Meu Vizinho Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 28
Isso é segredo, não posso te contar!


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai outro...



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“Desculpe... Ahm... A casa está um pouco bagunçada. É que eu não sabia que você ia querer vir aqui...” Eu falei do segundo andar, enquanto trocava de roupa.

“Quer que eu saia?” Perguntou ele do andar debaixo. Podia apostar que ele estava sorrindo.

“Não! Não é isso... É só que... Ah! Por favor, ignore a bagunça.” Eu falei um pouco sem graça.

Fiquei feliz por finalmente tirar a roupa que Afrodite escolhera para mim. Ela tentou fazer com que Ares parecesse bonzinho, mas estava na cara que eu nunca engoliria isso. Coloquei uma calça jeans, uma camisa branca e por cima um suéter. Estava começando a esfriar demais.

Eu desci os degraus da escada e quando cheguei na sala, Apolo não estava mais no sofá. Eu olhei em volta.

“Apolo?” Eu chamei.

“Então... Seus pais mortais não são de New Jersey?” Quis saber ele olhando aparecendo no meio da sala com um porta-retratos na mão.

“Ah... Você está aí.” Eu sorri desajeitada e ajeitei o cabelo com a mão “Ahm... Não. Eles... Eu nem sei de onde eles são. A minha mãe... Acho que ela nasceu na California, ou algo do tipo. Mas... Nós nos mudamos tantas vezes que eu nem sei de onde partimos.”

Eu ri, e ele acabou rindo também. Era engraçado não saber de onde você era, mas ao mesmo tempo estranho. Ele sentou no sofá.

“Você era bem pequena aqui, hein? Tinha só 13 anos.” Falou ele olhando a foto.

Eu me assustei com aquilo.

“Como você sabe disso?” Eu perguntei. “Nem eu lembro quantos anos eu tinha.”

“Ah, eu sei.” Afirmou ele. “Tenho um dom para isso, sabe?”

“Ah, claro.” Eu assenti.

Sentei ao lado dele, mas não tão perto. Eu olhei para a foto. Will e a minha mãe estavam me abraçando. Nós usávamos casacos de inverno. Eu me lembrava que nós tínhamos tirado esse foto quando fomos passar uns dias no extremo norte do país.

“Sente falta deles?” Perguntou Apolo. Eu pisquei e notei que ele estava olhando para mim, e não mais para a foto.

“Ah... Um pouco. Acho que sim.” Eu assenti. “Eles estão em Paris. Minha mãe adora aquele lugar, mas eu nunca estive lá. O Will adora qualquer lugar que a minha mãe esteja. E também ama o sossego.”

“Sossego?” Apolo repetiu. “Isso... Parece incomodar você.”

“O que? Não. É só que...” Eu sorri delicadamente. “Ele nunca teve muito sossego com essa história de eu ser uma meio-sangue e ter que pular de lugar em lugar o tempo todo. Ou de arrumar confusão nas escolas... Fico feliz deles poderem descansar em Paris sem... Problemas.”

“Não diga isso.” Falou Apolo.

“Dizer o que?” Perguntei.

“Problemas. Você disse isso como se você fosse um sinônimo para a palavra.” Ele disse me olhando com aqueles lindos olhos azuis.

“Há! Sinto ter que te informar, mas eu sou e sempre fui problema.” Eu ri. “Ou você ainda não notou isso?”

Apolo riu.

“Tá... Mas não é tanto assim.” Ele olhou para mim novamente, e resolveu fazer uma brincadeirinha. “A quem eu estou enganando? Você é problemática demais.”

“Ah, não exagera.” Eu revirei os olhos rindo. “Mas... Por que você quis entrar dessa vez?”

Apolo sorriu levemente e se levantou para guardar o porta-retratos.

“Conversar.” Respondeu ele. “Nós passamos o tempo todo treinando, então eu pensei... Nossa! Porque não conversar um pouco com ela como uma pessoa normal faria? E aqui estou eu.”

