Suzumiya Haruki no Monogatari escrita por Shiroyuki


Capítulo 6
Capítulo 6 - Sequestro




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Nós já tínhamos uma sala para o clube, mas nenhum progresso havia sido feito com os documentos. Colocando dessa maneira, faz parecer que é algo relevante...

O clube não havia nome, nem atividades programadas, nem um professor responsável. O único campo da inscrição que havia sido preenchido era o presidente, esse, sem dúvidas, era o garoto que nesse momento, olha para aquela sala como se fosse um maravilhoso palácio de cristais em algum lugar da Europa, em época de neve.

Pedi a ele que me passasse esses dados para entregar ao conselho, mas tudo que ouvi foi:

— Decidimos isso depois. Não se preocupe com nada – ele sorriu de maneira que pretendia ser tranquilizadora, mas que só fez meu desconforto se tornar ainda mais profundo – tudo o que precisamos fazer é recrutar mais pessoas. No mínimo duas.

Por acaso você está contando Nagato Yuuki como membro? Isso é tratá-lo como um objeto inanimado, parte da decoração, e, por mais que ele pareça ser exatamente isso, você deveria ao menos perguntar antes!

-

No dia seguinte, assim que acabaram as aulas, senti todas as minhas esperanças de ter uma vida normal de colegial se esvaindo aos poucos. Eu sabia o que me aguardava após esse pequeno momento em que os sinos tocam indicando o término do dia, para alegria de todos os estudantes. Eu sempre sou a exceção.

Haruki havia apenas dito “Você vai primeiro” antes de saltar porta afora numa velocidade quase letal. Não sei se sua rapidez se devia a pressa de encontrar novos membros ou era apenas excitação por estar mais perto de brincar com extraterrestres. Depois disso, eu me despedi de Taniguchi e Kunikida, dizendo que não iria com elas para casa, e evitando dar mais explicações, rumei relutantemente para aquela sala empoeirada e pequena do segundo prédio.

A sala do Clube de Literatura estava exatamente da mesma maneira que estava ontem. Isso incluía seu misterioso ocupante. Era como num daqueles jogos de procurar a diferença entre as imagens.

Aproximei-me lentamente, até chegar a uma distância em que eu podia tocá-lo se estendesse a mão. Ele continuava impassível, minha presença não era mais relevante do que a mosca que se debatia no peitoril da janela. Fitei-o por alguns segundos, com a cabeça inclinada para o lado, até o momento em que o silêncio tranquilizador tornou-se insuportável.

— O que você está lendo?

Ele apenas levantou o livro, me mostrando a capa. Era um amontoado de letras ocidentais, talvez de alguma novela de ficção científica. Não era nesse tipo de diálogo que eu estava pensando. Isso nem mesmo foi um diálogo!

— ...É interessante?

—Muito.

— Que parte?

—Todo.

— Então você gosta de ler...?

— Muito.

Vejamos... foram três palavras, duas delas repetidas... eu vejo um futuro promissor nessa conversa.

Será que eu posso ir para casa agora?

Como se tivesse ouvido esse meu último pensamento, a porta abriu com um chute.

— Desculpe, me atrasei – Haruki anunciou, com um sorriso – levou um pouco de tempo capturar o garoto! Ele corre bem rápido!
Com esse comentário, notei o que havia nas mãos de Haruki. Ele segurava com força o pulso de uma pessoa, que se debatia e chorava.

Sim, ele abduziu outra pessoa...

Haruki empurrou-o para dentro da sala, e trancou a porta. Ao ouvir o som de click!, ele se encolheu e começou a tremer.

Era um garoto. Apesar de ser mais ou menos da minha altura, suas feições lembravam um garotinho de primário, no primeiro dia de aula. Ou quem sabe uma garota vestindo o uniforme errado. Os cabelos castanhos claro eram curtos e sedosos, levemente ondulados nas pontas, e os olhos cor de mel estavam úmidos e brilhavam desesperadamente.

Com toda a certeza era bonito. E muito fofo também. O tipo de pessoa que dá vontade de proteger.

— O que você está fazendo...? – o garotinho perguntou, com a voz fraca, à beira das lágrimas – que lugar é esse... por que me trouxe aqui? P-porque trancou a porta...? O que... que vão fazer comigo?

— Cala a boca – Haruki rosnou com força, fazendo o garoto calar-se e ficar apenas encarando-o pasmo. Depois, dirigiu-se a mim, com as feições mais amenas – esse é Asahina Mitsuru – anunciou satisfeito pelo resultado de um trabalho bem feito.

