Eclipse escrita por Quididade


Capítulo 3
Fechando-se a sete chaves




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Apolo's Pov.

Não sei ao certo quando começou, mas sei que está aqui comigo, habitando em mim, e destruindo o meu ser. Obrigando-me a definhar...

Estava trancado em meu quarto no palácio, fazia algumas horas que não saia dali, desde que eu chegara mais exatamente. Fazia semanas que eu não falava com ninguém, e anos que suporto tal dor sem reclamar, apenas dando a volta e seguindo em frente de sorriso no rosto. Mas nem isso eu faço mais, nem sorrir consigo.

Dramático... Eu sei.

Ainda tinha aquela maldita foto. A foto em que corríamos felizes, de mãos dadas e cabelos esvoaçantes. Tínhamos sete a oito anos, no máximo, e brincávamos com águas. Fora em um dia de calor que passamos na terra, como duas crianças comuns, dois irmãos.

Seus cabelos preto-prateados chamavam atenção. Estavam curtos, meio repicadinhos, lembro-me de chamá-la muitas vezes de duende apenas para vê-la ficar corada. Desde pequeno a admirava.

Ártemis sempre foi feliz consigo mesma. Ela era uma criança autocontrolada, divertida, ela sempre soube o que queria, sempre fez o que julgava correto, e sempre lutou pelo que era seu de direito. Mas com isso esquecia-se de se divertir muita das vezes.

Uma vez, Hera, em um surto de compreensão, me disse que eu era o oposto, porque ela precisaria de alguém para lhe fazer sorrir quando triste, que ela precisava de um porto seguro, sempre e sempre. É com isso que me consolo. Com o único momento verdadeiramente mãe e filho, mesmo que Hera, não seja tal coisa minha.

Deslizei o polegar sobre nossas mãos mescladas. Naquela época ela não se importava com meus toques, ela sentia-se bem nos meus braços, e eu, sentia-me contente em consolá-la, seja lá o que fosse, ficava feliz em dar-lhe beijinhos na bochechas quando nos despedíamos para dormir, era agradável tocá-la. Era amor, mas um amor de irmãos.

Não machucava.

Ártemis tinha os olhos enluarados chamuscando de jovialidade, a pele sempre clara, os cabelos sempre diferentes: ela nunca para em uma cor só. Ou aquele ser Patricinha não a deixava em paz quando sossegava em uma.

Só percebi que pagava um enorme mico, chorando, quando deixei uma arfar lamuriento escapar dos meus lábios. Prensei meus dedos no porta-retrato desolado.

– Por quê? Afrodite, porque és tão cruel? – Chiei, desabando ao chão.

Ultimamente eu ando fazendo bastante essas coisas: Reclamar, definhar, chorar, e me trancar a sete chaves.

Houve um estouro de perfume francês, e uma onda de luminosidade rosa em meu quarto. Encarei a figura feminina loira de olhos turquesa-esverdeados e fechei a cara.

– Não sou cruel... – Ela se defendeu com sua voz fina, carregada de compaixão. – É assim mesmo, Apolo.

– Ela é minha irmã! Não é certo! – Me exaltei, apertando os punhos para não machucá-la. – Pode por em risco... Tudo o que ela conseguiu...

Afrodite deu uma risadinha, que se fosse a outras circunstancias, eu acharia infantil e fofa.

– Meu caro deus do oráculo dos delfos, você às vezes me parece cego. Nem tudo é em base do que você acha, já pensou que pode ser recíproco?

– Não. Isso é loucura, mas eu já pensei que, você errou. – Sua face se tornou soturna, o olhar longínquo.

Agora eu tinha certeza... Ela havia errado.



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