MALFEITO FEITO II

Não se vá Harry! - Capítulo Quatro.

Lily Evans

Lily estava sentada no sofá da sala de sua casa, Lene e Dorcas ao seu lado. Todas elas sem nada o que fazer – o cinema tinha sido adiado porque Lily não estava sentindo-se muito bem. As três olhavam ao noticiário na TV enquanto Shelly Campbell, a repórter, comentava sobre a rua mais movimentada da cidade. Lily não estava prestando muita atenção até que Lene exclamou algo que a fez 'despertar'.

– Aquele ali não é o Sirius? – Lene falou enquanto apontava para um canto na TV, atrás da repórter onde três garotos estavam com um cachorro.

Lily apertou os olhos e conseguiu reconhecer Sirius ao fundo, assim como James e Remus.

– O que o Harry está fazendo? – Dorcas perguntou quando o grande Labrador amarelo pareceu soltar-se da coleira e sair correndo desembestado pela calçada.. Parecia que era só o Harry ver James ou estar perto de tal que ele sentia vontade de correr pelas ruas. O pior é claro, não era isso. O pior foi quando James saiu correndo atrás de Harry que ia em direção à rua mais movimentada da cidade (de acordo com a tal repórter).

Lily sentiu o coração parar quando James se atirou no meio da rua para salvar o cachorro. Fechou os olhos sentindo-se extremamente nauseada.

"- Oh meu Deus! Mas o que é aquilo? Parece que um garoto está tentando salvar a vida de um cachorro. Vamos Alberto! Vamos lá ver." – ouviu a repórter exclamar quando essa, provavelmente, notou a bagunça que estava ocorrendo atrás de sua reportagem.

"- AHHH! Mas ele vai ser atropela... AHH!"

E quando a bendita mulher falou essas palavras tudo ficou escuro e Lily não viu nem ouviu mais nada.

Sirius Black

– James... O que vamos fazer cara? A Lily vai nos matar! – Sirius não sabia o que fazer ao olhar para James que estava estatelado no chão da calçada com o cachorro que outrora saltitava enlouquecidamente pelas ruas e naquele momento estava morto ao seu lado.

– Eu não sei cara, eu não sei – a voz de James saiu abafada e Sirius conseguia perceber que o amigo estava bastante nervoso.

Estava prestes a abrir a boca e tentar dizer palavras para consolá-lo quando uma voz feminina o impediu. O que foi um alívio, afinal tato era uma das coisas que ele não possuía.

– E esse ato de heroísmo nos faz ver que nos dias de hoje ainda há alguma esperança para nossos jovens – Sirius voltou os olhos para ver quem estava falando tamanha pieguice quando viu quem era. Não podia acreditar. Era Shelly Campbell, só a repórter mais famosa do telejornal mais famoso do canal mais famoso da Inglaterra. Ela era ainda mais bonita pessoalmente.Não que Lene precisasse saber sobre isso. – Qual é o seu nome? – a mulher foi até James e perguntou simpaticamente. O garoto ergueu-se de um pulo e ficou extremamente vermelho.

– Ah... J-James Potter – Sirius nunca havia visto James tão desconcertado.

– James Potter é o nome do pequeno herói que arriscou sua vida para salvar um cão. Isso realmente é uma coisa muito bonita! - exclamou Shelly abraçando James pelos ombros enquanto sorria para a câmera profissional.

Sirius pensou que seria muito bom ter uma câmera ali, pois a expressão de James com toda certeza merecia uma foto. Era impagável de tão hilária.

– Me diga quanto tempo você e este lindo cão estão juntos? – Shelly olhou, ainda simpática, para James que parecia querer se esconder em algum lugar bem distante.

Ela realmente não precisava perguntar aquilo. Já bastava a morte lenta e dolorosa que devia estar esperando-os quando contassem à Lily do ocorrido, isto é, se ela não estivesse vendo tudo em primeira mão no noticiário. Grande merda.

