No caminho da casa dos Cullen, o casal de vampiros e eu conversamos um pouco.

- Por que foi se desgraçar assim, Bella? - perguntou-me Emmett.

- Você sabe o porque - falei, sem emoção.

- Só por causa de Edward? - perguntou Rosalie.

- Sim, mas eu acabei ganhando muito mais - falei, sorrindo.

- Como assim? - perguntou Rosalie, confusa.

- Anthony é praticamente tudo para mim nesse momento. Se não fosse por ele, eu já teria me matado - disse eu.

- Ele... Ele a protege, mesmo? - perguntou Emmett, cético.

- Sim. Ele é o meu anjo caído - falei, sorrindo.

- Você não tem medo dele? - perguntou ele.

- Só no dia do pacto, quando ele estava na forma de corvo... Achei um tanto bizarro demais... - falei, rindo.

- E agora? - perguntou Rosalie.

- E agora, não. Agora, ele é a pessoa em que eu mais confio - disse eu, firme.

- Confia nele? - repetiu Emmett.

- Sim. Mais do que confio em qualquer um de vocês, pois ele nunca me abandonou e eu tenho certeza de que nunca o fará - falei, encerrando o assunto.

Então, permanecemos o resto da viagem calados.

Ao chegarmos na casa dos Cullen, já estava escurecendo.

Rosalie, Emmett e eu saímos do carro e nos dirigimos a entrada.

Minha mão soava frio, meu coração estava apertado e minha respiração estava difícil.

Rosalie abriu a porta e nós entramos.

Olhei em volta e vi todos os Cullen olhando para mim com pena... Irritei-me, mas logo fui tomada pelas borboletas em meu estomago...

Edward também estava lá.

Edward, o meu amor, estava a alguns metros de mim... A pessoa que eu tanto ansiara em ver... A pessoa que eu tanto amava... A razão de eu viver.

Sem pensar em mais nada, sai correndo para abraçá-lo e sentir seus braços a minha volta, porém, não foi isso que aconteceu.

Ao tentar abraçar Edward, ele me empurrou de leve só que eu logo perdi o equílibrio e sentada no chão.

Olhei para cima para poder ver o seu rosto e o que eu encontrei foi um olhar frio em uma expressão vazia... Ou melhor, enojada.

- Como você pôde ser tão estúpida, Bella? Como pôde fazer isso consigo mesma? - explodia Edward - Como pôde vender a sua alma para um demônio dando-me trabalho o suficiente para voltar para Forks e salvar você?

À medida que eu o ouvia, lágrimas escorriam por meu rosto e soluços me escapavam.

- Edward, pare - tentou Esme.

- Não, Esme. Eu fui muito compreensivo com Bella antes, mas não posso ser mais. Não depois do que ela fez - disse Edward.

- Mas... - tentou Alice.

- Nada de mas. Bella foi burra em fazer um contrato com um demônio - olhando para os vampiros e depois para mim com raiva - Você sabia muito bem que eu só não a transformei, porque não queria destruir a sua alma, mas, não contente com o meu esforço, você invoca um demônio para ele fazer o serviço comendo-a.

Chorei ainda mais.

- Você não é mais você. Olhe para si mesma, você está diferente - disse Edward - É ele quem te arruma? Você o deixa vesti-la? É lógico que sim. Aposto que ele já a viu nua.

Tremi de tristeza e raiva.

- Aposto que aquele demônio maldito... - começou Edward.

Foi por aquilo que eu vendera a minha alma ganhando uma passagem só de ida para o inferno?

- É melhor do que você - falei, caindo na realidade.

Edward me olhou pasmo.

- O que foi? Pensou que eu fosse ficar calada, enquanto falava mal de Anthony e me massacrava? - perguntei, histérica - Você é pior do que eu e Anthony juntos!

- Não, eu não sou! Ele é um demônio e você é uma... - esbravejou Edward.

- O quê? Pare com isso. Eu vendi a minha alma e é assim que você me paga? Ouvindo isso tudo, acho que fiz uma burrada, ou melhor, não, pois ganhei uma pessoa que se importa comigo. Uma pessoa que me ama e adora de verdade - gritei.

- Ele é um demônio, não pode amar - cuspiu Edward.

- Como se você, um vampiro que já matou não sei quantas pessoas por causa do sangue delas, fosse melhor do que um demônio! - gritei, gargalhando no final.

Edward ficou congelado.

- Você e nem o resto da sua família - falei, apontando para todos - Ganham de Anthony. Anthony é o melhor.

Todos ficaram chocados.

Levantei-me, corri para perto de um vaso, o quebrei e usei um caco para cortar o meu pulso.

- É isso o que vocês tanto anseiam? Venham provar - falei, rindo.

Emmett e Carlisle correram automaticamente até Jasper e o seguraram, enquanto ele se debatia feito louco.

Gargalhei.

- Como são patéticos... - sussurrei.

