The World Behind My Wall escrita por Ruuh


Capítulo 47
Capítulo Quarenta&Seis - Surpresas




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Cause they talk and drink and laugh 'bout things
And fall in love in my backyard
I hide and cower in the corner
Conversation's getting hard
'Cause nobody seems to ask about me anymore
And nobody seems to care 'bout anything I think
And nobody seems to recognize me in the crowd
In the background screaming, "Everybody, look at me"

Halsey - Angel on fire

 


Bill’s P.O.V


Dois dias depois


        Olhar para o teto, eu descobri, não era a forma mais legal de passar o tempo.

        - Tô entediado.

        Silêncio. Eu suspirei, rolando de barriga para baixo apoiando meu queixo na almofada do sofá olhando para Louise, na esperança que ela me entretivesse com alguma coisa. No entanto ela, obviamente, estava muito mais preocupada com outro tipo de coisa. Ela me ignorou e levantou a revista que estava lendo a modo de cobrir seu rosto para que eu não visse seus olhos.

       - Ei! – Eu resmunguei – Tô entediado!

       Louise abaixou um pouco a revista olhando para mim.

       - É? Que pena – Murmurou voltando sua atenção para o artigo.

       - Looooouise! – Eu gemi. Por que ela estava sendo tão difícil?

       - Ué, o que você quer que eu faça? Eu estou tentando ter um minuto de paz aqui. Vai assediar a Alley um pouco – Louise abaixou a revista por um minuto – E onde ela está afinal? Não escuto a voz dela já faz um tempo. Ainda estudando?

       Dei de ombros. Mais cedo tentei ir ver o que ela estava fazendo, mas Alley praticamente latiu pra mim e me tacou pra fora do quarto.

       - Não sei, deve estar.

       - Hum, e por que você não vai lá olhar?

       Lancei-lhe um olhar fulminante – Eu já tentei, ela me tirou de lá a força. E além disso, se ela estiver estudando eu não quero nem chegar perto. Da última vez que a atrapalhei ela quase me agrediu fisicamente por quebrar sua concentração. Então não estou disposto a tentar uma segunda vez.

       - Bem, aquele dia isso era compreensível. A professora de química é o cão!
       - Você devia ter me avisado – Respondi azedo.

       - Nah. Foi muito divertido de assistir – Ela sorriu jogando a revista de lado – Vem, eu vou com você. Vamos ver o que ela está fazendo. Talvez a gente possa sair pra tomar um sorvete, ou coisa assim.

        Hmmm, sim... talvez se a proposta envolvesse comida poderia amolecer seu coração, sem contar que meu estômago sorriu em resposta.

        - Sorvete parece uma boa ideia – Me levantei a seguindo até as escadas.

       - Ela está no escritório, a luz tá acesa – Louise sussurrou para mim quando chegamos ao topo.

        A porta do escritório estava entreaberta e dava para ver Alley sentada na cadeira de couro, com os olhos pregados nas folhas em cima da mesa enquanto falava baixinho ao telefone, o que era uma raridade diga-se de passagem. Me esforcei para ouvir o que ela dizia, mas o ar condicionado estava ligado, tornando impossível escutar alguma coisa.

       - Não consigo ouvir o que ela tá dizendo.

      - Nem eu – Louise se esticou para ver melhor – Mas se ela está no telefone então não está estudando. Vai, entra lá.


        O quê? Ela estava mandando eu entrar lá sozinho? Isso era uma missão kamikaze.

        - Entra você!

        Ela resmungou baixinho, mas desistiu de discutir. Me afastei quase dez passos enquanto ela abria a porta.

        - Ei, tá fazendo o que? Não era pra estar estudando? – Louise disse alegremente.

        Alley olhou assustada, quase deixando o telefone cair.

        - Nada!

        - Ah jura?

        - Só um minuto por favor – ela murmurou ao telefone antes de se voltar para Louise – É, nada. Por que, você quer alguma coisa?

        - Não precisa ficar irritada. Bill e eu vamos tomar sorvete, você quer vir?
        Ela permaneceu em silêncio por um minuto, pensando.

        - Não posso ir agora, tenho um monte de coisa pra fazer. Mas pode me trazer um?

        - Tudo bem, vai querer o que?

        - Um sundae de morango, com muito chantilly.

        - Ok – Louise começou a se virar para sair.

        Alley riu, o primeiro sorriso que vimos o dia inteiro.

        - Diga ao Bill que ele não está enganando ninguém, eu estou vendo ele espiando atrás da porta.

        - Droga! – Resmunguei e entrei no escritório.

