The World Behind My Wall escrita por Ruuh


Capítulo 39
Capítulo Trinta&Oito - Redenção


Notas iniciais do capítulo

Estou me sentiiindo muito boazinha, já que é meu aniversário.
Então vou publicar esse cap aqui de bonus -qtal?



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Basta olhar no fundo dos meus olhos
Pra ver que já não sou como era antes
Tudo que eu preciso é de uma chance
De alguns instantes

Jota Quest - Vem andar comigo

Bill’s P.O.V

– De jeito nenhum!

– Vamos lá! Por que não?

– Eu não vou comprar esse CD!

– Pára de ser turrona! – Eu disse exasperado – Além do mais, você fez aquele outro!

– Já disse que foi a Louise que fez! Alguém pode me ver comprando isso aqui essa noite, quer acabar de vez com minha imagem?

– São quase meia-noite de 26 de dezembro! Quem é que vai te ver aqui? – Eu exigi.

Ela pegou a cópia de Tokio Hotel Schrei! de minha mão e atirou de volta na prateleira.

– Nunca se sabe, Bill. Eu tenho uma reputação a zelar.

– Você não quer ver como eu era quando era mais novo? Eu já vi tudo sobre voce quando você era mais nova, seria uma troca justa.

– Eu já vi o suficiente de você novo Bill, e sinceramente do velho também.

Fiz uma careta enquanto a seguia pelo corredor.

– Você é muito teimosa sabia disso?

– Sim – Disse ela distraidamente virando-se e sorrindo para mim. Uma mecha de seu cabelo se soltou caindo do lado de seu rosto de uma forma irritantemente linda. – Mas você me ama desse jeito.

Verdade. Pensei com um suspiro mas mantive minha carranca.

– Tanto faz.

– Agora, por que você não cala a boca e me ajuda a escolher alguma coisa boa pra gente comer? – Disse ela rindo e agarrando meu braço me arrastando com ela pelos corredores vazios.

– Já to indo, já to indo! – Murmurei.

– E lá vamos nós! – Alley exclamou quando entramos na sessão das delícias. Ficamos em silencio reverenciando a vasta seleção do lugar. Eu podia sentir meus dentes apodrecerem só de olhar aquilo. Alley esfregou as mãos alegremente e praticamente pulou para atacar as prateleiras - Twinkies? – Perguntou ela.

– Sim... e alguns desses bolos Little Debbie... – Andando mais, peguei uma caixa e joguei no carrinho.

– Doritos... Cheetos... – Ela fez uma pausa – Estranho, né? Todos eles tem o mesmo sufixo “itos”. As empresas de chips não são muito originais.

Revirei os olhos.

– Só você mesmo pra usar uma palavra como “sufixo” em vez apenas de dizer “final”. Todos eles tem o mesmo final.

Ela estreitou seus olhos castanhos para mim.

– Desculpe tentar te educar um pouco. Se você quiser continuar a viver sua vida na ignorância...

– Você parece minha mãe. – Disse secamente – Acho que se dariam bem...

– Bem, eu certamente a admiraria. – Respondeu ela com sarcasmo – Aturando você por vinte anos... acho que ela merece uma medalha de honra por isso!

Fiz uma careta de novo.

– Olha só como você é! E eu aqui pensando que nós eramos amigos... – Dei a ela a “carinha de bebê do Bill” com grandes olhos expressivos e lábios franzidos. Normalmente, funciona como um encanto em jovens adolescentes do sexo feminino... normalmente.

– Você vai superar isso – Disse ela despreocupadamente, sem perder sua oportunidade. - Ok, agora... o que acha de algumas rosquinhas?

– Doughnuts?

– Sim! Enormes, salpicadas de açucar e com alto teor de gordura!

– Tudo o que você quiser! – Eu respondi. Santo Deus, depois de comer isso tudo nós teriamos que sair rolando por aí que nem aquela garota Blueberry de A Fantástica Fábrica de Chocolates.

– Ei, você quer me fazer um favor? – Ela perguntou.

– Bem, particularmente não.

Ela ignorou minha resposta desinteressada.

