Meu Vizinho Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 21
A proposta irrecusável


Notas iniciais do capítulo

Mais um!

Ainda bem que o Nyah voltou!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/126061/chapter/21

“Não compreendo.” Falou o balconista sorrindo.

“Não, você não compreende. Ninguém compreende.” Falei com calma. “Eu poderia explicar, mas seria cansativo e muito sem sentido para você. Prefiro ao invés disso fazer as malditas aulas de balé.”

Ele olhou para uma folha de papel.

“Sinto muito, mas... Não tem mais vagas.” Falou.

“Então... Musculação serve.” Falei.

“Ah! Musculação...” Ele foi checar na lista, e eu pude ver Ares fazendo um movimento com o dedo indicador. “Sinto muito. Não tem mais vagas.”

Fechei os olhos. Aí que raiva...

“Que pena, hein? Parece que você está sem sorte.” Falou Ares sorrindo triunfante.

Olhei para ele.

“Pare com isso.” Falei em um tom que só ele ouvisse.

“Que tal você dar um pouco de orgulho para o seu pai? Seja uma boa menina e venha comigo.” Sorriu ele.

“Não vou a lugar nenhum com você.” Resmunguei, e me virei para o balconista. “Quer saber? Acho melhor esquecer essa idéia de academia.”

“O que?! Por quê?!” Ele pareceu tão espantado que isso me deixou espantada.

“Ahm... Por que... Sim.” Respondi.

“Não! Você tem que entrar! Pode começar hoje mesmo!” Ele estava praticamente implorando.

Todos que estavam por perto pararam para olhar para nós três. Principalmente para mim.

“É que... Eu não tenho como pagar.” Tinha que dizer alguma coisa para ele parar com aquilo. E como todos sabem... Sem dinheiro, sem interesse.

“Pode fazer aulas grátis!” Exclamou ele.

Meu rosto estava começando a ficar vermelho.

“Ares... Eu sei que é você que está fazendo isso.” Falei em um tom baixo. “Pare agora.”

“Meu nome é Harry.” Corrigiu ele.

“Tommy, Harry, Ares... Que seja. Só... Pare com isso.” Falei.

Ele riu.

“Sabe o que tem que fazer.” Replicou ele.

“Escuta aqui!” Falei para o balconista parar de fazer escândalo. “Me dê um minuto para pensar, ok?”

Eu devo ter dito aquilo em um tom bem autoritário, pois ele engoliu em seco e assentiu.

“Ok.” Respondeu.

Eu fiquei de costas para ele, de modo que pudesse encarar Ares.

“O que você quer dessa vez?” Perguntei.

Ele cruzou os braços.

“Conversar.” Respondeu ele em um tom inocente.

“Conversar?” Repeti incrédula. “Quer que eu acredite nisso?”

“Não devia ser tão desconfiada assim sabia. Desse jeito Apolo vai largar você.” Zombou.

“Nós não estamos...! Ele não...!” Meu rosto ficou um pouco mais vermelho. “Conversar sobre o que?!”

Ele olhou para o balconista e depois olhou em volta.

“Não gosto de falar isso... Preferia que fosse em um lugar um pouco mais discreto.” Falou Ares. “E acho que você também.”

Eu levantei uma sobrancelha. Como assim?

“Um outro dia talvez.” Falei tentando ir embora, mas ele pôs o braço no caminho e impediu a minha passagem.

“Olha aqui, filhinha de Hermes.” Falou ele. “Estou tentando ser um cara gentil. Até educado. Mas você não está me dando muitas opções. Ou você vem comigo, ou eu te arrasto. Sacou?”

Eu ri.

“Estamos no meio de uma academia. Você não pode simplesmente...!” Eu não terminei a frase.

Ares se aproximou de mim. Seus olhos queimavam cada vez mais. Achei até que ia sair fumaça por debaixo daqueles óculos de Sol.

“Não posso, é?” Perguntou ele com um sorriso maligno.

Com um leve movimento ele me pôs sobre o seu ombro direito, e começou a andar tranquilamente na direção da última porta.

“O que você está fazendo?! Ares! Me põem no chão!” Protestei. Mas então eu vi todos os olhares focados em mim e nele.

“Logo logo eu te ponho no chão. Enquanto isso, fique quieta.” Falou ele sem ligar para as pessoas.

