-Prólogo-

Too Late For Gods

“I saw this alone
The city was aflame
Did I turn right in or
turn away?”

         - Senhores, acredito que tudo esteja resolvido. Com as novas informações de Atlas e o apoio dos Blackfield, creio eu que não haverão falhas na execução do ritual.

         Austeras figuras em meio a penumbra discutiam, tensas. Sentadas em volta de uma mesa de formato ovalado, ao menos vinte pessoas discutiam a fabricação de um milagre. Aquela reunião já havia durado exatas seis horas, acarretando muito cansaço sobre as mentes e os corpos de todos os homens e mulheres presentes. A meia luz do ambiente deixava tudo mais tenso, mas fora necessária para preservar a identidade de muitos dos presentes e conservar o pouco frescor que penetrava pelas altas e inacessíveis janelas do mosteiro.

         - Apenas quero a confirmação do Supervisor envolvido, antes de encerrarmos. – uma voz feminina e jovem respondia à séria e rouca voz de antes, levemente preocupada – Afinal, ele estará envolvido diretamente com os participantes, e será o responsável pelo bom andamento de tudo.

         - Você ouviu, Revna?

         Uma alta figura levantou-se sem pressa de sua cadeira, tendo o pálido rosto iluminado pelo fraco raio de luz vindo de alguma das janelas do salão:

         - Peço que não se preocupem, magos. Eu lhes asseguro que o plano se desenvolverá pleno e sem contratempos. A Igreja mais uma vez se encarregará da supervisão do conflito, e serei completamente imparcial em minhas decisões e atos.

         - Você não entendeu, reverendo – A mesma voz feminina de antes se dirigiu pessoalmente ao religioso – Quero saber o que você vê, se é que me entende.

         Revna esboçou um sorriso, perceptível a todos. Em seguida fechou os olhos e murmurou uma oração em voz baixa que durou poucos segundos. Abrindo os olhos novamente permaneceu estático, olhando o infinito; um fugaz brilho avermelhado dançou em suas íris por um momento, e o padre apoiou-se na mesa, exausto.

         - Os mestres serão escolhidos sem dificuldades ou muitos contratempos. Os arquétipos não me foram revelados. – Olhou para a mulher que o interrogava, com uma expressão enigmática – Serão participantes muito, muito pitorescos.

         - Não consegue ver nada mais concreto?

         - A mim foi concedida a graça de espiar os caminhos, não o destino. Vejo apenas as rotas na escura caverna que é o futuro; mas nunca a luz no fim do túnel.

* Too late for Gods: uma música da banda americana AFI (a qual sou muito fã, aliás 8D). Os versinhos também são de uma música do AFI, mas apenas revelarei de qual na hora certa. São importantes na trama.