Eclipse escrita por Quididade


Capítulo 5
Preparativos


Notas iniciais do capítulo

Eu mudei o nome do capítulo porque fiz mudanças.
Bjs.



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Observei o inominado sair da quarta ou quinta loja de artifícios para festas. Uma sacola amarela com o logotipo da loja atraia mais atenções do que as outras diversas. Virei o rosto em direção à parte de trás do Maserati modificado abarrotada de sacolas e presumi uma viagem de compras dividida em dois.

— Melhor voltarmos em casa. — Conclui em voz alta.

O inominado pôs os óculos escuros que antes pendiam em sua camisa branca com uma estampa fofa em estilo toy art de um polvo verde ouvindo musica, enquanto outros dois assobiavam.

O sol fulgia nos cabelos castanho-avermelhados fazendo-os entrar em maior contraste com a pele branca assim como a de sua mãe.  As sardinhas pareceram ressaltar-se quando o adolescente dirigiu-me um sorriso típico dos trigêmeos de Eros e Psique.

— É, vamos ao Olimpo despachar essas tralhas da vovó. — Disse displicente, em um tom de voz provocativo.

Dessa eu não pude deixar de rir. Afrodite ralhou milhares de vezes com seus netos e até com seus sobrinhos, para que nunca fosse chamada de avó, ou de titia.

— Voluptas, Voluptas. Sabe com quem está brincando?

Ele alargou o sorriso.

— Sei sim; mas o que é o amor sem o prazer em amar? — Indagou filosófico. Eu revirei os olhos, entediada.

Eu em toda minha vida fiquei tão apavorada quanto no momento que o carro do sol pousou no Olimpo. Olhei pasma as serpentinas em diferentes tonhs de rosas penuradas por todos os lados. As driades, os satiros, as ninfas e os deuses menores trabalhavam arduamente na decoração daquele simples e na minha opinião, fútil baile Afrodisiaco.

 Ajudei Voluptas com as muitas sacolas extremamente desnecessárias, com itens que eu não podia ver. Um cheiro de bromélias recém desabrochadas invadiu minhas narinas com ferocidade assim que empurramos os enormes portões dourados do salão principal.

 O assoalho de carvalho brilhava de tão bem encerado, a luz solar adentrava com vontade pelas amplas janelas do salão colossal e Uma mulher de longos cabelos loiros, pele clara e um corpo extremamente curvilíneo dava ordens a algumas ninfas.

Uma moça sisuda de olhos cinzas-espertos lia distraidamente um livro pequeno até, para quem era.  Caminhamos até uma mesa enorme e pusemos as sacolas.

— Vou pegar o resto. — Voluptas avisou, mas antes de atravessar a porta Afrodite deu seu típico berro agudo e ensurdecedor, indo em seguida atrás do ruivo.

Encarei Atena cética de que tudo não era um sonho dos mais malucos. Observei os dedos delgados virarem a página do livro que no mínimo havia trezentos e poucas páginas.

— Ela está agitada a manhã inteira.

Athena glosou desinteressada. Os olhos cobertos por um óculos que a deixava com cara de advogada devoravam as palavras como uma fera que não come há anos.

Estupidamente me senti acanhada.

Puxei uma das várias cadeiras e sente-me cansada de toda correria, berros e omissão.

— Não gosto dessa ideia tanto quanto você. — A deusa da sabedoria fechou o livro e sorriu satisfeita. Ela havia acabado.

— Por que concordou? — Perguntei trivial, brincando com um cacho de meu cabelo.

Athena deu uma risada divertida, como quase nunca faz.

— Dianna você realmente acha inteligente contrariar Afrodite? — Sua sobrancelha tornou-se arcada complementando a expressão de escárnio.

Bufei desgostosa. Antes eu tivesse ido para junto às meninas quando senti vontade. Eu não tenho nem o que vesti.

— Não. Não acho.

— Demorou a responder. Mas, não vem ao caso; o ponto é: eu prevejo o que ela quer, e sei o que é mais inteligente para mim. — Sua voz estava longe, mas pude notar a cota exagerada de soturnidade.

— Mas?

Mas..., E você? Sabe o que é melhor para si, seu bem-estar?

— Ãhn, eu sempre soube, certo? — Mordi meu lábio, duvidosa,

Ela imitou uma buzina enquanto caminhava até a porta.

— Resposta errada.

E então saiu. O vestido azul volitando com o vento e os seus movimentos castos. Afundei a cabeça por entre as mãos e desejei com força voltar aos tempos de menina. Aos tempos que nada era complicado e que o amor não era proibido, mas sim semeado.

— Ártemis! — Uma voz robusta cantarolou meu nome.

 Essa não! Tudo menos isso. Levantei o rosto e me deparei com um Apolo sorridente.  Os músculos mal se escondiam na camisa azul céu. Ele sacudiu a cabeça e os cabelos desorganizaram-se de uma forma que o deixou ainda mais bonito.