“Ares!” Exclamei, mas logo depois abaixei o tom de voz. “Está assustando todo mundo! Para com isso!”

Ele suspirou e virou-se para olhar as outras pessoas.

“Vocês não tem mais o que fazer, otários?” Rosnou ele.

Todos arregalaram os olhos ao mesmo tempo. Aposto que ele devia ter feito alguma mágica, ou seja lá o que, pois eles voltaram a fazer o que estavam fazendo, e ignoraram completamente a nossa presença.

“Que vergonha...” Murmurei.

“Tsc. São só mortais.” Resmungou ele. “Não entendem nada do que estão vendo.”

“É, mas eles vêem alguma coisa!” Protestei, mas não ia adiantar nada.

Ele continuou andando até que chegamos á uma porta escrita: “Karatê”. Ele abriu-a, e me pôs no chão. A sala tinha o chão forrado de colchões azuis, e tinha um enorme espelho pela parede inteira. Sentados no chão tinham umas... 10 pessoas eu acho.

“O que eles estão fazendo?” Perguntei.

“Respirando, basicamente.” Respondeu Ares dando de ombros.

“Como assim? Quer dizer que eles não podem ver?” Perguntei.

“Você entende rápido.” Falou ele. “Eles não vêem e nem ouvem nada. Só estão aí... Mais como um enfeite.”

“Que legal...” Murmurei. “Mas o que você quer falar comigo?”

“Direto ao assunto?” Perguntou ele.

“É isso aí.” Respondi. “Espero que isso valha a pena depois de passar por aquela vergonha toda.”

Ele revirou os olhos.

“Dramática...” Resmungou. “Mas enfim... Apolo e seu pai me deram muito o que... O que...”

Ele tentava achar a palavra certa, mas o cérebro dele era pequeno demais para aquilo.

“Ahm... Refletir?” Sugeri.

“É. Pode crer.” Concordou ele. “Eu parei para pensar, e achei que talvez estivesse sendo algum tipo de tio negligente.”

Ele figiu estar tocado e emocionado com aquelas palavras. Imaginei o que aconteceria se ele chorasse. Será que escorreriam lágrimas de fogo?

 “E eu sou a dramática...” Murmurei.

“O ponto é...” Ele parou o teatro. “Depois de todo esse blá blá blá meloso... Eu desafio você.”

Eu pisquei os olhos.

“Co-Como é que é?” Perguntei.

“Desafio você, Alice Kelly.” Falou ele abrindo um largo sorriso. “Na guerra eles chamam isso de ‘acordo’.”

“Na vida real eu chamo isso de ‘truque’. Tem alguma coisa por trás disso, e eu não quero ficar para descobrir.” Falei andando em direção á porta. “A nossa conversa acabou. Foi muito divertido, tio.”

Eu tentei sair da sala, mas ele bloqueou a passagem.

“Não vai querer sair.” Sorriu ele.

“Ah, jura?” Falei.

Ele saiu da frente e eu fui até a porta. Quando toquei na maçaneta, fui surpreendida.

“Se ganhar, não ouço mais música alta.” Falou ele pelas minhas costas.

Eu parei imediatamente.

“Há!” Riu ele. “Agora está me ouvindo, não é?”

Eu me virei. Estreitei os olhos para ele.

“Está... Falando sério?” Perguntei desconfiada.

“Assim você me ofende. Por acaso insinua que eu não tenho palavra?” Perguntou ele erguendo uma sobrancelha.

Eu revirei os olhos, mas tive uma idéia. Eu descobri o que ele queria.

“Isso faz parte da sua diversão.” Falei, e ele sorriu impressionado por eu ter descoberto. “Você quer que eu vá até aí e te dê um soco. Mas como você é o Deus da guerra, já vai esperar por isso, e vai desviar facilmente. Resumindo... Você vai ganhar, e vai ter a felicidade de me ver perder. É isso que você quer, não é?”

“Se já está se dando por derrotada logo agora, benzinho... Então é mesmo uma.” Riu ele.

Eu senti muita raiva. Nada me incomodava mais que valentões jogando na cara dos outros que eles não eram nada. Tive vontade de realmente socar ele. Meus punhos se cerraram, e Ares percebeu isso.