       - Boa tentativa – Ela sorriu e não tinha como eu me irritar, ela era tão bonitinha.


        - Tá falando com quem no telefone? – Eu perguntei.

        - Não é da sua conta – respondeu ela alegremente.

        - Ah é? – Eu disse num tom falsamente ofendido – Tudo bem, eu sei quando não sou querido num lugar. Vem Louise, vamos embora.

        - A gente volta daqui a pouco – Louise disse rindo.

        Fizemos nosso caminho de volta pelas escadas. Louise pegou as chaves e a bolsa, depois de uma pequena discussão sobre onde iríamos, já estávamos no carro a caminho da sorveteria.

        - Aumente o rádio! – Eu exigi enquanto cruzávamos as ruas.

        - Aprenda boas maneiras Bill. Diga “por favor” de vez em quando... – ela se inclinou e aumentou o volume, com Dream On do Aerosmith preenchendo o vazio. Eu cantarolava baixinho enquanto tamborilava os dedos ritmicamente.

        - Então – Louise começou, olhando para mim – as coisas estão melhor?

        - Muito melhor – eu sorri melancolicamente olhando pela janela.

       - Eu deveria ter adivinhado – ela sorriu – a julgar pelo pequeno episódio aquela noite, mas mesmo assim estava um pouco preocupada.


        Ficamos num silêncio amigável, deixando a música rolar pelos minutos seguintes. Já estávamos no centro da cidade e Louise entrecortava ruas adjacentes, dizendo que era um atalho para a Baskin Robbins.

        - Então... – ela começou novamente – Bill, como você está? De verdade?

        Eu tomei uma respiração longa e profunda, olhando tolamente as árvores ao redor.

        - Ah, eu estou bem. Não diria 100%, mas tudo bem – Dei de ombros – Quero dizer, não vou falar que não me incomoda ouvi-la ao telefone com ele, ou vê-los sair juntos... vê-los se beijando quando ele a traz em casa – Fiz uma careta – Bem, eu tento não imaginar muito além disso – Me recostei no banco fechando os olhos – Mas eu não estou mais com raiva, na verdade nem posso ter raiva dele sabe, porque ele parece ser um cara legal e a trata tão bem...

       Louise sorriu com simpatia.

        - Ah Bill...

        - Eu só me arrependo – continuei em voz baixa – como você disse, eu deveria ter dito a ela antes como eu me sentia, independente das consequências. Mas, eu não quero falar sobre isso – retomei meu olhar para a janela – é muito deprimente.

       Louise riu – Desculpe, eu só queria saber como você estava. Sei como você pode ser de vez em quando.

       - Como posso ser? – Repeti – Você quer dizer inteligente, charmoso e devastadoramente bonito? – Eu lancei o melhor olhar Bill-Kaulitz-charmoso-até-a-tampa com um sorriso enorme e sobrancelhas erguidas. Um olhar que normalmente levava minhas fãs a loucura.

        Louise, no entanto, bufou. Que decepção.

        - É, claro. Foi exatamente isso que eu quis dizer – ela balançou a cabeça, revirando os olhos.

        Finalmente chegamos a Baskin Robins e Louise estacionou na calçada.

        - O que você vai querer? – Perguntou procurando na bolsa o dinheiro.

        - Pode ser de chocolate com avelã.

        - Ta bom, fica quieto aqui que eu volto num minuto.

        Eu me recostei no assento, observando-a através da porta de vidro da sorveteria. Havia uma fila de pessoas na sua frente, de modo que parecia que iria demorar alguns minutos. Eu bocejei, esticando os braços para frente. Ela tinha deixado as chaves na ignição, então eu inclinei-me e girei tornando a ligar o rádio.

        Várias risadinhas estridentes femininas me assustaram, eu virei meu pescoço para descobrir a fonte do barulho. Três garotas passaram pelo carro indo em direção a loja, duas morenas e uma loira, todas as três vestindo short jeans curto e camisa de alça.  Foram até a porta rindo abertamente de alguma piada. Ufa, por um momento tive um dejavu ao me lembrar de quando eu era assediado por fãs em todo lugar.

        A loira olhou para trás antes de entrar na sorveteria e pude ter uma visão perfeita de seu rosto, eu quase engasguei ao reconhecer nossa vizinha Jessica, a pessoa favorita de Alley e Louise. Seus olhos se estreitaram e de repente parecia que ela estava olhando diretamente para mim, seu olhar era sólido e não desviou nem por um minuto. Fiquei estático, com medo de fazer qualquer movimento. Ela estava mesmo olhando para mim ou era impressão? Eu não tinha certeza. Uma de suas amigas a puxou pelo braço e a conduziu para o interior da loja.

