Meu Vizinho Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 23
Artistas contemporâneos incompreendidos


Notas iniciais do capítulo

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“Alice?” Chamou uma das minhas professoras da primeira série. “Alguém veio te buscar. É um amigo da sua mãe. Venha aqui.”

Sim, isso era um sonho. Uma cena do meu passado bizarro que eu quase não me lembrava direito.

“Estou indo.” Falei andando até lá.

Naquela época eu devia ter uns 7 anos no máximo. Meu cabelo era um pouco mais curto. Ele ficava bem no meu ombro e era um pouco mais claro (vai saber porque).

Eu corri até a porta e vi um homem com roupa de ginástica. Era Hermes, embora no dia eu não soubesse. Eu era um pouco tímida, por isso assim que eu o vi me encolhi um pouco atrás da professora.

“Não se preocupe, Alice. A sua mãe disse que ele vinha te buscar. Não seja tímida. Diga oi.” Incentivou a professora.

“Oi.” Eu falei sem graça, e ele sorriu.

“Oi.” Respondeu e esticou a mão. “Vamos? Quer me dar a mão?”

Eu não podia fazer nada além de segurar a mão dele. Hermes me levou para fora da escola e, depois de alguns passos, começou a puxar conversa.

“Então, Alice... Você lembra de mim?” Perguntou ele.

“Não...” Respondi. “Quem é você?”

Ele sorriu.

“Você provavelmente não ia lembrar mesmo... Eu te vi quando você era bem pequena.” Contou ele.

“Eu ainda sou pequena.” Falei.

“Claro.” Ele riu. “Mas eu quero dizer... Quando você ainda era bebê. Sabe? Bem menor do que é agora.”

“Ah, sim.” Concordei. “Não me lembro de você mesmo.”

“Meu nome é Hermes.” Falou ele com um sorriso. “Sou um grande amigo de sua mãe.”

“Ela nunca falou de você...” Foi aí que eu me toquei e os meus olhos brilharam um pouco. “Hermes?! Como o nome daquele Deus?”

Ele sorriu mais ainda.

“Sim! Isso mesmo. Você conhece os Deuses?” Perguntou ele feliz.

“Sim! Eu faço muitos desenhos deles!” Eu contei animada. “Mamãe fala que são muito bonitos!”

“Devem ser mesmo! Sua mãe é uma artista. Você deve ter puxado o dom dela.” Assentiu.

“Você é mesmo amigo da mamãe? Por que... Ela não é artista. Ela é diplomata.” Falei estreitando os olhos.

Ele franziu o cenho levemente.

“Nossa... Diplomata? Que palavra difícil, Alice. Você sabe o que significa?” Ele perguntou.

Eu olhei para o chão triste.

“Significa que a gente tem que viajar o tempo todo... Mudar de casa, de cidade...” Eu falei ainda olhando para o chão.

“Você não gosta disso?” Quis saber ele com um olhar compreensivo.

“Não... Mas a mamãe fala que nós não podemos ficar no mesmo lugar por muito tempo, senão podemos ter problemas.” Eu falei. “Geralmente... Eu sou o problema.”

Ele parou de andar e se ajoelhou na minha frente.

“O que? Uma garota tão legal como você? Eu duvido que você seja o problema.” Disse ele passando a mão pela minha bochecha.

“E sou sim.” Afirmei triste. “Eu sempre sou expulsa das escolas, e o papai não gosta nada disso. Ele briga muito comigo, e diz que está decepcionado.”

“Ora, então ele devia...!” Hermes engoliu um xingamento. “Ele devia pensar melhor... Isso é completamente normal. Acontece com todo mundo.”

“Mas eu fui expulsa 7 vezes.” Eu contei.

“É... Acontece mais com uns do que com outros, mas ainda assim é normal.” Ele falou. “Não fique assim. Ele deve gostar de você de qualquer jeito. E a sua mãe mais ainda.”

“É... Ela diz que isso é normal, mas o meu pai não ouve.” Eu falei suspirando. “Eu... Só causo problema.”

“Claro que não!” Insistiu ele. “Alice, o que aconteceu para você ser expulsa?”

“Se eu contar não vai gostar de mim.” Eu disse.

“Eu vou sempre gostar de você. De um jeito ou de outro. Agora... Vamos, pode falar.” Incentivou ele.

“A professora falou que eu andei roubando coisas da escola.” Eu falei depois de olhar para os dois lados para ver se ninguém ouviria. Meu sussurro fez Hermes querer rir, mas ele se conteve. “E da outra vez... Tinham cobras na minha mochila.”

“Cobras?” Ele ergueu uma sobrancelha. “Você levou elas para a escola?”

“Não! Mas ninguém acredita em mim!” Eu falei. “E eu também não roubei nada... Eu queria muito, mas não peguei!”

Ele bagunçou um pouco o meu cabelo.

“Eu acredito em você.” Ele piscou para mim. “A culpa não é sua.”

