Eclipse escrita por Quididade


Capítulo 4
Irmãzinha


Notas iniciais do capítulo

Bem, esse é diferente. Espero que gostem, bjs, boa leitura.



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Pov's Ártemis

Não posso mais suportar. Não dá.

Juntei a pouca coragem que eu tinha para fazer isso e me levantei. Não dava para ficar parada o vendo se corroer de dores, observando-o se trancar, se isolar, ver seu sorriso murchar. Pode me chamar de egoísta por querer a única parte de mim que se pode ser chamada de útil em pé.

Esgueirei-me por todo o Olimpo até chegar ao palácio do sol. Não admito que Apolo perca sua atitude, ele é meu irmão. Ele é o sol, ele é a alegria da merda deste lugar. Quer saber o que me deixou assim? Em pura cólera e remorso? Ah, quer? Fácil, ele não confiou em mim. Apolo não veio, sequer, pedir ajuda com qualquer que for seu problema, isso se realmente tiver um.

É, pode ser apenas um teatrinho para ter atenção. Ou uma birra, como quando ele se tocou de minha folga. Mas se for isso, eu... Eu...

Não é. Apolo nunca ia apagar seu brilho á toa

Encarei por um tempo a porta de ouro. Eu ia bater juro que ia, mas... Ele estava chorando. Eu, eu fiquei sem reação, ou melhor, sem raciocinar. Nunca na minha vida, quer dizer, nunca, depois que fizemos onze anos, eu vi Apolo chorar. Ele sempre foi tão "eu posso com isso" que eu acabei... Ah.

Afastei os pensamentos e empurrei vagarosamente a porta, entrando sem permissão. Nesse momento, eu só queria vê-lo, consolá-lo, ser uma irmã. Ordenei que meu coração se aquietasse, não era isso que eu queria. Eu sempre vou o amar, nem que eu tenha que aprender a voltar a amá-lo como irmão. Ou fazer uma boa aula de artes cênicas e fingir ser novamente aquela criançinha.

Talvez, só talvez, ele se sinta melhor assim.

Meus olhos vasculharam o local até o encontrar parado frente à janela, encarando o crepúsculo. Já era hora de eu começar a trabalhar, mas isto vem em primeiro lugar. Agora, e sempre. Quis rir ao pensar que eu estava me parecendo com um gato, silenciosa e perigosa. Mentira, nada de 'perigosa'. Aproximei-me e antes mesmo de por as mãos nas suas costas como planejado, parei estupefata.

Um pingo valoroso caiu sobre o porta-retratos em suas mãos. Sorri para a foto, era antiga e me lembrava os dias fáceis. Os melhores dias das nossas vidas. Não pude conter o impulso de alisar os cabelos ao ver os mesmos negros na foto, agora, eles estão vermelhos. Afrodite.

Apolo suspirou, ele, sentia saudades também no fim das contas. Virou-se de repente parando ao ver-me, parecia surpreso e desesperado. Ele passou a mão nos olhos caramelos, secando apressadamente as lágrimas.

O abracei forte, o deixando sem ação.

– Ártemis eu...

– Shh, todo mundo chora Apolo. Ninguém é de ferro. – Ele respirou fundo, retribuindo o abraço.

O silêncio se instalou no quarto de forma constrangedora e traiçoeira. Seu cheiro saqueava minha sanidade, seu calor, seu abraço, tudo contribuía para os vários minutos daquele jeito. Até pareceu-me que ele também não queria soltar. Talvez fosse a necessidade de alguém da família, alguém que não fosse papai.

– O que faz aqui? – A pergunta soou calma. Mas sua voz era firme, algo diferente e descaracterizado de Apolo.

Apoiei meu queixo no seu peito e o encarei de forma infantil. Vale tentar o plano de ser maninha uma vez sequer.

– Você não vai me ver. Eu senti sua falta.

Ele sacudiu a cabeça em um breve sim.

– O que há Apolo? Conte-me. Por favor...

– Eu não..., eu não posso. – Ele se soltou, sentando-se na cama.

– Não pode, ou não quer? Ou melhor, não confia em mim? Não é? – Coloquei as mãos na cintura, furiosa.

– Não é isso! – Sua voz saiu desesperada e rude.

– Então o que é? Apolo, eu sou a sua irmãzinha. Tem que confiar em mim.

Cheguei mais perto, sentando-me ao seu lado e afagando seus cabelos. Ele levantou o rosto, e pela primeira vez depois de dias, eu vi seu sorriso resplandecer.

Irmãzinha? É?

– É. – Eu ri da sua cara ingênua. – Bobo!

Encaramos-nos por segundos. Seus olhos brilhavam de felicidade, e eu estava contente por ter trago isto de volta. Trago seu brilho, sua alegria, sua autonomia. Mas uma vez fui impulsiva e o abracei.

– Pshhiu, bobo. – Ele me encarou – Eu te amo. Não gosto de te ver assim, ok?

– O-Ok.

Preparei-me para ir. Ele precisava pensar, apesar de ter ficado só um bom tempo, pedia isso mudamente. Caminhei até a porta e antes de fechar, ele me chamou.

– Sim?

– Eu... Te amo também.

Fechei a porta e soltei o suspiro. Como fazer meu coração entender que, esse eu te amo, é de irmãos? Como, mandar meu cérebro parar de planejar mil e um significados para esse simples "eu. Te. Amo"? Como parar de amá-lo inadequadamente?

Apolo e Afrodite. Um dia, vocês dois me pagam!

.

.

.

Seria mais um dia normal. Ele acabando seu trabalho, eu começando o meu depois de um dia caçando, e assim por diante.

Bem, eu disse seria, mas não é.

Afrodite inventou de dar um baile. Deuses, todos eles concordaram, tudo um bando de pau mandado. Ok, é rude uma lady pensar assim. Vou me recompor... Uma ova! Ela quer que eu e o inominado – assim me decidi chamar o ser – Fossemos comprar coisas, mas somente o inominado sabe o que era.

Eu era nada mais, nada menos que um peso a mais no carro esporte.

Já se passaram dois meses desde que, meu sol havia se apagado e eu o ressurgi. Tudo bem pode me chamar de convencida, estou me sentindo bem em pensar que fora eu. Ou estava, estou morta de raiva, mas deixemos quieto. Dá para suportar, se o inominado não fizer graças.

Ele voltara a fazê-las. Voltara a sorrir, e nós... Bem, nós somos irmãos. E meu coração adorou ouvir aquilo, me senti confusa, mas nas três vezes seguidas aquela, eu me senti um tanto completa. Seria ótimo para enganar o coração, então simplesmente não me afastei, sou, e serei a irmãzinha.

– Pronta? – inominado perguntou sorrindo, abriu a porta do carro e entrou.

Revirei os olhos em desaprovação.

– Para que ir com esse carro?

– Para nos passarmos como mortais. Ártemis deixe de ser chata. Eu mudo o carro, é o que quer?

– Não. Pode ficar com ele. Diz-me o que vamos comprar.

Ele gargalhou alto, ligando o Maserati.

– Mas nem pensar. Só se eu quisesse ser morto.

Metáfora. Deuses não morrem. Eu quis dizer, mas vi que não era preciso, pois o mesmo tinha aquele sorriso zombeteiro nos lábios. Às vezes, ele me lembrava vagamente Hermes, nada parecido com Zeus. Outras, ele me lembrava Apolo, e outras, Poseidon. Mas sempre pessoas bem-humoradas.

O carro levantou vôo, e displicentemente eu recostei na poltrona. Será um longo dia.



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