Meu Vizinho Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 20
Descubro que quero fazer aulas de ballet


Notas iniciais do capítulo

Espero que vocês gostem!



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Dormir não foi uma tarefa fácil. A minha cabeça estava girando ainda. Não tinha a mínima idéia se era por causa do beijo ou por eu quase ter morrido. Talvez os dois.

Antes de conseguir cair no sono, eu ainda tive a lembrança perturbadora das pessoas que nunca mais acordariam naquela loja de colchões. Prometi novamente que iria salvá-las... Se é que aquilo era possível.

Meu sonho novamente não foi normal.

Lá estava Ares. Ele limpava a moto dele que estava suja, arranhada, e amassada. Devia estar me xingando mentalmente.

“Tem que admitir...” Falou alguém na frente dele. Era Apolo de braços cruzados sorrindo. “Aquela pegadinha foi demais.”

Ares revirou os olhos.

“Ela teve a quem puxar...” Resmungou mal humorado. “Mas só conseguiu escapar por sorte! Um dia eu ainda vou...!”

Ele apertou tanto a mão dele na moto que acabou amassando-a ainda mais.

“Droga.” Murmurou ele.

“Eu já te disse... Fica frio.” Falou Apolo tentando não rir.

Ares lançou o pano nele, mas Apolo desviou.

“Vai encher outro!” Exclamou se levantando. “Você sabe muito bem que sorte não dura para sempre! Ela não vai agüentar muito tempo. No fim... Vai implorar por sua vida patética de semideusa.”

Apolo suspirou. Não era um suspiro como: “Ah... Você venceu. Ela está mesmo ferrada”. Foi mais um “Ah... Ela...”.

Ares revirou os olhos novamente e fez um careta.

“Suma daqui. A última coisa que quero ouvir são esses seus suspiros apaixonados e melosos.” Resmungou.

“Por que acha que eu estou apaixonado?” Ele olhava para o céu. A Lua estava enorme, e as estrelas muito brilhantes.

“Eu ainda tenho que responder?” Retrucou Ares. “Você se apaixonou por uma semideusa morta.”

Apolo voltou a si.

“Ela não vai morrer.” Falou. “Nunca vi alguém que aprendesse tão rápido quanto ela! Nunca tinha treinado antes, mas conseguiu vencer um ciclope sozinha!”

Ares ficou fazendo caretas e mexendo a mão no estilo: “Blá, blá, blá!”.

“Venceu até você sozinha!” Riu ele.

“Mentira!” Protestou ele. “Eu não fui vencido por aquela filhinha de Hermes! Ela é uma completa idiota! E eu? Eu sou o Deus da guerra! Ninguém me vence!”

“Chame como quiser...” Implicou Apolo. “Mas se você perde... Eu chamo de derrota.”

O rosto de Ares ficou completamente vermelho. Não pude distinguir se era de raiva ou de vergonha por ter perdido para mim. De qualquer modo... Estava dando medo.

“Se bem que... Ela não chegou a vencer, não é?” Perguntou Apolo querendo implicar um pouco mais. Ele devia ser completamente maluco. “Ela ia perder feio, mas aí você acabou entregando a luta. O que foi Ares? Ficou com medo de enfrentar Hermes?”

Eu senti o chão inteiro tremer. Ares rugiu de ódio.

“Eu não tenho medo de ninguém! As pessoas é que tem medo de mim! Agora... Suma daqui!” Exigiu ele entre os dentes.

Apolo sorriu.

“Não precisa pedir de um jeito tão grosseiro.” Ele levantou os braços. “Ah! E a propósito... Nós vamos treinar manhã de manhã. Você quer ver ela acertar os alvos?”

Ele fingiu achar engraçado, pegou uma chave inglesa que estava no chão e lançou na direção de Apolo, que por sorte desapareceu antes de sofrer um grave... “Acidente”.

Ares estava sozinho agora. Ele tentou fazer a técnica de respirar fundo e relaxar, e posso dizer que funcionou tão bem quanto pode funcionar para o Deus da guerra furioso.

“Você ainda vai me pagar... Alice Kelly...” Murmurou ele.

Mas o impressionante é que ele não parecia tão furioso quanto poderia estar. Embora não desse para olhar muito bem, pois a cena mudou novamente.

Era o canteiro de obras. De novo.

A mesma coisa... Uma luz vermelha era irradiada do fundo de um buraco bem fundo. No escuro da noite aquilo parecia uma cena de filme de terror perfeita. Pude ver que os cães estavam descansando ao redor do buraco. Talvez para manter as pessoas longe. Daria certo. Eu nunca iria para lá. Nunca mesmo.

Um deles pareceu sentir um cheiro diferente, pois no mesmo instante levantou suas orelhas, mostrou todos os dentes, e correu na minha direção. Eu acordei segundos antes daqueles dentes me alcançarem.

