Suzumiya Haruki no Monogatari escrita por Shiroyuki


Capítulo 11
Capítulo 11 - Atraso




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Arrastei meu corpo sem motivação pelas ruas escuras, parcialmente vazias e potencialmente perigosas, carregando junto a bicicleta, que fazia um barulho esquisito enquanto rodava. Parecia uma risada.

Suspirei novamente, tentando fazer os pensamentos fluírem com calma e ordem, mas era absolutamente impossível. Se houvessem pequenas pessoinhas na minha cabeça, que comandassem tudo, elas estaria em meio ao caos nesse exato momento, correndo aturdidas para todos os lados.

Tentei repassar mentalmente a conversa que havia acabado de ter com Nagato Yuuki há poucos minutos atrás, apenas para descobrir que as palavras dele faziam ainda menos sentido agora. Com um rosto sério e obstinado, ele contou sobre as entidades autoconscientes formadas inteiramente por dados, que não possuem existência corpórea, e observam todo o universo desde antes da sua formação. Havia dito para mim que era um alien, criado como um elo de comunicação entre eles e os seres humanos, e mandado para a Terra para observar Suzumiya Haruki, que aparentemente possuía poderes incríveis e inimagináveis. Algumas das suas frases latejavam soltas na minha cabeça, como se lutassem para entrar e se instalar confortavelmente em algum lugar, até que eu as aceitasse.

“A Entidade de Dados Integrados acredita que ao analisar as formas de vida orgânica da Terra pode encontrar a solução da sua própria evolução”.

Oh, sim, isso me lembra o enredo de um jogo que meu irmão comprou no último ano-novo.

“Três anos atrás nós descobrimos o surgimento de centelhas de dados anormais fervilhando em um ponto da superfície deste planeta, cobrindo toda sua extensão instantaneamente e alastrando-se em direção ao espaço. No centro de tudo isso estava Suzumiya Haruki”.

Existe algum tipo de caos entrando em ebulição na superfície terrestre? É lógico que no centro disso está Suzumiya Haruki, onde mais ele poderia estar?

“Suzumiya Haruki possui provavelmente o potencial para a auto evolução, alterando e controlando todos os dados ao seu redor. Mesmo que seja indiferente à sua vontade consciente, ele pode influenciar o ambiente ao redor com base nos seus desígnios pessoais. Este é o motivo de eu estar aqui. Este é o motivo de você estar aqui”.

Ah, isso eu realmente não entendia, tinha palavras demais, com sílabas demais para que as ideias entrassem em comum acordo e fizessem sentido.

“Por favor, acredite em mim…”.

Quanto a isso eu não tinha argumentos. Sua expressão foi bem convincente, ainda que mínima.

Certo, e o que eu fiz depois de ouvir isso tudo?

“Perdoe minha indelicadeza, mas peço que me exclua disso” “Conte para Suzumiya, ele com certeza vai ficar feliz com isso” “Obrigada pelo chá, estava bom”.

Imaginei tolamente que ele iria me impedir de ir embora, e tentar se explicar de forma mais clara, mas tudo o que ele fez foi abaixar a cabeça e olhar para os copos de chá. Sua figura, inexpressiva e imóvel, enquanto eu me afastava, parecia muito solitária.

Diminuí o passo enquanto passava pelo parque funesto e lúgubre, com apenas o som das rodas da bicicleta rangendo para me acompanhar. Quando chegasse em casa teria que explicar para minha mãe onde estava, e eu não estava nem um pouco ansiosa para isso.

— Espere.

Sem nenhum sinal ou aviso prévio, aquela voz ecoou no escuro, sem nenhuma urgência no tom de voz como a mensagem sugeria. Soava mais como uma sugestão indiferente. Eu havia o ouvido tanto durante aquela noite que já não me impressionava mais tanto. Apenas parei de andar e virei o corpo a sua direção. Nagato Yuuki estava parado logo atrás de mim, muito mais perto do que eu supus. Encarava-me com os olhos circunspectos por trás das lentes espessas.

— A maior parte da Entidade de Dados Integrados especula que uma crise nunca antes vista poderá ocorrer caso ele se torne consciente de sua própria existência. – ele disse naturalmente, como se nossa conversa jamais tivesse sido interrompida – Preferimos continuar observando.

— E como pode garantir que eu não contarei tudo a ele? – arrisquei, arqueando uma as sobrancelhas.

— Ele a ignoraria.

Sim, isso iria ocorrer certamente.

— Você foi especificadamente escolhida por Suzumiya Haruki, por alguma razão que nos é desconhecida. Talvez, para ele, você represente um papel crucial. Se existirem sinais de uma anormalidade iminente procurarei você em primeiro lugar.

