Ponto de vista: Annabeth

Tudo aquilo era bem estranho. E improvável. Mas eu tinha certeza que estava bem acordada, vendo aquela cena, e que não era nenhum tipo de alucinação causada pelo estresse.

Atrás de mim, pude sentir a respiração de Rachel acelerando, por causa da adrenalina. Eu mesma estava surpresa.

Nós estávamos na sala, mas como atrás de nós tinha o corredor, estávamos sendo escondidas pelas sombras, então eles não podiam nos ver. 

Percy estava largado em uma poltrona, com olheiras, provavelmente lutando contra o sono enquanto olhava o fogo queimando na lareira.

Minha mãe estava deitada no sofá de couro, coberta, dormindo, apoiada em Poseidon, que afagava seus cabelos, parecendo hipnotizado.

Cronos olhava pela janela a cidade, o horizonte distante. Ao seu lado estava uma mulher, loira, de pele clara, parecia preocupada.

E Apolo estava andando de um lado para o outro. Era o que fazia quando estava nervoso.

- Pai - começou Percy, fazendo Poseidon levantar os olhos. - Acha que elas vão voltar?

Poseidon suspirou e voltou a olhar minha mãe que estava aconchegada em seu colo.

- Eu não sei, Percy. Se elas demorarem mais, teremos que procurá-las.

- Certo - Percy disse somente, voltando o olhar para o fogo, parecendo esperar que algum milagre acontecesse.

Which then turned into a quiet thought

Which then turned into a quiet word

And then that word grew louder and louder

'Til it was a battle cry

- Bem - disse a mulher, virando-se. Ela parecia uma versão minha, mais velha, ou melhor, da minha mãe. - Acho que teremos de ir atrás delas, concordam?

- Sim, quanto mais rápido formos, mais rápido as acharemos - disse Cronos, ficando ao lado dela e olhando para Poseidon.

- Não precisam - disse Rachel, em alto e bom som, saindo das sombras. Ela, assim como eu, já tinha entendido o que estava havendo ali, basicamente. - Nós já estamos aqui.

- É. E vocês tem algumas coisas para explicar, não é?

- Annie! - exclamou Percy, levantando-se e vindo até mim. - Larga isso, sua maluca, tá pensando o quê? 

Assim que ele tirou a arma da minha mão, me abraçou fortemente. Eu retribuí, claro, estava morrendo de saudades dele.

- O que aconteceu depois que saímos? - perguntou Rachel.

- Bem... Anfitrite bateu em Athena, Métis apareceu, Cronos quase matou a mulher, nós fomos libertados e cá estamos nós, esperando vocês - esclareceu Apolo.

- Métis? - eu perguntei, baixinho. - Ela não seria...?

- Olá, Annabeth - a mulher mais velha disse. - Você é a cara da sua mãe.

- E ela é a sua cara - falei, com o cenho franzido.

- Nós vamos ter bastante tempo para explicar as coisas em detalhes, mas o que importa é que vocês estão aqui - ela disse, sorrindo amorosamente.

- Acredite, nós não vamos ter tanto tempo assim se não estivermos, no mínimo, a cinco mil metros dessa casa - disse Rachel, parecendo desesperada, olhando para o pai.

- Ah, meu Deus, é mesmo! - falei, batendo a mão na testa. - Eu já tinha me esquecido.

- O quê? O que foi? - perguntou Poseidon.

- Nós acionamos as bombas, pai - ela disse, incerta.

- Duas palavras: Mau sinal - disse Cronos, começando a correr pela sala, pegando a arma, o casaco e falando algo para um dos homens.

Just because everything's changing

Doesn't mean it's never been this way before

All you can do is try to know who your friends are

As you head off to the war

- A polícia está vindo para cá - ele disse, fazendo sinal para que Poseidon pegasse minha mãe no colo. - Temos que correr. De um jeito ou de outro.

- Polícia? - perguntei, ajudando a pegar alguns documentos e a queimar papéis incriminadores. Eu não sabia porque estava o ajudando, quando na verdade, a missão era justamente acabar com ele.

Algo estava muito errado ali. Ou eu estava muito por fora. Mas por Poseidon, Percy e minha mãe estarem tão tranquilos, provavelmente eu deveria confiar nele.

- Isso mesmo. Essa casa vai explodir, lembra? Rachel, onde está sua mãe? 