Ele voltou para o sofá e se espreguiçou. Eu não conseguia para de sorri. Não sabia nem mesmo porque, mas eu estava sorrindo. Resolvi desviar o olhar, e fitar a TV um pouco.

“Por que está sorrindo?” Perguntou Apolo chegando um pouco mais perto, e meu sorriso aumentou.

“Nossa... Eu... Não sei.” Eu olhei para ele, e vi que seus olhos azuis estavam bem mais perto dos meus. “É que... Eu nunca imaginei isso. Ser filha de um Deus, e passar todos os dias treinando e lutando contra monstros. E em New Jersey! É só... Engraçado.”

Apolo se ajeitou no sofá. Estava um pouco mais perto de mim. Ele jogou sua cabeça para trás e fitou o teto com um sorriso no rosto.

“Ninguém nunca olha para o teto.” Comentou ele distraído.

“Legal... É realmente uma conversa que eu teria com uma pessoa normal. Por que ninguém nunca olha para o teto.” Eu ri.

“É só um comentário.” Ele fez uma careta. “Mas então tá, senhora Eu Converso Muito Com Pessoas Normais... Sobre o que você quer falar?”

“Uhm... Eu não sei.” Encolhi os ombros. Um vento frio soprou pela janela e eu tremi um pouco. “Nossa... Está esfriando muito rápido.”

“As pessoas normais conversam sobre o tempo?” Riu Apolo. “Elas não acham isso chato?”

“Eu não estava conversando sobre o tempo! Era só...!”

“Um comentário?” Perguntou ele voltando sua cabeça para frente e olhando nos meus olhos com um sorriso no rosto. “Te peguei.”

“Quer saber? Esquece.” Eu falei me. Sentei de pernas de índio no sofá e me virei totalmente para ele. “Eu não sou normal. Você não é normal. E nossa conversa não precisa ser normal.”

“Cuidado!” Falou ele fingindo um tom ameaçador. “Você acabou de chamar um Deus de anormal. Não é algo muito sábio.”

“Oh! Estou morrendo de medo.” Fingi. “Vai fazer o que? Me amaldiçoar também? Por favor! Eu não quero falar em haicais pelo resto da vida!”

Apolo riu, e eu também. Só de ele estar rindo eu ri, e aposto que isso aconteceu com ele também.

“Ai ai...” Eu suspirei. “Ele sempre foi assim?”

“Ares? Ah, sim.” Apolo assentiu. “Sempre se irritou facilmente, mas eu acho que o Deus da guerra precisa ser assim. Mas... Cá entre nós, ele sabe ser bom quando ele quer, só não faz isso... Freqüentemente.”

“Ah, que legal.” Eu revirei os olhos. “Mas... E quanto a você?”

Ele parou de rir, mas no seu rosto ainda estava um sorriso.

“Eu... Eu sou Apolo.” Respondeu ele. “Eu sou um Deus legal que não gosta de amaldiçoar pessoas, e que... Dirige um carro legal. Faço uns haicais legais, e... Tenho um penteado de cabelo legal.”

“Nossa... Parece legal.” Eu ri. “Mas... Você sempre faz isso? Digo... Treinar semideuses?”

“Ah, claro!” Ele respondeu, mas então seu sorriso pareceu um pouco mais tímido e ele desviou o olhar. “Mas... Precisa ser um semideus bem especial. Sabe? Tipo um... Em um milhão.”

Meu rosto ficou levemente vermelho.

“Está dizendo... Que eu sou especial?” Eu não pude deixar de sorrir. Desviei o olhar antes que Apolo notasse que eu estava sorrindo, e cobri minha boca com a mão.

“Acho que você sabe a resposta.” Ele murmurou.

Eu não pude deixar de olhar para ele. Ele estava dizendo que...?!

“Há! Olha só! Seu rosto está todo vermelho.” Sorriu ele divertido. “Acho isso tão engraçado. Ei... Acho que você gosta de mim.”

