Meu Vizinho Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 26
Metodos modernos de tortura = Poltrona ruins


Notas iniciais do capítulo

Mais um!



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Em certos momentos da sua vida você tem que pensar no que você deve ser grato. Principalmente se você for filha de Hermes, estiver sendo atacada por uma hidra e tiver o maravilhoso poder de se transportar para outros lugares.

Quando a hidra parou de lançar fogo e pensou que eu tinha virado churrasquinho, eu pude ver as três cabeças se inclinarem para o lado sem entender. Elas deviam estar se perguntando onde eu estava.

Eu tinha ido para do outro lado da enorme piscina/chafariz do shopping. Estava com a respiração ofegante, e completamente encharcada. Meu coração estava batendo acelerado.

Mesmo assim eu reuni todas as minhas forças e mirei bem no meio dos olhos da cabeça do meio. Eu atirei várias flechas, e por incrível que pareça elas acertaram o alvo. O monstro berrou de dor e pulou na piscina tentando me pegar.

“Toma essa.” Eu falei atirando mais uma dentro da boca da cabeça do meio assim que ela tentou lançar mais fogo. Outro berro de dor.

A água da piscina só chegava até metade do corpo do monstro, o que tornava a travessia não tão difícil. Ela estava nadando bem rápido, por isso eu saí correndo.

“Pense em um plano, Alice!” Exclamava Apolo em algum lugar atrás de mim.

“Há! Você sabe que ela está perdida, Apolo!” Zombava Ares.

Certo. Nós chegamos em uma parte da história que você tem que saber de uma coisa. Eu não me dou muito bem com altura. Eu também não gosto de fazer decisões arriscadas, mas eu ás vezes (em situações extremas) uma parte de mim, que provavelmente controla os meus movimentos, fala: “Ah... Que se dane!” e acaba agindo sem nem pensar direito.

Foi exatamente isso que aconteceu. Nós estávamos no sétimo andar. O shopping era enorme, como você deve ter percebido. E como a maioria dos shoppings enormes, há um vão que, se você chegar perto da grande dos andares, pode ver o chão do primeiro piso.

A hidra estava atrás de mim. Eu tinha chegado á essa grade. Eu estava olhando para baixo naquele momento. Um cartaz gigante de anuncio de celulares estava pendurado desde o teto do shopping até o primeiro piso.

A voz da minha cabeça disse: “Ah... Que se dane!” no exato momento em que a hidra estava correndo na minha direção. Sabe o que eu fiz? Eu pulei.

Tenho certeza de que se eu olhasse para trás eu veria os olhos arregalados de Apolo, Ares e até mesmo da hidra, mas eu não olhei.

Eu tomei impulso e me joguei o mais longe que consegui. Eu agarrei uma das cordas que seguravam o cartaz, mas infelizmente ela estava solta. Eu despenquei por todos os sete andares com uma velocidade impressionante.

A adrenalina que corria nas minhas veias era maior que na vez que eu estava correndo com a moto do ciclope em alta velocidade.

“Não!” Berrou Apolo.

A hidra não conseguiu parar a tempo, por isso acabou caindo junto comigo. Eu não tentei matá-la, nem mesmo tentei voar ou coisa parecida. De novo, a adrenalina bloqueou o meu cérebro. Eu não conseguia pensar em nada.

A hidra era mais pesada do que eu, por isso eu consegui vê-la se chocar contra o chão e virar um monte de poeira dourada. Eu ia ser a próxima. Quando eu estava prestes a me quebrar inteira no chão, quase como um milagre, a corda que eu estava segurando escapou das minhas mãos e acabou se enrolando no meu pé.

A corda travou e eu fiquei pendurada á 3 metros do chão de cabeça para baixo. Eu não pude ver, mas algo aconteceu com as outras cordas, e eu fui puxada para cima com a mesma velocidade que eu estava caindo.

“Ah!” Berrei, embora ninguém fosse ouvir.

Quando eu cheguei ao sétimo andar novamente, a corda arrebentou e eu (de algum jeito) fui atirada no chão onde estava antes. Eu caí de costas para o piso. Meus olhos estavam abertos, e fitavam compulsivamente o teto. Podia tentar me levantar, mas sentia o meu corpo totalmente duro.

No meu campo de visão apareceram Apolo e Ares. Os dois olhavam para mim com cara de: “Você é completamente louca!”.

“Você... Conseguiu.” Falou Apolo, e depois de se recuperar do choque abriu um sorriso. Ele olhou para o Ares. “Viu só?! Eu te disse que ela conseguia!”

“É... Eu consegui.” Falei com uma voz débil e fraca.

“Ela...” Ares franzia o cenho. “Por estar andando tanto com você, a garota vai precisar de um psicólogo.”

 “O que? Por quê?” Perguntou Apolo sem entender.

“Por quê?! Ela pulou do sétimo andar, seu idiota!” Respondeu Ares.

“Ah... Isso não foi nada demais. Eu sabia que ela ia sobreviver.” Falou ele, mas não passava tanta segurança quanto queria.