“Agora sim.” Disse ele. “Pode vir quando quiser.”

“Não.” Falei. “Eu não vou.”

Eu revirou os olhos, se é que aquilo era possível.

“Aposto que muda de idéia.” Ele apontou para mim com seu dedo indicador e depois para o chão na frente dele. Como que por mágica eu fui arrastada até lá por uma força invisível.

“O que?!” Exclamei surpresa. Não sabia que ele podia fazer isso.

Ares sorriu malignamente e tirou seus óculos de Sol. Eu pude ver as duas bolas de fogo queimando mais do que nunca, e de algum jeito estranho elas começaram a formar imagens. Se bem que... Podia ser só a minha imaginação.

Eu pude ver com muita clareza a minha mãe brigando comigo por eu ter passado o dia todo desenhando Deuses gregos ao invés de fazer o dever de casa, um idiota que estudava comigo me irritando, Will brigando comigo por eu ter sido expulsa da escola, e algumas pessoas que sempre olhavam para mim como se eu não passasse de nada além de uma encrenqueira.

Eu nunca senti tanto ódio. O meu corpo estava rígido. Por um minuto eu não pude pensar. Parecia algum tipo de animal selvagem que é movido apenas pelo instinto. Matar, matar e matar.

Não pensei duas vezes, nem mesmo uma vez. Eu preparei meu punho e o lancei para frente. Ia acertar a bochecha direita dele em cheio, mas quando faltava um centímetro para encostar nele eu me toquei do que estava acontecendo.

Ele estava me controlando. Eu virei o punho para mim mesma. Não podia deixar ele me controlar de jeito nenhum. Isso o daria um motivo para que ele reagisse. Tinha que achar um jeito de voltar a pensar.

Por fim, não me pergunte como nem por que... Talvez tenha sido só um chute mesmo... Eu mordi o meu punho. Senti dor é lógico, pois na minha mente eu ainda queria matar ele. Meus dentes estavam afundando na minha pele. Não profundamente, mas com certeza ficaria vermelho e marcado.

“Não...” Murmurei com o punho entre os dentes.

Eu me virei e comecei a andar para a saída, mas de novo ele me surpreendeu.

“Se sentiria melhor se eu suspendesse a maldição?” Perguntou ele.

O ódio passou. Eu voltei a pensar. Acho que ele tinha feito aquilo de propósito para que eu pudesse analisar a proposta. Me virei.

“Você não vai.” Falei.

“Só se você ganhar.” Falou ele.

Aquilo me fez parar para pensar. Parte de mim dizia: “Se toca, Alice! Esse cara está brincando com você! Dê meia volta e vá embora! Essa proposta não vale nem um dracma furado.”, mas... Ainda havia a parte que me falava: “Livre de monstros, de dores, e de brinde você ainda pode afundar a cara desse otário! Vai fundo! Realmente quer presente melhor do titio?”.

“Ah, vamos lá.” Disse ele estalando os dedos. “Encare isso como um treino. Você treina com Apolo, não é? Bem... Só que ele é só um rostinho bonito. Eu sou o cara.”

Eu levantei uma sobrancelha curiosa.

“Uhm...” Murmurei.

“Eu já me meti em brigas tão feias, que se você soubesse ia implorar nos pés para que eu aumentasse o som de noite, só para que não pudesse dormir e ter pesadelos.” Falou ele. “Eu mando. Eu arraso. E você devia aprender com alguém assim.”

“Humilde, hein?” Comentei.

Ele encolheu os ombros.

“É a verdade, benzinho. Ou você manda, ou você cala a boca e obedece. Ou você protege a própria pele, ou as pessoas pisam em você. O que você prefere? Gosta de ficar esperando Apolo ou Hermes te salvarem?” Ele perguntou. “Estou te dando a chance de aprender algo construtivo, e talvez de ganhar a liberdade que tanto gosta. Pode ficar livre de mim para sempre, não é isso que quer?”

Dessa vez eu é que sorri.

“Com todas as células do meu corpo.” Falei.

Eu corri na direção dele, e Ares ficou completamente imóvel esperando o meu ataque. Dessa vez... A luta ia ser diferente, embora eu não soubesse disso ainda.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que vocês acharam?

Será que ela se livra dessa maldição de uma vez por todas?

Reviews, please.