Eclipse escrita por Quididade


Capítulo 6
O Baile


Notas iniciais do capítulo

Este é o penúltimo capítulo. Vou sentir falta dessa short, é a minha primeira fic minúscula.

Achei que ficou meio forçadinho, na verdade eu sempre acho isso. Mas quero que sejam sinceros no review, e como for, eu modificarei o capítulo se ficar tão ruim assim.

Bem, boa leitura.



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Ѽ O Baile

As serpentinas rosa eram balançadas pelo vento fresco que invadia o Olimpo.

Afrodite ajeitava os cabelos de frente para um espelho pequeno que trazia na bolsa desnecessária. Usava um caliente tomara-que-caia vermelho que fazia seu marido, e o seu amante desejarem internamente um verdadeiro tomara que caia!

A face bonita e alva da loira estava tomada por uma careta de desgosto. Aramara aquilo tudo para Apolo sumir com Ártemis do mapa. Tudo bem que ela deveria estar feliz, afinal seus sentidos de paixão apitavam – Mais um casal estava quase se formando. Ela imaginava qual casal era.

Mas, isso não dava o direito daquele loiro tapado furtar à aniversariante! Mesmo que ele também faça aniversario...

Ela grunhiu alto perdendo a pose de grã fina.

—Eu vou estrangular Apolo! Vou torcer aquele nariz arrebitado dele, corta seus cabelos loiros, e depois esfolar a pele!

— Não é muita coisa, para se faze só, e na expectativa de não quebras a unha? — Atena rebateu, bebendo seu quinto copo de uísque.

A loira não respondeu. Saiu batendo o pé até o toalete.

Hera suspirou cansada ao lado do Marido. Zeus avaliou o corpo curvilíneo da mulher exposto no vestido negro um pouco colado no corpo e sentiu ciúmes. Mas isso foi logo esquecido quando pensamentos sobre seus filhos tomaram espaço de sua mente.

Não poderia recriminá-los se o que Afrodite previu tornar-se concreto. Ele era a prova viva de que quando se ama; não se mede parentesco. Ali estava ele, com dois filhos do casamento; casamento este fruto de um amor proibido. Um amor que era para ser de irmão.

Coçou a barba branca, preocupado. Hera sentou em sua perna.

— O que foi querido? — Perguntou com um timbre adocicado. Os cabelos negros esvoaçavam-se na brisa com cheiro de sândalo.

— Pensando no que Afrodite disse. — Respondeu calmo.

Hermes jogava uma amistosa partida de videogame com Eros e Ares em seu palácio. Hefesto trabalhava quieto em uma borboleta de metal em uma das mesas. As caçadoras estavam todas trajadas para festa, vestidos brancos com flores bordadas e os cabelos soltos, conforme Afrodite pedira.

Os sátiros bebiam e conversavam distraidamente assim como as ninfas e as dríades. Algumas das musas tocavam músicas alegres, mas pouco apreciadas.

Héstia cuidava das chamas do enorme braseiro, usava um vestidinho vermelho de bolinhas e tinha uma expressão calma nas faces lustradas.

Atena bocejou ganhando atenção de Poseidon que lhe sorriu:

— Cansadinha, é? O que andou fazendo? — Debochou um pouco.

A Deusa piscou algumas vezes antes de responder.

— O que você foi incapaz de fazer: refrear aquela loira desvairada.

Dionísio quase cuspiu o vinho no copo, o que assustou Ariadne um pouco. O corpulento e carrancudo diretor do acampamento começou a dar boas gargalhadas junto a Hades e Perséfone.

— Au! — Exclamou Dionísio escarnecido.

— E sou eu o Deus dos mortos. — Hades comentou, ainda com aquele sorrisinho debochado. — Essa sua insistência já deveria estar enterrada.

Uma ninfa veio afobada para o salão, as faces coradas pela corrida.

— Eles chegaram!

Apolo saiu do carro e abriu a porta para a irmã.

— Acho que deveria fazer a cara de surpresa. — Palpitou ele sobre a pergunta que ela havia feito.

Ártemis aceitou a ajuda pegando na mão do irmão. Uma corrente elétrica quente e devastadora passou pelos corpos fazendo-os se soltarem e se encararem abismados.

— Está esfriando, e-eu acho que foi eletrostática.

— Uma explicação inteligente. — Ártemis sussurrou.

