eu continuei desanimada. “Eu imagino que deve ter sido bem difícil para ele. Pais normais não deveriam ter que se preocupar com esses tipos de problemas. Quando ele saiu do meu quarto, a minha mãe passou. Eu perguntei para ela se era culpa minha nós estarmos nos mudando o tempo todo. Ela não me respondeu. Só olhou para os meus desenhos e disse...”

Eu engoli em seco, mas Hermes, Martha e George continuaram olhando para mim esperando o resto.

“’Mitologia só dá dor de cabeça’.” Eu falei. “Foi isso. Aí eu resolvi que aquilo tudo era besteira, e pensei que se eu parasse de gostar, talvez nós pudéssemos... Pudéssemos ficar em um lugar só e ter uma casa de verdade ao invés de paradas temporárias.”

Eu suspirei e vi que meu pai estava realmente sentido por aquilo.

“Com o tempo eu acabei esquecendo a mitologia. Eu não lembrava mais o nome dos Deuses, nem o poder deles... Tão pouco os monstros. Eu passei a achar aquilo infantil, e simplesmente... Deixei de lado.” Eu disse. “Até eu conhecer você é claro.”

“E quanto a nós?” Perguntou George. “Nós existimos também, sabia?!”

Eu ri.

“Claro, George.” Eu assenti. “Até eu conhecer você e a Martha também.”

“Alice... Eu sinto muito.” Falou o meu pai. “Eu não queria que vocês tivessem tantos problemas.”

“Tá tudo bem.” Eu sorri. “Quando eu vi o rosto da mamãe no meu sonho. O quanto ela estava feliz em conhecer você... Eu vi que tudo isso realmente valeu a pena. Eu também. Estou feliz de ter conhecido você, pai.”

Ele sorriu.

“Mesmo com essa história de maldição?” Perguntou ele.

“É... Isso não foi culpa sua.” Eu encolhi os ombros.

Meu pai olhou para a porta de repente, e suspirou como se estivesse vendo a reprise de uma novela várias vezes seguidas.

“Preste bastante atenção, mocinha... Eu estou de olho em vocês, por isso nem pensem em aprontar nada.” Eu franzi o cenho sem entender de onde ele tinha tirado aquilo. “Vou procurar um bom presente para a sua mãe, e vou deixar vocês irem, mas...! É melhor eu não me arrepender disso. Tem 19 anos Alice... Pode tomar suas próprias decisões, mas não pense que eu vá concordar com todas elas.”

Com isso ele olhou para a porta e ela se abriu. Apolo foi pego de surpresa e caiu no chão da sala.

“Uau! Puxa! Como essas portas são ruins, hein?” Ele disse desajeitado e sem graça. “Eu... Ia bater, sabe? Tipo... Agora mesmo. Mas... Ahm... Lembra? O nosso treinamento.”

Eu tentei não rir. Meu pai não estava com raiva, mas também não estava brincando. Seu olhar era uma mistura de “Você não me engana” com “Já fiz coisas piores, por isso sei o que está pensando. De jeito nenhum!”.

“Calma, irmãozinho.” Sorriu Apolo. “Tudo em família! Relaxa!”

“Irmãozinho...” Repetiu meu pai som um sorriso torto no rosto. “Eu nunca conheci alguém mais malandro do que você, Apolo. Acha que esse seu sorriso me engana?”

“Bem... Você também é bem malandro. Ma o seu ramo são os roubos o meu são...” Apolo engoliu o resto da frase, assim que Hermes se levantou.

“O que? Com o que?” Quis saber meu pai. “Complete essa frase. Vai.”

“Eu fico ofendido.” Apolo fingiu estar ofendido e eu senti vontade de rir. Que ator ruim... “Como você pode me chamar de malandro? Eu! Logo eu! O seu irmão mais velho! Que está ajudando a sua filha a sobreviver nesse mundo voraz e cruel.”

Ele se transportou para o meu lado e me abraçou.

“Imagina o que seria dela sem mim.” Sorriu ele inocentemente. “Estou aqui para ajudar.”

“Pois é... Eu estarei observando a sua ajuda, se não se importa.” Assentiu o meu pai fingindo que acreditou nele.

Apolo se desanimou um pouco, mas por fim respirou fundo.

“Se você não acredita em mim... Tudo bem.” Ele disse. “Você pode vir com a gente e verificar. Vai ser só um treino normal e...”

“Tudo bem, eu vou.” Sorriu o meu pai.

“Que?!” Perguntou Apolo. “Você... Você vai? Não tem cartas para entregar, ou corridas para fazer?”

“Não. Eu posso ir. Nada é mais importante que os meus filhos. Se Alice vai treinar com você, ia ser muito divertido ver o seu desempenho.” Ele assentiu.

“Mas...! Mas...! Ela vai ficar envergonhada com você por perto.” Tentou Apolo. “É melhor você ficar aqui, e ela te conta tudo depois, não é mesmo Alice?”

“Você francamente acha que eu já não ouvi essa antes? 3.012 anos e você ainda tem a mentalidade de um adolescente.” Falou o meu pai. “Você não vai treiná-la! Vai levar ela para alguma festa, ou coisa parecida.”

Eu olhei para Apolo. Ele estava fazendo cara de inocente para o meu pai.

“Mas... São só nove da manhã. Que tipo de festa...?” Eu ia perguntar, mas Apolo aproveitou.

“É! São só nove da manhã!” Apolo não ia desistir, e meu pai revirou os olhos. “Não tem nenhuma festa ás nove da manhã.”

“Você sempre arruma alguma coisa.” Falou meu pai. Ele poderia ganhar a discussão, mas preferiu ceder. “Mas tudo bem. Alice sabe se virar. Qualquer coisa... É só falar comigo e eu dou um jeito em qualquer um que lhe causar problemas, ok?”

