Meu Vizinho Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 2
Dia de cão




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A carta dizia:

“Querida Alice,

Eu e sua mãe estamos viajando. Nesse momento estamos em Paris para comemorar o nosso aniversário de casamento. Esperamos que com você esteja tudo bem. Não está se metendo em encrencas de novo, não é?

De qualquer jeito, nós lhe desejamos sorte nas provas e em tudo mais.

Mil beijos e abraços,

Seu pai e sua mãe.”

Lindo... Estavam viajando para Paris enquanto eu estava aqui sozinha. Sabe, eu nunca reclamei, mas sempre me senti um pouco solitária. Sempre que eu me metia em confusão, meu pai ficava preocupado e nervoso, enquanto minha mãe era mais calma (sabe-se lá porque). Porém depois de me chamarem atenção eles voltavam a fazer suas tarefas normais.

Eu perguntava sempre para a minha mãe porque ela não se irritava comigo igual ao meu pai, e ela sempre respondia: “É porque eu entendo pelo que está passando”. Nem eu mesma entendia, mas ela sim.

Que loucura...

Eu suspirei e me joguei no sofá a sala. Olhei para a mesa de centro e vi que ainda não tinha aberto o tal pacote.

Peguei-o um pouco desanimada e o sacudi. Não identifiquei que som era aquele, mas resolvi descobrir logo.

Abri a caixa e notei que seu interior estava cheio de pedaços de isopor. Procurei no meio daquele isopor todo por algo mais interessante. A verdadeira encomenda.

Finalmente achei. Não era algo que as pessoas mandam pelo correio o tempo todo. Eu peguei o objeto e observei-o melhor.

Era uma... Bolsa? Uma bolsa com uma alça só, daquelas que você põem só em um ombro. Daquelas que você não pode por muita coisa dentro senão seu ombro fica doendo por alguns dias.

“Quem me daria uma bolsa?” Perguntei a mim mesma.

Eu abri-a. Não tinha nada dentro. Fechei seu zíper novamente. Até que era bonita... Era cor de jeans. Serviria para sair de vez em quando, então subi as escadas e guardei-a no meu armário.

Desci para a sala novamente e peguei a caixa. Era melhor jogar no lixo da rua, pois daqui a pouco o caminhão de lixo viria recolher tudo.

No lado de fora o Sol estava começando a ficar encoberto por algumas nuvens, como a previsão do tempo disse que aconteceria. Era incrível eles acertarem pelo menos uma vez.

Abri a lata do lixo e joguei a caixa fora. Eu estava me virando para poder voltar para casa, quando ouvi um latido. Olhei em volta. Não tinha nenhum cachorro por ali.

“Au! Au!” Latiu de novo o tal cachorro.

“Onde...?” Perguntei para mim mesma em voz alta.

Foi aí que me toquei. Abri a lixeira novamente e fiquei esperando pelo próximo latido.

“Au! Au!” Latiu de novo.

Estava certa. Aquilo vinha de dentro da lixeira!

“Ei!” Chamei. “Aqui! Onde está você?”

Peguei a caixa de volta, e notei que o cãozinho estava lá. Ele era preto e pequeno. Estava um pouco sujo por estar no lixo, o que me fez pensar... Quem joga um bichinho desses no lixo?!

“Coitado...” Falei tirando-o do lixo com muito cuidado para ele não me morder. “Pronto.”

Coloquei-o no chão, e limpei minhas mãos uma nas outras. Ia precisar de um banho depois daquela. Eu e o cachorro.

“Bem... Eu tenho que ir.” Falei para ele.

“Au! Au! Au!” Ele começou a latir para mim.

“Desculpe, mas te tirar dali é o melhor que eu posso fazer.” Admiti.

Não tinha como eu cuidar de um cachorro. Não cuidava nem de mim mesma direito!

O cachorro não deve ter me entendido, pois acabou se aproximando de mim.

“Não.” Falei em um tom mais severo.

Ele começou a cheirar o meu pé de um jeito desconfiado.