- Morta - ela disse, seca.

Ele ficou estático por alguns segundos, mas parecia já esperar aquilo.

- Não se preocupe - Rachel continuou. - Já foi tarde.

Cronos franziu os lábios e sem dizer uma palavra, voltou ao trabalho de abrir a porta.

Saímos em uma enorme garagem, cheia de carros de época, mas ele, assim que viu que estávamos todos ali, se dirigiu a uma BMW branca com teto solar. Como caberiam oito pessoas naquele carro?

No fim, ficou Cronos no volante, Métis no carona, Rachel no seu colo, e atrás, Poseidon com minha mãe que começava a acordar, eu, Percy e Apolo apertados.

Minha mãe fez algumas perguntas rápidas e deu algumas coordenadas. Logo, nós já estávamos correndo loucamente por ruas desconhecidas e, em menos de quarenta e cinco segundos, vimos uma explosão horrível pelo retrovisor, assim que saíamos do seu campo de alcance. Aquilo foi como uma luz gigante no meio da noite.

Pick a star on the dark horizon and follow the light 

Rodamos por longos silenciosos minutos, que foram os piores da minha vida, até sairmos no centro da cidade. 

- Aonde estamos indo? - perguntei, totalmente perdida.

- Prédio da Buddies - disse minha mãe, mas percebendo o espanto de Cronos, continuou: - Tudo bem, eles não podem me negar nada, nem vão reconhecer os outros.

Cronos assentiu e voltou sua atenção para a rua.

Métis, que agora eu percebia ser minha avó, mãe da minha mãe, virou-se e sorriu.

- Fico feliz que tenha se recuperado. Não totalmente, é claro, mas com o tempo, tudo vai voltar ao normal. Finalmente podemos relaxar.

- Não fique tão confiante assim - disse Poseidon. - Athena tem de assumir a empresa em uma cerimônia formal, uma das tradições da Buddies. Além de que terá de explicar o que houve na missão e o quê Cronos e Rachel estão fazendo aqui para os sócios corruptos de Zeus.

- Mas, você vai ver, ela vai dar conta de tudo - disse Apolo - meu tio, sorrindo e segurando a mão dela. - E vai acabar com esse sistema desonesto.

- Você acha que papai sabia que era enganado? - ela perguntou, baixinho.

- Ele não permitiria algo assim, mas nunca deixou escapar nada... Talvez ele soubesse, mas tinha coisas mais importantes para se preocupar - respondeu Apolo.

Now we're back to the beginning

It's just a feeling and now one knows yet

But just because they can't feel it too

Doesn't mean that you have to forget

- É. - ela disse, olhando um prédio grande do qual nos aproximávamos. - Talvez.

O carro parou. Descemos, tentando manter ao máximo nossa discrição. Logo um manobrista veio até nós, e Cronos entregou a chave do carro um pouco relutante.

O prédio era enorme, não chamava a atenção, por motivos óbvios, tinha uma recepção praticamente só de vidro e inúmeras janelas.

Dentro, era decorado em branco, com vários objetos feitos de metal. Minha mãe e Poseidon se encaminharam até uma mulher morena, de cabelos ondulados e olhos azuis, que olhou significantemente para Poseidon. Depois de se identificarem, ela voltou com sete chaves nas mãos. Eu pensei que tinha uma a menos porque ela ficaria junto com Poseidon, e faria questão de me separar de Percy, mas, para minha surpresa - a de Poseidon e a de Percy também, ficou um quarto para ela, um para Poseidon, outro para Rachel, outro para Apolo, para Métis, para Cronos e um para mim e Percy. Conclusão, ela e Poseidon ficaram separados e eu e Percy, juntos.

Mesmo apertados, fizemos questão de subir todos de uma vez, para não ter nenhuma brecha para imprevistos. Por sorte, todos os quartos eram no mesmo andar, fazendo com que meus pensamentos sobre aquele lugar ser maior que o próprio Olimpo se concretizasse - sim, eu sou super ligada em mitologia, já que minha família é maluca e tem nomes que vêm de lá.

Let your memories grow stronger and stronger

'Til they're before your eyes

Todos fomos para nossos respectivos quartos, minha mãe depois de acalmar Métis dizendo que estava bem umas mil vezes. Já estava tarde e nós queríamos descansar, afinal, teríamos longos dias pela frente.