– Escrever? Você está me dizendo que a minha detenção é escrever? – perguntei completamente incrédula á Sirius que estava sentado ao meu lado.

Nós dois parecíamos termos pego a parte mais fácil das detenções; Lene e Remus estavam em algum dos milhares de corredores do quarto andar esfregando o chão enquanto Lucia e suas amigas vadias limpavam a sala de troféus.

E também tinha James. E Dorcas. Ambos trabalhando juntos na organização dos papéis da secretaria. Uma oportunidade perfeita para James conversar com ela e por o plano CCD em ação.

Eu sentia meus dentes trincarem toda vez que pensava nisso.

– Nós pegamos a parte mais fácil e você ainda reclama? – Sirius riu para mim e eu sacudi a cabeça.

– Nah – eu disse e sorri. – Mas se eu soubesse que teria de fazer só isso já teria dado uns bons tapas em Lucia à muito tempo.

Sirius riu mais ainda o que atraiu o olhar repreensivo da professora que supervisionava nossa detenção.

Baixei meus olhos para o papel em branco onde eu teria de escrever várias vezes: ‘fui uma pessoa muito má e prometo nunca mais fazer isso’. Eu ri. Eles pensavam mesmo que aquilo ajudaria de alguma forma?

E então, meus pensamentos involuntariamente voltaram-se para a sala à algumas portas de onde eu estava, aonde James e Dorcas cumpriam sua detenção. Eles estariam conversando? Rindo juntos? Estariam se divertindo enquanto trocavam indiretas e sorrisos reveladores?

Minhas têmporas começaram a latejar e uma dor de cabeça descomunal me atingiu.

Era melhor eu não pensar nessas coisas.

Fui uma pessoa muito má e prometo nunca mais fazer isso... Fui uma pessoa muito má e prometo nunca mais fazer isso... Fui uma pessoa muito má e prometo nunca mais fazer isso... Fui uma...

Ou então talvez eles dois tivessem pulado essa parte e estivessem aos beijos, se abraçando por cima das mesas e cadeiras, papeis por todos os lados e roupas amassadas...

PLAFT

Senti algo molhado escorrer por minha mão e salpicar pela minha roupa e rosto.

Baixei os olhos, piscando-os algumas vezes ao ver uma caneta quebrada em minha mão.

– Lily? – a voz de Sirius pareceu me tirar de meu transe por completo. – Uau, como você fez isso?

– Acho... acho que usei força demais – eu resmunguei e olhei para minhas roupas.

Grande merda.

Agora minha blusa favorita com o símbolo do Panic! At The Disco estava completamente inutilizada.

– Você acha? – Sirius estava dando grandes gargalhadas. Lancei meu olhar mortal para ele e Sirius parou de rir, embora continuasse muito vermelho.

– Ah, querida – a professora veio até onde eu estava e olhou para minha blusa antes de subir os olhos para o grande relógio na parede. – Acho que você já pode ir para casa – ela disse e deu um sorriso amável para mim.

– Ah, posso ir junto? – Sirius pediu com sua expressão a mais parecida com a de um cachorrinho sem dono que eu já vira.

A professora o encarou profundamente como se tentasse ler os pensamentos dele, até que deu um meio sorriso e confirmou com a cabeça.

– Ah, obrigado – ele disse e enganchou um braço num dos meus (o que não estava manchado pela tinta da caneta) e me arrastou para fora da sala. – Ufa, tudo bem que aquela era a detenção mais fácil que poderíamos ganhar, mas também era a mais chata – Sirius disse enquanto continuava a andar, como se eu fosse um saco de batatas e não uma pessoa com capacidades locomotoras.

– Hey – eu reclamei quando ele iria dobra em um corredor. – Espera ai, preciso dar um jeito nisso aqui – e apontei para minhas mãos e camiseta.

– Huh, tinha me esquecido – ele disse e deu meia volta no corredor, ainda me levando.

– SIRIUS! – eu exclamei e ele me olhou com uma sobrancelha erguida. – Pare de me carregar, eu tenho a capacidade de andar.

– Embora caia muito – ele acrescentou.

