Suzumiya Haruki no Monogatari escrita por Shiroyuki


Capítulo 18
Capítulo 18 - Investigação


Notas iniciais do capítulo

Capítulo incrivelmente enorme esse, espero que gostem.
Estava olhando a página da fic, e percebi que já faz mais de um ano que eu escrevo ela! Fiquei surpresa! E mesmo assim, ela tem tão poucos capítulos ._. Muito obrigada a vocês que acompanham mesmo eu sendo uma baka que atrasa e se atrapalha toda pra escrever n_n'
O capítulo incrivelmente enorme é dedicado a vocês!



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Depois do que aconteceu na sala de aula dois no dia anterior, muitas coisas mudaram na minha forma de pensar. Ainda havia a possibilidade de eu ter ficado louca, de ter tipo um sonho bastante longo e complexo, ou simplesmente ter ficado muito tempo debaixo do Sol... mas a memória de Nagato Yuuki me levando até em casa, em completo silêncio com seus passos cuidadosamente reduzidos para acompanhar meu ritmo lento, de maneira alguma poderia ser forjada, então eu acho que passei a aceitar melhor aquele acontecimento, em parte.

Como tomei a decisão de deixar a minha experiência sobrenatural em segundo plano, e me convencer de que nada havia acontecido, passei meu fim de semana tranquilamente, sem sequer pensar em alienígenas, presidentes de turma portando utensílios de cozinha letais ou uma sala de aula caleidoscópica que atacava. Nada disso passou pela minha cabeça, e eu me preparei psicologicamente para enfrentar a semana que iniciava. Com toda a certeza, Suzumiya Haruki não ficaria quieto por muito mais tempo, foi o que cogitei. E eu estava certa.

Respirei fundo, antes de entrar na sala do clube de Literatura. Ao abrir a porta, tudo estava exatamente como eu me lembrava, com Mitsuru na roupa de mordomo, sorrindo ao me cumprimentar e Yuuki no seu canto, que nem mesmo olhou na minha direção, concentrado em seu livro. Haruki e Itsuko estavam ausentes.

Apreciei cuidadosamente aquele silêncio abençoado, que eu tinha certeza que não duraria muito tempo, e sentei na cadeira de Haruki, aquela que ficava atrás da mesa do “chefe da brigada” e que obviamente era a mais confortável. Sem muitas opções, liguei o computador, preparada para uma emocionante partida de paciência. Hoje seria no nível expert, estou tão audaciosa!

Assim que a tela se iluminou, eu abri o navegador, apenas como um ato habitual. A página da brigada se abriu automaticamente, e eu rolei a página, verificando se Haruki não havia colocado novas fotos de Mitsuru. Enquanto eu resmungava, verificando cada link, um copo de chá quente foi colocado a minha frente. Olhei para cima e vi Mitsuru-kun sorrindo docemente, abraçado a uma bandeja. Era como um mordomo de verdade.

— Obrigada, Mitsuru-san – agradeci sinceramente. Aquilo era um oásis de tranquilidade em meio ao deserto de estresse e preocupações que aquele garoto louco me causava. Mitsuru sorriu novamente, corando e colocou outro copo em frente à Yuuki, que apenas acenou brevemente com a cabeça antes de aceitá-lo, e então sentou em uma das cadeiras dobráveis, bebericando seu próprio copo de chá. Parece que ele se acostumou rapidamente ao serviço de mordomo, e isso é um pouco preocupante...

Antes que eu pudesse sequer sentir o aroma do chá carinhosamente ofertado pelo meu senpai, ouvi a porta sendo arrombada.

— Kyonko! O que você está fazendo aí? Nós temos uma coisa importante para fazer!

— Coisa importante? Como assim? Você não me falou nada durante a aula...

— Não importa! O que está fazendo parada aí? Vamos, me siga! – ele se agitou, andando até a frente da mesa.

— Você não precisa de mim, pode pedir ajuda para a sua estudante transferida querida, tenho certeza de que ela aceitaria com prazer... – eu disse sem pensar, cruzando os braços e desviando o olhar.