— Apolo?

— Vamos?! — Bateu as mãos ignorando minha pergunta estupida. Olhei pirrônica para ele. Vamos aonde?

Ele conteve o sorriso idiota e ajeitou a postura.

— Ela não contou não é? — Negou algo com a cabeça. — Aquela loira gastona mentirosa. 

Pisquei algumas vezes sem compreender quem ele praguejava, mas eu espero que essa pessoa não seja muito importante.  O ar se tornou mais quente à medida que ele praguejava mais, eu me levantei e pus minhas mãos sobre suas costas.

— Seja lá quem for — Reflexionei. — Já está bastante amaldiçoado.

— Foi mal mesmo — Apolo se desculpou. Seus olhos brilhavam com o que eu julguei ser excitação, ele adora uma boa festa. Sem perceber, eu me peguei segurando uma de suas mãos, apreciando o calor aconchegante , que tomava conta de meu corpo.

— Mas e ai? Vamos aonde? — Esquivei-me de seu sorriso, aquele sorriso que sempre me rouba a capacidade de reflexão.

— Para o carro. Vamos terminar isso logo, Afrodite quer que compremos as coisas desta lista aqui.

Fitei, desgostosa, o papel comprido rosa com desenhos de morangos. Aquela loira, se divertindo as minhas custas. Ela sabe que apesar de eu estar me tornando à irmãzinha, mais de duas horas com ele é demolir barreiras. Respirei fundo recompondo-me da raiva instantânea. Afrodite que se cuide, qualquer deslize e irão acha-la no sótão com roupas de brechó estrangulada por uma echarpe fora de moda.

Segurei com mais força sua mão.

— Vamos.

PONTO DE VISTA – APOLO

O carro do sol andava pelas ruas de Nova Iorque atraindo atenções dos mortais amantes de automóveis. Eu mantinha a visão na estrada o máximo o possível, apesar de não ser necessário. Eu só não queria olhar para ela e ser obrigado a conversar sem ter um assunto sequer, isso se eu conseguir falar.

Com as mãos no volante e os olhos grudados no asfalto eu podia dar a desculpa de que dirigindo não dá.

Era um dia comum aqui em baixo, a tarde estava no fim, e logo nós trocaríamos de turno.  Um vento fresco batia nos nossos cabelos.

Já havia alguns meses que estávamos de bem, Ártemis até se esforçava para ser mais presente em minha vida como quando éramos criança, mas eu não consigo fazer essa sensação de que ela o faz abrindo mão das coisas, que ela faz por fazer.

Mas diga isso para meu coração insano? Um simples eu te amo fraterno e ele vai a mil por segundo. Isso não é normal!

Parei o carro na vaga ao lado da enorme de uma conhecida loja de grife. Ártemis me olhou de cenho franzido, ressaltando o nariz arrebitado e deixando claro sua duvida.

Eu ri colocando os óculos escuros.

Afrodite e seus planos insanos. Se não fosse uma causa nobre, e, eu ter visto que minha irmãzinha não desconfia de nada eu não aprovaria. Mas não acho certo alguém como a lua não comemorar os anos de existência.

Minha missão era nada mais nada menos do que distrai-la. E para isso aquela loira oxigenada mais a morena psicopata me mandaram para essa tortura.

Bom, pelo menos Dianna não me faria carregar vinte sacolas de roupas e sapatos de grifes como Frô.

SEM PONTO DE VISTA.

O garoto de aparentemente dezessete anos estava sentado em um estofado de frente para uma das várias cabines para experimentar as roupas. Ele tinha as bonitas feições contorcidas em uma careta de tedio, mas isso não durava muito.

Logo ela saia da cabine com um vestido mais bonito que o outro; com as maçãs do rosto coradas; a pele branca ficando mais destacada e os cabelos ruivos fumegando a luz do sol.

Ele praticamente babava na cadeira resultando em uma risadinha divertida da atendente, que por sinal não era muito discreta. Ela havia questionado sobre o relacionamento dos dois, Apolo sabia que aquela cara de inocente ao perguntar se eram namorados era uma tática.

Uma tática muito boa por sinal. Se ele não lesse mentes não saberia da mentira que aqueles lindos olhos chocolates escondiam.

Dentro da cabine preta Ártemis sentia-se desconfortável naquela situação. Vá ou morra de amor, não há outra opção. Ameaçara Afrodite na cara dura. Era o único jeito, morrer mais de amor do que ela estava falecendo era muito arriscado e quase impossível.

Deu uma oscilada ao se olhar no espelho. O vestido branco com pequenos detalhes em pratas era bonito até; ele realçava os cabelos, combinava com os olhos que começavam a se enluarar com a proximidade da noite.

O crepúsculo ocorria lá fora, ela sentia isso. Sentia a ausência de algo, a mesma ausência que o loiro do lado de fora sentia nessas horas. Era uma hora vazia, onde nenhum dos dois predominava, apenas mesclavam-se nos céus.