– Por que você não vai pegar o detergente de lavar louças e as outras coisas enquanto eu escolho nossas bebidas e alguns donuts? Quando acabar vem me encontrar, assim vamos ser mais rápidos.

Olhei bem pra cara dela.

– Você quer mesmo que eu ande por aí com embalagens pelos corredores a vista de todos?

– Não tem praticamente ninguém aqui, você pode controlar isso.

– E ainda assim você não vai comprar o CD?

– Isso é totalmente diferente – Ela respondeu indiferente.

– Com certeza é. – Suspirei derrotado. – Tudo bem, qual você vai querer?

– Ah... sei lá... pode ser qualquer um, sinceramente isso não importa muito.

– Tudo bem, já volto – Disse me virando para sair.

Cantarolava comigo mesmo enquanto andava pelo lugar, passei pela sessão de Eletrônicos, diversos aparelhos estavam ecoando o que pareciam ser centenas de estações de rádio, soando como uma grande conversa. Sorri de repente me lembrando de meu Ipod me esperando em casa para me ajudar a praticar meu canto. Uau, ela havia mesmo economizado dinheiro sei lá por quanto tempo e vendido alguns de seus trabalhos também, só para me comprar um presente de Natal! Apesar de já ter ganho diversos presentes – da minha família, amigos, e até mesmo de fãs – não conseguia me lembrar de um que tenha me tocado da forma como este me tocou. Alley realmente era uma pessoa incrível!

Em pensar que eu nunca a teria reencontrado se não fosse o acidente...

Parei de repente percebendo que por estar perdido em meus próprios pensamentos, havia acabado andando em círculos nos últimos minutos.

– Onde diabos fica o material de limpeza? – Murmurei para mim mesmo. Pensei em voltar para perguntar para ela, mas provavelmente isso só a irritaria e a faria dizer que eu não presto atenção em nada do que ela diz, ou coisa do tipo.

Arrisquei mais alguns passos e logo encontrei, peguei uma embalagem de detergente e me virei com cuidado, observando atentamente ao meu redor. Optei por andar perto das prateleiras, caso alguém aparecesse eu estava planejando jogar o produto em qualquer canto por entre as diversas marcas dali. Felizmente encontrei com facilidade todos as outras coisas que procurava e refiz meus passos para reencontrar Alley. Pouco tempo depois já estava no corredor de guloseimas, mas ela, é claro, estava longe de ser vista.

– HEY! – Eu berrei – ALLEY ONDE VOCÊ ESTÁ? – Minha voz ecoou contra o chão de azulejos brancos e prateleiras. Ouvi passos atrás de mim e me virei rapidamente, pensando ser Alley, mas apenas captei um vislumbre de cabelos negros desaparecerem em uma esquina. Pobre garota, deve ter fugido quando viu essas embalagens ‘flutuando’.

Droga, pensei com raiva determinado a procurar por todos os corredores se for necessário. Procurar pelos cabelos ruivos pertecentes a garota que vai ouvir e muito quando for encontrada!

– Deus do céu, Bill! Para de gritar, eu estou bem aqui! – Alley apareceu empurrando o carrinho me lançando um olhar estranho.

– Onde você estava? – Eu exigi – Voltei aqui e você tinha sumido!

– Sim – Ela disse lentamente e retirando os pacotes de minha mão – Porque era pra você me encontrar perto da sessão da padaria, eu te disse que ia pegar os Donuts! Eu já estava indo atrás de você quando ouvi seus berros.

– Ah... – Eu disse timidamente – Acho que não ouvi muito bem.

– Como de costume – Ela revirou os olhos – Então, pronto pra ir?

– Sim.

Nos encaminhamos para a frente da loja em direção ao caixa. Como já era tarde, não havia fila nenhuma então fomos direto para o balcão despejar as compras. Enquanto Alley conversava com o caixa eu vagueava por trás dela, lendo os tablóides... tão ridículos como sempre. Pelo canto do olho puder ter novamente o vislumbre de cabelos escuros e me virei rapidamente para olhar, sem perceber que meu cadarço havia se enroscado em algum lugar debaixo da prateleira me fazendo cair estatelado no chão.