— Eu já procurei por ela, mas ela saiu mais cedo. – Haruki disse apenas. O QUE? Você foi mesmo procurar por ela antes de vir aqui?

Enquanto eu me excedia na minha indignação, Haruki se aproveitou de um momento de fraqueza e me segurou pela mão, rebocando-me porta afora.

— Ei! Espera! Para onde está me levando?! – eu tentei me soltar, mas ele continuou a andar em frente. Olhei para trás, em desespero, mas só pude ver de relance Yuuki olhando para nós com cara de paisagem e Mitsuru se despedindo com um sorriso, abanando a mão livre. Ei! Isso é um sequestro, vocês dois não vão fazer nada?!? Depois de descer as escadas aos pulos, atravessamos o pátio, até o prédio principal. – Para onde vamos? – eu perguntei, ao perceber que não havia como escapar. Haruki ainda segurava a minha mão, e eu me adaptei ao seu passo rápido.

— Para a sala dos professores, onde mais? – ele respondeu, como se isso encerrasse a questão.

— Você poderia... soltar a minha mão? – indaguei fracamente, corando irremediavelmente. Era desconfortável ser vista nesse tipo de situação com ele...

— Não. – ele disse simplesmente. Inclinou a cabeça para trás, me fitando de soslaio, e um sorriso enigmático se formou em seu rosto – Eu não vou te dar a chance de fugir de mim.

Arquejei, corando mais ainda, e então olhei para o chão, sem outra opção. Senti Haruki apertar meus dedos com cuidado. Droga! Pare de fazer essas coisas!! Qualquer garota com menos senso de realidade do que eu pensaria besteiras com você agindo assim!

Subitamente ele parou, e como eu não estava prestando atenção no caminho, colidi com suas costas. Estávamos em frente à sala dos professores. Haruki soltou minha mão e me fitou diretamente.

— Haruki, o que você...

— Você vai até lá falar com o Okabe-sensei – ele disse seriamente, segurando-me pelos ombros, ao dar as instruções. Assenti fracamente, sem entender onde ele queria chegar – Pergunte a ele sobre o Asakura, para onde ele foi, se eles têm o contato atual, esse tipo de coisa...

— O que? Por que você quer saber isso?

— Eu já te disse! – ele me soltou, exasperado – Essa transferência inesperada é muito suspeita! É dever da Brigada SOS investigar o caso.

Eu resolvi ignorá-lo. Havia um fundo de verdade nas suas suposições loucas, e não seria eu a pessoa a confirmar isso.

— Então por que não vai você mesmo interrogar as pessoas? – eu estava quase dando as costas para ele, imaginando se meu chá já estaria frio.

— Por que eles não acreditaram quando eu disse que era um bom amigo do Asakura, e que queria saber para onde ele foi... – ele resmungou contrariado. É claro que não acreditaram! Você nem falava com ele!

— E por que você acha que eles acreditarão em mim?

— Você tem essa cara fofa, qualquer um acreditaria. – ele disse, abanando a mão como se fosse algo irrelevante. Logo depois, me empurrou pelos ombros até a porta, batendo nela e saindo correndo.

Eu fui deixada para trás, perdida e confusa. A porta se abriu, e o sensei revelou sua cara grande e prestativa. Eu me atrapalhei, olhando para todos os lados, e por fim, acabei proferindo as palavras que não deveria.

— Sensei... você poderia me ajudar?

-

— Você disse alguma coisa? – Haruki perguntou, andando a passos largos a minha esquerda, com uma folha de caderno com anotações nas mãos. Deduzi que isso era uma maneira de perguntar “algum problema?”.

— Nada mesmo – respondi, suspirando. Ele nem mesmo agradeceu meu trabalho perfeito, esse ingrato trapaceiro. Eu consegui descobrir que Asakura supostamente havia se mudado para o Canadá, e ainda recebi o antigo endereço dela como um bônus, e isso tudo por que Okabe-sensei concluiu que eu era apaixonada pelo antigo representante de classe, e provavelmente ficou com pena de mim.