Ao dizer “qualquer um” ele olhou para Apolo, e eu assenti tentando não rir. Eu sabia que meu pai estava fazendo a mesma coisa. Apolo era o único que estava se preocupando, mas assim que o meu pai sumiu ele começou a comemorar em silêncio.

“Yes!” Exclamou ele. “Conseguimos!”

Eu acabei rindo.

“Malandro, é? Essa é a minha deixa para ficar bem longe de você.” Eu brinquei.

“Blá, blá, blá.” Fez Apolo. “Seu pai não é nem um tipo de anjo também. Ele já aprontou muito. Agora está na sua vez fazer isso.”

“O que?!” Eu olhei para ele incrédulo. “Você realmente vai me levar a uma festa ás nove da manhã?”

“Claro! É a festa mais divertida de todas!” Ela afirmou. “Vem comigo.”

Ele pegou a minha mão e saiu me puxando para fora de casa. Nós entramos no carro dele, e Apolo dirigiu rapidamente.

“Ah... Eu nem troquei de roupa!” Eu me lembrei.

“Há!” Ele riu. “Nessa festa você não precisa trocar de roupa. Assim está ótimo mesmo.”

“Para onde você vai me levar?” Eu perguntei desconfiada.

“Uma das melhores festas de Miami. Claro que você vai precisar tirar esse suéter, mas fora isso... É demais!” Ele sorria feliz enquanto seu carro alçou vôo.

Se você já viu o clipe “This Afternoon” do Nickelbak, então vocês sabem exatamente como era a festa. Eram quase dez da manhã (cedo para uma festa, na minha opinião), mas a casa onde nós entramos estava cheia de gente dançando, conversando, rindo e mergulhando de roupa na piscina.

Podia ser uma mistura de “This Afternoon” com “We’ll be alrigth” daquele cantor que eu sempre esqueço o nome. A casa era enorme, e por incrível que pareça... A piscina devia ser praticamente do mesmo tamanho.

Se eu falasse que tinham 100 quartos, seria um chute fraco. Cada um eles tinha uma música diferente tocando, e gente diferente também. A sala de estar é que era o lugar mais impressionante. De algum modo a sala estava completamente escura, como uma boate. A mesa de centro servia para as pessoas subirem e dançarem. Ou para simplesmente pularem de lá encima da multidão que as seguraria (ou não).

“Apolo...” Eu não tinha palavras.

“Vamos dançar!” Sorriu ele, falando por cima da música alta.

Antes que eu dissesse que eu não dançava bem, ele saiu me puxando para a sala de estar. Ele subiu na mesa de centro. Milhares de pessoas dançavam animadas pela sala inteira.

“Vem, Alice!” Disse ele estendendo a mão para mim.

“Eu não...!” Eu tentei dizer.

“Não vem com essa de ‘Eu não danço’, porque todo mundo pode dançar!” Falou o Deus da música que já nasceu para o ofício. “Eu te dou uma ajudinha!”

Antes que eu falasse que não queria a tal ajudinha, Apolo me levantou com um braço só e me pôs ao lado dele na mesa de centro. O som começou a tocar “We R Who we R” da Kesha, todos soltaram um “Uhul!” animados.

“Vamos!” Apolo começou a dançar.

“Eu não... Sei se...” Ele revirou os olhos rindo e estalou os dedos.

O meu corpo todo começou a se mexer. Era tão bom! A música parecia mover cada músculo junto com a batida. Meus passos eram praticamente sincronizados com os de Apolo.

“Eu... Estou dançando!” Eu sorri animada. “Demais!”

“Viu? Eu não te falei que qualquer um pode dançar?” Sorriu ele.

Nós começamos a dançar cada vez mais animados. Nossos passos eram estranhos e engraçados, mas em uma sala de estar com milhares de pessoas estranhas não tem problema nenhum você agir de um jeito estranho. Até por que... Ninguém vai notar mesmo.

Eu sei que nós dançamos até ficarmos cansados. Música após música... Até não agüentarmos nem ficar em pé. Apolo parou de dançar logo depois de mim.

“Ai...” Bufou ele cansado. “Que festa. Você vem sempre aqui?”

“Você ainda vai me matar de rir um dia...” Eu estava sem fôlego. “Vamos para casa agora?”

Apolo assentiu cansado. Ele olhou em volta, e notou que ninguém ia reparar se nós simplesmente desaparecêssemos dali. Em um piscar de olhos eu estava sentada no carro dele. Estava ficando escuro. Me lembrei de como ele tinha falado que ninguém nunca olha para o teto, e acabei jogando a cabeça para trás.

O céu estava começando a ficar escuro. Logo logo já seria noite, e eu nem mesmo tinha feito nada o dia inteiro. Sem treinamento, sem monstros... Só festa.

“Eu não vou a faculdade há dias.” Eu comentei. “Vou estar bem ferrada nas provas.”

“É... As provas são amanhã?” Perguntou ele, e eu disse que não. “Tsc! Então para que se preocupar?”

Eu olhei para ele analisando seu rosto e vi que ele estava sendo sincero.

“Meu pai tem razão...” Eu comentei. “3.012 anos e você ainda pensa como um adolescente.”

Apolo sorriu e olhou para a estrada.

“Que bom. Quer dizer que eu não velho demais para você.” Ele riu.

“Não foi isso que eu disse.” Eu fiz uma careta para ele. “Tio.”

“Ei! Pegou pesado agora...” Ele riu.

Nós ficamos em silêncio só ouvindo a música do rádio até chegar a minha casa. 


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Notas finais do capítulo

Entãããão?

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