Suffocate escrita por GreenDay


Capítulo 3
Make it stop, I'm getting off.


Notas iniciais do capítulo

Gente, desculpa pela demora para atualizar a fic, mas fiquei realmente sem tempo, e ainda estou na verdade, por tanto, o próximo também pode demorar um pouco.



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Meus olhos já me enganavam e meu rosto pingava incessantemente. A terceira garota da noite, dona de uma pele anemicamente pálida e grandes olhos verdes, forçava seus lábios contra os meus de uma forma extremamente dolorosa. 
Minha vista caminhava desesperançada dentre as pessoas espremidas umas nas outras. Droga, ela disse que estaria aqui.
Empurrei a garota para fora do palco, assim que percebi o 
encore da próxima música sendo puxado por Mike
Sabia. Ela não viria. Eu devo tê-la assustado com minhas composições meia-boca, inspiradas em tudo que se pareça uma fuga da realidade. Ela não duraria muito, de qualquer forma. No final só restariam músicas e restos de memórias, que com o tempo se tornaria um mistério até mesmo para mim. 
Dane-se. 
Agarrei o microfone, e apesar da letra um tanto confusa em minha cabeça, as palavras saiam automaticamente dentre os goles de cerveja. As pessoas se moviam tão rapidamente que era quase impossível ter alguma noção de seus rostos entre os efeitos de luz. Até que um rosto familiarmente alegre fez tudo parar. Lá estava ela , como um fantoche, movendo-se ao compasso perfeito da música. Era como se eu estivesse no controle.
Ela era um ponto, parecia acreditar ser o centro do universo. E fazia com que todos a sua volta acreditassem cegamente nisso.
show acabou com a última música. A vi desaparecer entre a multidão . Minha tentativa de chama-la ou até mesmo descer entre as pessoas eufóricas, foi completamente inútil.

Não tinha muito a fazer, e Adrienne vagava pelo quarto inexpressiva. A puxei para perto e afaguei sua bochecha com a ponta do nariz.