Ele havia dito que não sabiam muitas coisas sobre a transferência de Asakura. Apenas que foi repentina, na manhã anterior alguém que se dizia o pai dele apareceu e disse que eles estavam se mudando devido a uma emergência. Não deixaram contato ou qualquer outra informação. Ele me deu o antigo endereço, dizendo que eu teria mais sorte conversando com os porteiros do prédio onde ele morava.

Quando eu contei essas coisas à Haruki, ele apenas sorriu presunçoso. “Eu não disse que havia muitas coisas suspeitas nesse caso? Eu sinto cheiro de mistério à quilômetros!” ele falou, convencido, e então me arrastou para fora da escola, alegando que precisávamos investigar mais. Eu nem pude pegar minha bolsa, que ficou na sala do clube....

Estávamos descendo a ladeira, e em seguida alcançaríamos a linha de trem. Do outro lado, ficava um parque grande e repleto de árvores. Espere... essa não é a rua onde mora o Nagato?

Assim que esse pensamento surgiu, Haruki parou em frente ao familiar condomínio de alta classe, sorrindo.

— Chegamos! – ele apontou para o prédio – Asakura vivia no apartamento 505.

— Como esperado... – concordei.

— O que disse?

— Nada. Como você espera entrar aí? As portas devem estar trancadas. – apontei para o teclado de números ao lado do interfone – Você precisa da senha para entrar. Como vai fazer?

Eu torcia para que ele desistisse daquela ideia, mas é claro que Suzumiya Haruki tinha um plano.

— Precisamos de disfarces... – ele disse, como se fosse a conclusão óbvia a que devesse chegar. Eu arqueei uma das sobrancelhas, e então, ele tirou um par de óculos de grau do bolso da calça. Você não pode estar falando sério!!

Ele colocou os óculos no rosto, me fitando com um olhar questionador por trás das lentes. Diferente dos óculos de Nagato, este tinha armação espessa e preta, e se ajustava bem ao rosto de Haruki, que sorriu enquanto eu o encarava. Ele ficava surpreendentemente bem com aquele acessório. Detesto ter que admitir, mas acho que meu coração acelerou um pouco ao vê-lo daquela maneira. A probabilidade maior é de que isso seja algum indício de arritmia cardíaca. Eu deveria consultar a enfermeira da escola, apenas como um descargo de consciência.

Enquanto eu divagava, Haruki avançou contra mim num movimento rápido, e soltou meus cabelos.

— Ei! O que você está fazendo?! – eu tentei em vão recuperar o elástico, que Haruki ergueu no alto, me forçando a esticar-me nas pontas dos pés da maneira mais patética que existe.

— Uma garota de rabos de cavalo é algo muito facilmente identificável. Eles a reconheceriam rapidamente. – Haruki argumentou.

— E quem se importa? Eu não gosto de ficar de cabelos soltos! – bati o pé, irritada.

— É uma pena, você fica bem assim. – Haruki disse, e eu travei. O que deu nesse garoto, falando essas coisas?!

— Vamos, pense em algum jeito de chamar a atenção do porteiro! – ele mudou de assunto repentinamente, olhando através do vidro da porta.

Que tal eu começar a gritar aqui na frente, dizendo que estou sendo perseguida por um stalker perigoso? Você seria preso e meus problemas estariam resolvidos!

— Nós vamos nos infiltrar no prédio, disfarçados de entregadores! – ele bradou, empolgado com sua ideia perfeita. As lentes dos óculos brilharam, fazendo parecer que ele sabia do que estava falando, mesmo que não fosse esse o caso.

— E que tipo de restaurante usa dois entregadores de comida? – eu o fiz enxergar a realidade. Vamos embora, Haruki! Eu estou perdendo o jantar, e hoje é o dia do sukiyaki!

— Tem razão... você é pequena, pode ser o brinde que vem junto com o hambúrguer! – ele colocou a mão no queixo, pensativo.