– Ahn... Na verdade... – James olhou para ele e Remo procurando ajuda. - O cachorro é da minha namorada - James falou a última parte corando tanto, mas tanto que aquilo só podia ser fruto de sua convivência com Lily.

– Ouwwnn, que coisa mais fofa! – Shelly apertou as bochechas de James e foi preciso muita concentração, tanto da parte de Sirius quanto à de Remo para não rirem. - O amor juvenil! Que coisa mais linda! Isso é uma coisa muito rara nos dias de hoje, com toda a certeza. Um namorado que se arrisca para salvar a vida do cachorro da namorada. Isso é muito lindo! – a jornalista parecia ter algum tique com a frase 'muito lindo'. Era a terceira vez que ela falava aquilo em menos de cinco minutos.

James estava provavelmente tentando achar um modo de se enterrar no chão. Se fosse Sirius, com certeza estaria do mesmo jeito.

– Mas cadê o cachorro causador de toda essa confusão? – a mulher sorriu e virou-se para olhar o cachorro (defunto) que estava estirado no chão. – Parece-me que ele está um pouco mau n... Oh meu Deus, o cachorro morreu!

E ouvir essas palavras ditas pela repórter mais famosa de todas, com o câmera do jornal mais famoso de todos gravando e passando tudo ao vivo em rede nacional não era uma coisa muito legal. Ah não era. Se antes eles queriam que ninguém soubesse do ocorrido, agora já não dava mais pra esconder.

Sirius precisava agir e tentar amenizar um pouco as coisas.

– Harry! Não Harry! Você não pode morrer – Sirius disse dando uma cotovelada em Remo pra ajudá-lo. - Não! Não! Não!

Foi até onde o cachorro estava e agarrou-o usando sua melhor expressão de falsa tristeza.

– Oh Harry, você não pode nos deixar! - disse Remo indo até ele também.

Definitivamente aquelas aulas de teatro que Remo havia feito tinham suas vantagens. Até ele estava acreditando no garoto.

James, parecendo entender o que eles estavam fazendo, entrou na jogada.

– Harry! Não Harry! Por favor, diga-me que você não morreu! - James também se ajoelhou ali ao lado deles e abraçou Harry.

– Que cena mais triste – Shelly com a voz embargada e as lágrimas escorrendo pelo rosto. Daquele jeito os três poderiam estrear em algum filme de Hollywood de tão bons atores. – Tanto esforço para salvar a vida do pobre cão, e tudo em vão – a mulher falou e Sirius achou que aquilo parecia com uma poesia malfeita. - Gostaria agora de pedir à vocês telespectadores, que fizessem um minuto de silêncio depois desse trágico acontecimento.

Sirius fez a melhor cara de cachorro abandonado e era muito bom nisso) junto com James e Remo que parecia inconsolável aos seus olhos. O cara era muito bom!

– Gostariam de dizer algumas palavras? - Shelly virou-se para eles e olhou para James indagativamente.

James apenas balançou a cabeça em sinal de negação, como se estivesse emocionado demais para falar.

– Entendo. E vocês, algum quer falar algo em nome dessa morte tão triste? - ela perguntou virando para os outros dois.

– Eu falo – Sirius disse e levantou-se do chão, indo até onde Shelly se segurava para não chorar.

– Pode falar - ela falou passando o microfone para ele.

– Harry, oh Harry, é muito triste saber que você se foi. Você era um companheiro e tanto. Nós vamos sentir muitas saudades das suas brincadeiras e de seu latido amigável – Shelly, aparentemente sem conseguir controlar-se, começou a debulhar-se em lágrimas ao lado de Sirius. - Mas eu quero que você saiba amigão, que onde você estiver nós vamos sempre estar com você. E-eu acho-o que é isso - ele falou embargando a voz. Sirius Black, disponível para filmes de ação e drama (pisca).

– E com essas lindas e tristes palavras nós encerramos o jornal de hoje.

O câmera parou de gravar e Shelly pegou um lenço e enxugou os olhos.

– Tem alguma coisa que possamos fazer por vocês? - ela perguntou olhando para James, aparentemente inconsolável no chão.

