Eclipse escrita por Quididade


Capítulo 2
Estourando a Bolha


Notas iniciais do capítulo

Decidi que farei pequenos capítulos em pov's diferentes, mostrando 'passo a passo' o desenvolvimento dos sentimentos.



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Eu queria poder correr, gritar, socar. Sei lá, qualquer coisa racional que o fizesse me pôr no chão.

Apolo ria feito um débil mental enquanto me carregava à força para o café em frente ao Empire State. Isso não seria nada de mais, na verdade é bem comum no meu dia a dia se não fosse o fato de ele ter me buscado em Long Island, e me ter-me trago de lá a aqui a força.

Por duas vezes quase despencamos do céu por que eu não poder ficar parada. Tive que esvair minha raiva dando alguns socos naquele idiota de tamanho extra-enorme, mas que tem a mente mais infantil que eu já vi.

Devia ser proibido irmão gêmeo ser mais forte se nascer depois. Não tenho culpa se ele é atrasadinho em tudo, até para sair.

Apolo deu uma gargalhada repentina e meu coração parou de bater, e depois voltou em um time correto.

Dianna, calma. Só relaxe, maninha.

– Me Põe no chão Apolo! – Bati com força nas suas costas. – Agora!

– Uau, você realmente está irritada. Deixou passar o meu 'maninha'. – Pareceu pensar um pouco, mas eu sabia que ele se esforçava para ver o futuro. Odiava isso nele, ele saberia exatamente o que eu ia fazer, que injusto.

– Vou adivinhar – Disse eu, cansada. – Você acha que não dá para me pôr no chão, já que você viu que eu vou correr para longe. Certo?

Ele gargalhou novamente. Os ombros subindo e descendo conforme o som melodioso preenchia o ambiente.

– Certo. Certíssima! Não sei por que papai diz que nunca estamos em sincronia.

Ele me ajeitou nas costas e parou em frente à cafeteria, sorrindo como criança que acaba de ganhar doces. Respirei fundo tentando me acalmar, o que realmente aconteceu - o cheiro dele me tranquilizava sempre.

Aos poucos o idiota me pôs no chão e ainda hesitante ele segurou meu pulso como garantia de que eu ficaria ali, no seu lado, no dia em que ele determinou que seria o nosso dia.

– Tudo bem Apolo. Eu garanto que não fugirei. – Dei minha palavra por fim. Havia tempos que eu me afastara de meu gêmeo, dos homens.

Mas não era pelo fato de ser homem. Ser homem é muito vago, era pelo fato de eu odiar Afrodite e seus desejos românticos, suas fantasias incestuosas que essa loira do mal plantou em minha mente.

O calor do corpo de Apolo chocava-se contra a frieza de minha pele. E o engraçado é que parando para pensar, nossa temperatura era como nosso humor e nossa personalidade. Pelo menos em alguns aspectos.

Ele me puxou ainda pelo pulso e me obrigou a sentar em uma das mesas. O local estava movimentado, mas não realmente cheio.

Não demorou para ele retornar com café e muffins.

– Moca descafeinado, não é isso? – Arqueou de forma perfeita a sobrancelha negra e sorriu, beliscando o muffin.

Permiti-me rir.

– Ainda lembra-se disso?

– Como esquecer o favorito de dona Ártemis – Sussurrou meu nome, inclinando-se na mesa. – Me Lembro de como tomou pela primeira vez isso. Da sua careta.

– Ah, claro! Tem que gravar os momentos de micos.

Ele gargalhou feliz. Suspirei e baixei a cabeça quieta. Seria um longo dia.

– Algo errado? – Sua voz estava preocupada e doce. – Se quiser eu paro de falar essas coisas, maninha. Hoje não brigaremos.

Ela falava e eu relutava em levantar a cabeça. Recusava-me a olhar naqueles olhos caramelos que tanto me furtavam a razão. Seus dedos tocaram hesitante meu rosto, provavelmente com medo de eu dar mais um dos meus ataques feministas, aonde eu esfrego que posso ser feliz sozinha, que não preciso de ninguém, nem mesmo dele.

Essa culpa me consumia por toda existência. Sabe... Magoar um irmão afetuoso não é lá a coisa mais certa a se fazer, mesmo que seja por uma boa causa, e que a culpa seja dele. Afinal... Não gosto de tocar nesta história.