“Você acredita mesmo?” Meus olhos brilharam. “Acredita em mim?”

“Mas é claro que sim!” Ele disse.

“Você e a mamãe são os únicos...” Eu murmurei.

“Uhm... Vamos mudar de assunto, certo? O que você gosta de fazer no seu tempo livre?” Perguntou.

Eu pus a língua para fora de lado e olhei para o céu pensativa. Se eu encontrasse o meu eu do passado na rua gostaria de apertá-lo de tão fofo e inocente.

“Eu gosto de acordar cedo para ver desenhos na TV. Muito cedo mesmo. Ás vezes ás 5 da manhã!” Eu contei mostrando uma mão com o número quatro, e ele riu. “Eu gosto de ver TV comendo cereais coloridos. Eles são gostosos.”

“Eu também adoro cereais coloridos.” Concordou Hermes tentando não rir.

“Que legal! Você pode acordar cedo e ver TV comigo um dia.” Eu convidei.

“Eu ia adorar.” Concordou ele.

“Mas nós temos que fazer silêncio, senão o papai acorda e desliga a TV.” Eu sussurrei.

“Seu pai não sabe que você acorda cedo para ver desenhos?” Perguntou ele.

“Não... Ele fala que é muito cedo para acordar, e que ele tem que dormir para poder ir para o trabalho.” Eu falei. “Nem a mamãe sabe. Ela diz que acordar cedo para ver desenhos não é bom, porque eu preciso descansar, mas eu adoro!”

“Você é sempre cheia de energia assim?” Perguntou ele sorrindo.

“Aham! Acho que devem ser os cereais.” Eu falei.

Hermes não agüentou e riu.

“Claro! Esses cereais energéticos... Mas... Continue. O que mais você gosta de fazer?” Ele perguntou.

“Eu gosto de desenhar. Desenho todos os dias. Meus pais falam que os meus desenhos são lindos, mas...”

“Mas o que?” Quis saber ele.

“Eles nunca adivinham o que eu desenhei.” Eu disse. “Teve uma vez que eu desenhei um carro, e o papai falou que era a árvore mais bonita que ele já viu. Aí eu disse que era um carro... E ele disse que eu era uma ótima artista contemporânea.”

Eu fiz uma pose de “Sou uma artista legal” e ele riu de novo. Doce inocência infantil... Crianças não conseguem ler nas entrelinhas...

“Sério? Que legal, hein? Artista contemporânea...” Ele repetiu tentando não rir. “Você desenha o que geralmente?”

“Uhm... Eu fiz um desenho do papai e da mamãe. Mas eu já fiz um desenho com os Deuses, quer ver?”

“Lógico que sim.” Assentiu ele ansioso.

Eu peguei uma folha de papel da minha mochila e entreguei para o meu pai. Ele a girou algumas vezes na mão e por fim notou qual era o lado certo do desenho. Cada Deus tinha uma cor diferente.

“Vamos ver se eu conheço os Deuses...” Falou ele sorrindo. “Esse aqui... É... Atena?”

“Não... É Hera.” Eu falei. “Olha... A Atena tem uma coruja no ombro.”

Hermes estreitou os olhos.

“Isso... É uma coruja?” Ele perguntou olhando um borrão que parecia um coelho. “Ah! Claro... Eu não vi direito. Vejamos... Esse aqui é Poseidon, certo?”

“Não! Esse é Zeus!” Eu protestei.

“Mas... Isso não é um tridente?” Perguntou ele.

“Não! É um raio, seu bobo.” Eu corrigi rindo.

“Ah, claro! Como eu sou bobo.” Ele falou dando um tapa na própria testa. “Mas... O que é isso na boca de Zeus?”

“É uma nuvem.” Eu falei. “Ele manda no céu, não é?”

“Por isso a barba dele é uma nuvem... Faz sentido.” Riu Hermes. “Ei! E... Esse cara aqui? O baixinho careca. Ele parece um pouco zangado... É o Hefesto?”

“É o Ares.” Corrigi. “Ele está sempre zangado.”

“Por isso ele é vermelho?” Perguntou Hermes.

“Isso mesmo.” Eu confirmei. Já criança eu sabia que ele era assim... Uau. “Ele vive com raiva porque é o Deus da guerra.”

“É verdade.” Concordou ele tentando não rir. “E essa aqui? É... A Afrodite?”

“Acertou!” Eu comemorei. “Você acertou!”

“Não foi difícil... Ela é a única Deusa rosa.” Comentou ele. “E... Quem é esse cara aqui? Ele está tão engraçado. É baixinho e azul.”

“É o Hermes.” Eu sorri. “Ele é o meu Deus favorito. Olha! Ele tem azas nos pés!”

“O que?! Por que eu... Ele é azul?!” Ele perguntou sem entender.

“No desenho da TV ele é azul.” Eu falei. “E usa esses sapatos legais.”

“Mas... Isso são óculos de Sol? Parecem de hippie.” Ele falou.