       - Que esquisito - eu murmurei me endireitando no banco e correndo a mão pelo cabelo. Inclinei-me, tentando ter uma visão melhor do que estava acontecendo lá dentro. Louise tinha notado as recém-chegadas e não parecia muito contente. Felizmente já estava no caixa efetuando o pagamento, ela rapidamente pegou o troco e eu tive que rir alto quando ela escancarou a porta do carro.

        - Ah meu Deus, alguém arranque meus olhos! - Louise reclamou se atirando no banco do carro - Vamos dar o fora daqui antes que aquela cadela resolva aparecer e fazer a social. Toma, segura isso - Ele me entregou meu sorvete e o sundae de Alley.

        - Ah, você tá falando da Jessica? - Perguntei fingindo inocência.

        - Sim, e a gangue de piranhas. Como você a conhece?

        - Bem, não posso dizer que nos conhecemos exatamente. Mas sei quem ela é - Respondi tomando meu sorvete - Eu realmente não consigo imaginar como vocês não são amigas! Tem tanto em comum...

      - Se eu não estivesse dirigindo, eu enfiava essa colher pela sua garganta até sair você-sabe-por-onde.


        Eu ri alto.


       - Calma Louise! Eu só estava brincando - Olhei para o sundae da Alley - Caramba isso parece bom demais, eu devia ter pedido um desses.

      - É melhor você nem se atrever, sabe que não pode mexer com a comida da Alley se quiser continuar tendo olhos.  

       - Só uma mordidinha...

       - Bill! - Advertiu ela.

       - Tá bom, tá bom!

       Chegamos em casa alguns minutos depois, o sundae de Alley permaneceu milagrosamente intacto então o coloquei sobre a mesa.

      - EI! - Gritei ao pé da escada - Chegamos! Vem logo pegar seu sorvete antes que eu o coma!

      - SÓ UM MINUTO - Alley gritou de volta.

      Sentei-me a mesa esperando por ela, Louise sentou-se de frente para mim.

      - Então Bill... que tipo de bolo você vai querer?

      - Bolo?

       - Sim,seu aniversario está chegando. Tem que escolher seu bolo, é uma tradição.

       - Certo... e quem vai fazer esse bolo? - Perguntei desconfiado.

       Ela riu antes de responder.

        - Eu é claro.

        - Ah menos mal - Respondi relaxado.

        Alguns momentos depois, Alley trotou escada abaixo, com sua maneira usual de ser delicada, sorrindo radiante ao entrar na cozinha.

        - Mmm.. morangos! - Ela suspirou dirigindo-se até a mesa e agarrando seu sundae - Isso parece ótimo.

— Posso dar uma mordida?  - Eu perguntei cruzando meus braços sobre a mesa olhando furtivamente para seu copo.

        - Você já tem o seu! - Ela exclamou agarrando a colher com medo de eu tomar.

        - Por favor! - Eu implorei.

         - Ta bom, ta bom- Ela suspirou e eu sorri triunfante - Só um pedaço! - Eu agarrei alegremente a colher e afundei no sundae girando a modo de pegar uma boa quantidade de sorvete, morangos e um pouco da calda. Com uma mordida gigantesca coloquei tudo na boca... Uow isso era delicioso! Droga eu devia ter pego um desses pra mim!

        - Nós estávamos debatendo sobre o bolo de aniversário do Bill - Disse Louise.

         - Ah é? - Alley recostou-se na cadeira e sorriu.

       - Sim, quantos anos você vai fazer Bill? 20? Já não é mais um adolescente.
Eu ri - Sim, isso é tão triste. Meus dias despreocupados da adolescência se foram - Cocei meu joelho esquerdo distraído - Não que eu realmente tenha tido algum, mas sabe como é...

        - Bem - Alley me interrompeu - sei que ainda falta uma semana para o seu aniversário, mas eu tenho um presente para você.

        - O que?

        Ela pegou um envelope branco e o colocou na minha frente, observando atentamente enquanto eu o pegava. Seu rosto era cuidadosamente inexpressivo e eu a olhei desconfiado.

       - Vai em frente, abra! - Disse ela.

Peguei o envelope e abri o lacre. Dentro haviam vários pequenos panfletos.

        - Que diabo é isso?

        - Me diga você.

       Levantei os papeis brilhantes e os estudei. Várias frases impressas em tinta azul atrevida saltaram para mim."Quarto triplo, 3 noites. Fique no Luxuoso Hotel Double Inn.

       - Espera aí, isso são reservas de hotel? - Disse lentamente - Para nós?
      