Eu não tive tempo de rebater aquela ofensa, pois uma velha senhora se aproximava na direção da porta, pelo lado de dentro. Ela nos fitou questionadora, parecendo assustada. Haruki me agarrou, colocando seu braço ao redor do meu corpo, e sorriu para a velha senhora.

— O que você está fazendo? – sussurrei, espantada. Haruki me conduziu o seu abraço, aproveitando a chance da porta aberta pela senhora, e nós entramos.

— Chamaremos menos atenção assim – ele disse, olhando diretamente para mim. Seu rosto estava perto demais! – Um casal é muito mais discreto do que dois adolescentes suspeitos, não acha?

Só você é suspeito aqui! E esse seu argumento não faz o menor sentido!!!

— E nós podemos nos passar por recém-casados que estão olhando apartamentos para comprar.

— Nós estamos usando uniforme escolar!

— O elevador! – ele avançou, adentrando no pequeno espaço antes que o mesmo se fechasse, e me levando consigo. Apertou o botão com o número cinco, e então, esperamos. O elevador fez o ruído característico, causando uma pequena vertigem ao começar a andar.

— Pode me soltar agora – eu disse, tirando seu braço do meu ombro. Ele se recolheu, incomodado. O elevador parou, abrindo suas portas no quinto andar. O lugar era exatamente como o corredor do andar de Nagato, da vez em que eu o visitei.

Soltamos, e Haruki se encaminhou a frente, até o final do corredor tenuemente iluminado, onde estava o apartamento 505. Não havia nenhuma placa de nome ou qualquer indicativo  de moradores ali.

— Eu pesquisei um pouco antes de te procurar, e há ainda mais coisas estranhas sobre esse Asakura – Haruki dizia, enquanto tentava forçar a maçaneta. Desistiu, voltando a olhar para mim. – Aparentemente, Asakura Ryoushi não estudou em nenhuma escola de ensino fundamental local. Ele foi transferido de outra cidade para cá, e isso é muito suspeito! A Escola Média do Norte é apenas uma escola comum, sem atrativos. Por que alguém como ele se esforçaria tanto para vir de outra cidade e estudar aqui?

— Eu não faço ideia – desconversei, dando as costas para a direção do elevador – Vamos logo embora daqui!

— Mesmo que ela more perto da escola, esse apartamento deve ser insanamente caro! Ela estava indo para a escola antiga de trem o tempo todo, ou só veio para cá no ensino médio? – ele ponderava, enquanto acertava o passo com o meu. Adentramos o elevador, e eu pedia internamente que ele desistisse e me deixasse ir para casa – Vamos achar o zelador, e perguntar a ele quando foi que Asakura veio morar aqui!

— E que diferença faz nós sabermos isso?

Haruki não respondeu, saindo do elevador assim que ele se abriu, no térreo. Ele se dirigiu rapidamente até a recepção, e sem outra opção, eu o segui. Um senhor de cabelos brancos surgiu do outro lado da placa de vidro, quando Haruki apertou a campainha.

Ele olhou Haruki de cima abaixo, com cara desconfiada. Depois voltou o olhar para mim, sorrindo simpaticamente. Senti um calafrio, e inconscientemente, fui para perto de Haruki, escondendo-me atrás das suas costas.

— Então, do que os jovens precisam? – ele perguntou, dirigindo-se a Haruki, que respirou fundo antes de começar a falar.

— Nós somos amigos de Asakura Ryoushi. Ele disse que ia se mudar subitamente e não nos deixou seu novo endereço, então não sabemos como entrar em contato. Você poderia, por favor, nos dizer para onde ele foi? – Haruki disse tudo em um só fôlego, e então, ajeitou os óculos no rosto. Eu o fitei, pasmada. Então... ele realmente conseguia usar linguagem humana normal e ser educado sem parecer incrivelmente debochado ou irônico.