– A-acho q-que não - disse James, sua voz também embargada. - agora nós só precisamos organizar as coisas para fazer um enterro bem bonito para ele. Sabe como é, honrar sua memória - disse James convincente.

Enterro para cães, uma coisa muito sensível de se fazer. É claro.

– Ah, mas se for isso nós podemos ajudar! - disse Shelly. - Agora mesmo eu vou ligar para meu superior e pedir para ele organizar um enterro muito lindo para o Harry – Shelly falou pegando o celular da bolsa e limpando o nariz com o lenço.

Sirius aproveitou que ela estava ocupada e riu um pouco. James e Remo também riram. Até que Shelly voltou e eles ficaram com as caras sérias novamente.

– Está tudo acertado! Meu chefe disse que nunca uma reportagem teve tanta audiência nos últimos anos! – aquilo só podia ser brincadeira. Era o jornal mais famoso de todos! Como assim 'a morte de um cão' dá mais audiência que um monte de outras notícias? - Meu chefe também perdeu seu cachorro e ficou emocionado com a história. Ele se dispôs a pagar as despesas para um lindo enterro.

Definitivamente o mundo era dos cães. E Sirius gostava disso.

James Potter

James não podia acreditar na sorte deles. Como assim o telejornal está gravando uma reportagem no exato momento em que o cachorro de Lily morre?

Estava caminhando por um corredor do hospital naquele momento, andando de um lado para o outro, impaciente. Lene havia ligado à ele, dizendo-lhe que Lily tinha passado mal. James quase sofrera um infarto.

Lily estava melhor agora. Ela tinha chorado tanto quando soube da morte do seu fiel 'amiguinho' que nem tinha se dado o trabalho de brigar com ele. Mas ele sabia que ela não deixaria por isso mesmo. Afinal, ela era ruiva. E as ruivas eram campeãs em ter raiva (sem querer ofender as ruivas em geral).

– James? – Lene o chamou e ele virou o rosto para ela

– Hum? – resmungou.

– Lily quer falar com você - ela falou indicando a porta do quarto onde Lily estava.

James devia ter ficado mais branco que leite, pois Lene encarou-o preocupadamente.

– Você tá bem James? – ela perguntou.

Fez que sim com a cabeça e entrou na sala.

Lily estava sentada na cama, com o rosto inchado e os olhos vermelhos.

– C-como você está se sentindo? - perguntou ele, a voz estranhamente rouca.

Lily lançou um olhar mortal em sua direção. Ele engoliu em seco. Ela semicerrou os olhos.

– Você é um louco James - ela falou baixinho, com a voz rouca também. - Eu quase morri do coração quando eu te vi atravessar a rua. Pensei que você tinha sido atropelado.

James ficou sem entender. Onde estava a morte por esquartejamento que esperava?

– Me viu? Como assim? – perguntou estupefato.

– Pelo jornal – Lily explicou.

– Ah.

Silêncio.

– Você matou o Harry - ela falou com a voz embargada. - A gente estava junto desde que eu tinha sete anos.

Ele não conseguiu encará-la.

– Eu não queria. Tentei salvá-lo, mas quando eu o empurrei pela calçada acabei caindo em cima dele. Ele morreu. Desculpe-me – disse à ela, sua voz em um tom baixo.

– Pelo menos não foi você - ela falou.

James ergueu os olhos e a encarou incrédulo. Poderia ter jurado que ela iria fazer algo muito ruim com ele depois da morte de seu cachorro. Algo assim:

[Momento imaginação do James ON]

– VOCÊ MATOU O HARRY! VOCÊ MATOU! - dizia Lily apontando o dedo para ele, com o rosto vermelho de raiva.

– Lily, me desculpa, eu não queria...

– NÃO MINTA PARA MIM JAMES! EU SEI QUE VOCÊ QUER MATAR O HARRY DESDE O ANO PASSADO! – a expressão de Lily era das mais assassinas que ele já havia visto.

– Lily, por favor me perdoa – James estava de joelhos.