As portas do elevador abriram-se revelando uma simples decoração, mas ainda sim linda. Se A caçadora fosse fazer uma festa seria exatamente decorada assim. Logo ligou o feito a Athena, e agradeceu-a mentalmente por dominar Afrodite.

Os olhos de todos pousaram na bela imagem de uma moça com carinha de adolescente, mais com um ar mágico a sua volta. O vestido simples e no mesmo instante estonteante, fez a Deusa do amor, esboçar um sorriso feliz, ao menos uma coisa Apolo fez certo.

Os cabelos estavam curtos e negros, fazendo todos recordarem-se da pequena, mas decidida Ártemis. A alegre menina com sonhos de mulher. Zeus era o único a observar as mãos entrelaçadas dos irmãos.

Então era verdade; a loira havia errado. Mas era o erro mais correto que ele já vira, era como Afrodite dissera: O amor só nasce nos corações que o permite. As flechas de Eros tinham efeito de duração de poucos dias, mas o amor deles crescia avassaladoramente. Seja lá o que Ananke planeja, ele não pode protegê-los.

Um grito fino ribombou pelo local, e então uma pipoca amarela saltitante agarrou a Deusa da lua.

— Feliz aniversário! Não me mate okay?!

Afrodite suplicava com aqueles olhos verdes encantadores brilhando com a esperança de uma criança. A mulher com traços de menina sorriu-lhe grata, e abraçou a tia.

— Obrigada. — Sussurrou espantando todos — Mas se fizer de novo já tenho a echarpe te esperando!

— Ei! Eu sou aniversariante também, sabia loira?

— Já te dei parabéns cedo. — A loira desdenhou com uma das mãos. — Quer mais o que de mim? Não acha que já te dei muito?

Apolo olhou carinhoso para Ártemis, esta não percebeu, pois era esmagada por Ares em um dos seus clássicos abraços esmaga ossos. Mas a deusa do amor compreendeu que era um óbvio sim.

— Ei fadinha, congrats! — Atena gritou da mesa, onde o qüinquagésimo copo de bebida alcoólica jazia. Ártemis arregalou os olhos enluarados conseguindo um suspiro do único homem ao lado da morena.

— Parabéns, minha sobrinha. — Poseidon desejou sem poder levantar, enrolado com a bêbada da vez; Isso era inusitado.

Todos lhe deram parabéns, os vários presentes repousavam em um canto formando uma pirâmide. A música tocava suave naquela hora, a lua estava a cume, e várias pessoas dançavam descontraídas, até mesmo as caçadoras entre si, rindo á beça.

Thalia sentou-se ao lado de lady Ártemis ainda risonha.

— Deveria dançar também, minha lady. A festa é sua, curta-a! — Aconselhou.

Instantaneamente ela levou os olhos para o homem encarando Nova Iorque da mureta, em um mesmo estado de tédio que ela. Thalia sorriu. Talvez as outras demorassem a entender o que começava a aflorar em Ártemis, mas ela provara pessoalmente o gosto da paixão e não pode segura-la. Dava todo apoio para que sua Lady não deixasse o seu príncipe escapar como o dela, que agora descansa em paz, morto como um herói.

— Quer saber de uma coisa. Se ele não vem aqui, vá lá você. — Encarou os olhos confusos da moça. — Ou vou lá eu.

A gêmea da lua riu gostosa e se levantou confiante até certo ponto.

— É nessas horas que eu queria ser uma estrela.

— Por quê? — Questionou a moça que acabara de se postar ao lado do loiro. Ele esticou para uma estrela ao lado da lua, a mais próxima que havia.

— Queria ser exatamente aquela. Pois ela nunca desgruda da lua e não é recriminada por isso. Ela pode-

— Amar e receber — cortou-o compreensiva. Um sorriso bobo brotou nos lábios de ambos; Apolo se curvou de uma forma antiquada para os tempos em que viviam e perguntou cortês:

— Concede-me esta dança, Milady?

Ártemis deu uma risadinha antes de responder, certa de que estava corada.

— Certamente, Jovem rapaz.

E então após um cálido beijo na costa da mão ele a levou para a pista, se misturando a todos naquela valsa em música lenta.

Era noite, porém mais nada era noite.

