Nunca Sonhei escrita por Miller


Capítulo 18
Nunca Sonhei.


Notas iniciais do capítulo

Nos vemos lá embaixo.
Enjoy :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/123987/chapter/18

Lucia, vestida de Rapunzel, encarava-me com um sorrisinho bastante cínico no rosto.

E eu tive certeza de que todas as minhas duvidas e medos com relação à ela estavam certos. Eu não fazia idéia do que ela poderia fazer contra mim, afinal eu não possuía nenhum segredo macabro ou qualquer coisa do tipo. Mas eu sabia que nada daquilo seria bom.

Todos haviam parado de dançar e encaravam-na sem entender.

– Boa noite à todos – ela disse. – Hoje, Hallowen, e eu decidi vir até aqui e contar uma história bastante... Horripilante – ela me olhou – para vocês.

– O que ela está fazendo? – ouvi James resmungar ao meu lado, mas não lhe dei atenção.

A atenção de todos, incluindo a minha, estava nela.

– Era uma vez, num reino distante chamado Hogsmead, uma princesa que vivia feliz. Ela tinha pessoas que a adoravam à sua volta, amigos maravilhosos e um príncipe perfeito ao seu lado – Lucia começou a contar e eu sabia que aquilo não era nenhum conto de fadas qualquer. – A vida da linda princesa era perfeita. Até que uma bruxa má, que vivia escondida na floresta do reino, frustrada pela perfeição da vida da princesa, decidiu intervir e acabar com aquela felicidade. – engoli em seco. – A bruxa transformou-se em uma garota, arrumadinha e aparentemente simpática. Logo conquistou as pessoas do reino – minhas mãos estavam fechadas em punhos e eu tremia de corpo inteiro. – Todos começaram a adorar a garota e deixaram de lado a pobre princesa – Lucia tinha uma expressão triste naquele momento. Eu não fazia idéia de qual era a minha expressão. Provavelmente alguma bastante assassina. – Todos, incluindo o príncipe que, encantado com os supostos ‘dotes’ da garota, terminou seu romance com a princesa – meus olhos encheram-se de lágrimas e eu precisei de muito esforço para não deixá-las caírem. – Mas o que ele não sabia, assim como nenhum dos outros sabiam, era que, por debaixo daquela máscara de simpatia, existia um monstro, uma usurpadora. Alguém que não tinha futuro nenhum exceto viver eternamente solitária nos confins daquela floresta escura. – Um nó se formou em minha garganta – A princesa fez o que pode para intervir e mostrar a todos quem era realmente aquela bruxa, mas eles pareciam hipnotizados demais com a ‘perfeição’ da garota para acreditarem nela – Eu sentia alguns olhares sobre mim, mas eu ignorava a todos. Não conseguia desgrudar os olhos da garota que narrava aquele pérfido conto de fadas.

– Lily – ouvi James me chamar. – Venha, vamos sair daqui – ele disse e eu neguei com a cabeça. Eu era uma grifinória afinal de contas. Iria ficar até o fim, vendo a humilhação.

– O tempo passou e as pessoas começaram a perceber que havia algo errado com a menina, enquanto as moças gostavam de tecer seus vestidos e cuidar da beleza, a menina estava dissecando sapos, fazendo poções malucas com ingredientes estranhos... Coisas que não eram normais à garotas de verdade – eu entendia a metáfora daquilo tudo. Talvez por isso que me sentisse vazia por dentro. – O príncipe, mesmo que um pouco tardiamente, percebeu o erro que havia feito e livrou-se da bruxa – Lucia sorria malignamente. – Ele voltou para sua princesa, assim como todos os outros que tinham sido enganados. A bruxa sumiu em suas sombras, eternamente solitária, sem amigos, sem nada. Porque ela era um nada. Ela não servia para nada – eu podia ver o veneno escorrendo da boca da garota. – E todos, exceto a bruxa, viveram felizes para sempre – Lucia sorriu angelicalmente, como se a história que tinha acabado de contar fosse realmente um conto de fadas.

Eu não vi quando, só sabia que as lágrimas escorriam por meu rosto – provavelmente estragando a maquiagem que Lene havia feito. Pisquei algumas vezes tentando me situar. As palmas de minhas mãos estavam machucadas de tanto que havia apertado-as pela raiva.

– Lily... – a voz de James foi o que bastou para que eu despertasse de meu transe. E eu corri.

–-X—

Talvez não tivesse sido a atitude mais madura de minha parte, mas eu já havia agüentado o suficiente. Não queria ficar lá enquanto via o sorriso cínico de Lucia enquanto ela jogava fatos em minha cara. Porque sim, havia um fundo de verdade em tudo o que ela tinha dito.

Talvez não sobre a princesa boazinha, porque Lucia passava longe disso, mas sobre a bruxa – no caso eu...