– Ai caralho! – Xinguei com raiva. Alley tossiu alto de costas para mim, olhando para ela puder ver claramente seus ombros tremendo, obviamente tentando encobrir sua risada. – Ah cala essa boca! Não é como se você fosse a rainha da graciosidade ou coisa parecida.

– O total é de 54 dólares e 75 centavos – O caixa a informou e ela pagou em dinheiro, voando com o carrinho para fora da loja quase no mesmo segundo. Uma vez fora do lugar ela caiu na gargalhada dobrada sobre suas pernas e dando tapas no joelho. Teria sido hilário, se eu não estivesse tão puto.

– Ai meu Deus, Bill eu juro, não posso sair com você pra qualquer lugar! Você sempre se perde ou faz alguma coisa! – Ela declarou ofegante.

– Como se isso fosse novidade.

– Que diabos você estava fazendo, afinal? – Ela perguntou emopurrando o carrinho novamente – Praticando suas habilidades fabulosas de dança?

– Na verdade eu estava tentando dar uma boa olhada na pessoa que estava te seguindo!

– Me seguindo? – Ela repetiu.

– Sim. Eu vi a mesma pessoa por lá algumas vezes. Parecia que estava nos seguindo, sei lá.

– E quem era ele?

– Na verdade, estava mais para “ela” ... quem quer que fosse tinha o cabelo comprido. Mas eu não consegui ver o rosto – Eu disse timidamente – Só vi um flash de cabelos escuros.

Ela revirou os olhos.

– Bom trabalho Sherlock Holmes! Mas você não pode presumir que seja uma garota. Porra, você tem cabelos longos e negros Bill... Cabelos longos e lindos. Cabelos que a maioria das garotas morreriam para ter, Cabelos que-

– Já entendi – A cortei. Pelamor né?

– Bem, eu só estou dizendo que-

Eu suspirei.

– Vamos apenas entrar no carro?

Colocamos os mantimentos no porta-malas e voltamos para casa. Ela ligou o rádio em uma estação de rock clássico, como sempre, colocando quase no último volume. E, claro, cantou como sempre fazia. Como sua voz estridente de sempre. Eu, é claro, não pude deixar de rir.

– Do que você está rindo? – Ela exigiu – Suponho que você ache que pode fazer melhor?

– Por uma questão de fato, sim – Eu bufei.

– Bem, então vamos ouvi-lo – Ela olhou para mim e arqueou uma sobrancelha, ainda com aquele sorriso enfeitando seu rosto.

– Ouvir o que?

– Eu quero ouvir você cantar!

– Você já me ouviu cantar antes.

– Mas você estava só cantarolando algumas coisas. Quero ouvir de verdade agora.

– Bem eu, uh... ainda estou despreparado você sabe, não treinei nem nada – Gaguejei. Agora, pensando sobre isso, acho que era verdade. Eu sempre supus que ela nunca quis me ouvir cantar de verdade. Afinal, eu era Bill Kaulitz, vocalista da banda que ela odiava. – Além do mais, você já ouviu minhas músicas antes, e odiou.

– Bem, sim – Ela disse e eu tive que rir de sua honestidade flagrante. – Mas isso não importa, você não precisa se aquecer, me mostre o que você tem pra mostrar. E tanto quanto eu odeio admitir eu gostei de algumas apresentações suas que assistimos juntos.

– HA! Eu sabia disso!

Ela me ignorou.

– E você sabe que ouvir algo ao vivo é completamente diferente. Então, vamos ouvi-lo agora.

– Bem, como você disse... minhas apresentações eram ao vivo... então... – Eu não estava certo do por que estava tão relutante em cantar para ela. Eu já havia cantado para milhares de pessoas antes, ela seria apenas mais uma... embora eu claramente sabia que isso não era verdade.

– Droga, Bill!

– Tá bom, tá bom! – Afaguei meu ombro de modo confortador – O que você quer que eu cante?

– Eu não sei, você decide. – Ela encolheu os ombros – Tenho alguns CD’s lá atrás, se você quiser escolher algum deles pra poder cantar junto... sei lá.

