Sirius Black

Sirius tinha chegado à conclusão de que não havia nada no mundo mais aterrorizante do que Lene indo as compras. Especialmente quando essas compras eram em Paris.

Só de pensar em quão desfalcadas estavam suas despesas sentia uma dor no bolso.

A partir da próxima semana, ele e James começariam a estagiar na companhia de advocacia do pai de James. O principal motivo por trás do trabalho, para Sirius, era poder ajudar com as despesas da casa. Mesmo depois de James ter ido morar com Lily, Sirius continuou na casa dos Potter, e seria eternamente grato pela aceitação. Claro que não pretendia roubar o lugar de James ou qualquer coisa do tipo, apenas queria recompensar de alguma forma por todo o carinho e amor que eles lhe davam, bem diferente de sua família biológica.

Estava indo para a nova casa de James, pois tinha combinado uma tarde de ‘games’ entre garotos. Remo já estava lá então só faltava Sirius para a festa.

Quando estava passando em frente à casa da mãe de Lily – que ficava no caminho para a casa em que Lily e James moravam no momento – ouviu um grito que o fez parar de andar.

– EU NÃO ACREDITO NISSO!

Depois de mais de seis anos ouvindo coisas como ‘VOCÊ NÃO PASSA DE UM GRANDE IMBECIL POTTER’, ou ‘EU REALMENTE NÃO ENTENDO COMO VOCÊ PODE SER TÃO ESTÚPIDO POTTER’ serem ditas – lê-se: berradas – por Lily, era realmente impossível não reconhecer sua voz.

Sirius entrou no jardim da casa e tocou a campainha, mas ninguém atendeu.

– SUA GRANDE, GRANDE, GRANDE VACA! – a voz de Lily ecoou por toda a rua e Sirius se impressionou com o fôlego da ruiva.

Ele empurrou a porta, meio hesitante, e ela abriu. Sirius entrou na sala, mas não havia ninguém ali. Subiu as escadas para os quartos; não queria ser indiscreto nem nada disso, mas sabia que Lily não podia se estressar demais estando grávida.

– Lily? – ele chamou e na mesma hora o barulho de alguém correndo no último quarto do corredor chamou sua atenção.

Sirius correu até lá se sentindo preocupado.

– O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? – ele não reconheceu a voz, mas achou que talvez fosse da irmã de Lily.

Quando chegou em frente à porta do quarto ficou sem saber o que fazer. Será que devia entrar? James sempre disse que as duas viviam brigando, então será que era realmente sério?

– EU VOU MATAR VOCÊ SUA VADIA! – e a voz de Lily estava tão carregada de raiva que Sirius decidiu agir.

Ao abrir a porta se deparou com uma cena completamente estranha.

Então talvez estivesse errado sobre Lene indo as compras ser a coisa mais aterrorizante do mundo, porque existia algo milhões de vezes mais aterrorizante do que aquilo: duas grávidas brigando ferozmente entre si.

– HEY! – Sirius tentou chamar a atenção das duas. E funcionou. Ou nem tanto.

– Sirius? – Lily soltou os cabelos da irmã e encarou-o com os olhos verdes quase pretos.

Mas Petúnia não parecia estar disposta a terminar a briga assim tão fácil, pois puxou os cabelos de Lily com força, fazendo a ruiva cair em cima da cama e levá-la junto.

– Ah Deus, o que eu faço? – Sirius resmungou consigo mesmo enquanto tentava arranjar uma forma de separar as duas sem machucar ninguém. Ou nenhuma barriga.

Lily conseguiu soltar seus cabelos das mãos da irmã e imediatamente torceu os braços da outra atrás dela.

– EU PODIA ESPERAR ISSO DE QUALQUER UM – Lily gritou enquanto soltava os pulsos da irmã e tentava sair da cama.

Petúnia novamente a impediu, dando um empurrão com a barriga em Lily e fazendo a ruiva que estava quase sentada desequilibrar e cair deitada novamente.

– EU ESTAVA CANSADA DE SÓ VOCÊ TER ATENÇÃO NESTA CASA! – foi a vez de Petúnia pegar os pulsos de Lily.

Opa, discussão entre familiares, isso não era nada bom.

– Lily para cá e para lá – Petúnia agora falava normalmente, mas seu tom estava tão venenoso que até mesmo Sirius se arrepiou. – Mesmo quando você ficou grávida, com dezessete, por Deus, DEZESSETE anos a mamãe passou a mão pela sua cabeça!