— Ah! Eu nem vi a mudança chegar! Foi tudo tão rápido! Quando eu fui ver, o apartamento já estava completamente vazio. Essas tecnologias modernas que andam inventando, são mesmo capazes de fazer tudo! – o velhinho disse, assombrado.

— E você saberia dizer a quando tempo Asakura-san morava aqui? – Haruki voltou a perguntar. O porteiro estranhou a pergunta, mas o sorriso que ele jogou de volta foi tão convincente que até mesmo eu tive dificuldade de discernir a verdade.

— Ela se mudou para cá há três anos. Eu me lembro do jovem rapaz, que veio se apresentar pessoalmente aqui embaixo. E ao invés de pagar aluguel, o apartamento foi pago todo de uma só vez, em dinheiro. – Haruki sorriu com as informações. O velho porteiro inexplicavelmente falou bem mais do que a discrição permitia, e Haruki estava realmente satisfeito com isso. – A família dele deve ser muito rica! Mas... pensando bem, eu acho que nunca o vi os pais dele... Acho que o garoto morava sozinho, no fim das contas. Ele era muito comportado, não era como essas crianças de hoje. Nunca o vi fazendo festas ou trazendo garotas para cá. Considerando a sua aparência, ele deveria ter uma ou duas namoradinhas... Você, por acaso, não seria uma delas, menina? – o velho apontou para mim, rindo com vontade.

Arquejei, ofendida. Não, não estaria em meus planos ficar junto de um garoto que sorri daquela maneira obscura enquanto porta uma faca afiada, obrigada. Haruki ajeitou os óculos novamente, bufando irritado. Como o homem começasse a fazer comentários desse tipo, era óbvio que não conseguiria mais arrancar informações dele.

— Muito obrigado pela sua ajuda – ele murmurou, curvando-se rapidamente, e então segurou-me pela mão, me conduzindo para que saíssemos dali.

— Ei, garoto! – o velho chamou, e Haruki olhou para trás apenas, sem me soltar – Essa garotinha vai se tornar uma bela dama, fique certo de não deixá-la escapar!

Obviamente, o senhor de idade estava falando coisas sem nexo. Haruki soltou o ar, resmungando qualquer coisa ininteligível, e voltou a andar, sem dizer mais nenhuma palavra. Eu também não cortei o silêncio, seguindo seu passo rápido. Quando estávamos há poucos passos do hall, uma figura familiar se ergueu pela porta automática, trazendo nos braços sacolas de uma loja de conveniência. Era Nagato Yuuki, com seu inconfundível rosto pálido e inexpressivo. Se ele está chegando em casa depois de fazer comprar, significava que certamente ele teria ido embora logo depois de nós.

— Ah! Você mora por aqui! Que coincidência! – Haruki o cumprimentou com um gesto amplo, andando na sua direção e por consequência, me arrastando com ele. Nagato concordou com a cabeça, movendo seu olhar até as nossas mãos entrelaçadas. Só então Haruki pareceu perceber esse detalhe, largando minha mão sem hesitar, e voltando a encarar Yuuki.

— Você ouviu alguma coisa sobre Asakura? – ele indagou, estreitando os olhos por trás dos óculos, com a mão no queixo. Recebeu uma resposta negativa e silenciosa.

Notei vegetais, latas de comida e algumas outras coisas nas sacolas de Yuuki. Então ele podia comer afinal! Por algum motivo, a imagem de Nagato Yuuki usando um avental enquanto cortava legumes assolou minha mente. Parecia um pouco sem sentido...

— O que aconteceram com seus óculos? – Haruki inquiriu, intrigado. Analisou Nagato por muitos segundos, bem de perto. Yuuki olhou para mim como resposta, me encarando significativamente – Você colocou lente? Bom, tanto faz! Eu sinto que tenhamos perdido um importante personagem megane, mas acho que eu mesmo posso ser o megane, o que acha? – ele apontou para os próprios óculos, e Yuuki o encarou com uma expressão que sugeria que ele não entendia nada da maneira Suzumiya Haruki de raciocinar. Não se preocupe, Nagato, não entender é apenas o esperado. Eu ficaria deslumbrada caso você ou qualquer outra pessoa conseguisse.