Dizendo isso, ele deu as costas e sumiu antes que eu pudesse contar duas batidas de coração. Não me concedeu nem mesmo a chance de responder. Ah, assim é muito fácil, jogar todas essas coisas para cima de mim e então desaparecer.

Suspirei involuntariamente, e retomei o caminho. Não havia motivos para me apressar.

Quando cheguei em casa, minha mãe perguntou qual o motivo de ter saído tão rápido de casa, onde estava e com quem, tudo em um só fôlego. Dei alguma resposta breve e corri direto para o quarto, ouvindo meu irmão especular que eu provavelmente tinha um namorado secreto. Seria mais agradável se fosse mesmo verdade.

Estirada na cama, relembrei tudo o que Nagato disse. Se eu aceitasse tudo o que ele disse, isso significaria que Nagato Yuuki, o membro discreto do clube de Literatura, era um ser de outro mundo, um alien. Isso não era o que Suzumiya Haruki procurava tão arduamente por todo esse tempo? …E esteve sempre bem debaixo do nosso nariz!

Sigh… eu pareço uma idiota pensando essas coisas.

Olhei de soslaio para o livro que agora estava arremessado de qualquer jeito no chão. Peguei-o, analisando o desenho da capa, pousando-o cuidadosamente na mesa de cabeceira. Nagato provavelmente deve estar fantasiando por causa desses livros de ficção. Posso vê-lo nitidamente lendo sozinho em seu apartamento, ou imóvel na sala de aula, sem falar com ninguém. Se ele apenas sorrisse mais, seria bonito e popular com as garotas, ainda que fosse calado, já que elas adoram caras misteriosos, e aproveitaria a maravilhosa vida escolar como se deve. Ele deveria tentar deixar os livros um pouco de lado, faria bem à sua saúde.

-

Isso só podia ser piada! Pedindo para nos encontrar ás oito da manhã no meio do fim de semana! Usando minha indignação como combustível, comecei a caminhar mais rápido. Eu era mesmo incorrigível.

Consegui visualizar ao longe a praça da estação de Kitaguchi, repleta de adolescentes sem ocupação que não tinham nada mais a ser feito. Faltavam cinco minutos para as oito, mas ao chegar à parte norte da estação, encontrei todos me esperando. Olhei de soslaio para Nagato, mas ele parecia tão inanimado como sempre, sem esboçar nenhuma reação adversa pela minha estranha visita a sua casa na outra noite. Por algum motivo, vestia seu uniforme escolar, mesmo que hoje seja um belo dia de fim de semana que está sendo lindamente desperdiçado.

Mitsuru acenou para mim, com um grande sorriso, quando me notou ao longe. Usava uma camisa branca simples, com um colete de corte fino por cima, e uma bermuda verde xadrez, que ia até acima do joelho, onde uma meia branca iniciava, envolvendo o restante das pernas. Ele ficava muito lindo em roupas casuais, e parecia ainda mais com um aluno do fundamental.

Itsuko estava ao seu lado, e sorria cordialmente para mim. Estava com um vestido cor-de-rosa, que eu poderia ter jurado ver na capa da última revista que Kunikida me emprestou. Suas botas de couro cobriam a metade das pernas, com um salto alto que seria dispensável e a enorme bolsa que sugeria sutilmente uma marca famosa reluzia contra o sol.

 — Está atrasada – a voz de Haruki me saudou, assim que fosse possível me enxergar. Ele vestia uma camiseta simples por cima de outra de mangas compridas e calça jeans, com um all star surrado de cor inidentificável, com os fones de ouvido amarelo pendurados no pescoço, e parecia muito animado.

— Não são oito horas ainda – argumentei.

— Você foi a última a chegar, então deverá ser punida. Essa é a regra.

— Que regra?

— A que eu acabei de inventar!

— E que tipo de punição? – indaguei, derrotada, torcendo apenas para que não tivesse nada a ver com fantasias de coelhinha.

— Vai ter que pagar bebidas para todo mundo.

— Haruki, nós todos ainda somos menores de idade – censurei-o, pronta para fazer um perfeito discurso sobre o comportamento dos jovens de hoje em dia.

— Eu estou falando sobre sucos ou cafés, sua idiota – ele me repreendeu, colocando os braços atrás da cabeça e começando a andar, assim como todos os outros. De alguma forma, naquela posição relaxada, assobiando músicas que fizeram sucesso antes mesmo dele nascer, Haruki parecia muito mais amigável do que o garoto carrancudo que sentava atrás de mim. Poderia dizer que ele estava praticamente feliz.

Como era incapaz de argumentar, apenas segui à todos, obedientemente, até o café mais próximo.