— De onde você o sequestrou? – perguntei acusadoramente, apontando para o garoto, que já havia se acalmado um pouco, e agora olhava ao redor com cara de quem entrou na sala errada por engano.

— Eu não o seqüestrei – Haruki defendeu-se, parecendo ofendido – eu apenas o forcei a vir comigo.

E como isso se chama...? Oh! Sim! SEQUESTRO!!!


— Encontrei ele dormindo na sala do segundo ano, então peguei ele de lá – ele falou, como se fosse algo realmente óbvio e natural. Então era isso que ele fazia nos intervalos? Procurando pessoas por aí, como um stalker?

— Então ele é um senpai? – eu analisei rapidamente o garoto. A diferença de uma cabeça e meia entre ele e Haruki sugeria exatamente o contrário – certo... então me diga.. por que você o trouxe aqui?

— Ah! Olha só! – ele se animou, como uma criança pronta para mostrar o brinquedo novo. Agarrou Asahina-kun pelos ombros e o arrastou até mim. Ele se encolhia e debatia, mas parecia incapaz de sair dali. Seus olhos rapidamente se encheram d’agua. Ele parecia um filhotinho de cachorro – Não é bonitinho?

Isso é algo que um dono de pet shop diria. Ou um sequestrador perigoso.

— Acredito que personagens Moe sejam indispensáveis – Haruki disse solenemente, soltando Asahina-kun para um lado – Moe!!! O fator que liga as pessoas! A maioria das histórias de suspense tem personagens que cativam e provocam compaixão nas pessoas. São aqueles que morrem logo no início!

Com essa frase, Asahina-kun recomeçou a tremer, olhando para mim com seus enormes olhos brilhantes. Era um pedido silencioso de socorro, aliás, tudo nele gritava “me proteja!”. Meu instinto materno foi estimulado, e tive que conter com todas as forças a vontade súbita de abraçá-lo.

— O único motivo que você tem para trazer Asahina-san até aqui é o fato dele ser bonitinho?

— Exatamente. Que outro motivo haveria? Nós realmente estávamos precisando de um mascote.

Por favor, não fale no plural. Não quero sentir que faço parte desta sua ideia distorcida nem mesmo remotamente. Tenho certeza que Nagato Yuuki, sentado imóvel ali no canto também não, mesmo que ele não tenha oferecido resistência. Pensando bem, como que ele consegue ler com toda esse alvoroço?

— Mitsuru-kun, você está em algum outro clube? – Haruki perguntou, esboçando um sorriso simpático.

— S-sim... o clube de caligrafia – Asahina-kun respondeu, sem entender.

— Saia dele! – Haruki falou, ríspido, fazendo um gesto despreocupado com a mão – vai atrapalhar as atividades que tenho planejado.

Por que não me surpreendo com essa atitude egoísta?

Asahina-kun olhou ao redor, procurando por uma resposta, ou por uma saída, quando seus olhos encontraram Nagato-san, ainda na mesma posição de antes. Seus olhos se demoraram nele por um instante, se voltando para Haruki novamente.

— Eu entendo – ele disse, pesaroso – sairei do clube de caligrafia e entrarei no seu. Mas, o que o clube de literatura faz?

— Não somos o clube de Literatura. – Haruki disse, sentado numa das cadeiras de metal, com os pés erguidos na mesa e os braços apoiados atrás da cabeça. Seu tom de voz sugeria que aquela era uma informação da qual Asahina-kun já deveria estar ciente.

Asahina-kun inclinou a cabeça para um dos lados, num gesto confusamente fofo. Me apressei em explicá-lo.

— Nós estamos nessa sala temporariamente para nossas atividades. Este clube é uma associação criada por Suzumiya Haruki, que ainda não tem nome e nem um objetivo – terminei, suspirando, imaginando qual seria a reação de Haruki se eu acrescentasse um “fuja em quanto há tempo” – Ah! E aquele sentado ali é um real membro do clube de Literatura. – Foi emprestado junto com a sala.

— Oh! – Asahina-san parou, sem fala, com seu rosto em absoluta concentração. Tentava entender tudo o que estava acontecendo, certamente.

Haruki levantou da cadeira num pulo, segurando Asahina-kun pelos ombros. Sua animação era tão contagiante que tive o impulso de sair correndo da sala gritando “fogo!”.

— Eu já pensei em um nome, Mitsuru-kun! – ele berrou para Asahina-kun chacoalhando-o com tanta força que só era possível ver o rastro do seu cabelo castanho no ar.