Dei com a língua para ele e me encaminhei para o banheiro feminino onde fui até uma pia e abri uma torneira.

– Minha linda camiseta – eu resmunguei comigo mesma enquanto tentava inutilmente limpar a sujeira de tinta azul escuro. – Grande merda.

– O que é que essa camiseta tem de tão importante afinal? – a voz de Sirius me pegou desprevenida e eu dei um pulo pelo susto, espalhando água para todos os lados, inclusive em cima dele. – Hey! Eu já tomei banho hoje sabe? – ele reclamou irritado.

– Ninguém mandou você me assustar! – ralhei.

Sirius fez uma expressão completamente marota quando me encarou. Eu fiquei com medo.

– Sirius, olha, não é legal você entrar no banheiro feminino sabe? – eu disse. – Ah menos que você se sinta à vontade por aqui... – eu disse e ele fez uma careta.

– Geralmente me sinto à vontade aqui, mas por outros motivos... – e piscou com um sorriso absolutamente safado no rosto.

Encarei a pia em minha frente, onde estava apoiada e me afastei repentinamente ao imaginá-la sendo usada para outras coisas entre Sirius e alguma garota.

– Ah, que nojo, que nojo – eu disse com uma careta enquanto Sirius caia na gargalhada. – Cale a boca! – eu reclamei. – Vão nos ouvir aqui e vão pensar que nós estamos... ah, você sabe – eu disse e senti meu rosto corar fortemente.

– Ah, Lily não se preocupe, eu nunca daria em cima de você – Sirius disse ficando sério repentinamente. – sendo que um amigo gosta de você.

O encarei sem entender, piscando algumas vezes, na tentativa de processar suas palavras.

– É o quê? – perguntei certa de que havia ouvido mal.

– Você não acha óbvio? – ele perguntou e eu continuei encarando-o sem entender. De quem ele estava falando? Quem era o louco que gostava de mim? Se é que havia alguém que seria louco o suficiente para isso.

Sirius viu que eu não respondia e balançou negativamente a cabeça.

– Deus, então vocês sofrem do mesmo problema...

– Que problema? De quem você está falando? Do que você está falando? – perguntei tudo muito rápido.

– O problema é que vocês dois são cegos demais para ver o óbvio – ele disse e saiu do banheiro.

– Hey! Sua mãe nunca lhe ensinou boas maneiras? – perguntei e o segui pela porta do banheiro.

– Não – Sirius disse com um sorriso completamente irônico no rosto quando saímos pela porta do banheiro e chegamos ao corredor.

Sirius parou de andar abruptamente e eu trombei sobre ele, tendo que ser segurada pela cintura para não cair.

– Obrigado – agradeci. – Porque você...? – mas o motivo dele ter parado estava bem em minha frente.

James e Dorcas nos encaravam como se fossemos dois hipopótamos saltitantes ao invés de pessoas.

– Ah, oi – eu disse e me afastei de Sirius que encarava James com uma expressão muito estranha no rosto. Aquilo era receio? – Hey, o que foi que...? – mas eu não consegui concluir minha pergunta, pois James nos deu as costas no mesmo momento e saiu rapidamente, me deixando sem entender nada.

– Ah merda – Sirius resmungou.

– O que vocês estavam fazendo lá dentro? – Dorcas, que ainda nos encarava, perguntou completamente desconfiada.

Eu a encarei sem entender porque ela estava daquele jeito até que a fixa pareceu cair.

Porque seria realmente muito estranho me ver saindo do banheiro acompanhada por um garoto, especialmente se esse garoto fosse Sirius Black só o maior pegador de todos os tempos.

– AH, não, não é nada disso que você está pensando e... DORCAS! Como você pode pensar uma coisa dessa de mim? – perguntei completamente irritada.

– Ah, me desculpe é só que... – ela deu de ombros corando fortemente.

– Acho melhor eu ir falar com o James – Sirius disse.

– Mas porque ele saiu daquele jeito? – perguntei encarando-o com uma sobrancelha erguida.

– Você é cega mesmo não é? – ele disse e saiu indo na mesma direção por onde James sumira.

É, garotos populares eram realmente muito estranhos.