“Ah, claro que sabia.” Ares revirou os olhos.

“Alice... Você ainda está viva? Quantos dedos têm aqui?” Perguntou Apolo.

Ele mostrou as duas mãos abertas. Mesmo se eu não estivesse enxergando bem, eu notaria que ele só podia estar mostrando dez dedos. Ares olhou para ele sem acreditar.

“Tem tanta coisa errado em você, que eu não sei nem por onde começar!” Exclamou.

“O que? Eu estou tentando ajudar!” Protestou Apolo. “Ao contrário de você.”

“Ajudar?! Que tipo de ajuda é essa?!” Perguntou Ares. Então ele imitou Apolo. “Olha, eu sou o Apolo. Quantos dedos têm aqui? Estou salvando a sua vida.”

“E quanto a você?!” Falou Apolo. “Olha, eu sou o Ares! Eu não gosto de TV, por isso amaldiçôo os outros para me divertir. He He.”

“A minha risada não é assim!” Reclamou Ares. “E também, TV é para os fracos! Não tem violência o suficiente!”

“Mas você assiste mesmo assim.” Retrucou Apolo.

“O que você quer insinuar com isso?!” Exclamou ele furioso. “Por que você não volta para o seu carro brilhante fazer poesia, hein? É a única coisa que você sabe fazer mesmo!”

“Olha quem fala! Você só serve para arrumar briga, fora isso é um inútil!” Exclamou Apolo.

“Eu te mostro quem é o inútil!” Ares estava pronto para dar um soco em Apolo, quando eles ouviram um grito. Foi o meu grito.

“Ah!” Gritei de dor.

Eu tinha quase me esquecido do que acontece quando eu venço os monstros. A energia correu por todas as minhas veias. Todo o meu corpo latejou de dor no mesmo momento, e eu não agüentei. Fiquei 1 minuto assim, até que parou.

“Alice? Está tudo bem?” Perguntou Apolo.

“Uhm...” Eu não consegui falar. Meus olhos se fecharam e aos poucos não consegui ouvir mais nenhum som.

“É impressionante! Eu nunca vi uma luta como essas! Ele está acabando com o adversário! Mais um golpe e será um K.O!” Exclamava uma voz. “Um, dois, três... Ele levantou! Levantou!”

Além daquela voz eu podia ouvir o som inconfundível do AC/DC cantando “Black Ice”. Eu, ainda de olhos fechados, tateei a minha mesa e achei o controle remoto. Eu estendi a mão e desliguei a TV.

Talvez assim eu pudesse dormir em paz.

“Ei! Eu estava vendo!” Protestou uma voz forte.

Eu franzi o cenho de olhos fechados. Fui abrindo os olhos devagar. Eles ainda estava um pouco cerrados, quando eu olhei para o sofá. Sentado de frente para a TV estava Ares. Seus pés estavam esticados na mesinha de centro.

“Ei...!” Exclamei com a voz falhando.

Foi aí que eu senti o meu corpo doer. Parecia que eu tinha levado um soco em cada centímetro do meu corpo, e agora estava cheia de hematomas roxos que doíam só de encostar. Eu olhei para o meu braço e vi que estava normal. Sem marcas, sem nada.

“O que... O que houve?” Eu perguntei.

Ele revirou os olhos.

“Sua fresca. Você tentou se matar, e depois não agüentou a dor e desmaiou.” Contou ele.

“Eu... Eu não tentei me matar.” Eu protestei. “Eu destruí a hidra, não foi?”

“Você me pergunta o que aconteceu e já vem com a resposta.” Resmungou ele. “Da próxima vez fique de boca calada. Agora passa logo o controle remoto.”

Eu franzi o cenho e me ajeitei na poltrona. As minhas pernas estavam por cima do braço esquerdo. Minhas costas estavam doendo.

“Não.” Respondi. “E saia da minha casa.”

Ele riu e olhou para mim com cara de “Tá falando sério?”.

“Se liga, filhinha de Hermes. Essa é a minha casa.” Ele falou.

Eu pisquei os olhos e olhei em volta. As paredes eram vermelhas, os móveis eram um pouco diferentes, e tinham aquele maldito som tocando.

“O que eu estou fazendo na sua casa?!” Perguntei sem me lembrar de nada.

“Não foi idéia minha, se você quer saber.” Falou ele. “Bem... Na verdade foi. Se não... Cuidasse de você como a Afrodite pediu, eu poderia dar adeus ao desfile particular. Por isso... Estou aqui trabalhando como babá.”

“Trabalhando... Como babá.” Eu repeti. “Eu não sou nenhum tipo de criança.”

“Eu sou tão velho quanto a guerra.” Ele olhou para mim. “Para mim, você não passa de uma pirralha.”

“Que legal...” Eu revirei os olhos. “E... Onde está o Apolo?”