Haruki bradou uma exclamação de despedida e colocando as mãos no bolso, caminhou sem virar seu rosto. Olhei para Yuuki, esperando que algo para dizer surgisse na minha mente. Porém, dessa vez, ele foi mais rápido.

— Seu cabelo. – ele disse, com sua voz grave sussurrada.

— Anh? Ah, sim! – lembrei repentinamente do ato de vil crueldade do chefe da brigada, e passei a mão pelos cabelos soltos que se espalhavam ao redor do meu rosto. Eu não gostava de tê-los assim. – Haruki fez isso... eu tenho que ir, antes que ele faça mais alguma coisa estranha pela rua. Até amanhã. – disse por fim, me precipitando para o lado da porta.

— Ficou bom. – ele murmurou quando eu passava pelo seu lado, tão baixo que eu duvidei dos meus próprios ouvidos – Tenha cuidado.

Ter cuidado? Com o que? Eu ia voltar e perguntar a ele, mas Nagato já tinha entrado no condomínio.

Corri para fora, a tempo de ver Suzumiya escorado no muro do condomínio, como um delinquente de histórias antigas que espera no local marcado para a briga entre gangues. Só faltava uma jaqueta de couro.

Assim que me aproximei, ele me fitou por trás das lentes dos óculos, que brilharam com o movimento da sua cabeça, e se desencostou do muro, ainda com as mãos no bolso. Tirou algo de lá e jogou na minha direção. Era o elástico de cabelo.

— É melhor você atar isso logo – ele disse, num tom repentinamente entediado – Está parecendo a Sadako-san com esse cabelo na cara.

Eu aceitei a sugestão, ignorando o comentário desnecessário, e enquanto amarrava os cabelos, segui Haruki, que andava alguns passos a minha frente.

— Você não vai tirar esses óculos?

— Porque? Você não acha que eu fico extraordinariamente bem com eles? – ele ajeitou os óculos com o indicador, enquanto dava um sorriso que pareceu quase melancólico.

— Qual é o problema? – indaguei, reparando no quanto ele estava diferente de alguns minutos atrás – A sua investigação não saiu como você pretendia? – arrisquei, vendo-o tirar os óculos e coloca-los novamente no bolso da calça.

— Você é irritante! – ele resmungou, sem me olhar. Fechou os olhos com irritação – Eu não consigo chegar à conclusão nenhuma agora, só isso. Preciso de tempo para pensar.

— Entendo – falei, na falta de algo melhor. Talvez se eu lesse livros como os do Nagato, meu vocabulário se expandisse. Algo passou pela minha cabeça, ao ver a figura silenciosa de Haruki andando ao meu lado, e antes que eu pudesse impedir, as palavras saltaram da minha boca, mesmo com aquela incômoda sensação de que eu me arrependerei disso em um futuro próximo – Suzumiya... eu acho que já disse isso antes, mas... eu acho que você deve parar de procurar por esses eventos misteriosos, e se focar em tentar viver uma vida de colegial comum.

Ele deveria se virar e me encarar com seus olhos em chamas, enquanto dizia “você é idiota?”. Eu esperei por isso. Mas Haruki permaneceu em silêncio, com seus olhos fixos no caminho à frente. Ele parecia exausto.

— Uma vida escolar comum? – ele disse, com sua voz rouca arranhando meus ouvidos. Sobressaltei-me, por que já não esperava por uma resposta – Que tipo de vida é essa?

— Algo como se concentrar nos estudos e nos seus amigos. Encontrar uma namorada, talvez. Você pode até esbarrar com alguma paranormal enquanto tem um encontro, isso não seria tão ruim, não é? Há um monte de garotas que tem uma queda por você naquela escola. Tudo o que você tem a fazer é atenuar esse comportamento excêntrico, e com certeza a garota certa para você irá aparecer.