— Certo, pare com isso e fale logo de uma vez – eu avancei, na tentativa de fazê-lo parar com aquilo antes que o cérebro do Asahina-kun se desmanchasse.

Haruki sorriu de canto, soltando Asahina-kun num canto, completamente tonto. Sua expressão sugeria que ele estivesse me desafiando a ler sua mente, mas logo ele anunciou com sua voz alta e clara.

— Brigada S.O.S.

Certo, podem começar a rir agora.

Mas o fato é que apesar de tudo, a mente de Haruki funciona de maneira muito simples e ingênua, e o nome que acabara de ser decidido tinha um significado tão profundo e intrigante exatamente por esse motivo.

Sekai wo

Ooini moriagerutame no

Suzumiya Haruki no Dan

Brigada SOS!

Após ouvir o nome, Asahina-kun me olhou depressivamente. Nagato Yuuki permaneceu na sua condição de acessório adicional. Eu não sabia ao certo o que Haruki gostaria de ouvir, então apenas o encarei com falsa expectativa.

A Brigada de Suzumiya Haruki para salvar o mundo enquanto o enche de diversão está oficialmente fundada, e aberta a negócios. Alguém tem um champagne para brindar?

— OK! Estejam certos de estarem aqui amanhã novamente, ou então, cabeças irão rolar! – Haruki anunciou alegremente, cantando pelos corredores a plenos pulmões.

Nagato-san fechou o livro e andou para fora da sala maquinamente, como se estivesse esperando apenas por um comando de Haruki para se movimentar. Asahina-kun baixou os ombros, e sem desviar os olhos do chão, arrastou-se para fora dali, andando próximo ás paredes do corredor como se procurasse por apoio. Não aguentei ver aquilo por muito mais tempo.

— Asahina-senpai! – chamei, andando apressada ao seu encontro.

— Sim? – ele virou para mim seu rosto infantil, com um sorriso triste. Era impossível dizer que ele era mais velho do que eu. Mal parecia ser mais velho que meu irmão menor! Tive que conter a vontade de abraçá-lo novamente.

— Você não precisa entrar nesse clube estranho à força. Não se preocupe com Haruki, eu cuido dele!

— Não! – ele se apressou em dizer, piscando muito – eu quero me juntar a ele. Está tudo bem.

— Mas esse pode ser um clube... chato! – eu mordi a língua para não dizer “perigoso”. Já podia prever em que tipo de situações Haruki poderia colocar o pequeno Mitsuru-kun. Se alguém deve ficar longe daquele sádico, é ele!

— Eu não me importo – ele disse, me fitando intrigado logo depois – por que se juntou a ele, então?

Isso realmente não vem ao caso. O fato é que fui tão sequestrada quanto você!

— É possível que este resultado seja inevitável nesse plano temporal – ele disse, olhando para o corredor atrás de mim. Seu olhar estava perdido, desfocado.

— Desculpe, o que disse?

— E além disso, estou intrigado com a presença de Nagato-san...

— Está?

— Eh? Não, nada – ele balançou a cabeça, atrapalhadamente. Então, sorriu constrangido, inclinando-se na minha direção.

— Eu posso ter problemas, então, por favor, tenha paciência comigo de agora em diante.

— Não é necessário pedir isso – eu retribuí seu sorriso.

— Pode me chamar de Mitsuru – ele disse, um pouco indeciso, mas ainda sorrindo.

Kyaa! Ele é tão bonitinho!!! Estou ficando tonta...

Depois disso, eu segui meu caminho. No portão principal, fui impedida de ir para o conforto de casa. Um ser eufórico e pulante me atacou.

— Você sabe do que precisamos agora?

— Um psicólogo? Não! Espere! Um psiquiatra!

— Precisamos de um misterioso estudante transferido!

— E qual seria a definição de um “misterioso estudante transferido”?

— Qualquer um que seja transferido depois do início do ano letivo. O que você acha? – ele me olhou como se realmente fosse levar mina opinião em conta. Não sou tola de acreditar que isso um dia aconteça.

— Acho que, talvez, isso aconteça porque seus pais foram transferidos no emprego.

— Não, isso soa forçado, e não é normal. – ele coçou o queixo, franzindo a testa em concentração profunda.

— E o que é normal para você? Eu nem quero saber.

— Aah... quando será que eles vão aparecer...? – ele disse pensativo, olhando para cima.

— Você nunca ouve o que eu digo, não é? – a confirmação de um fato!


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Notas finais do capítulo

Reviews? *-*