Eu pisquei os olhos. Estava completamente sem graça, por isso a melhor coisa que eu consegui fazer foi pegar uma almofada e jogar nele. Apolo desviou facilmente.

“Escuta... Deus do Sol.” Eu falei levantando do sofá. “Eu só fiquei assim, porque estou lisonjeada com o elogio. Mas não pense que isso significa outra coisa. Só porque você é... Você. Não quer dizer que todas as garotas devam...”

“Nós já tivemos um encontro.” Lembrou ele com um sorriso torto no rosto.

“Que? Ah... Aquilo não conta como um encontro.” Eu falei, mesmo achando que aquilo contava sim. “Eu nem mesmo sabia que era você. Pensei que fosse um cara normal.”

“Mortal, não é?” Corrigiu ele. “Mas não foi só isso. Nós nos beijamos também.”

Meu rosto ardeu em vermelho e eu me virei e comecei a andar para longe dele procurando qualquer coisa para me distrair. Podia sentir Apolo me seguindo com os olhos.

“Aquilo também não conta como um beijo.” Eu falei tentando parecer o mais confiante possível. “Nós não nos beijamos.”

“Claro... Nós não nos beijamos.” Ele concordou. Eu estava pronta para me virar, quando ele apareceu bem na minha frente. “Você me beijou.”

“Eu escorreguei, tá bom?!” Eu me defendi. “Eu já pedi desculpas para você! O que mais você quer que...?”

Eu não terminei a frase. Apolo encostou se dedo indicador sobre os meus lábios, e sorriu.

“Eu estava só brincando.” Disse ele sutilmente. “Não precisa se desculpar. Seu beijo não foi ruim nem nada. Pode relaxar. E também... Eu sei que você gosta de mim. Por isso eu vou parar de brincar com você, me sentar ali no sofá e me comportar, certo?”

Ele piscou um olho para mim e foi para o sofá. Eu precisei de alguns segundos para meu cérebro voltar a funcionar. Eu só conseguia pensar em como ele era lindo, e em como eu ia amar beijá-lo novamente... Mas então uma parte de mim me mandou voltar ao planeta Terra, e eu acordei do transe.

“Convencido.” Eu falei para Apolo. “Eu não disse nada sobre gostar de você. Pelo que parece... É você que gosta de mim.”

Ele não respondeu. Apolo desviou o olhar para o teto novamente e eu pude vê-lo sorrir.

“Não é engraçado? Eu falo que você gosta de mim, e você fala que eu gosto de você. Mas nenhum dos dois dá o braço a torcer.” Ele riu, e depois olhou para mim. Seus olhos eram carinhosos e passivos. “Você é especial, Alice. Eu gosto disso.”

Eu sorri de leve.

“Obrigada...” Eu respondi. “Isso quer dizer que... Você gosta de mim?”

Ele encostou seu dedo indicador em seus lábios, e fez: “Sh!”

“Eu não posso contar para você. Se eu gosto ou não... É um segredo.” Ele piscou e voltou a olhar o teto.

Eu suspirei. O meu coração tinha disparado mais do que o conversível dele. A minha mente apagou tudo que não tivesse a ver com Apolo naquele momento, e incrivelmente eu me senti bem. Mas quando ele disse que era um segredo, eu voltei ao normal. Eu tinha o que? Umas... 50% de chances? Bem... Era o Deus do Sol, logo se eu tinha isso já era sorte demais para uma azarada que nem eu.

Por fim eu acabei me sentando ao seu lado no sofá. Apolo continuava olhando o teto. Ele esticou o braço e segurou o meu ombro me puxando para perto. Ele era tão quente quanto um cobertor.

“Então? Você gosta de mim?” Perguntou distraído, enquanto olhava para o teto.

“Sh! Se eu gosto ou não, é um segredo.” Eu disse o que ele me respondeu e comecei a olhar o teto.

Apolo fez uma careta.

“Sua chata!” Ela falou, mas depois sorriu. “Sabe que eu posso ler mentes?”