 Suspirou conformada. Aquela pequena mulher com feições de fadinhas estava envelhecendo, e ela dera graças aos deuses por não terem relembrado desta fatídica data. Odiava a ideia de ficar mais velha.

O cômico é que era o aniversário de Apolo também. Mas por causa dela as comemorações foram cessadas anos atrás. Ela não gostava de ser recordado de suas condições, ele respeitava e se privava de algo que adorava fazer: festejar com música, bebida para alegria de Dionísio e dança.

Um Insight bastou para ela juntar os pontos. Rolou os olhos sentindo-se burra.

Cogitou em dar um perdido na família. Sempre fora fácil sumir das vistas do irmão, refugiar-se nos céus, fazer seu trabalho do alto até eles cansarem de esperar, ou até mesmo o dia passar.

Que eles comemorassem o aniversario do loiro que não ligava para sua idade.

Uma expressão mimada contorceu as feições delicadas. A Deusa da caça analisou o tamanho da sua idiotice ao bancar a mimada pela imagem do espelho.  O reflexo estava com as mesmas roupas, a mesma feição contorcida, o biquinho malcriado, os braços cruzados, mas não era ela. 

Ela não queria e não podia estar se tornando uma criança birrenta, era a convivência com Afrodite, até adquiriu a irritante mania de ocultar idades e infernizar seus aniversários. Mas tem uma coisa que a loira nunca fez: deixar de comemorar junto a sua família, mesmo quando pega de surpresa.


—Mas..., E você? Sabe o que é melhor para si, seu bem-estar? — O timbre de voz sábio ecoou no cérebro, um perfeito eco de suas lembranças.

— Ãhn, eu sempre soube, certo? — Respondi receosa. É obvio que eu nunca soube, se soubesse não estaria nesse dilema.

Ela imitou uma buzina enquanto caminhava até a porta.

— Resposta errada.


Fechou os olhos com um sorriso sisudo nos lábios.

— Agora eu sei, Atena. Agora eu sei.

Pequenas mãos entraram em contraste com a porta preta, um rosto bonito fora posto primeiro para fora e depois o corpo inteiro. A atendente que fazia anotações sem um bloquinho pelo pouco movimento da loja deixou a caneta esferográfica cair sobre a bancada, de boca aberta.

Ártemis deu um sorriso idiota ao ver Apolo cochilando. Há quanto tempo estava trancada naquele provador? Por quantos dias ele não dorme? Ela caminhou graciosa para o lado do corpo masculino descansando sobre o estofado, os cabelos loiros caiam sobre o sofá colorindo a negritude.

 De soslaio pode ver o céu completamente escuro lá fora. Ela afagou os cabelos loiros e chamou em um timbre de voz a qual a mesma adotara para com o gêmeo o nome do rapaz.

Apolo pouco a pouco levantou as pálpebras revelando intensos olhos azuis, a cara de sono era muito bem reconhecível, fazia com que ela recordasse às vezes em que dormia agarrada a ele quando menor. Tudo por causa do tolo medo dos trovões.

Oras, mas seu pai era o causador daquele barulho dos infernos!

Mesmo assim ela tinha medo quando pequena. E era nos braços dele que se sentia segura, mesmo sendo a mais velha. Como Apolo dizia, ele era o irmão.

O loiro esboçou u sorriso simpático por ser acordado assim, e alargou o mesmo ao notar a roupa. Uma única descrevia aquilo, e mesmo assim não fazia jus à tamanha beleza: Magnifica.

— Uau! — Exclamou sem vergonha. — Está linda.

— Mesmo? — Ela indagou olhando as pedrinhas, corada.

Assim, desse jeito, tão mortal, tão jovial e vivida, ela ficava mais feminina. Menos frigida. Ela voltava a ser a clave que voltava no soneto.

— E eu mentiria para você? — A voz dele estava totalmente sexy rouca de sono, do jeito que estava. Era quase um pedido inconsciente para ser agarrado.

Balançou a cabeça em negativa, corando mais um pouco. Sentia-se uma adolescente apaixonada. Só sabia fazer corar e evita-lo. Só isso. Ele suspirou ajeitando-se no lugar, os olhos azuis tinham um brilho diferente enquanto vasculharam a imensidão obscura dona de um véu de perfeitas e brilhantes estrelas lá fora.

— Então esse vestido serve para a comemoração?

Os olhos enluarados miraram os azuis, um sorriso maroto brincou nos lábios do irmão.

— E eu achando que só dessa vez conseguiríamos de passar para trás.

Ela revirou os olhos e pôs-se de pé.

            — Alguém tinha que ficar com as qualidades. — Gabou-se.

Apolo pegou a carteira e direcionou-se a tendente que conversava com uma senhora corpulenta em vestes chiques.

            — Então você ficou com os defeitos?

Ela o socou.

— Idiota!


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Notas finais do capítulo

Eu preferi escrever em terceira pessoa, nem sei porque.
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