– Eu ainda não entendi o porquê de ter de pegar um terno do Remus sem ele saber – Sirius reclamou e eu revirei os olhos.

Nós havíamos conversado com o diretor Dumbledore sobre fazer uma festa à fantasia no Hallowen e ele prontamente tinha aceitado – era incrível o quanto aquele cara era legal – o que já era o primeiro passo do nosso plano.

Plano? Que plano? Era bem simples: depois de convencer o diretor a fazer a festa, partiríamos para a parte dois do plano, onde eu escolheria fantasias que combinassem entre o Remus e a Dorcas, então entraria a parte três, em que ‘roubaríamos’ os celulares dos dois e mandaríamos mensagens marcando um encontro entre eles. A parte quatro era trancá-los em algum lugar da festa e a cinco seria toda deles.

Eu tinha quase certeza de que tudo de que eles precisavam era de um tempo juntos para que tudo ficasse bem.

– Sirius, eu preciso saber o tamanho da roupa do Remus para poder escolher uma fantasia para ele – expliquei para ele enquanto caminhávamos em direção à cantina juntos.

– E como ele vai saber que fantasia usar, sendo que ele não sabe que você pegou o terno? – ele ergueu uma sobrancelha.

– Isso vai ser com você Sirius – disse à ele quando escolhíamos nossas comidas. – Eu vou lhe dizer o lugar em que escolhi a fantasia e vou deixá-la reservada, ai quando você levá-lo lá é só pegar a fantasia e obrigá-lo a usar.

Sirius me encarou por algum tempo, como se estivesse pensando no plano. E talvez estivesse mesmo.

– Espera, e cadê a emoção, a adrenalina? A diversão? – ele perguntou encarando-me como um cachorrinho sem dono.

Dei um tapa em seu ombro e caminhei em direção à uma mesa vazia sendo seguida por ele. Eu não percebi os olhares de todos sobre mim, o que foi um erro.

Sirius sentou em minha frente, sua bandeja cheia de comida.

– Não é preciso muita emoção para que um plano dê certo – eu disse à ele que fez uma careta. – Não curto muito a idéia de ‘quase ser pega’ – dei de ombros enquanto puxava um pedaço de pizza e o mordiscava levemente.

– Eu gosto – Sirius disse parecendo uma criança birrenta.

Ergui uma sobrancelha para ele e me aproximei.

– Não pense em fazer uma loucura Sirius Black, não estrague meu plano, ouviu bem? – disse a ele seriamente. Sirius estreitou os olhos e se aproximou também.

– Você é má – ele declarou e eu ri, voltando a me encostar na cadeira.

Lene e Dorcas entraram na cantina naquele momento e eu percebi o olhar completamente safado que Sirius lançava para Lene.

– Nem pense nisso – eu lhe disse, dando outro tapa em seu ombro.

Ele me encarou parecendo ultrajado.

– Eu não estava pensando em nada – ele disse e um sorrisinho maroto se formou no canto de sua boca. Sirius levantou da cadeira no exato momento em que as duas chegavam, puxando um pouco o assento – fingindo ser um cavalheiro – para que Lene sentasse em seu lugar.

– Bounjour Mesdames – ele disse com seu perfeito sotaque Frances e saiu, caminhando em direção à Remus que sentava sozinho.

Obriguei à meus olhos a não procurar por James, mas eles não me obedeceram. E eu o encontrei à algumas mesas de distância e senti meu rosto esquentar imensuravelmente quando percebi que ele me encarava também.

Não sabia muito bem o que fazer então eu ergui minha mão para cumprimentá-lo e fiquei aliviada quando ele retribuiu com um aceno de cabeça. Mas logo fiquei com raiva de novo, quando vi que Lucia estava sentando ao lado dele.

Qual era a de James afinal? O que diabos ele estava fazendo? Pelo pouco que conhecia dele sabia – e teria jurado – que ele não era do tipo de pessoa falsa.

Mas parecia que eu estava enganada. Virei meus olhos para longe dele, sentindo um nó na garganta.

– Lily, você está bem? – Dorcas perguntou.

– Yeah, eu estou – eu disse e suspirei.

– Lene me disse que você saiu da aula da Umbridge. O que aconteceu? – ela perguntou parecendo preocupada.