- Bella! - repreendeu-me Alice.

- Vocês são monstros! São os piores! - gritei.

- Você deixou de ser a minha Bella, até o seu cheiro está diferente - disse Edward, parando na minha frente e cheirando os meus cabelos - Você se tornou outra pessoa... Uma pessoa tão diferente que eu... Eu não te amo mais! - gritou Edward, levantando a mão.

Fechei os olhos e coloquei a língua para fora, chamando Anthony... O único que me queria.

Então, antes que Edward pudesse me bater, ouvi a voz que eu mais queria ouvir naquele momento.

- Bater em uma dama não é nada educado e nem elegante. E se torna muito perigoso se for em my lady - disse Anthony.

Abri os olhos e vi Anthony segurando o braço de Edward.

- Você é... - começou Edward.

- O temível demônio - disse Anthony, ficando com os olhos vermelhos e sorrindo malignamente, o que fez todos recuarem de medo.

Ignorando todos, fui para o lado de Anthony e o abracei.

- Anthony... - murmurei, chorando.

- Está tudo bem, my lady - disse Anthony, soltando Edward e me pegando no colo.

Afundei meu rosto em seu pescoço e senti o seu cheiro inebriante e sua pele morna e macia.

- Deixe-a em paz! - gritou Emmett.

- Nós... Vamos... Protegê-la! - gritou Jasper, controlando-se.

Anthony riu.

- Veremos - disse ele.

Então, Anthony me colocou deitada no sofá e se ajoelhou ao meu lado.

- Fique aqui, my lady – disse ele – Resolverei logo o problema com esses vampiros e logo venho lhe buscar para irmos para casa, sim?

- Não – apavorei-me – Eles vão mata-lo! Eu não posso deixar que vá! Você é meu e eles querem tirar você de mim!

- Eles não me farão mal algum – prometeu Anthony, sorrindo torto – Eles não são páreo para um demônio como eu.

- Mas... – tentei.

- Eles não são nada para mim, my lady – disse ele.

Olhei em seus olhos.

- Por favor, my lady. Confie em mim – pediu Anthony, segurando a minha mão.

Derreti-me com seu pedido.

- Deixe-me vê-lo, pelo menos... – pedi, abraçando-o.

- Você não precisa... - começou Anthony.

- Preciso ver se você está bem... Por favor... Eu prometo ficar quieta... - pedi, chorando.

Anthony se afastou e secou as minhas lágrimas com os dedos cobertos com a luva.

- Como negar algo para a senhorita, my lady? - murmurou Anthony.

Sorri triunfante e o abracei de novo deliciando-me com a sua doçura.

Apertei-o contra mim e olhei em volta com raiva para todos os Cullen, inclusive Edward.

- Vamos? - perguntou Emmett, ansioso.

Mesmo com medo, ele ainda adorava uma briga... Idiota.

- Vamos - disse Anthony, pegando-me no colo, novamente.

Todos saímos da casa e corremos para uma clareira.

- Você ficará aqui - disse Anthony, colocando-me em cima de uma pedra alta, onde eu podia assistir a tudo sem problemas.

- Certo - falei, respirando fundo.

Dei um beijo em Anthony, ele me deu um sorriso torto e desceu da pedra para poder falar com os Cullen.

- Então, vampiros, querem uma morte rápida ou dolorosamente lenta? - perguntou Anthony, sorrindo perverso.

Sorri.

Aquele era o meu Anthony...

- Nós queremos que você vá embora daqui e deixe Bella em paz para que possa viver a sua vida conosco - disse Carlisle.

Anthony gargalhou e eu ofeguei.

- O que? Vocês querem viver com ela depois de terem deixado-a sozinha prestes a se matar? - perguntou Anthony, recuperando-se.

Eles me deixaram sem dó e nem piedade e acabaram de me humilhar. Como podiam ser tão mentirosos?

- Se não for conosco, ela deve seguir sua vida sozinha e livre como qualquer humana - disse Edward.

Edward não quis ficar comigo e ainda queria que eu ficasse sozinha?

Eu estava começando a odiá-lo...

Quis falar algo, porém, não pude, afinal de contas, eu havia prometido em ficar quieta.

- Desculpem, mas isso não será possível - disse Anthony, simplesmente.

- E por que não? - perguntou Esme.

- Porque fizemos um pacto e estaremos ligados para sempre por causa dele - disse Anthony.

Para sempre... Sorri.

- E que tipo de demônio você é? - perguntou Alice.

- Não fui o primeiro anjo do céu, porém, sou o irmão do que se rebelou contra Deus - disse Anthony - E fui mordomo de muitos, ou seja, também fui de pessoas importantes na história e assumi papéis para fazê-lo. Fui o cavaleiro negro na guerra dos cem anos para Joana D'Arc, a peste negra na Inglaterra para Maria I e o Jack estripador, também na Inglaterra, para uma médica que cuidava da rainha Vitória.