Sirius achou a oportunidade perfeita para intervir. Lily estava absorta demais ouvindo a irmã, por isso nem estava se movendo e Petúnia estava concentrada demais soltando insulto à Lily para perceber qualquer coisa.

Ele abraçou a irmã de Lily pelas costas, pegando-a de surpresa e puxando-a de cima de Lily que tinha lágrimas nos olhos.

– Eu nunca te destratei ou te ofendi Petúnia – Lily levantou da cama e encarou a irmã que Sirius havia largado do outro lado do quarto. – Eram apenas brigas infantis entre a gente – Lily balançou a cabeça. – Nunca quis seu mal e você faz isso?

Sirius de repente ficou curioso por saber o porquê de as duas estarem brigando.

– Hum, desculpa me meter – Sirius falou e Petúnia o encarou como se recém tivesse o visto ali. – Mas porque é que vocês duas estavam brigando? – perguntou olhando diretamente para Lily.

A ruiva engoliu em seco e pegou do chão um emaranhado de seda branca. Sirius encarou sem entender.

– Um vestido de casamento? – ele comentou e encarou mais atentamente tentando identificar o porquê de um pedaço de pano causar tanto estrago. – Hey, porque é que ele está todo riscado – pequenas marcas de lápis eram vistas em alguns cantos do tecido.

– Porque Petúnia pretendia mandá-lo na costureira fazer alguns ajustes – Lily disse sarcasticamente enquanto a irmã grunhia.

Sirius continuava sem entender. Seria por causa dos riscos? Era um crime tão horrendo riscar em um vestido assim?

– Ãhn – Sirius encarou Lily novamente.

– Lembra do meu vestido desaparecido Sirius? – Lily perguntou.

Vestido desaparecido... Hum...

E as peças finalmente se juntaram na mente de Sirius. Aquele era o vestido desaparecido de Lily! Mas, hey, se o vestido estava desaparecido por que...

A menos que.

A boca de Sirius se abriu enquanto a incredulidade se espalhava por seu corpo.

– Você – ele virou de frente para Petúnia. – Roubou o vestido de Lily?

Petúnia não parecia nenhum pouco constrangida.

– Ele era para ser meu – ela disse.

– CLARO QUE NÃO ERA PARA SER SEU! MAMÃE COMPROU PARA MIM! – Lily esbravejou sacudindo o vestido.

Sirius sentia como se fosse um telespectador indesejado ali, vendo-as brigar por vestidos.

– Você já casou mesmo! – Petúnia exclamou e foi em direção de Lily com a mão estendida para o vestido. – Não vai lhe fazer falta.

– Mas que cara de pau! – Sirius reclamou para a garota.

– Não se meta – ela lhe disse e virou novamente para Lily. – Dê-me o vestido.

O sorriso que se formou no rosto de Lily era cruel.

– Eu não usei esse vestido por sua culpa – ela disse lentamente enquanto passava as mãos pela seda macia. – Então você também não vai usá-lo. Por minha causa – e meteu as unhas na seda abrindo um grande buraco no busto do vestido.

– SUA VACA! – Petúnia foi por cima da ruiva e Sirius se meteu no frente.

– Vai ter de passar por cima de mim – e Petúnia não levou isso na esportiva por que veio com barriga e tudo para cima de Sirius.

O barulho de ‘rasg, rasg’ atrás dele era a prova de que Lily continuava inutilizando o vestido.

Quando Petúnia finalmente desistiu de passar por cima dele, Lily jogou o vestido na cara dela.

– Meu presente de casamento – Lily disse e saiu rapidamente do quarto deixando Sirius ali encarando a outra garota que parecia um búfalo irritado. Ou melhor, um cavalo irritado.

– Tchau! – ele disse e correu porta a fora, encontrando Lily no andar de baixo, saindo pela porta. – Lily! – ele chamou.

Quando alcançou a ruiva, pensou que ela estaria chorando ou completamente arrasada por causa do ultima acontecido. Mas não. Lily não estava nem perto disso.

O sorriso da ruiva era dos mais malvados possíveis e seus olhos brilhavam como esmeraldas.

– Isso foi completamente divertido – ela disse e Sirius arregalou os olhos.

Ela estava com as vestes amarrotadas, os cabelos completamente bagunçados, mas ainda assim parecia estar excitada.

– Como? – perguntou Sirius completamente atordoado.

– Você ouviu, vai dizer que não foi divertido? – ela disse e não sobrava alternativa nenhuma se não rir.