        - Sim.

        - Para onde vamos? - Perguntei completamente confuso

        - Leia de novo - Alley apontou para minha mão.

        - Ok - murmurei voltando minha atenção para os papéis em minhas mãos onde letras em verde dançaram diante de meus olhos Sommersville, Carolina do Norte.

        - Sommersville? - Eu praticamente gritei.

        - Você disse que queria ir pra casa - Disse ela calmamente. Eu engoli em seco, lembrando-me quão cruel eu havia sido com  ela aquela noite... - Talvez não seja exatamente o que você tinha em mente, mas pelo menos você vai voltar... e sabe, checar como está sua família e tudo mais.

        Eu estudei seu rosto. Eu estava me sentindo completamente desprezível... Não conseguia imaginar como deve ter sido trabalhoso todo o planejamento que ela fez para isso.

        - Você vai me levar para Sommersville? - Eu sussurrei - Por quê? E quanto sua faculdade? Como é que vamos chegar lá ? Quanto isso vai custar? O que você -

        - Não se preocupe com nada - Ela me interrompeu - Eu posso me dar ao luxo de perder alguns dias de aula. Nós vamos de carro porque é mais barato e também pegar um voo com você deve ser muito complicado, imagino. E assim você pode nos guiar pela cidade também.

        Olhei para os papéis em minha mão, me surpreendendo ao notar que elas estavam tremendo.

        - Quanto tempo de viagem?

        - Cerca de 13 a 14 horas.

        Fiquei em silêncio contemplando o vazio. Eu realmente queria voltar? Será que eu realmente queria saber o que o período de um ano e nove meses teria modificado em minha família? E se as coisas tivessem piorado? Sei que tenho dito por meses que sinto falta de casa, mas será que eu realmente queria descobrir a verdade?

        - E aí? Você quer fazer isso? - Ela perguntou em voz baixa quebrando o silêncio.

Olhei para cima encontrando seus olhos bem abertos. Ela sorriu para mim tentadoramente, como se estivesse com medo de eu rejeitar sua oferta. Rejeitar? Por Deus, essa era uma das melhores coisas que alguém já fez por mim. Totalmente altruísta... ela era um anjo. Um anjo com uma boca extremamente suja, mas um anjo em minha vida. Sempre cuidando de mim, sempre cuidando de tudo... Eu amo você Alley. Suspirei para mim mesmo.

— Sim - Eu sussurrei com minha voz estranhamente rouca - Vamos fazer isso.

Ela sorriu andando até mim, eu rapidamente me virei na cadeira puxando-a para um abraço. Ela riu suavemente, abraçando meus ombros. Descansei minha cabeça contra seu peito.

— Ótimo - ela disse de algum lugar acima de minha cabeça. - E você Louise?

Louise inclinou-se contra a mesa, sorrindo preguiçosamente. Não parecia surpresa pelo anúncio, e de alguma forma eu já suspeitava disso. Ela é boa demais em guardar segredo.

— O que vocês fariam lá sem mim? - Disse ela.

— Bem, então é isso - Reiterou Alley, soltando meu abraço. Vamos sair no domingo de manhã e voltaremos quarta ou quinta-feira. Isso deve nos dar tempo suficiente para buscarmos informações.

— Sim - Eu murmurei. O fato de ter certeza que voltaríamos antes da sexta-feira, que era meu aniversário, não passou despercebido por mim. E, na verdade, era uma ideia sábia... eu sabia que minhas emoções estariam afloradas nesse dia e não haveria como prever que tipo de coisa poderia acontecer para atrapalhar meu estado emocional frágil...

— A propósito, eu não quis ser grosseira mais cedo quando estava no telefone.

— Tudo bem.

Ela pegou seu sundae e terminou de comer.

— Precisamos arrumar as coisas amanhã. Oliver vai alimentar o Chester enquanto estivermos fora, então já está tudo acertado.

— E eu? - Louise sorriu. Eu apertei meus olhos para ela.

— Então, pode pegar meu carro amanhã e levar para trocar o óleo e fazer checagem nos pneus e estepes. Também seria bom dar uma passada em um lava-jato pra dar uma geral. Consegue pensar em mais alguma coisa Louise?

— Não no momento.

— E quanto a mim? Não faço nada? - Perguntei.

Ela suspirou.

— Consegue pensar em alguma coisa que possa fazer, Bill?

— Não - admiti.

Ela me cutucou.

— Então está tudo certo - Ela pegou o copo vazio de sorvete e se levantou  - Eu acho melhor todos nós irmos descansar mais cedo. Teremos um longo caminho pela frente.


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