– Sim – Agarrei o porta CD’s folheando com cuidado. Peguei um que não tinha título. – Esse aqui é qual?

– Hum... – Ela torceu o nariz tentando se lembrar – Powderfinger, Fiona Apple, The Band, Snow Patrol, Rage Against The Machine...

– Bem, a variedade é o tempero da vida – Eu resmunguei – Você disse Snow Patrol?

– Sim, tem algumas música do Final Straw.

Run?

– Provavelmente.

– Acho que já escolhi – Disse sorrindo.

Empurrei o CD no leitor e poucos momentos depois, a introdução familiar de Run já estava se derramando em meus ouvidos. Essa música era perfeita em muitos sentidos, ela dizia muita coisa que eu queria mesmo dizer. Alley se inclinou e abaixou um pouco o volume.

– Quero ser capaz de ouvir você sobre a música.

Eu balancei a cabeça em silêncio, fechando os olhos.

I’ll sing one last time for you. Then we really have to go. You’ve been the only thing that’s right in all I’ve done. And I can’t barely look at you but every single time I do, I know I can make it anywhere away from here. Light up! Light up! As if you have a choice. Even if you cannot hear my voice. I’ll be right beside you dear…

Os próximos cinco minutos desapareceram. Eu entoava as notas mais e mais, sem realmente me importar se minha voz estava despreparada ou não. Concentrado em colocar tudo de mim nessa canção. Exibicionista? Talvez. Mas eu sempre adorei essa música, e sendo clichê ou não, eu pensava em meus sentimentos não correspondidos, em minha família na Alemanha que estavam passando mais um Natal sem mim. “Mesmo que você não possa ouvir minha voz, eu estarei ao seu lado” O Futuro era mais incerto que o presente, eu não sabia por quanto tempo mais eu ficaria aqui com ela e longe deles. Essa frase tem todos os seus efeitos e significados. Eu mantive meus olhos fechados, minha cabeça ligeiramente inclinada para trás e apertava minhas mãos firmemente em meu colo. Derramando tudo o que eu tinha preso dentro de mim, para ela.

A música terminou, e para minha surpresa, eu me sentia mais relaxado do que me sentia há tempos. Suspirei profundamente tentando abrir os olhos. Olhei ao redor, ela estava olhando para mim com a boca escancarada.

– Presta atenção na rua! – Eu disse sorrindo para ela – Você não quer ver seu lindo Jetta capotando né?

Ela balançou a cabeça rapidamente puxando o volante para a esquerda, obrigando o carro a voltar para a pista cantando pneus. Segurei na lateral e no painel com meus dedos ficando roxos.

– Droga mulher, foi tão ruim assim?

Ela me olhou de volta com aquele ar de “Deus, como você é idiota Bill”.

– Acho que você sabe que não foi ruim.

– Eu não sei – Disse encolhendo os ombros – Soa diferente para mim, eu não escuto no mesmo tom que você. O que você achou, de verdade?

Ela sorriu suavemente.

– Eu queria muito poder tirar sarro da sua cara, falar mal da sua voz. Mas não posso fazer isso. Foi incrível Bill, na verdade foi maravilhoso.

– Sério? – Eu perguntei incrédulo me ajeitando em meu banco – Você está falando sério?

– Parece que eu estou brincando? – Ela guiou o carro para dentro da garagem e desligou o motor.

– Bem – Eu disse hesitante – eu não sei...

– Eu sei que eu tiro sarro de você o tempo todo, mas eu estou falando realmente sério. – Ela estava tão calma, tão... sincera. Senti um calor em minhas bochechas e um sentimento de total realização. Ela soltou o cinto de segurança e saiu do carro. – Vem, vamos entrar e comer.

Saí, agarrando algumas sacolas e a seguindo até o interior. A casa estava estranhamente calma, não havia som de água, ou da TV, ou até mesmo algum ruído de movimentação ao redor. Achei que Louise ainda estivesse em seu quarto, provavelmente escrevendo uma carta sobre nós para o manicômio. Larguei as compras em cima do balcão e agarramos as guloseimas partindo para a sala.