- O que foi? – Perguntei meio acanhado.
Ela só balançou a cabeça, meio distante.
Addie, diga – Ela continuava imóvel - Não saberei como te ajudar e pisarei em ovos sempre que estiver por perto, mas eu tenho um compromisso em te ajudar e pelo menos tentar te fazer feliz, não só ao contrário.
- Eu não sei. Não sei se quero continuar assim, eu nem sei o que eu quero ou posso fazer agora, mas eu estou tão cansada, 
Billie. Todos esses anos eu cuidei de você e lutei com todas as minhas forças as suas lutas, mas depois de tanto tempo...
- Eu sei, e eu reconheço tudo isso. Tive uma 
puta sorte de encontrar alguém que esteve sempre do meu lado, não importando o quão filho da puta e egoísta eu seja. A questão é que eu me esforço, eu tento ser bom o suficiente, e você sabe que eu nunca vou conseguir. Mas se você acreditar... Só não desista de mim, Addie. Você é simplesmente a única coisa que eu me importo na vida, eu só quero que você acredite o quanto eu te amo, e o quanto minhas intenções são boas. – Respirei fundo e disse o que ela deveria ouvir - Eu só quero que você seja feliz... Mesmo que para isso eu tenha que sacrificar minha própria felicidade - senão, minha própria vida - te deixando livre.
Um enorme vazio pareceu tomar o 
cômodo.
- Que seja. – Falei, aceitando o silêncio como resposta.
- Eu só preciso organizar as 
idéias. Eu só preciso que você organize as idéias. – Apagou cruelmente qualquer faísca de esperança que eu pudera ter. Mesmo descrente, esperava qualquer intervenção. – Mas, você sabe... É melhor não falar nada para os meninos ainda, vamos dar um tempo para as coisas se resolverem.
Suspirei e 
apoei a cabeça tentando esconder o pânico que me tomava.
- É... É vai ser melhor assim. Diga que eu vou viajar. Vou dar um tempo na outra casa, só vai ser entregue daqui a dois meses, de qualquer forma. Acho que é suficiente para tomar alguma decisão.
Minha cabeça girava e nada parecia fazer sentido. Agora era definitivo, não teria mais nada. Estava definitivamente começando do zero, com mil e um caminhos a escolher e incontáveis velhas decisões a serem tomadas.
Pensamentos frenéticos 
moíam meu cérebro, enquanto eu colocava, sem muito cuidado, as roupas na mala. Fui no quarto de cada um dos meninos me despedir, tentando não deixa-los muito excitados, o que funcionou bem, visto que mal falaram e voltaram a dormir.
O vento da madrugada colidia contra minha barba mal-feita. Sentia os olhos vermelhos de 
Adrienne me acompanhando da janela do quarto, enquanto eu jogava a mala no carro e descia rua abaixo.
Não a estava perdendo, eu sabia disso. Eu a amava com cada célula do meu corpo, nós 
perteciamos um ao outro, e nada poderia mudar isso por muito tempo.
Dirigia avulso, sem prestar muita atenção no caminho. Abaixei os olhos por um momento, e o mundo pareceu se esfarelar ao meu redor. A primeira foto do 
Joey, ainda na maternidade, nos meus braços trêmulos e nervosos. Eu me sentia tão perdido e assustado, de começar alguma coisa, de verdade, que me traria responsabilidades para o resto da vida. Me lembro o quanto foi difícil aceitar minha nova família, assim como minha nova vida. Sucesso, condenamento, culpa, drogas, responsabilidades, amor, depressão: tudo explodiu como uma bomba, junto com meu cérebro e bom senso. Mas no fundo, não queria mais do que construir para Addie e Joey o tipo de família a qual ansiei a vida toda.
Toda a anestesia da adrenalina parecia ter passado. O choque da realidade, agora rasgava as minhas veias, fazendo com que o carro quase derrapasse ladeira a baixo. Lamentei por um instante, e por mais que estivesse ciente da minha dificuldade em dirigir agora, não parei.
Alguns 
quilômetros depois, cheguei na antiga casa. Assim que a vi, tive certeza da péssima idéia que tive. Era tudo tão cheio de lembranças, era como se fosse a prova de que tudo havia passado, deixando apenas rastros de memórias, que a cada passo dentro daquele lugar, ficavam mais dolorosamente nítidas.
Conseguia ouvir as 
risadas, os dramas infantis – não somente dos meninos -. Os primeiros passos de Jakob, as brincadeiras em volta da piscina, a fogueira no quintal. Eu estava no inferno.
Voltei para o carro e tirei um tempo para respirar. Tinha vontade de voltar para casa e implorar o perdão de 
Addie, mesmo rejeitado, queria estar por perto e fingir ainda ter o controle da situação.
Soquei o painel do carro o mais forte que pude, e o liguei , deixando-o me guiar para o único lugar que poderia ir.
A noite, de repente, estava muito mais fria. Desci do carro e olhei ao redor alguns instantes para me certificar de que não estava enganado.
Ela não estava lá. Não estava atrás dos arbustos, em cima das árvores... Dessa vez, ela simplesmente não estava lá.
Me joguei em cima do carro chocado, 
decepcionado e preocupado. Ela teria que estar aqui. Ela sempre está aqui. O que raios está acontecendo?
Abaixei a cabeça e ri de minha própria 
reação. Mas por que porra eu estou tão surpreso? Por que eu esperava que ela estivesse aqui, esperando por mim cada segundo de sua vida?
Fechei os olhos e lembrei de sua imagem, desaparecendo entre a multidão. Seria essa, minha última lembrança dela, estava certo disto.
Puxei as mangas do casaco para proteger minhas mãos e me aconcheguei nelas, tentando esquecer tudo por um momento.


Senti algo 
cutucar minha barriga e levantei sem entender direito o que estava acontecendo.

Uh, achei que você estava morto – Disse, me cutucando com um galho mais algumas vezes.
Meu corpo quase congelado me fez gemer por um instante. Apertei os olhos, tentando lembrar de como acabei dormindo ali e me certificar de que ainda não estava.

- Como você vem aqui assim, 
aleatoriamente? Eu também tenho uma vida, MrFuckingFreezing.
Argh, você não estava aqui.
Perdóname – Dizia segurando minhas mãos, como se implorasse.
Ela sentou-se ao meu lado e me abraçou de uma forma estranha, como se tentasse me aquecer.
- Você está tendo uma 
hipo... hipotermo... Você está tendo uma congelação. É melhor entrar no carro. 
Ahm, uma hipotermia agora não me faria tão mal. – Falei, enquanto era puxado para dentro do carro.
- Claro que faz. Não mexa com essas drogas naturais.
Entrei no carro, que também não estava muito quente. Ela me puxou e me aconchegou em seus braços, estranhamente aquecidos pelo casaco mais 
brega que já tinha visto em toda minha vida. O cheiro exageradamente doce de seu perfume estava me deixando nauseado. Tentei me distrair com os pelos sintéticos da manga de seu casaco, enquanto ela murmurava alguma coisa.
Depois de um tempo, meu estômago parecia dar voltas. Me afastei agoniado e respirei fundo. Seu rosto, pela primeira vez, parecia ter mudado sua expressão. Ela parecia nervosa. Até mesmo...preocupada.
- Por que você está todo assim? Andou fazendo besteira? – Franziu a testa.
...Não – Gaguejei ao perceber o que “besteira” significaria – Na verdade, eu dormi no capô de um carro em um frio estalante. É, tudo indica que fiz besteira. Mas não...
- Você já comeu? – Me interrompeu, enquanto fechava os últimos botões do meu casaco.
- Por que você parece preocupada?
- Porque eu sei que você precisa. 
Well, eu tenho que ir. – Falou se levantando e ajeitando pela última vez meu casaco – Vá para casa e se cuide. Thingswillgetbetterbaby.
Huh? Por que? – Perguntei impulsivamente.
- Porque as pessoas tem que ir alguma hora – Falou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
- Não! Fique. Eu não tenho ninguém agora e eu só tenho que ficar aqui. Quer dizer, a vida está uma droga... Só fique aqui.
Ela me fitou um tempo, como se estivesse tentando processar o que eu acabara de dizer.
- Vamos comer.


