Meu Vizinho Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 15
Vacas vermelhas e Haicais


Notas iniciais do capítulo

Outro!

Aee!



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Nunca pensei que seria tão bom ir para a aula.

Andei alguns quarteirões de manhã e fui para a faculdade. Eu não gosto muito de passar a minha manhã inteira estudando, mas era melhor do que ser atacada por monstros. Preferia ouvir o professor falar sobre uma matéria totalmente chata. Isso sim era paz e sossego.

Mesmo assim não parava de me perguntar se os monstros não poderiam surgir dentro da faculdade. É claro que podiam... Se conseguiram fazer isso no Japão, porque não á umas quadras da minha casa?

 Quando a aula acabou eu fiquei um tanto ansiosa para começar o meu treino com Apolo. Não tinha idéia de como ele arrumaria tempo para me treinar, mas se ele disse que não tinha problema, então acho que devia acreditar nele.

Assim que saí do prédio da faculdade eu vi um conversível brilhante estacionado na calçada. Encostado nele com pose de um modelo de revista estava o Deus do Sol, sorrindo para mim.

Algumas garotas pararam para olhá-lo. Uns caras admiraram o conversível dele. Eu simplesmente continuei andando na direção do carro, ignorando os comentários e sussurros das pessoas que me olhavam.

“Aí está ela!” Sorriu ele. “Que bom que aceitou a minha ajuda.”

“Como poderia recusar?” Perguntei.

Ele abriu a porta do carro para mim, eu me sentei, e ele dirigiu para longe dali.

O vento fresco soprava contra o conversível, fazendo o meu cabelo voar. Adorava aquela sensação, e acho que Apolo sabia disso. Ele continuava com os olhos na rua, mas tinha a ligeira impressão de que ele podia me observar por debaixo daqueles óculos escuros.

“Gosta mesmo daquele lugar?” Perguntou ele.

“Sim.” Respondi. “É... Legal ás vezes.”

“Você é bem diferente.” Comentou ele.

“Quando diz diferente, quer dizer que eu sou estranha?” Perguntei.

“Não.” Falou ele. “Claro que não. Quero dizer que você é... Diferente. Não é igual aos outros meio-sangues. Eles geralmente odeiam escolas, e eu não os culpo.”

Ele riu, e eu ri também. Mas só porque achei educado. Não tinha entendido muito bem, mas parecia haver um motivo para os outros meio-sangues odiarem as escolas. Mas no momento aquilo não era importante.

Apolo dirigiu por uma estrada que eu não fazia idéia de onde era. Da última vez que eu fui dar um passeio com ele, acabei parando em Tokyo. Dessa vez, não ficaria surpresa se ele parasse o carro e dissesse que estávamos no Canadá.

Ele entrou em uma pequena estrada de terra, mas o conversível estava voando alguns metros do chão, por isso não houve nenhum estrago.

Quando nós paramos, senti muita vontade de rir. Muita mesmo.

“Só pode estar brincando.” Falei sem acreditar.

Na minha frente estava uma fazenda. Não era muito grande, mas tinha um bom espaço para nós treinarmos.

Porém o que realmente me deu vontade de rir foi o rebanho de vacas que estava em um canto mais afastado de nós. Eu só consegui enxergá-las, pois eram vermelhas. E quando digo vermelhas, é porque eram vermelhas mesmo. Cor de cereja.

“São vacas vermelhas!” Eu exclamei um tanto encantada.

“Achou que eu estava brincando?” Perguntou ele. “São as vacas vermelhas sagradas de Apolo.”

Eu ri.

“Desculpe... É só que... Nossa! Isso é tão estranho.” Eu tentei parar de rir.

“Tudo bem.” Falou ele. “Você nunca as tinhas visto, por isso eu entendo. Mas não pense que eu vou pegar leve com você no arco e flecha.”

Eu olhei para ele. Pensei que estivesse falando sério, mas seu sorriso dizia o contrário.

“Então... Como começamos?” Perguntei.

Apolo apontou para a minha frente e alguns alvos apareceram. Eram círculos grandes de madeira pintados de tinta. O interior deles era feito de várias linhas, como os de desenhos animados. No meio tinha um pequeno circulo vermelho, e eu sabia que era ali que eu tinha que acertar.

“Está vendo os alvos?” Perguntou Apolo. “Eu vou te dar um arco e flecha, e vamos ver o estrago que você consegue fazer.”

Eu olhei para ele com uma cara “Tem certeza que você quer isso?”, mas ele limitou-se a rir. Nas suas mãos apareceram dois arcos de madeira, e ele me entregou um.

“Aqui está.”

“Certo... Lá vou eu.” Falei.

No chão, bem ao lado de nossos pés, estava um cesto cheio de flechas.

“Pode errar a vontade.” Falou ele. “Se acabarem as flechas o cesto as repõem.”