Em um sobressalto eu tentei voltar a minha respiração ao normal. Mas... Era algo meio difícil de se fazer quando você está no meio da água. Pois é...

“Mas o que...?!” Eu exclamei.

“Cuidado! É melhor não se mexer muito.” Eu olhei para o meu lado.

Estava em um barco, e na outra ponta estava Apolo. Ele estava usando óculos escuros e sorria para mim de um jeito divertido. Nós dois estávamos em um barco de madeira, parados no meio de um... Lago? Não sei. Só sei que tinha água, e bastante água á nossa volta.

“Apolo...?!” Perguntei atônita. “Onde nós...?”

“Em um lago. Não é muito longe da sua casa.” Ele contou.

Olhei para as minhas roupas. Ainda estava de pijama.

“Não se pode nem mais dormir sem ter que acordar em um lugar distante?” Perguntei um pouco irritada.

“Da última vez você acordou em uma loja de colchões.” Refletiu Apolo. “Acho que isso aqui não é tão confortável, né?”

“Da última vez eu tive sorte de acordar.” Falei esfregando os olhos. “Era uma loja de colchões encantados por Morfeu.”

“Eu sei.” Assentiu Apolo. “Mas fiquei tranqüila. Você não ia dormir para sempre.”

“Ah não, é?”

“Não. Aquele era o único colchão que não era encantado.” Contou ele.

“Foi você que me fez parar lá?” Perguntei.

“Não. Foi Ares.” Disse ele. “Por isso mesmo você não ia dormir para sempre. Ele não ia querer que a diversão dele acabasse tão rápido.”

“Ah claro...” Resmunguei. “Mas... O que estou fazendo aqui?”

“Como o que está fazendo aqui?” Repetiu ele. “É hora do treino, ora!”

“Treino?! Mas eu ainda estou de pijama! Nem tomei café da manhã...” Falei um tanto envergonhada por estar de pijama, e provavelmente com o cabelo bagunçado.

“Ótimo!” Sorriu ele se levantando no barco. “Então nós dois podemos tomar café juntos.”

Eu ri. A animação dele era uma coisa muito engraçada. Contagiava as pessoas de um modo incrível.

“Ce-Certo... Eu acho.” Concordei tentando ajeitar o cabelo.

“Mas primeiro... Vamos treinar um pouco, certo?” Pediu ele. “Quero muito ver como você se saí nisso.”

Ele me entregou um arco e duas cestas de flechas surgiram no meio do barco. Quando olhei para o horizonte vi que tinham vários alvos. Apolo disse que quem acertasse menos alvos, iria ter que pagar o café da manhã para o outro.

É lógico que ele iria ganhar! A dificuldade dessa vez é que, além dos alvos estarem longe, as pequenas ondulações da água tornavam difícil acertar com precisão. Fiquei em pé de um lado do barco e Apolo de outro, para tentar equilibrar o peso. Nenhum de nós dois iria querer cair na água, e tomar um banho gelado no inverno logo de manhã.

Eu errei milhões de vezes. Não importava quanto tempo eu levava para mirar, a água mexia o barco e as flechas erravam por alguns centímetros. E ás vezes até por metros.

Quando acabaram as flechas o placar ficou: Alice 5,5 VRS. Apolo 157.

Eu fiquei com meio ponto, porque uma das minhas flechas passou raspando, mas acabou caindo na água. Apolo ficou com pena. Ele disse que como ele era “gente boa” ia me dar meio ponto. O que não mudou em nada. Continuei perdendo feio.

“Até que foi legal.” Sorriu ele.

“Disse o cara que acertou 157 flechas.” Retruquei.

“Ah... Esquece isso.” Ele disse. “Se eu não acertasse... Quem acertaria? Além do mais... Foram só 157 flechas. Eu posso fazer melhor.”

“Você não errou nenhuma! Você só teve 157 pontos, porque só tinham 157 flechas na cesta.” Eu falei. “Mas de qualquer jeito... Eu te devo um café da manhã.”

“Eu estava só brincando.” Riu ele. “Não precisa mesmo.”

“Eu insisto.” Falei. “Eu perdi. Assumo. Agora tenho que te pagar um café da manhã.”

“É por isso que Ares te odeia tanto.” Riu ele. “Você não é uma má perdedora como ele.”

“Obrigada... Eu acho.” Falei. “Aqui está o arco.”

Eu dei um passo na direção dele, mas eu esqueci que nós tínhamos ficado longe um do outro exatamente para equilibrar o peso. O barco começou a balançar, e eu comecei a perder o equilíbrio.

“Wow! Eu te seguro!” Falou Apolo esticando as mãos. Eu as segurei, mas isso não ajudou em nada.