“Não, não, não!” Repeti balançando o meu pé e tentando me livrar dele.

“Au! Au!” Latiu novamente, só que com uma voz mais grossa.

Estava prestes a por ele na lixeira novamente por falta de paciência, quando a porta do motoqueiro se abriu, e aquela atriz de cinema saiu de lá. Sua maquiagem estava borrada, mas ela estava ajeitando enquanto andava.

“Até mais.” Disse ela sorrindo para ele.

“Até.” Sorriu ele maliciosamente, enquanto acenava na porta.

Ela entrou no carro que automaticamente caiu correndo pela rua. Ele ficou na porta olhando o carro sumir á distância. Foi aí que pensei... O cachorro poderia ser dele.

“E-Ei!” Chamei hesitante.

Ele olhou para mim com seu olhar brilhante. Pareciam bolas de fogos ardentes que me fuzilavam ao invés de apenas observar.

“O que você quer agora?” Perguntou de mau-humor novamente.

“Esse cachorro é seu?” Perguntei apontando para o chão.

Ele olhou para o cão, que se encolheu de medo. Ele ficou na defensiva esperando o meu vizinho atacá-lo ou coisa parecida, o que foi até engraçado. Até mesmo os animais ficam tensos perto dele.

“Onde achou esse troço?” Perguntou como se não fosse um cachorro.

“Na... Lixeira.” Respondi.

“E acha que se fosse meu eu iria dizer que sim e pegá-lo de novo?” Perguntou zombateiro. “Não, não é. E ele devia estar na lixeira por um motivo.”

“Obrigada pela sua atenção.” Respondi de um jeito frio.

“Não me perturbe de novo.” Disse ele. “E não quero que isso cause problemas, então de logo um jeito nele, certo?!”

Eu estava prestes a falar alguma coisa, quando ele virou-se e bateu a porta com força. Que grosso!

“Parabéns, você não tem que dividir o mesmo espaço que ele.” Falei para o cachorro. “Agora com licença.”

Eu caminhei para a minha porta que era á uns 20 passos da lixeira (isso depois de descer 4 degraus que levavam até a porta), mas senti que não estava mais sendo seguida. Não que eu tivesse achado isso ruim, mas é que não fazia muito sentido. Á poucos minutos aquele cachorro não desgrudava de mim, e agora simplesmente tinha parado de me seguir?

Olhei para ele novamente. Estava no mesmo lugar que o tinha deixado antes, entretanto estava diferente. Não sei como explicar... Talvez tenha sido o ângulo, ou a distância, mas ele parecia com raiva. Estava mostrando todos os seus dentes para mim de uma forma ameaçadora.

Eu me senti um pouco tonta no momento. Eu me lembrei do jeito como o motoqueiro tinha falado. Do jeito que falava parecia que aquele cachorro não era nem mesmo um animal... Era algum tipo de... Sei lá, aberração? Monstro?

Eu estava começando a concordar com ele, porque quando olhei melhor... O cachorro não era tão pequeno quanto era antes. Na verdade, era enorme! E tinha dentes gigantes também.

“Mas o que...?!” Eu não conseguia falar.

Estava difícil de acreditar que estava vendo um cachorro daquele tamanho. Não! Aquilo não era um cachorro, sua idiota! Era um monstro!

De qualquer jeito... Aquilo começou a latir muito mais alto, e mais forte também. Eu me mantive calma por no máximo 3 segundos, pois no resto do tempo eu comecei a correr para a porta de casa.

O monstro-cachorro fez o mesmo tentando me pegar. Por sorte eu corro muito rápido. Com alguns pulos eu entrei em casa, e com um movimento rápido fechei a porta atrás de mim.

Senti o peso da pata do cão batendo contra a porta.

“Aaaaaaaaaaah!” Gritei assustada.

O cão continuava a bater contra a porta. Eu não ia agüentar por muito tempo.

“Socorro!” Gritei.