Lady Ártemis jazia ao chão, encostada na parede do quarto com um único presente embrulhado. Os outros se encontravam em cima da cama, dentro do armário e em outros lugares convenientes. Mas este em especial ela precisaria de coragem para abrir.

De: Apolo

Para: Maninha

A caligrafia bem feita pintava um pedaço pequeno de papel que estava pendido no embrulho prata. Tinha uma fita amarela, sua cor favorita, e uma cartinha havia vindo junto ao presente.

Respirou fundo e desembrulhou.

Leia a carta antes, espertinha.

As palavras escritas em caneta esferográfica dourada radiavam, era até alienado a forma que um conhecia o outro. Pegou o envelope branco e retirou um papel amarelo, soltou um muxoxo de ansiedade, mas ainda sim leu.

PONTO DE VISTA – APOLO.

O dia raiava no horizonte. Eu estava com os óculos escuros, uma camiseta vermelha e um jeans despojado. Aquela mesma história de me perguntarem o que eu quero antes de me darem um cargo martelava na minha mente, odiava estar de pé cedo só porquanto o sol tem de nascer.

As chaves giravam no meu dedo indicador, abri a porta do Maserati vermelho, acomodei-me e estava pronto para dar a partida. Uma voz desesperada me parou na hora da ignição.

Não era assim que queria encontrá-la depois de entregar a carta. Não era nesse momento! Ela geralmente esta com as meninas, ou dormindo essa hora de tão cansada que fica, tanto que a troca é feita no modo automático.

Mas lá vinha ela. Os cabelos que insistiu em modificar ontem pendiam até a altura do pescoço, estava vermelha como cereja; não sei se pela corrida ou pelo que iria fazer, o vestido amarelo volitava no vento.

Sorri para a cor do vestido. Muito tempo que não a vejo de amarelo.

Suas mãos abriram a porta do Maserati e ela sentou na poltrona, sem ar. Fitei a imagem feminina se recompondo, muito confiante de mim para a situação em que estava. Ela pôs a mão no coração, querendo regular a respiração alterada.

— Qual é a diferença entre o sol, a Lua e nós dois? — Perguntou enigmática.

Franzi o cenho. Definitivamente ela estava louca, e não lera a carta.

— Não sei. — Respondi, afinal não sabia mesmo.

Um sorriso sapeca riscou seus lábios vermelhinhos como morangos, um brilho novo possuiu seus olhos quase rubros. Ela se aproximou de minha orelha e sussurrou, me desnorteando:

— É que uma vez em alguns anos, tanto o sol, quanto a Lua procuram gerar juntos o Eclipse. Independente de quem aprove ou não o ato.

PONTO DE VISTA ÁRTEMIS.

Não faço a mínima idéia de onde tirei coragem para lhe escrever.

Talvez seja daquela loira desvairada e suas explicações parcialmente lógicas para o que eu sinto. Ou quem sabe a garantia de que talvez você sinta o mesmo.

Pode me dizer quando te dei permissão para virar meu mundo de cabeça para baixo? Quando eu disse “Ei, meu coração esta vazio. Entre ele e faça sua eterna moradia!”?

Primeiro você me empurra e então sai na frente no nosso parto; vicia-me em seus encantos; abstém-me de si mesma e no fim, me alucina com esses olhos. É um pecado vivo! Que anda, come e respira. É a minha devastação.

Eu queria te odiar por isso, por mexer na minha vida, em minha rotina, me fazer dependente de você, você é uma droga, uma simples piscada e estamos tão viciados, que só vamos perceber quando nos tiram o que nos é precioso.

Eu imagino várias hipóteses para o que pensa nesse momento. Esse desfecho um pouco trágico que vai marca e modificar muito minha vida, mas ainda prefiro pensar você lê isto com olhos de compreensão.

Eu...

Larguei o papel no chão ainda em estado de choque. Não acreditava naquilo, eu... Não dormi naquele fim de noite.

O dia ainda ia raia quando levantei da cama, já de banho tomado para refrescar as idéias. Mas ainda sim eu estava em choque, e provavelmente demoraria semanas até sorver aquele bolo de informação, e olha que eu nem li tudo.

Agarrei a maçaneta, mas estanquei no lugar antes de virá-la. O presente ainda estava no chão, à frase mandona na caixa já não brilhava em dourado vívido como antes. Peguei o embrulho e abri a tampa muito curiosa.