Ele me puxou para o centro do barco, e quem caiu na água foi ele. O lago fez um grande “Shwa!”.

“Apolo!” Exclamei olhando para o lago. Nenhum sinal dele. Eu esperei alguns segundos, mas... Nada. Ele não saiu de lá. Será que... Será que tinha acontecido alguma coisa com ele?!

“Apolo...” Falei rindo um pouco, por nervoso. “Deixa de brincadeira. Saí logo daí.”

Nada.

“Se você não sair não vou pagar o café da manhã!” Falei, mas nada! Nenhum sinal dele! “Apolo...! É-é sério! Por favor...!”

Nem mesmo bolhas! O que será que tinha acontecido com ele?! Eu me inclinei um pouco mais para poder ver. O lago era um tom de azul escuro, de modo que não dava para enxergar o que estava no fundo. Mas de repente...

“Aaah!” Berrei quando Apolo saltou sua cabeça para fora do lago.

“Wow!” Exclamou ele com os olhos bem abertos. “Mas que... Gelo!”

“Ficou louco?!” Exclamei. “Quase me matou do coração! Que susto!”

“Hahaha!” Riu ele. “Não agüentou ficar longe de mim?”

Eu senti meu rosto fica vermelho.

“Por que você não volta para o fundo do lago, hein?” Perguntei.

Ele fez um careta para mim e começou a rir.

“Alice, eu sou imortal! Não morreria afogado.” Ele disse.

“Eu esqueci desse detalhe, certo?!” Falei.

Ele estreitou os olhos com um sorriso no rosto.

“Estava preocupada demais pensando em mim?” Ele estava implicando comigo.

Eu peguei um dos remos que estavam no barco.

“Certo. Quer saber de uma coisa? Eu vou remar até a margem e procurar um novo treinador para mim. A por cima de tudo, ainda vou pagar um café da manhã para ele.”

Comecei a remar e Apolo fez cara de surpreso.

“O que?! Ei! Não pode me deixar para trás!” Ele exclamou enquanto eu me afastava. “Eu estou falando sério, Alice! Quando eu te pegar...!”

“Se você me pegar! Vem nadando!” Brinquei.

Eu pude notar que ele sorriu. Começou a nadar atrás do barco, enquanto eu ria cada vez mais.

Quando eu cheguei em casa as minhas roupas estavam ensopadas. Apolo realmente cumpre uma promessa. Ele alcançou o barco, e puxou o remo. Eu fui junto com o pedaço de madeira para o fundo do lago, e... Meus Deuses como aquilo estava gelado! Depois disso ele falou que não precisava de café da manhã. Ótimo... Depois desse eu também não pagaria.

Ele me deixou em casa no seu conversível. Tinha que ter filmado a cara das minhas vizinhas ao me verem chegar com o pijama grudado no corpo em casa.

Eu tomei um merecido banho, e depois... Tive uma idéia. Eu poderia começar a treinar algum tipo de luta. Alguma arte marcial.

Troquei de roupa e fui direto á uma academia que tinha poucas quadras da minha casa. Entrei lá e vi que era enorme. Na entrada era só uma recepção. Mas tinham várias sala com ar condicionado, uma para cada tipo de atividade.

“Então... Posso ajudar?” Perguntou o cara do balcão.

“Uhm... Não tenho certeza, mas... Eu acho que gostaria de ver as aulas de artes marciais.”

Ele abriu um largo sorriso.

“Você deu sorte.” Falou ele. “Ela começa daqui á uns 10 minutos.”

“Jura? E teria como eu só assistir? Não tenho certeza se é isso que eu quero.” Falei um pouco em dúvida. Fiquei imaginando se isso seria bom para me defender dos monstros que apareceriam.

Foi aí que uma mão pousou em meu ombro direito.

“Ah... Eu acho que você vai adorar.” Falou uma voz atrás de mim.

Eu não queria me virar para ver quem era, até porque não era nem mesmo preciso. Continuei olhando para o cara do balcão. Um ser tão simpático, e... Não divino...

Ele piscou os olhos para o cara atrás de mim um tanto confuso, mas por fim ele pareceu entender. Ele sorriu para ele.

“Olá, Harry!” Ele disse. “Senhorita... Esse é o professor de karatê.”

“Prazer em conhecer...” Falou o cara, mas logo depois abaixou um pouco o tom de voz para que só eu ouvisse. “Filhinha de Hermes.”

Eu reprimi uma vontade súbita de chorar por toda a minha má sorte.

“Na verdade...” Falei ainda sem olhar para Ares. Ou Harry... Dava no mesmo. “Eu acho que prefiro ter aulas de ballet.”


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Notas finais do capítulo

Então...?

O que acham que vai acontecer agora?

Espero pelos reviews!