A cada vez que Apolo me olhava eu sentia o pesar, eu via a tristeza, a falta que eu fazia a ele, e todo o afeto que ele tinha por mim. Apolo é a pessoa mais boba que eu conheço, mas é a mais leal. Tanto quanto minhas caçadoras. Talvez mais...

E é ai que entra o novo sentimento.

Quanto mais penso em como sou cruel, em como gosto dele, mas descubro que sou dependente. Por mais que lute contra isso.

Sou a lua, ele é o sol. O sol é uma estrela autônoma, vive e comanda o seu universo sem realmente precisar de ninguém, mesmo que seja o seu maninho idiota. Apolo sempre fora independente.

Não precisa de razões para sorrir, faz isso quando quer. Não precisava de mandatos para agir, nunca era detido ao todo, apenas era deixado mais lento em seus planos.

Os outros é que precisam dele. A terra, os deuses, os humanos, as flores, as vidas, a alegria, e, irrevogavelmente, eu.

A lua? Ora, a lua é o mais belo satélite natural - o único da terra, na verdade. Uma jovem donzela que luta por seu lugar, e é admirada por muitos. É a rainha dos amantes e um símbolo do amor. É a tranqüilidade e a paz - é dependente do sol para sua miserável vida... Isso sim.

Eu preciso com todas as minhas forças de Apolo, assim como a lua tem de ter o sol. Para guiá-la, para fazer-la brilhar, ou apenas para amá-la loucamente mesmo que seja apenas uma vez em não sei quantos anos. Eles se amam, e juntos geram Eclipse.

Por que eu, ou melhor, nós não podemos nos amar? Por que eu não tenho esse direito de felicidade?

Eu sou uma boba. Isso sim! Fico o admirando, desejando-o, e ele alheio a tudo, apenas em seu mundinho de bem-estar e felicidade, tentando a todo custo ser um bom irmão, um consanguíneo presente, sem ao menos amar-me como eu o amo.

– Não, está tudo bem. – Forcei minha voz para passar firmeza. – Só estava pensando no enorme esforço que faço só pra evitar as coisas que me deixam feliz.

Apolo sorriu. Esse simples ato me fazia sentir que vale apena, apenas por esse dia, vale à pena guardar na caixinha a Ártemis guerreira e auto-suficiente.

– Posso saber o que são essas coisas que lhe deixam feliz?

Olhei em seus olhos sem medo e sorri. Aquele par de olhos caramelos contagiante faiscou alegre, e ele voltou a beber o café. Limpei a garganta.

– Passar um tempo com você, bem, isso me deixa feliz. – Apolo retirou os olhos do vaso sobre a mesa e me encarou espantado. Eu ri de sua expressão. – Feche a boca, maninho.

– Ok. Acho que eu é que fui raptado. – Sacudiu a cabeça de forma idiota – Quem é você, e o que fez com minha doce irmã?

Eu, geralmente fico carrancuda com essas babaquices, mas estava deixando passar. Estava reabastecendo a falta que o sol fez. Apenas sorri para ele e comi o muffin de chocolate distraída.

– Achei alguém mais criançona que eu. – Ele acusou rindo.

– Do que está falando?

Apolo esticou os dedos até o guardanapo mais próximo e o levou até minha boca, limpando.

– Disso aqui – Ele riu um pouco mais antes de mostrar os pedacinhos do Muffin e sorvete no guardanapo. – Viu.

– Ora, mas não é você que sempre diz "sem se sujar não tem graça"?

Por uma fração de segundo pude ver em seus olhos o espanto em saber que sim, eu prestava atenção em coisas como essa. Um pequeno sorriso riscou o rosto bonito enquanto ele voltava a sua posição na cadeira. Apolo levou o dedo indicador ao próprio peito como se fosse uma espada e exclamou abobalhado:

– *Touché.

.

.

.

Contar as estrelas nunca me pareceu tão divertido.

– Olha, assim não vale. Você conhece cada uma delas.

– Não Apolo, eu não conheço. E a graça é essa – Respondi pacífica – Saber que nunca tem fim.

Virei o rosto e encontrei aqueles olhos amarelos sobre mim, analisando-me.

– Que foi?

– Fica mais bonita assim... Sorridente.

– Ah – Corei um pouco – Obrigada.






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Notas finais do capítulo

Touché - Interjeição

(') usado como um reconhecimento de um golpe, dito pelo esgrimista que foi golpeado
(') reconhecimento de que num debate o interlocutor apresentou um argumento convincente
Etimologia

Do francês touché.