Os Cullen e eu ficamos de boca aberta.
- E qual é o seu verdadeiro nome? - perguntou Carlisle.
- Terá que perguntar mais de uma vez... - disse Anthony, sorrindo.
Carlisle entendeu e perguntou "Qual é o seu nome?" três vezes, o que fez Anthony rir e responder:
- Se quiserem descobrir sobre mim, terão que pesquisar, vampiros inúteis, mas, aí vai uma dica, sou o braço direito de Lúcifer e meu nome significa "Deus viu".

Anthony era um demônio muito importante...

Sorri com orgulho.

- Não interessa quem você seja, você ainda é um demônio e deve permanecer longe de Bella! - sibilou Edward.

- Tentem me obrigar - disse Anthony, sorrindo cruel.

Quando Anthony terminou de falar, todos os vampiros atacaram Anthony.

Arfei e quase cai da pedra.

- Anthony! - gritei.

- Está tudo bem, my lady - disse Anthony, sorrindo.

Anthony desviava de todos os golpes do Cullen e atacava com... Garfos e facas de cozinha!

Depois de um tempo se divertindo, Anthony parou de atacar e todos os Cullen caíram no chão com talheres super-resistentes grudados em seus corpos.

Ri de felicidade.

- Você podem ser vampiros fortes... Para os humanos, pois para mim não passam de animais domesticados e sem alma - disse Anthony, friamente.

- Nós... Não temos almas? - perguntou Carlisle, tristonho.

- É lógico que não e, só para constar, todos arderão no inferno quando morrerem e, caso não parem de aborrecer my lady, eu farei com que isso aconteça mais rápido do que o esperado e que seja eu o torturador - disse Anthony, sorrindo.

Aquilo era terrível, porém, me fez gargalhar.

Todos estavam com medo, quando Anthony veio me pegar.

- Vamos, my lady? - perguntou Anthony, ajeitando-me em seus braços.

Assenti e Anthony sorriu, fazendo-nos sumir em uma chuva de penas pretas.

***

Ao chegarmos em casa, Anthony me fez comer um frango com batatas e logo em seguida tomar banho e ir direto para a cama.

Eu estava triste pelo que acontecera e, o pior, com o orgulho ferido... Eu precisava me distrair.

- Como foi com Leah? - perguntei.

- Ela é uma mulher linda e, mesmo sendo meio selvagem, ela é uma ótima dama e mestra - disse Anthony, fazendo cafuné em mim.

Fui tomada pelo ciúmes.

- Como assim? - perguntei.

- Ela é uma mulher de fibra - disse Anthony, indiferente.

Comecei a chorar.

- O que foi, my lady? - perguntou Anthony, sentando-nos na cama para poder olhar nos meus olhos.

Abracei-o com força.

- Não me deixe... Não me troque... - implorei.

Anthony riu.

- Eu nunca irei trocá-la, my lady. Só disse que ela era uma boa mestra para testá-la - disse Anthony - Não precisa se preocupar, pois você é a minha única mestra.

Afastei-me e o fitei.

- É sério? - perguntei, soluçando.

- Sim - disse Anthony, sorrindo torto.

Abracei-o, novamente.

- Por que Edward não é como você? - perguntei - Por que ele não me ama mais? Por que ele despertou o meu ódio?

- Edward é apenas mais um vampiro no mundo. Não se preocupe, pois darei-lhe uma vingança perfeita - prometeu Anthony.

Animei-me.

Era impressionante como meu amor virara ódio. A única coisa que eu mais desejava naquele momento era pisar naquele vampiro e em toda a sua família.

- Eu quero isso... Eu desejo... - falei.

- Se é assim, você terá - disse Anthony.

Ri de felicidade.

Nos deitamos novamente e ficamos em silêncio por uns instantes.

- Anthony... - chamei.

- Sim, my lady - respondeu Anthony.

- Ninguém me ama... - falei.

- Isso não é verdade, my lady. O seu pai, seu amigo Jacob... - começou Anthony.

- E você, Anthony? Você me ama? - perguntei, esperançosa.

Era ali que eu queria chegar.

- Eu... - disse Anthony.

- Por favor... - pedi.

- Você não tem ideia de como é terrível ser amada por um demônio - sussurrou ele.

- Não importa... Apenas, diga - implorei, agarrando-o.

Ficamos em silêncio até eu quase desistir e ele, enfim, dizer:

- Sim, my lady.

- Então, diga - pedi.

- Eu te amo, my lady.

Triunfante e cheia de calor por dentro, gargalhei.

- Eu, também, te amo, Anthony! - murmurei.

- Certo, certo... Agora, durma, my lady. Amanhã, teremos um longo dia - disse Anthony, aquecendo-me com o seu calor.

- Sim, my lord - falei, sorrindo.

Fechei os olhos e deixei-me levar pelo sono.