Lá dentro uma caixinha média de jóias estava depositada junto a uma foto emoldurada que eu tanto gostava. Éramos nós dois, crianças brincando em um dia de calor. Ele tinha essa foto, eu não.

De modo automático passei os dedos nos cabeços idênticos ao da menininha da foto, me sentia ela de novo. Ele nunca deixara de ser esse garoto bobo e sorridente.

Minhas mãos buscaram a caixa apôs depositar a foto na parede com presa. A caixinha de veludo negro despertava a mais profunda das minhas curiosidades, abri a tampa e encontrei um lindo colar.

Ele era prata e delicado, tinha dois pingentes que formavam um só. O sol era feito de ouro e a pedra no meio era amarelo vívido, o que me fez sorrir. E a Lua, que estava à frente do sol, era feita de outro branco, com um diamante meio branco leite. E quando os dois se encontravam, acendiam eclipse.

Levantei em um pulo. Se me apressasse ainda o pegaria aqui.

Acho que nunca rezei para Afrodite, mas naquele momento eu fazia por todos os milênios. Eu tinha que falar com ele, tinha de ser ainda hoje.

Uma explosão de perfume francês e fumaça cor de rosa aconteceu do meu lado e no minuto seguinte estava Loira, com uma carinha de sono, segurando um ursinho, mas ainda sim com um sorrisinho besta nos lábios.

— Eu disse que não tinha como fugir do amor. — Ela disse andando em passos rápidos. — Apenas respire e seja você mesmo, foi por isso que ele se encantou.

Revirei os olhos.

— Você não está ajudando. Eu nem te chamei.

A loira riu-se um pouquinho e parou de andar. Apertando o seu ursinho marrom.

— O seu coração sim; ele chamou pelo amor, e eu baby, sou ele.

Ela estava certa. No momento em que passei a ver Apolo como a beira do meu abismo eu chamei por ela, nas vezes em que sofri de amor eu sofria com ela. Mas não seria eu a parar e dizer aquilo, ainda mais naquela situação.

Apertei os passos até o palácio dele, e lá estava. Apolo usava uma camisa vermelha, realçando os cabelos loiros e os olhos claros, um jeans despojado, e um óculo escuro. Ele estava quase ligando o carro então dei um berro.

Vi seu rosto se contrair e ainda acho que se ele não fosse tão orgulhoso com essa história de ser muito macho iria corar; Deuses o que esse homem acha que eu penso? É tão obvio que chega a ser ridículo, eu, a essa hora da manhã correndo como uma louca para falar com ele.

E então ele abriu um sorriso fazendo meu coração ir a mil. Abri a porta do carro e sentei, nossa nunca me sentia cansada correndo pela mata, essa corridinha pareceu eterna.

— Qual é a diferença entre o sol, a Lua e nós dois? — Perguntei certa de que ele mesmo apesar de ter simbolizado isso, não saberia a resposta.

Apolo franziu as feições, arrebitando o nariz.

— Não sei. — Respondi, em fim.

Eu não pude evitar sorri. Ele era tão ingênuo e perspicaz ao mesmo tempo, tão ele mesmo. Fiquei de joelhos e fui próximo ao seu ouvido.

— É que uma vez em alguns anos, tanto o sol, quanto a Lua procuram gerar juntos o Eclipse. Independente de quem aprove ou não o ato.

Afastei-me para ver sua cara. Ele estava com um olhar meio longe, mas não era surpresa, muito menos decepção. Um esgar involuntário tomou vida em seus lábios e os orbes azulados vidraram em mim.

— Eu sou um idiota.

— Eu já sabia disso — Rebati; íamos aproximando-nos. — Mas ainda sim, é o idiota que eu amo.

Os cinco segundos que sucederam o nosso primeiro beijo foram os mais longos da minha vida. Os lábios dele encostaram-se aos meus, eram macios como muitas vezes eu me pegara imaginando. Começou calmo, como um selinho, e até isso era bom. Depois ele passou de forma delicada, a língua nos meus lábios pedindo passagem, a sua boca era morna, tinha um gosto bom de cereja. Essa era a melhor sensação de toda a minha vida.

Melhor que chocolate. Melhor que caçar. Melhor que olhas as estrelas. Melhor que ser independente de tudo. Como aquela loira irritante tem razão, amar é melhor que tudo.




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