Ponto de vista: Poseidon

Mesmo depois de Annabeth deixar a sala com Rachel, Athena continuou impassível, ao contrário de Percy e até mesmo Apolo, que ficaram mais tensos – se isso for possível.

Eu não estava entendendo porra nenhuma. Athena não faria nada? Como assim? Ela deixaria Annabeth morrer? Percy, Apolo... Ela sempre foi conhecida pela esperteza! Zeus sempre gostou de falar o quanto ela era maravilhosa...

O que estava acontecendo, afinal? Ela ficaria quieta para todo o sempre, é?

Provavelmente estava pensando... Mas, nunca esboçava nenhum sentimento, expressão, nenhum nada.

Era... frustrante!

Where are those happy days? They seem so hard to find

I tried to reach for you, but you have closed your mind

Whatever happened to our love I wish I undertood

It used to be so nice, it used to be so good

So when you’re near me, darling can’t your hear me

The love you gave me, nothing else can save me

- Então… - começou Cronos. Eu ainda não podia acreditar que Zeus teve de conviver com aquilo. Eram tão diferentes... – Já que não temos o diário… Poderíamos contar com sua contribuição, Athena?

- Ah, claro. E depois iríamos tomar chá junto da lareira – ela respondeu, agressiva.

- Naah... Eu prefiro café. Chá é muito... inglês, se assim podemos dizer. Sabe... seu pai era inglês.

Eu gostaria de dizer o que Athena estava sentindo. Mas a verdade era que, por mais que eu quisesse, não conseguia discenir nenhuma reação. Nós nem sabíamos se iríamos sair dali vivos!

Sempre fomos cuidadosos. E por uma briga de família...

Isso é ridículo.

- Athena, Athena... – começou Anfitrite, levantando-se da poltrona e passando os dedos pelas bochechas de Athena. – Poderíamos conversar em particular, hm? Gostaria de te conhecer melhor, que tal? Poderíamos até mesmo ser amigas...

- Deixe-a em paz, Anfitrite.

Ela sorriu. Larga e diabólicamente. Eu não entendia. Como um dia pude me interessar por aquela mulher? Ou melhor, por aquilo? Parecia um animal ansiando por sangue.

Athena me encarou diretamente. Seus olhos exprimindo muito mais do que antes. Era uma mistura de medo, preocupação e alerta. Como se pedisse para eu não fazer – ou falar – mais nada.

Ela era uma boa estrategista, sim. Mas eu começava a desconfiar de que naquela situação nem mesmo ela poderia ter um plano.

Seria possível?

Pisquei os olhos, esperando que ela compreendesse como uma afirmação.

Se ela tinha um plano, eu deveria colaborar, afinal, era a única que conseguiria traçar uma rota de fuga sob pressão, acima de qualquer outro.

- Aah, que bonitinho. Tentando protegê-la, Poseidon? Mas o que você poderia fazer, não é mesmo? Tão debilitado...

Foi tudo tão rápido... Pareceu-me um borrão na hora. Depois, nem acreditei quando percebi o que tinha acontecido.

Num movimento ágil, as unhas bem feitas de Anfitrite entraram em atrito com a pele fina do pescoço de Athena, rasgando-a. Atrás daquele véu de imponência que ela sempre carregada, pude ver uma mulher com o orgulho ferido, mas que não se deixaria levar.

Cronos sorria largamente, mas não parecia tão feliz. Pois ele estava ciente de que se alguma artéria importante tivesse sido atingida, Athena poderia morrer em pouco tempo, e seu plano todo iria por água abaixo.

Olhei para Apolo, que parecia tão aflito quanto Percy. Athena era sua paciente, mas acima de tudo, era sua irmã. Aquela que o criara enquanto seu pai estava ausente.

Anfitrite virou-se para ver nossas reações. E quando se voltou para Athena mais uma vez – que a encarava desafiadoramente – a atingiu na face, com o punho fechado.

De seus lábios cortados começavam a escorrer sangue e em sua maçã do rosto começava a aparecer uma leve mancha arroxeada.

Se não fosse pela expressão calma que ela mantinha, eu começaria a me desesperar.

Mas, depois de um tempo, percebi, estupefato: ela não deixaria isso acontecer se não fosse por uma causa nobre... provavelmente... não, não podia ser; como ela saberia? Será que... por um milagre dos céus, Annabeth nos salvaria? Era isso mesmo?

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O ar parecia ter desaparecido. Meus ouvidos pareciam tapados por algo... Não havia resposta. Minha mente parecia ter congelado com a possibilidade. Aquilo era real? No meio de tanta confusão, ainda haveria esperança?

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Anfitrite agarrou Athena pelos cabelos e a puxou, forçando-a se levantar.

Cronos agarrou a poltrona na qual se apoiava, temendo pela vida da sobrinha.

Ele poderia negar, poderia dizer que eram puramente negócios, mas eu nunca esqueceria aquele brilho ardente que apareceu em seus olhos quando percebeu que ela poderia morrer.

Silenciosamente, as duas se digiriram para um corredor, no sentido oposto da onde Annabeth fora levada.

Enfim, desapareceram. Ali só estavam presentes eu, Apolo, Percy, Cronos, Mike, Frederick e alguns outros que eu não reconheceria.

Sem Annabeth. Sem Athena. Como poderíamos saber quando estaria na hora de agir?

When you’re gone how can I even try to go on?

When you’re gone though I try how can I carry on?

You seemed so far away though you were standing near

You made me feel alive, but something died I fear

I really tried to make it out

Novamente, o desespero veio como uma onda de calor. Quando entrávamos para a Buddies éramos submetidos a um julgamento. O de proteger o parceiro acima de tudo, sim. Mas o de abrirmos mão disso quando fosse o último recurso para concluir a missão.

Era isso, então? Se preciso ela nos deixaria para morrer enquanto salvava o dia?

Eu não podia acreditar. Não. Não parecia algo que ela fosse capaz de fazer.

Mas ela foi treinada para isso.

Mas também fomos proibidos de deixar sentimentos intervirem.

Nenhum amor que ela sente poderá mudar o destino.

Pela razão, ela estaria certa. Mas pelo coração, era algo insuportável.