Eu arregalei os olhos para o teto.

“Mentira. É mentira sua.” Falei torcendo para que eles estivesse mesmo mentindo.

“Não. Eu realmente leio mentes.” Ele afirmou ainda distraído. “Mas quer saber? Eu acho que vai ser mais divertido se for uma surpresa. Tipo... Eu vou acordar um dia no Monte Olimpo e vai ter um cartaz enorme escrito: ‘Apolo, eu gosto de você. Quer sair comigo na sexta ás sete? Beijos Alice’ e eu vou dizer ‘Wow! Que surpresa!’ e vai ser bem legal.”

“Ah tá!” Eu ri. “Claro que eu vou fazer isso! Eu nunca fui á Paris, mas eu vou á Grécia só para por um cartaz assim no meio do Monte Olimpo, e voltar antes de sexta ás sete.”

“Ah... Vamos! Ia ser legal!” Ele falou. “Eu ia gostar.”

“Então você gosta de mim.” Eu falei.

“Eu disse que ia gostar do cartaz. Não falei nada sobre gostar de você.” Ele fez um careta para mim e depois riu.

Eu revirei os olhos. Apolo não batia muito bem da cabeça, mas ele era realmente muito legal. O Deus mais simpático que eu tinha conhecido. Claro... Sem contar o meu pai.

Eu soltei um bocejo.

“Que horas são?” Eu perguntei.

“São umas... 8 eu acho.” Respondeu ele franzindo o cenho. “Você está com sono?”

“É... Um pouco. Eu tive um dia louco, sabe? Enfrentei uma hidra, pulei do sétimo andar do shopping, joguei Xbox com o Deus da guerra, quase morri por causa de um sofá, e tive que passar a tarde toda usando uma camisa que dizia ‘Beije o motoqueiro’. Eu acho que preciso descansar.” Contei e tive vontade de rir de mim mesma. Como a minha rotina estava virando essa loucura?! Há há. Era engraçado.

“Ganhou dele no Xbox?” Ele perguntou e eu assenti. “Há! Ele deve ter morrido de raiva. Usou a desculpa dos dedos pequenos com você?”

“É. Usou.” Eu franzi o cenho. “Com... Você também.”

 “Pode crer.” Ele riu. “Ares não suporta perder. Mas mudando de assunto... É melhor você dormir.”

Ele encostou a minha cabeça no ombro dele. Eu estava pronta para dizer que eu podia subir as escadas e dormir, mas acabei ferrando no sono. Meus olhos se fecharam pesadamente e eu não tive força o suficiente para abri-los. Ainda sentia o meu corpo todo doer, mas perto de Apolo a dor era mais amena.

“Boa noite... Apolo.” Eu murmurei sonolenta.

“Boa noite.” Respondeu ele provavelmente sorrindo.

Com isso eu caí no sono.

Não tive nenhum pesadelo nem nada. Pelo contrário... Eu nem me lembro qual foi o meu sonho. Quando eu abri os olhos eu estava completamente curada. Não sentia sono, nem dor, nem frio, nem nada. Não me sentia tão bem há semanas!

Eu olhei para o lado. Estava deitada no sofá, e bem perto de mim estava Apolo. Eu pisquei os olhos acordando aos poucos e ele fez o mesmo poucos segundos depois.

“Bom dia...” Ele murmurou.

“Bom... Dia.” Eu franzi o cenho sem me lembrar o porque dele estar do meu lado. Eu olhei para o meu corpo. Eu e ele estávamos de roupa, o que era um excelente sinal. Eu e ele olhamos para o teto ao mesmo tempo, como em um movimento sincronizado, o que seria muito engraçado se nós víssemos o teto e não o meu pai em pé nos encarando.

“Bom dia... Hermes.” Sorriu Apolo desajeitado.


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Notas finais do capítulo

Opa...

O que será que Hermes vai fazer?

Descubram no próximo capítulo, mas não se esqueçam dos reviews!