“Ele teve que ir embora quase depois que você desmaiou. A Afrodite me fez jurar que não mataria você ou coisa parecida, só aí ele se mandou.” Respondeu tomando um gole de uma bebida. “Ah... Vinho tinto. Tão bom. Me lembra sangue.”

“É... Coisas que lembram sangue são realmente interessantes.” Concordei sarcasticamente.

Eu olhei para a poltrona em que eu estava sentada e depois para o sofá grande e espaçoso que ele estava sentado.

“Espera... Você me fez dormir nessa poltrona enquanto você um sofá inteiro?!” Eu perguntei.

“O sofá é meu, e a poltrona também. Estou sendo bonzinho de deixar você ficar aqui, por isso não vem reclamando.” Falou ele. “Agora me dá a droga do controle.”

Eu revirei os olhos. Um vento soprou pela janela e levantou as cortinas um pouco. Eu me encolhi e abracei a mim mesma.

“Que frio!” Eu gemi.

“Tsc!” Fez ele. “Frio é coisa de garotinhas. Eu não sinto frio.”

“Mas... Você anda sempre com essa jaqueta de couro. Nunca vai sentir frio.” Eu comentei.

“O que você quer insinuar com isso?” Perguntou ele me lançando um olhar feroz.

“Esquece...” Eu revirei os olhos. Foi aí que eu notei que eu estava vestindo roupas diferentes. “O que...?!”

“Ah... A Afrodite falou que seria... Gentil da minha parte se eu emprestasse para você algo para não sentir frio, já que você tomou um banho na piscina do shopping.” Ele disse “gentil” com muito nojo.

“É... Foi gentil da parte dela.” Comentei. Tinha algo escrito na camisa e eu li. “Beije o motoqueiro. Que droga de camisa é essa?”

O rosto dele ficou levemente vermelho. Não sabia se era de raiva ou de vergonha.

“Foi um presente, tá bom?” Disse ele. “Não que isso realmente seja da sua conta.”

“Não é. Eu só...” Eu ia dizer algo, mas ele me interrompeu.

“Se não gostou tira e morre de frio. Eu não dou a mínima.” Falou ele. “Me dá a porcaria do controle remoto agora.”

Ele estendeu a mão e o controle foi até ele. Ares ligou a TV e voltou a apresentar a luta livre. Eu tentei me levantar da poltrona. Estava lutando contra a dor, mas por fim consegui. Quando fiquei de pé vi que a camisa ia até os meus joelhos, além de ser XXGG. Por baixo eu estava usando uma bermuda camuflada, como as dos militares.

Foi aí que algo percorreu a minha mente. Eu olhei para Ares.

“Foi você que...?” Eu não terminei a frase. Ele olhou para mim, e entendeu o que eu quis dizer. Ares começou a rir.

“Eu tenho a Deusa do amor só para mim, você acha mesmo que eu iria querer ver você?” Ele zombou. “Afrodite usou a mágica dela. Eu não fiz nada.”

“Ainda bem.” Eu revirei os olhos e olhei para a TV bem a tempo de ver um cara quebrar o braço de outro. Aquilo foi tão nítido e repentino que eu soltei um grito involuntário. “Ah!”

Eu segurei o meu braço como se fosse ele que estivesse quebrado. Ares riu ainda mais.

“Aquilo não foi nada. Deixe de ser criança!” Zombou ele.

“Não foi nada?! Ele acabou de quebrar o braço daquele cara! E a câmera deu um zoom!” Eu falei ainda sentindo dor pelo cara. Mas depois piorou, porque o desafiante com o braço quebrado começou a arrebentar a cabeça do oponente contra uma grade. Eu virei de costas. Parecia até que era eu ali lutando.

“Troca de canal...” Eu gemi. “Por favor...”

“Ah, desculpa. Esqueci que você gosta de ver o Discovery Kids!” Zombou Ares.

“E eu esqueci que você é um animal, mas agora eu já lembrei.” Respondi.

“Isso é a realidade. Se não consegue ver um braço sendo quebrado, então não vai conseguir sobreviver no mundo lá fora.” Comentou ele.

“O mundo lá fora não é um zoológico!” Eu protestei. “As pessoas não quebram o braço das outras ou esmagam a cabeça contra as grades no café da manhã. Isso é horrível.”

“Fresca...” Ele provavelmente deve ter revirado os olhos. O cara da TV anunciou o fim da luta, e Ares trocou de canal. “Pronto. Feliz agora?”

“Não. Quero ir para casa...” Retruquei.

“Você não vai poder ir.” Suspirou ele. “Eu só posso deixar você ir, quando Afrodite voltar das compras.”

“O que?! Por quê?!” Perguntei.

“Porque foi o trato, idiota. O que você acha?! Que eu gosto da sua companhia infernal?” Respondeu ele.

“Ah, que doce... É tão bom saber que você me odeia tanto quanto eu odeio você.” Eu fingi estar emocionada.

“De nada.” Retrucou ele.

Seria um longo dia... 


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Notas finais do capítulo

Será que isso realmente vai dar certo?

Espero por reviews!