Mais uma batida. Aquela tinha sido forte o suficiente para me jogar no chão. Eu cai e me arrastei para longe da porta, desajeitada demais para levantar.

Eu fechei os olhos e tampei os ouvidos. Mais uma batida daquelas e a porta cairia e eu estaria morta. Serviria de comida para um cachorro gigante.

Eu aguardei por isso com medo, mas... Nada aconteceu. As batidas simplesmente pararam. Eu tirei as mãos dos ouvidos. Não havia mais barulho nenhum lá fora. Nada mesmo!

Eu me levantei atordoada, e tentando me equilibrar nos móveis. Fui para a porta bem devagar. Encostei na maçaneta de leve para não fazer barulho nenhum. Se aquilo ainda estivesse lá fora, era melhor eu deitar e fingir de morta.

Abri cuidadosamente a porta, e olhei para fora. Nada. Não tinha nenhum cachorro gigante. Não tinha nem mesmo marcas na grama. Nada!

Dei um passo para fora bem devagar. Olhei em volta. Nada nem ninguém. Como um cachorro de 2 metros pode sumir daquele jeito?! De começo eu pensei que estivesse ficando maluca. Talvez, só talvez, nunca tivesse sequer existido um cão monstro gigante.

A minha vizinha da direita passou pela calçada. Era uma senhora que passava muito pouco tempo em casa por causa de suas viagens. Mas quando ficava gostava de andar pelo quarteirão, assim como eu.

Ela me viu e acenou.

“Como vai?” Perguntou de um jeito simpático.

Eu devia estar com cara de quem acabou de ser atacada por um cachorro gigante, mas se ela não se assustou então eu devia estar enganada.

“Bem.” Juntei forças para falar.

Ela sorriu, mas antes de voltar á andar falou mais uma coisa.

“Sua porta está descascando, hein? Está na hora de pintá-la de novo. Até mais, querida!” Sorriu ela.

Eu sorri também, embora achasse meu sorriso assustaria qualquer um naquele momento. Por sorte ela não viu e continuou andando.

Olhei para a porta. Ela não estava descascando nem nada parecido. O único problema dela eram marcas gigantes de garras que marcaram a madeira. Se fossem feitas com um pouco mais de força, daria para ver o lado de dentro da casa.

Eu gelei. Então não estava ficando maluca. Aquilo tinha acontecido mesmo! Eu me senti extremamente mal. Acho que a corrente de adrenalina que tinha percorrido o meu corpo na hora da correria tinha passado.

Entrei em casa, fechei a porta com chave e tudo e me joguei no sofá, onde acabei caindo no sono.

Acordei com um barulho. Não sabia logo de cara o que era, mas não foi muito alto. Eu me levantei e olhei em volta ainda sonolenta. A sala estava escura. Devia ter dormido a tarde inteira. O relógio do lado da TV marcava 9:43. Nossa... Eu dormi demais!

Mas não era com isso que eu tinha que me preocupar. Eu olhei em volta e não vi nada que possa ter me acordado. Mesmo assim, tinha medo de ser mais um cachorro gigante, por isso eu preferi ver logo o que se tratava para poder correr e me esconder novamente.

Peguei a coisa mais perigosa que vi na minha frente, e essa foi a bolsa que veio na encomenda. Eu tinha certeza de que tinha deixado isso lá no meu quarto, mas eu não quis parar para pensar nisso. Fui até a cozinha com o maior cuidado e vi que estava vazia. Subi as escadas e chequei o segundo andar inteiro morrendo de medo, mas também estava vazio.

Poderia até achar aquilo estranho, mas por hora eu decidir esquecer. Desci as escadas novamente para poder relaxar no sofá novamente, porém antes que pudesse fazer isso, a campainha tocou.

Eu fui até ela ainda com a bolsa na mão, e atendi a porta.

“No que posso... Ajudar.” Eu me espantei ao ver quem era.

Parado na minha frente, com todos os seus músculos biologicamente feitos para matar alguém com um único movimento, estava o meu vizinho.

“Olá.” Falou ele.