– Eu fui falar com o diretor sobre a festa à fantasia de Hallowen – eu disse a elas com um sorriso maroto.

– Ah... Espera, você disse... O QUE? – Lene gritou fazendo todos olharem para nossa mesa. Ela ignorou todo mundo e me encarou como se tivesse brotado outra cabeça em mim. – Eu ouvi ‘eu’ e ‘festa’ em uma frase dita por você? – ela perguntou e eu bufei

– Caramba, você e Sirius parecem pensar da mesma forma – desta vez Lene corou. – O que tem demais em ir falar com o diretor sobre uma festa?

Dorcas riu.

– É tão incrivelmente estranho te ver falar desse jeito que a gente não acredita – ela comentou e pegou um pedaço da minha pizza. Lancei um olhar mortal para ela. – Quê? Estou com fome...

– Você sempre tem fome – eu e Lene dissemos em uníssono.

Dorcas revirou os olhos e mordeu a pizza.

– Mas é isso mesmo, você está estranha – Dorcas deu de ombros. – E eu quero saber o porquê – ela ergueu uma sobrancelha.

Eu nunca fui muito boa em mentir, mas fazia alguns dias que eu estava melhorando.

– Porque eu cansei daquela vidinha que eu tinha, quero aproveitar minha adolescência – declarei com convicção.

Para falar a bem da verdade, aquilo era quase certo, mesmo que eu ainda preferisse ler um bom livro do que ir à uma festa, há algumas semanas eu sentia mais vontade de me divertir, de viver mais. Quase como se a convivência com James tivesse me despertado.

Pensamento estúpido.

Dorcas sorriu e Lene deu tapinhas em minhas costas.

– Já estava na hora! – ela disse e eu ri.

O resto do dia de aulas foi normal, nada de muito interessante tirando o fato de parecer que todos me encaravam estranhamente. Ou o fato de que ninguém havia feito nenhuma gracinha comigo.

Estranho.

Então eu percebi que nada estava normal. As pessoas estavam mesmo me encarando. Como se eu fosse o mais novo animal em um zoológico. E aquilo estava me irritando profundamente.

O ultimo sinal do dia tocou e eu agradeci aos céus por isso. Queria ir para casa de uma vez.

Eu saí quase correndo da sala de aula e estava quase na porta da escola quando fui parada por mãos fortes. Virei para encarar quem era e vi James.

– Hey – eu cumprimentei tentando, por tudo que era mais sagrado, não corar. Inútil. Em dois segundos estava mais vermelha que um pimentão.

– Posso falar com você? – ele perguntou e eu percebi que estava estranho. Não parecia o James normal, o cara divertido que conhecia. Ele estava estranhamente sério. O que me fez ficar irritada sem motivo.

– Já está falando – eu respondi, desprendendo meu braço das mãos dele.

– À sós – ele pediu.

Dei de ombros e caminhei para fora, parando em baixo de uma árvore onde não havia ninguém.

– Voltou a falar comigo? – perguntei um pouco mais ressentida do que queria.

Ele ergueu uma sobrancelha.

–Não – respondeu e eu bufei.

– Ótimo, então posso ir – eu disse e comecei a caminhar para longe, mas ele me parou novamente.

– Olha, eu só preciso saber... – ele começou e eu o encarei.

– Saber o que? – perguntei.

– Você está mesmo namorando com o Sirius? – ele perguntou e eu o encarei sem entender.

– É o que? – perguntei certa de que tinha ouvido errado.

– É o que todos estão falando – ele disse e eu olhe para a porta da escola, por onde várias pessoas saiam e todas pareciam me encarar curiosamente.

Então ninguém mais fazia piadinhas sobre mim, ninguém mais me enchia, todos agiam como se eu fosse uma nova super star e cochichavam quando eu passava. Claro, afinal eu estava namorando um maroto.

– Você acredita mesmo nisso? – perguntei, incrédula à ele.

James me encarou por algum tempo e desviou os olhos.

– Eu não sei aquele dia você saiu com o Sirius do banheiro e eu pensei...

Mas foi o que bastou.

Como eu podia ser amiga de um cara que pensava que eu faria ‘coisas’ com alguém que eu conheço a menos de duas semanas no banheiro?

Eu balancei minha cabeça negativamente, sentindo nojo.

Dei as costas para ele e sai da escola sentindo que tudo estava dando errado.