“Que legal.” Comentei.

Eu olhei para o alvo. Ele estava um pouco longe, por isso não tinha certeza se conseguiria acertá-los. Mas eu tentaria mesmo assim. Afinal, estava lá para aprender.

Eu peguei uma flecha no cesto a estiquei ao máximo e mirei. Quando soltei, tive uma surpresa.

Lembra dos desenhos que você via quando era pequena? Onde os personagens que tem arco e flechas só tem que mirar e a flecha voa pelo ar e atinge o ponto certo? Não foi nada parecido com isso.

Primeiro porque o único ponto que a minha flecha atingiu foi o chão. Ela voou por meros 2 metros no máximo e aterrissou no na terra. Segundo porque a minha flecha foi para a direita, de modo que mesmo que tivesse força o suficiente ela nunca acertaria o alvo.

Olhei para Apolo.

“Ah... Isso foi legal.” Disse ele.

“Não, não foi não.” Eu falei. “Foi péssimo.”

“Ah, que isso! Você conseguiu... Pelo menos...” Ele queria me fazer sentir melhor, mas não deu certo.

Talvez ele tenha visto quando o brilho dos meus olhos desapareceu ao ver a flecha cair no chão só á dois metros dos meus pés.

“Acerta.” Falei para ele.

Ele ia dizer alguma coisa, mas preferiu deixar pra lá.

“Vou avisando... Eu sou o Deus do arco e flecha, por isso não se sinta frustrada, certo?” Falou ele não querendo que eu ficasse triste.

“Certo. Agora vai.” Pedi.

Ele não precisou nem de 2 segundos para atirar a flecha. Ele só virou para o alvo e soltou a flecha, que voou em linha reta e atingiu em cheio o ponto vermelho no meio do circulo de madeira.

“É... Eu sou um fracasso.” Comentei.

“Foi a sua primeira vez. Vamos, você consegue melhorar.” Encorajou ele.

Lá estava a prova da sua influência novamente. Eu comecei a me sentir mais ativa, mais determinada. Apolo estava me influenciando á ficar mais alerta, mais cheia de energia.

“Quer saber? Você tem razão.” Falei. “Foi a minha primeira vez. E daí que foi uma droga? Tem sempre a segunda!”

“É assim que se fala! Agora vai lá!” Ele animou-se por me ver animada.

Não tinha certeza de quem estava influenciando quem. Eu estava animada, aí Apolo se animou. Acho que uma emoção puxava a outra.

Eu peguei outra flecha, preparei e mirei. Só que dessa vez com o dobro de calma. Eu observei o meu dedão passar por baixo do alvo que eu queria acertar. Puxei a flecha para trás com toda a minha força. No último instante... Soltei.

Devo admitir que... Não mudou muita coisa. A flecha dessa vez voou em uma linha relativamente reta. Só que ainda assim... Caiu á poucos metros de distância.

“Droga...” Murmurei. “Parece tão fácil na TV.”

“Pegue de novo.” Falou ele. “Vou te mostrar uma coisa.”

Eu peguei outra flecha e preparei. Mirei no alvo, mas quando estava prestes a soltar, Apolo segurou as minhas mãos com as dele. Eram quentes e macias iguais a ele. Ele chegou bem perto do meu ouvido direito ( o da mão que estava mais esticada ) e começou a me dar algumas intrusões.

“Mire no alvo com bastante calma. Não está enfrentando um monstro agora. Você está aqui aprendendo como usar o arco. Vai se aperfeiçoar mais tarde.” Sussurrou ele no meu ouvido. “O seu braço esquerdo está muito flexionado e no ângulo errado. Tente um pouco mais assim.”

Ele ajeitou o meu braço e pude sentir a diferença. Ao mesmo tempo pude sentir as minhas bochechas queimarem, mas as ignorei.

“Agora é simples.” Falou ele em um tom um pouco mais alto. “Concentre-se no alvo.”

Eu olhei fixamente par ao alvo. Imaginei que fosse a cabeça de Ares, talvez assim eu conseguisse acertar com mais facilidade. Pensei em todos os monstros que já tinham me atacado, e no último minuto eu soltei a flecha.

Fiquei impressionada. Apolo realmente estava certo.

A flecha sibilou no ar e acertou o circulo de madeira. Não foi na pequena bola vermelha do centro, mas pelo menos acertei.

“Incrível!” Exclamei feliz. “Você conseguiu!”

“Não.” Riu ele. “Você que conseguiu.”

“E-Eu consegui!” Exclamei ainda mais feliz. “Nossa! Nunca pensei que eu ia... Wow!”

Estava muito feliz. Feliz até demais e não tinha nem idéia do porque. Mas era uma sensação tão boa, que deixei ela rolar por mais alguns minutos.

“Tente de novo.” Encorajou Apolo. “E faça exatamente o que eu disse.”