— Hunf! – Haruki rosnou, definitivamente irritado, e afundou ainda mais as mãos nos bolsos – Não importa se eu tenho ou não uma namorada! O que as pessoas chamam de amor é apenas uma confusão temporária da cabeça, uma necessidade instintiva, uma doença mental! Eu posso me controlar muito bem, não preciso dessas válvulas de escape da realidade. – ele fechou os olhos novamente, e então voltou a olhar para mim, com um rosto muito sério. – Na verdade, eu penso nisso de tempos em tempos. Sou um garoto, afinal, meu corpo tem suas necessidades. Mas não sou estúpido a ponto de me meter em algo tão problemático quanto o amor por causa de um momento de confusão. Se eu tiver que mudar meu comportamento por causa disso, como você diz, como eu aguentaria estar ao lado de uma garota que não aceita a minha personalidade real? Isso seria apenas uma ilusão. Não vale a pena. E mais! Se eu estiver ocupado saindo com alguém, o que vai acontecer com a Brigada SOS? Eu a fundei, tenho minhas responsabilidades!

Eu não esperava por aquele discurso, então apenas suspirei, derrotada.

— E se nós mudássemos o clube, criando novas formas de entretenimentos? Isso poderia atrais mais membros. – E por consequência, você me dispensaria.

— Não. – ele negou categoricamente – Eu fundei a Brigada por que todos os outros clubes eram chatos. Recrutei um mascote como o Asahina e uma misteriosa estudante transferida também! É apenas questão de tempo até que os casos venham até nós! E temos até esse caso do Asakura, não podemos simplesmente ignorar isso. Eu definitivamente não vou mudar nada, nem na Brigada, nem em mim.

Dizendo isso, Haruki olhou para frente, com seus olhos flamejantes caídos e apagados. Era raro vê-lo deprimido dessa forma, mas ele era belo o suficiente mesmo quando não estava sorrindo. Desviei o olhar do seu rosto, e só então notei que estávamos quase na rua onde eu morava. Haruki estava me levando até em casa, esse tempo todo.

Quando finalmente chegamos a frente a minha casa, eu parei, e Suzumiya continuou a andar, com os olhos nas estrelas que começavam a despontar no horizonte rubro. Poucos passos depois, ele parou de andar, sem olhar para trás. Eu já estava com as mãos no portão, quando ele falou.

— Você... aceita a minha personalidade, não é?

Arregalei os olhos em choque, processando a sua frase. Que raios ele está...

— Não é como se eu precisasse aceitar ou deixar de aceitar qualquer coisa – respondi rapidamente, cerrando os olhos, estranhamente nervosa com aquela pergunta repentina e sem sentido – Eu apenas me adaptei, já que não havia outra opção! N-não é como se eu...

Abri o portão com as mãos atrapalhadas, e corri para dentro sem terminar de falar, antes que ele reparasse na cara estranha que certamente eu estava fazendo. Por que o Haruki tem que falar tantas coisas absurdas para mim?!

Bem... o que se pode esperar de alguém que anda com óculos falsos no bolso da calça?

Suspirei, me reestabelecendo antes de encontrar com qualquer um. Tirei os sapatos, colocando-os arrumados ao lado do par de tênis surrado e embarrado que estava jogado na entrada, e que certamente pertencia ao meu irmãozinho. Suspirei, sentindo-me subitamente como uma velhinha cansada que espera pela visita dos netos no fim de semana. Eu espero que não tenha me atrasado para o jantar...

Sigh! A minha mochila ficou na escola!


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Notas finais do capítulo

E então,minna-san, o que acharam do capítulo?!
Apenas para constar, Haruki de óculos é uma preferência pessoal. Sim, eu tenho uma certa queda por personagens megane u////u E como Yuuki perdeu os seus, acabei colocando isso ( e não falo mais nada sobre, por que acabaria virando spoiler...)
Pelo menos assim certas pessoas não vão tentar tirar o meu Haruki de mim u_u (estou olhando para você, Teffy-senpai ò-ó)
Obrigada à todos vocês!!
Espero reviews!



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