Assim que entramos no estabelecimento, e nos estabelecemos na mesa mais próxima, uma garçonete de peitos evidentemente falsos e cabelo de um loiro doentio que feria os olhos, apareceu para anotar nossos pedidos. Seu olhar demorou tempo demais em Haruki, e ela abriu um sorriso enorme e desnecessário quando ele fez seu pedido (o item mais caro do menu). Ele ainda é um estudante do colegial, você sabe disso, não sabe, obaa-san?

Mitsuru pediu apenas um suco de laranja simples – e eu o agradeço por isso, era barato – e Itsuko pediu uma coca grande (maldita, ao menos finja que faz um regime e peça a light!). Nagato ainda estudava o cardápio, com seriedade e concentração. Pedi apenas água, com dor no coração.

— Chá – ele disse finalmente, com a voz rouca sobressaltando a atendente que praticamente devorava Haruki com os olhos. Ela se afastou, terminando de anotar algo no bloquinho.

— Certo – Haruki se adiantou, apoiando os braços na mesa com determinação. – Vamos nos dividir em dois grupos, e se algum de nós encontrar alguma coisa misteriosa, contata os outros pelo celular, e então nos encontramos e decidimos o que fazer em seguida. – ele parecia muito entusiasmado e confiante de que isso daria certo. – É isso. Perguntas? Objeções? É claro que não. Vamos fazer um sorteio.

Haruki pegou cinco palitos de dentes do suporte, e usando uma caneta que Yuuki tinha no bolso do uniforme, marcou dois deles, envolvendo-os com os dedos para que escolhêssemos.

Eu peguei um marcado. Yuuki pegou um sem marcas, e Itsuko também. Repentinamente, me senti nervosa. Só restavam Haruki e Mitsuru, e a minha torcida era bem óbvia. Por fim, Mitsuru ergueu o palito marcado, surpreso e corado.

— Kyonko, escuta – Haruki nos encarou friamente, esbravejando – isso não é um encontro, entendeu?

Arqueei a sobrancelha, acenando com a mão. Mitsuru encolheu-se na cadeira, corando até a raiz dos cabelos dessa vez.

A atendente retornou, com os pedidos de todos equilibrados na bandeja. Encarou-me longamente antes de entregar por fim o pedido de Haruki, com um sorriso admirável, praticamente esfregando o decote na cabeça dele, que o ignorou perfeitamente. Deve estar acostumado a esse tipo de tratamento!

— E estamos procurando pelo que exatamente? – Itsuko indagou naturalmente, brincando com o canudinho depois de esvaziá-lo até a metade em um segundo.

Terminando com as últimas gotas do meu esforçado dinheiro, com uma velocidade espantosa, Haruki arrumou o cabelo suavemente atrás das orelhas, com eles voltando imediatamente para a posição inicial. Sua cara de suspense, que era absolutamente dispensável, digna de um ator de tragédia grega.

— Qualquer coisa ou pessoa que pareça suspeita ou estranha. Portais para diferentes dimensões, alienígenas infiltrados entre os humanos…

Quase engasguei com a água que estava bebendo. Nagato permanecia como sempre, o que me deixou ainda mais desconfortável. Mitsuru apresentava a mesma expressão, estranhamente.

— Entendo – Itsuko sorriu, acenando com a cabeça. Tem certeza que entendeu, de verdade? – Tudo o que temos que fazer é procurar por poderes sobrenaturais, aliens, viajantes do tempo, entendi completamente – ela voltou a sorrir, encarando cada uma das pessoas da mesa com seus olhos displicentes e castanhos, como se achasse tudo a sua volta muito interessante.

— Correto! – Haruki bradou, como se tivesse ouvido a resposta exata de uma cruzadinha difícil – Você é uma pessoa brilhante, Koizumi – ele afagou a cabeça de Itsuko brevemente, lançando-me um olhar de censura – você deveria aprender mais com ela, Kyonko.

Pare de aumentar o ego dela! Voltei os olhos, incomodada, para Koizumi, sem conseguir conter um biquinho de frustração, mas ela apenas sorriu simpática.

— Certo, vamos – Haruki me entregou a conta, e saiu do café. Itsuko o seguiu rapidamente, e logo após Nagato.

— Eu vou ajudar você – Mitsuru sorriu como se desculpasse, puxando a carteira e me entregando algumas notas. Olhei para o lado, constrangida, e reparei que havia outras cédulas, e algumas moedas, no lugar antes ocupado por Nagato.

— Obrigada – suspirei sinceramente agradecida e incapaz de ser educada e recusar essa ajuda tão bem vinda. Com energia renovada, chamei pela garçonete peituda, que veio de má vontade quanto reparou que Haruki já havia saído antes mesmo que ela pudesse lhe passar seu telefone.


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