– Você quer que eu te perdoe James? Ótimo! Eu te perdôo - ela falou sorrindo docemente.

– Sério? - ele perguntou incrédulo, certo de que thavia ouvido errado.

– Só depois de você se sacrificar. Muáháháháhá - dizia ela rindo maquiavelicamente.

– D-do que você tá f-falando? – a voz de James tremeu com o medo.

Lily assoviou e tudo que ele pôde ver era que um carro vinha desembestado em sua direção.

– LILY! - ele gritou.

– Adeus James - dizia Lily virando as costas no exato momento em que o carro passava por cima dele.

[Momento imaginação do James OFF]

Huh, tudo bem que era um pouco exagerado, mas ele esperava muito mais dela.

– Você tem certeza que você está bem? – perguntou incerto.

– Sim James, eu não vou matar você nem nada do tipo. Eu não quero que meu filho não tenha um pai – Lily disse seriamente.

Então era por aquele motivo que ela estava agindo daquela forma. James sentiu-se extremamente irritado.

– Estou brincando James – Lily disse e riu, provavelmente vendo que ele tinha ficado bravo. - É verdade que você vai fazer um enterro pro Harry? – os olhos de Lily brilhara.

– É – respondeu a contragosto.

– Owwwuuun James! - ela falou, descendo da cama e indo até ele e o abraçando. - Eu amo você!

Lily com certeza não estava bem.

-X—

James estava vestido de preto, em frente à um caixão onde estava o corpo sem vida de Harry. Lily estava ao seu lado chorando muito.

Mas ela não era a única. Milhares de pessoas estavam no enterro do cachorro também. Realmente a notícia da morte do cachorro tinha sido um sucesso. Alguns dias atrás ele recebeu convites para milhares de entrevistas sobre a morte do cachorro. James não conseguia acreditar que as pessoas davam taaanta importância à uma notícia dessas quando milhares de outros acontecimentos beeem mais catastróficos estavam acontecendo.

– Com licença? - perguntou uma voz feminina. Ele virou para ver e ficou chocado.

A garota devia ter uns 12 anos de idade e estava com uma faixa na cabeça onde estava escrito 'Team James' e na sua blusa estava uma foto do Harry (que ele não fazia idéia de como ela havia conseguido) com os dizeres 'Descanse em paz, lindo cachorro'. O mundo estava perdido, definitivamente.

– Você pode me dar um autógrafo? - ela perguntou.

– Que? - ele não tinha ouvido direito com certeza.

– Um autógrafo.

– Ah..,

– James? – Lily tirou sua atenção da estranha garotinha.

– Sim? - ele perguntou feliz por não precisar responder àquela doida.

– O padre já acabou de falar, será que você podia falar alguma coisa por mim? Eu não vou conseguir - Lily falou, lágrimas escapando de seus olhos.

– Ahhh... mas é claro - o que diabos poderia falar?

No momento seguinte estava em frente à todas as milhares de pessoas do enterro sem saber o que falar. Droga.

– Pode começar senhor - disse o padre.

O que um padre estava fazendo no enterro de um cachorro? Por Deus! Era um enterro de um cachorro!

– Ãnh... Hmm... - merda! O que era que Sirius havia falado mesmo? Ah, sim - Harry, oh Harry, é muito triste saber que você se foi. Você era um companheiro e tanto. Nós vamos sentir muitas saudades das suas brincadeiras e de seu latido amigável. Mas eu quero que você saiba amigão, que onde você estiver nós vamos sempre estar com você – deu um pequeno sorrisinho, sentindo-se completamente imbecil.

Como se um enterro de um cachorro não fosse imbecil o suficiente.

– James, essa foi a coisa mais linda que eu já ouvi. Obrigado - disse Lily dando um beijo de tirar o fôlego nele assim que voltou para seu lado.

– Não foi nada amor - ele falou sorrindo maroto.

– Batatas senhor? - perguntou um garçom que andava por lá.

– Ah, obri...

Ele sentiu algo molhado em sua perna e decidiu não olhar. Lily havia vomitado.

Ah, que maravilha!