Lily era realmente estranha.

James Potter

James não podia negar que ficou extremamente preocupado quando Sirius chegou a sua casa acompanhado por uma Lily completamente bagunçada.

Sirius contou para ele que estava passando em frente à casa de sua sogra quando ouviu a voz de Lily e decidiu investigar. Lily e Sirius caíram na gargalhada quando cachorro explicava a cena que encontrou quando entrou no quarto.

– Não se estresse James – Lily dizia pela milionésima vez quando os dois finalmente se viram sozinhos. Era noite e ambos se preparavam para dormir.

– Como eu posso não me estressar? – James resmungou enquanto virava para ela. – Você se engalfinhou com sua irmã, estando grávida, GRÁVIDA. Ou pior, as duas estavam grávidas.

– Desculpe – ela pediu e não havia como resistir a sua carinha de desculpas.

Droga! Desde quando Lily tinha esse poder sobre ele?

James revirou os olhos e deitou na cama. Bufou.

– Vai continuar assim? – ela perguntou e James não respondeu.

Ainda estava irritado por ela não tê-lo chamado quando descobriu sobre a irmã.

– Ótimo – ela disse e saiu do quarto.

Ele fez de tudo para não ir atrás dela. Contou carneiros tentando dormir, encarou a parede tentando contar quantas lajotas tinha e até mesmo entoou uma musica da Xuxa na tentativa de não ir ver o que ela estava fazendo.

Mas é claro que não deu certo.

– Deus, ano passado quando Lily disse que eu estava perdido, nunca pensei que fosse no sentido literal – ele resmungou enquanto saia do quarto e caminhava pela casa à procura da esposa.

Primeiramente foi à cozinha, mas ela não estava lá, o que o chocou por um momento. Depois procurou em cada cômodo e somente a encontrou no último: uma salinha que eles usavam de depósito e que tinha uma varanda que dava diretamente para o jardim.

Lily estava lá, os cabelos ruivos amarrados em um coque frouxo, sentada na beira da janela enquanto encostava a testa no vidro frio.

– Hey – James a chamou e ela olhou para ele.

– Hey – ela respondeu voltando a encostar a testa na janela.

James sentiu-se mal por ter ficado irritado com ela e se aproximou hesitante.

– Me desculpe – ele pediu e novamente ela o olhou.

– Não precisa – ela disse descontraída. – Eu apenas não estou com sono – ela disse e se afastou para o lado, deixando um espaço para ele sentar na janela.

James segurou sua mão.

– Está chateada por causa de Petúnia? – ele perguntou.

Lily deu de ombros enquanto tirava uma mexa de cabelo da testa.

– Um pouco – deu de ombros novamente. – Só estou pensando em algumas coisas que ela disse – ela falou.

– Sobre o quê?

– Jay, você não tem medo? Tipo, nós somos novos demais para sermos pais – ela voltou os olhos verdes para ele. – E se a gente não conseguir?

– A gente vai, eu prometo – ele disse e a abraçou.

***

– Srtª. Lily Evans é a próxima – a recepcionista do consultório médico anunciou.

James estava acompanhando Lily no terceiro – ou seria milésimo? – ultrassom para tentar ver o sexo do bebê.

Os dois entraram na sala da doutora, cumprimentando-a e Lily começou a explicar seus sintomas e tudo o mais.

A doutora disse a Lily que tirasse a blusa para começarem com o ultrassom e assim Lily o fez.

A ruiva deitou na grande maca/mesa da doutora e ela passou um gel na grande barriga.

– Será que hoje vamos ver? – a doutora comentou descontraída.

James não tinha esperanças.

Ele estava chegando a conclusão de que se tratava de uma menina, pois só assim para cruzar tanto as pernas!

– Vejam só! – a doutora pôs um dedo na tela da TV indicando alguma coisa que, para James, não passava de... nada. Nunca tinha entendido como é que os médicos viam aquelas coisas. – Isso é um pintinho! É um menino!

Uma imensa alegria se espalhou por ele e mesmo que não pudesse saber ao certo onde diabos estava o tal ‘pintinho’ do garoto, sentia-se orgulhoso. Um garoto! Para ele ensinar a jogar futebol e vídeo game e...

– Já escolheram algum nome?

– Não – James respondeu no mesmo momento que Lily.

– Sim – ela disse. James a encarou. – Vai ser Harry.

A alegria de James sumiu da mesma maneira que apareceu.

Mas que diabos?

***