Eu assenti e tentei de novo.

As flechas ás vezes iam parar no chão, outras vezes passavam raspando pelo alvo, e algumas vezes acertavam, mas eu não me desanimava. Eu estava determinada a treinar. Queria acertar o alvo e provar á Apolo e ao meu pai o quanto eu podia ser boa.

Cada vez que eu acertava três vezes seguidas, Apolo fazia eu dar um passo para trás. Assim a dificuldade ia aumentando gradativamente. Eu sei que, quando o Sol começou a se por, o meu braço latejava.

Eu sentei no chão pedindo uma pausa. Apolo sorriu.

“Já está cansada? Assim não vai acertar o ponto vermelho nunca.” Riu ele.

“Eu vou sim!” Protestei massageando o meu próprio braço. “Eu só preciso... Respirar um pouco.”

“Era brincadeira.” Falou ele sentando-se ao meu lado. “Saiba que você mandou bem. Superou as minhas expectativas.”

Eu revirei os olhos sorrindo.

“Apolo... Não minta para mim. Não precisa me fazer sentir melhor.” Falei.

“Não! É sério!” Insistiu ele e pude ver que estava sendo sincero. “Eu nunca vi alguém que nunca treinou antes, conseguir aprender as coisas tão rápido.”

“Obrigada.” Falei.

“Mas era de se esperar, eu acho... Depois dos movimentos de espada que você aprendeu sozinha.”

“Aquilo não foi nada. Foi só uma das minhas idéias ridículas.” Falei sem graça.

“Eu achei demais.” Sorriu ele. “Pode me mostrar, ou seu braço não agüenta mais?”

Eu ri.

“Depende... O que eu terei em troca?” Perguntei brincando.

Apolo sorriu.

“Se me mostrar os movimentos eu te mostro as vacas vermelhas de perto.” Sugeriu.

“Wow! Vacas vermelhas. Conhecê-las é o meu sonho desde criançinha.” Eu ri. “Brincadeira. Mas... Já que você ofereceu. Negócio fechado.”

Ele sorriu e pôs-se de pé. Eu me levantei, peguei o grampo do meu cabelo e o parti ao meio. A espada cresceu em minha mão.

“O primeiro movimento foi na cena 4 eu acho.” Falei. “É... Gira, corta, guarda, gira e guarda.”

Apolo acompanhou os meus movimentos bem atento.

“Nossa... Não sei se ensinam isso no Acampamento.” Falou ele.

“Não sei se alguém realmente ensina isso. Eu só copiei o que vi no DVD, e ignorei aqueles avisos de: ‘Crianças, não tentem isso em casa’.

Ele riu e eu também.

“Ainda bem que fez isso. Senão aquele javali teria acabado com você.”

“Uhm... Mas Apolo.” Eu falei e ele olhou para mim. “Como você viu a minha luta? Estava lá escondido?”

“Não. Eu observei de cima, se é que você entende. E o seu pai também. Acho que está orgulhoso de você. Mas ainda está irritado com Ares.” Contou ele.

“Mas... Se ele estava me vendo, porque não fez nada?” Perguntei. “Digo... Ele é um Deus. Poderia ter feito alguma coisa.”

Ele me olhou de um jeito solidário.

“Não é bem assim que as coisas funcionam.” Explicou ele. “Os Deus não podem ter uma intervenção direta na luta ou nas escolhas de seus filhos. Nem na de ninguém. Seu pai não te ajudou, porque ele não pode.”

Eu franzi o cenho.

“Mas você está me ajudando.” Comentei. “Isso é contra as regras?”

“Não... É diferente.” Falou ele. “Você não está lutando contra ninguém agora. Eu só estou te ajudando a se preparar para enfrentar os monstros que aparecerão. Isso não é intervenção direta.”

“Mas... Se aparecesse um monstro aqui. Agora mesmo. Você não iria fazer nada, não é?”

“É. A não ser que ele me atacasse.” Explicou. “Aí eu tenho todo o direito de reagir.”

“Entendi.” Falei fitando o chão.”Deve ser... Triste para vocês, não é? Ver quem vocês amam em perigo, e só poder torcer parar que ele ou ela se salve.”

“Você não tem idéia...” Suspirou ele.

Mas logo seu humor melhorou.

“Ah! As vacas vermelhas! Ainda quer vê-las?” Perguntou ele. Parecia uma crinça querendo brincar no playground.

Eu acabei sorrindo.

“É claro que quero. Não perderia isso por nada.” Falei.

Nós andamos até elas, e no caminho Apolo falou:

“Isso me lembra um Haicai.” Falou ele. “Você quer ouvir?”

“Por que não?” Sorri.

Podia ter dito não...


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Notas finais do capítulo

O que acharam do treino com Apolo?

Espero por reviews!