Somente parei de correr quando senti os pingos da chuva molhar meu rosto. Olhei para os lados, eu estava à duas quadras da escola, exatamente no ponto onde James tinha caído sobre mim e eu havia feito descobertas filosóficas sobre meu maldito sentimento.

Olhei para o céu escuro tomado pelas nuvens deixando a água da chuva lavar meu rosto das lágrimas. Aquilo me acalmou um pouco.

– Lily.

Olhei para trás e vi James caminhando até mim.

A maquiagem de ossos em seu rosto também estava sendo lavada pela chuva, mas mesmo daquela forma ele continuava... lindo. Triste vida a minha.

Eu pensei seriamente em dar as costas para ele e ir para casa, mas eu tinha certeza de que tínhamos muitas coisas para conversar. Ele precisava de explicações. E eu também.

Então eu esperei até que ele estivesse perto de mim para olhá-lo nos olhos. A chuva ficou mais forte.

– Lily olha, esqueça o que ela disse... Lucia ela... Ela gosta de usar as pessoas, de humilhá-las – James balançou negativamente a cabeça enquanto passava a mão pelos cabelos molhados. – Não se deixe abater.

Encarei-o, pensando minhas próximas palavras. Mas quando comecei a falar, não parei mais.

– James, sabe aquele ditado de que ‘a verdade dói’? – eu perguntei e ele afirmou com a cabeça. – Eu não me afetaria se ela falasse um bando de mentiras em cima do palco, eu nem sequer me daria ao luxo de sair de lá ou de me sentir mal. Eu passei longos 10 anos estudando em Hogwarts e convivendo com Lucia e suas brincadeiras sem graça para me deixar levar por um monte de palavras sem sentido – balancei minha cabeça e engoli em seco. – O que ela disse é verdade – eu suspirei.

– O que? Lily, não... Olha, isso não é verdade – James tentou se aproximar, mas eu o impedi.

– Sim, é a verdade – eu afirmei. – Eu não sou uma garota comum, eu não gosto das mesmas coisas que os outros... – encarei-o e apontei para meu rosto. – Eu não gosto de maquiagens ou de usar roupas da moda, eu prefiro ficar colando estrelas na parede de meu quarto à sair em um sábado a noite. Eu gosto de ler animes enquanto as outras garotas lêem revistas de fofocas. Eu olho filme de terror, com mortes, espíritos e muito sangue quando eu quero esquecer coisas dolorosas enquanto as outras pessoas, as normais, comem brigadeiro e conversam com as amigas enquanto pintam as unhas dos pés – eu falei tudo num jato, sentindo meus pulmões apertarem. Olhei para James. – Eu gosto de ‘decepar sapos’ enquanto as outras gostam de ‘tecer vestidos’ – eu usei a metáfora de Lucia para explicar à ele. – E eu gosto disso. Eu gosto de ser assim. Eu SOU assim – suspirei. – Não há nada a fazer quanto à isso – conclui.

Eu comecei a tremer. Não sei se porque minhas represas estavam se rompendo, ou se por causa da chuva fria que somente aumentava. Eu estava completamente encharcada.

James, que havia ouvido tudo com atenção, abriu a boca diversas vezes para falar, mas nenhuma palavra parecia querer sair.

Eu não podia culpá-lo.

Então ele se aproximou de mim, desta vez não o impedi. Não tinha forças nem para piscar.

James ficou em minha frente e segurou meu rosto entre suas mãos.

Mesmo com a chuva, senti mais algumas lágrimas descerem por meu rosto.

– E eu gosto de você como é – ele disse tão sinceramente que eu não consegui não acreditar. E mais uma vez naquela noite ele me beijou, mas não havia ninguém para estragar o nosso momento daquela vez.

Eu apenas fechei os olhos e aproveitei o momento.

Ou teria aproveitado não fosse um pequeno pensamento que me ocorreu. Foi necessária muita força de vontade para que eu conseguisse me separar dele.

– Espera – eu falei, sentindo-me mais perdida do que uma cega em tiroteio. – E... E Dorcas? – eu perguntei, erguendo meus olhos para os dele, tentando enxergá-lo, o que era meio difícil com a chuva forte.

Ouvi seu riso e não compreendi.

– Do que você está rindo? – perguntei, tentando ler sua expressão, mas a chuva somente aumentava.

– Lily, não me diga mesmo que acreditou nisso – ele riu ainda mais e eu parei de tentar enxergá-lo direito.

Fiquei estática por algum tempo.

– É o quê?

– Lily, eu nunca gostei de Dorcas... Eu só queria juntá-la com o Remus – ele falou e riu novamente. – Coisa que você fez bem melhor do que eu – ele comentou e eu gemi.

– Você viu?- perguntei sentindo minhas bochechas esquentarem tremendamente.

– Você parecia parente do 007 – ele disse e eu até teria rido se não estivesse espantada demais.

– Mas... – eu balancei minha cabeça. – Mas porque você não me disse isso desde o começo? Seria mais fácil...