Ela havia passado todo o caminho falando sobre um velho psiquiatra que morava pelas redondezas, o qual havia tido uma “pequena 
paixonite” na adolescência.
- Ele tinha um relógio de bolso e um belo sotaque inglês: “Oh meu Deus! Não sou ginecologista.”
Chegamos em um grande campo, completamente a parte do resto da cidade. Não havia nada, nem uma casa, muito menos qualquer coisa comestível, apenas um vasto gramado e uma floresta que se estendia ao oeste.
- Comida! – Gritou, pulando na minha frente e se dobrando nos joelhos.
- Como é? – Perguntei rindo.
Ela seguiu em 
direção a floresta e me puxou para uma árvore de tronco completamente rabiscado e descascado, destacando-a das outras. Apertei os olhos tentando entender o que havia escrito, mas antes de fazê-lo, fui surpreendido por algo maior.
Buonappetito! – Dizia, tirando várias coisas de dentro de uma cesta, que eu não tinha a menor noção do porquê estaria lá.
Sentei ao seu lado numa toalha listrada, ainda confuso. Parecia que ela já sabia que 
iríamos até lá, que já teria arrumado e planejado tudo. Fiquei olhando para tudo aquilo por um tempo e finalmente consegui falar.
- Mas... Por que isso? Quer dizer, por que isso tudo está aqui?
- Gosta de bananas? – Perguntou me ignorando, como de costume.
Fiz que sim com a cabeça, desistindo de uma resposta. Ela deu um 
sorriso de lado e cortou uma rodela de banana, empurrando na minha boca. Balancei a cabeça, tentando fugir, o que apenas a determinou mais.
- Não – Gritei ao perceber que ela já estava enfiando a comida com os dedos.
- Que droga – Disse se afastando e limpando os dedos na camisa.
Eu não entendia porque ela havia ficado irritada, de repente. Quer dizer, só estávamos nos divertindo. Olhei para o lado e ela estava deitada, seguindo o movimento das folhas com o cigarro.
Me deitei ao seu lado, meio tenso, e tentei relaxar. Ela continuava pacientemente concentrada, assim como eu, em sua concentração. Até que um riso caloroso, esquentou a terra por um segundo. Sorri para mim mesmo e me virei para encara-la.
O frio não parecia nem mesmo a tocar, estava radiante como em um dia de verão. Ela se aproximou de mim e passou um braço pela minha cintura. Aos poucos ia se aproximando, até que estivesse perigosamente perto do meu rosto. Já esperava que não desse em nada, como sempre.
Porém, fui surpreendido com um beijo. De verdade e sem voltas. Estava tão atordoado, que esqueci até mesmo de me mexer. Ela não só parecia quente – realmente estava. Seus lábios eram rápidos e quando eu parei de analisar os detalhes, já havia acabado e ela voltava ao seu cigarro.
Eu não conseguia pensar em nada. Depois de alguns minutos, eu nem sabia se havia acontecido de fato. Fitei seu sorriso desmanchado, sugando com desespero seu cigarro e algo me moveu. 
Meu peso parecia se 
distribuir com perfeição em seu corpo. Encostei o meu nariz em sua pele, e o doce que era tão nauseante mais cedo, agora era suave e delicioso. Ela deu uma gargalhada, mas mesmo assim não me intimidou. Firmei meus lábios contra os seus e fiquei ali , parado, por uma eternidade , quando ela finalmente se afastou. Mas o que raios era isso? Eu não conseguiria beijar a garota, finalmente?
Balancei a cabeça e apertei suas bochechas, dando um beijo quase brutal. É, finalmente eu havia conseguido. Estava fazendo tudo o que dava na telha, tentando dispersar qualquer pensamento que certamente me paralisaria novamente. Ela se mantinha calma, enquanto eu estava completamente frenético e desorientado. Seus lábios pareciam bombas em minha boca, eu estava perdendo o maldito controle.
Me afastei por um segundo, tentando recuperar o fôlego, e deslizei para seu queixo. Ela 
rápidamente me empurrou e se acomodou do meu lado.
Senti tudo girando ao redor, e meu pensamento era confuso. Não sentia mais frio, porém sabia que estava congelando. A apertei contra mim e fechei os olhos.


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Notas finais do capítulo

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