“Ele gosta deles.” Eu afirmei.

“Gosto nada... Não sirvo para ser hippie.” Ele falou.

Eu comecei a rir e ele ergueu uma sobrancelha.

“O que foi que eu disse?” Ele não entendeu.

“Você não é Hermes! Só tem o mesmo nome que ele.” Eu ri.

“E se eu fosse?” Ele afirmou. “Me desenharia sem esses óculos?”

“Se você fosse você usaria esses sapatos legais, e esses óculos. E seria azul.” Eu falei.

“Azul? Ninguém é azul!” Ele protestou como uma criança.

“Hermes é azul.” Eu afirmei.

“E Afrodite é rosa, e Ares é vermelho, e Zeus tem uma nuvem como barba.” Ele completou.

“Isso mesmo.” Eu afirmei.

“Desculpa então. Acho que não conheço tanto os Deuses como você.” Ele riu.

“Tudo bem...” Eu dei uns tapinhas nas costas dele. “Eu te ensino um dia desses.”

Ele segurou o riso.

“Claro... E... Quem é essa?” Perguntou ele apontando para um pequeno boneco no canto do desenho.

“Essa aí sou eu.” Eu falei. “Nos filmes, os heróis que são muito bravos na Terra podem virar deuses e morar no Olimpo. Sou eu como uma heroína.”

Ele ficou parado olhando o desenho um pouco. Passou o dedo por cima da minha figura e sorriu.

“Você daria uma excelente heroína, Alice. Eu tenho certeza.” Confirmou ele. “Você poderia mesmo ir para o monte Olimpo. Ia adorar a vista de New York.”

Eu comecei a rir e ele desviou o olhar do desenho para mim.

“Você é mesmo muito bobo! O Monte Olimpo fica na Grécia!” Eu ri, mas abraçei ele. Ele sorriu feliz. “Mas não tem problema... Eu te ensino.”

“Vou adorar aprender.” Ele confirmou. Hermes se pôs de pé me segurando no colo. “Você gosta de correr, Alice?”

“Amo!” Eu respondi.

“Ótimo! Quer apostar uma corrida comigo?” Ele perguntou.

“Quero sim! Mas você vai perder! Eu sou a melhor corredora do mundo!” Eu disse pulando para o chão.

“Eu é que sou o melhor, sua boba.” Ele fez uma careta de brincadeira para mim, e eu retribui.

“Duvido!” Eu saí correndo e Hermes me seguiu gritando para eu esperar. Não tinha quase ninguém na rua, por isso não tivemos problemas de ter que desviar dos pedestres normais.

Quando chegamos perto de casa eu pude ver a minha mãe na porta acenando para a gente.

“Mãe! Eu estou ganhando dele!” Eu gritei.

“Ei! Não conte vantagem!” Protestou Hermes.

Ele não estava correndo o mais rápido que conseguia, lógico. Ele estava fingindo estar cansado e fora de forma me deixando ganhar. Eu estava quase em casa quando tropecei e caí. Eu ralei o joelho, e minha mãe veio logo para perto de mim.

“Alice!” Ela exclamou. “Ah... Você tem que tomar mais cuidado!”

“Desculpa...” Eu choraminguei.

“Desculpa?” Repeteiu Hermes fingindo estar sem fôlego. “Você ganhou de mim! Não tem o que se desculpar.”

Minha mãe olhou para ele e sorriu.

“Não muda nunca...” Ele disse.

“Gosta de mim desse jeito, não é? Para que eu vou mudar?” Ele riu.

“Você perdeu!” Eu fiz uma careta para ele.

“Eu só perdi por que... Por que o Sol estava no meu olho!” Ele falou como criança.

“Mentira! Hoje o dia está nublado!” Eu rebati. “Você perdeu porque é velho.”

“Alice!” Repreendeu a minha mãe. “Não seja mal educada.”

“Deixa, Jenny. Ela está certa. Eu já estou ficando velho mesmo.” Ele concordou e depois piscou para mim. “Então... Nós nos vemos na hora dos desenhos, certo?”

Eu pisquei de volta e nós dois sorrimos. Hermes foi embora, e eu e a minha mãe entramos em casa. Ela ficou me perguntando que hora dos desenhos era essa, mas eu fingi que não sabia de nada.

Eu acordei com algo pulando encima de mim. Eu abri os olhos e notei o que era... Uma... Aranha.

“Ah!” Eu exclamei dando uma tapa e fazendo com que ela caísse no chão. Só que... Ela era diferente. Era feita de metal. “O que...?”

A aranha emitiu alguns sons estranhos e depois parou. Do nada... Apareceu um holograma e eu pisquei os olhos. Era a imagem de um homem (nem um pouco bonito) e aos pés dele estava escrito um nome... “Hefesto”.


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Notas finais do capítulo

A Alice pequena não é uma gracinha?

Mas... O que será que Hefesto quer com ela?

Tam tam tam taaam!

Reviews, gente!