Antes que eu pudesse fechar a porta ele começou a entrar em na minha casa, e eu não sei por que, mas aquilo me deu muita raiva.

“Não lembro de ter convidado você á entrar.” Falei em um tom de voz rude, que não era o meu tipo, mas eu não conseguia me controlar.

Aquele cara me irritava profundamente, e eu nem tinha idéia do por que.

“Não preciso que me convide.” Respondeu ele calmo. “Mas se eu te incomodo tanto, benzinho... Vem aqui e me expulsa.”

Eu estava prestes a bater nele. Que ele pensava que era para me chamar de “benzinho”?! Porém... Eu consegui respirar fundo e me conter, pelo menos por uns segundos.

“O que você quer?” Perguntei fechando a porta violentamente.

“Eu quero tranqüilidade.” Respondeu sentando no meu sofá, e esticando as pernas encima da mesinha de centro.

“Ah, claro! Tranqüilidade e rock’n roll pesado ás 7 da manhã.” Comentei incomodada.

Ele olhou para mim. Não parecia furioso. Pareci... Estar se divertindo. Devia estar adorando me ver tão irritada com ele.

“Corrigindo... Eu quero férias.” Corrigiu ele.

“E o que eu tenho a ver com isso? Vai falar com o seu chefe.”

“Acha que alguém manda em mim?” Perguntou ele se irritando um pouco, mas se conteve. “Eu não tenho chefe.”

“Sorte sua.” Resmunguei.

“Mas eu tenho um trabalho cansativo e estressante.” Falou ele. “E eu quero tirar férias.”

Eu não entedia a que ponto ele queria chegar. Franzi o cenho sem entender.

“E daí?” Perguntei. “O que eu tenho a ver com isso?”

“Infelizmente, você mora do meu lado.” Suspirou ele. “Eu queria uma casa bem isolada, mas esse lugar é perfeito. Sabe... Ele é calmo e pacato... O que os mortais chamam de...”

Ele tentou se lembrar.

“Ahm... Um bairro... Bom?” Sugeri.

“Tanto faz. Deve ser por aí.” Falou ele dando de ombros.

“Espera aí... Você falou mortais?!” Achei aquilo estranho.

“O fato é...” Ele levantou-se (se o meu sofá conseguisse falar ele diria ‘Obrigado!’) e veio na minha direção parando á poucos centímetros de mim. “Eu não quero ser incomodados por cães infernais enquanto eu estou de férias, entendeu, benzinho?”

Eu não conseguia responder. Ele estava me dando muita raiva, mas naquela hora eu senti um pouco de medo dele.

“Cães infernais... Você quer dizer... Aquele cachorro?” Perguntei por fim.

Eu não entendia muito bem. Queria fazer mil perguntas á ele, mesmo sabendo que aquele cara era um tremendo idiota, mas ele não parecia estar com paciência para isso.

“Eu não vim aqui para conversar com você.” Falou firmemente. “Vim aqui te avisar.”

“Avisar...” Repeti.

“Você só sabe repetir as coisas?! Isso mesmo, avisar!” Resmungou ele. “Eu não posso tirar férias o tempo todo, por isso agora que eu consegui alguns meses de descanso, é melhor que eu não seja incomodado com os seus problemas novamente, senão...”

Ele olhou para a bolsa no meu ombro e diretamente nos meus olhos. Nunca conheci alguém tão ameaçador quanto ele.

“Pode crer. Você não vai querer se meter comigo, benzinho.” Terminou ele.

Eu não me movi. Estava grudada na parede e ele logo na minha frente. Aquele cara se virou e andou até a porta. Seus passos eram pesados, e tentei perceber se aquilo era de propósito, ou não.

“E-Espera.” Falei. “Qual é o seu nome afinal?!”

Ele virou-se com um sorriso maldoso no rosto.

“Acho que você já sabe.” E fechou a porta bruscamente ao sair.


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Notas finais do capítulo

Sintam-se a vontade para mandar reviews, certo?

Até o próximo capítulo.