– Isso nem eu sei – ele balançou a cabeça. – Eu... Eu sempre gostei de você. Ou pelo menos, fazia um bom tempo que gostava. Era diferente das outras e não se importava para o que os outros pensavam, sem falar que não estava nem ai para mim. E isso me deixou bastante mexido. Eu apenas pensei que se dissesse que precisava de ajuda com uma garota, que você passaria mais tempo comigo.

Oh Deus, eu estava realmente ficando louca.

Tentei ignorar a chuva que molhava meu rosto e lancei meu melhor olhar indignado à James que consegui.

– E depois você me diz que é um maroto! – eu reclamei e ele riu. – Não ria James! – dei um tapa em seu ombro, sentindo-me o ser mais estupidamente burro da face da Terra. – Como... Argh! – eu estava pensando seriamente em utilizar o que havia aprendido com os filmes de terror. – Droga, vou ter de colar minhas estrelas na parede de novo! – bufei e ele ficou sério.

–O que isso tem haver com o que estamos falando? – perguntou.

– Nada - resmunguei e depois olhei para ele. – Mas e Lucia? Eu pensei que vocês...

– Ela não largava do meu pé – ele concluiu. – Não há mais nada entre a gente.

– E porque você e Sirius não estavam se falando? – eu perguntei achando-me idiota por fazer aquela pergunta, mas eu precisava ouvi-lo dizer.

– Lily, é tão difícil de aceitar que eu gosto de você? – ele perguntou. – Eu fiquei com ciúmes porque pensei que vocês dois...

– Sim, eu sei – eu bufei.

– Foi estupidez da minha parte e...

– Foi mesmo – concordei.

– E depois eu percebi que eu estava sendo ridículo – ele completou.

Ficamos em silêncio, ambos absorvendo nossas ultimas palavras.

Eu ainda não conseguia acreditar. Parecia tão... Surreal.

– Sabe, será que você pode deixar eu te beijar de verdade pelo menos uma única vez? – ele perguntou e eu encarei-o sem expressão por algum tempo, até que a ficha finalmente caiu e eu sorri.

– Hum, eu não sei – eu falei e ele me encarou sem expressão. – Uma única vez? Não parece muito convidativo – eu sorri e ele me acompanhou.

– Oh, acho que pode ser mais do que isso – ele riu. – Alguns bilhões talvez...

Então, finalmente depois do que pareceu ser uma eternidade, nós finalmente conseguimos nos beijar de verdade.

–-x—

Okay, então talvez a minha vida não seja tão monótona assim. Quero dizer, eu estava acostumada com a minha vidinha normal e comum, sem emoções e tudo o mais. Eu nunca sonhei que me tornaria amiga de um maroto, assim como nunca sonhei que seria popular. Nunca sonhei que algum dia conseguiria vencer Lucia McVann em alguma coisa – e ainda me surpreendia em pensar que tinha dado uns bons socos na cara dela. Nunca sonhei em organizar uma festa à fantasia nem em ser uma marota. Eu nem tinha sonhado, nem pensado na idéia de ter Sirius Black, só o cara mais pegador de todos os tempos, como melhor amigo!

Remus e Dorcas estavam juntos – finalmente – e eu nunca sonhei que eu seria a causa de eles ficarem juntos.

Lene e Sirius eram um caso à parte. Era engraçado de ver os dois brigarem a cada cinco segundos e sempre terminar tudo em beijos.

Afinal, quem um dia sonharia com casal mais improvável que aquele?

E, por fim, mas não menos importante: eu nunca, nunca mesmo, sonhei que namoraria James Potter.

A improbabilidade de cada coisa louca que havia acontecido somente deixava tudo melhor.

O negócio é que eu estava tão acostumada em não sonhar que eu havia esquecido o quanto aquilo era bom.

Imagine, até beijo na chuva eu havia ganhado!

É, eu realmente nunca sonhei que eu pudesse me sentir tão feliz.

THE END.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

AAAAAAAAH, MAIS UMA FIC QUE CHEGA AO FIM E MAIS UMA VEZ QUE EU CHORO.
Okay, Nunca Sonhei foi uma das fics que eu mais gostei de escrever até agora. E é uma das minhas favoritas também. Talvez pelo fato de Lily ser extremamente parecida comigo, ou porque foi a primeira em que escrevi em POV Primeira Pessoa.
O sarcasmo, as ironias, as piadinhas internas e comparações hilárias da Lily foram as coisas que mais gostei de escrever nessa fic. E sentirei falta disso.
Gostaria de agradecer à cada pessoa que leu, que comentou, que recomendou, que sorriu, que se divertiu e se emocionou com essa fic. Isso é muito importante para mim, acreditem.
Talvez esse não tenha sido o final mais espetacular de todos, mas foi o que consegui entre lágrimas...
Espero que gostem.
Obrigado por tudo! Foram vocês que fizeram desta fic um sucesso!
Besos :*