– O que você quer assistir? – Ela perguntou indo até a televisão.

– Ah, eu não sei. Escolhe você.

Após debater sobre quem iria escolher os filmes nos próximos cinco minutos, acabamos decidindo por Robin Hood: Men in Tights. Sentei-me, ela inclinou-se contra mim e espalhou nosso pequeno buffet ao redor. Passamos o resto da noite, comendo, rindo e curtindo a companhia um do outro.

***

Duas horas depois, Alley bocejou alto quando os créditos rolaram, lentamente esfregando o rosto contra meu ombro, como se fosse um gato. O que é bem apropriado, devido ao seu apelido. Eu ri baixinho.

– Cansada?

– Sim... e cheia! Eu me sinto como um carrapato enorme e inchado – Ela gemeu cobrindo a barriga.

Após me recuperar dessa imagem mental chocante e nojeta eu suspirei.

– Eu também. – Afaguei sua cabeça calmamente, desembaraçando alguns cachos – Você deveria ir para a cama, antes que acabe adormecendo aqui... e antes que eu tenha que te carregar para o quarto – Pensando bem, isso não me soa como uma má idéia... huumm...

– É.... acho que você está certo. – Ela levantou-se esticando os braços acima da cabeça – Você vem?

– Eu já vou.... só quero ficar e – Hesitei um pouco – pensar.

– Eu entendo... – Ela sentou-se por um segundo me olhando e com um sorriso incrível no rosto – Sabe, eu quis mesmo dizer aquilo, naquela hora... sobre seu canto.

– Obrigado – Eu murmurei. Odiando que minhas bochechas ganhassem rubor novamente. – Mas nem foi nada demais, minha voz ainda está áspera eu preciso de muito treino.

– Você sabe que eu amo música – Ela continuou – Sabe que não é necessariamente sobre ritmo e harmonia. É sobre paixão, é como você coloca tudo o que tem naquilo – Ela fez uma pausa – E nesses termos foi incrível... Realmente, incacreditável. Você não escreveu aquela música, mas era nítido os seus sentimentos nela.

– Uh... – Eu gaguejei. Por que era mais fácil lidar com ela quando estava sendo sárcastica? Eu não tinha muita certeza de como responder a essa Alley atenciosa. – Bem, cantar sempre faz com que eu me sinta melhor.

– Sim... – Ela de repente se inclinou me abraçando. Suspirei recostando minha cabeça em seu ombro. – Sabe, se você quiser conversar... eu vou te ouvir. Eu sei que estou um pouco mal-humorada. Mas posso ser uma boa confidente. Além disso você já me ouviu, sei lá, uma centena de vezes.

Eu me inclinei para trás, sorrindo preguiçosamente enquanto ela se afastava.

– É verdade.

– Espertinho... eu já vou para a cama.

– Boa Noite – Eu a vi se levantar – Obrigado Alley Kat.

– De nada – Ela se inclinou, beijou minhas bochechas e acariciou suavemente meus cabelos antes de sair pelo corredor em direção as escadas.

Desliguei a TV e fiquei sentado sozinho na penumbra com os olhos fechados. A casa estava silenciosa, a não ser pelo zunido suave do ventilador de teto. Era bom para limpar meus pensamentos e relaxar, e na verdade, eu estava tão relaxado que podia sentir que estava deslizando para os primeiros estágios do sono... teria continuado nessa situação meio sonâmbula, se uma voz não tivesse me assustado.

– É verdade não é?

– Huh? – Eu resmunguei, abrindo meus olhos cansados e olhando ao redor. Para meu completo espanto, Louise estava sentada no sofá de frente para mim, me olhando com aqueles olhos escuros. Eu estava confuso... Quando foi que ela entrou aqui? Olhei para o relógio e fiquei surpreso por perceber que estava lá embaixo há quase uma hora... Hum, talvez eu tivesse mesmo adormecido.

– O que? - Eu disse dessa vez mais claramente.

– É verdade – Dessa vez foi uma conclusão. Ela sentou-se calmamente, apoiando o rosto nas mãos, um olhar pensativo no rosto. – Eu não sei o que dizer.

– Sim – Eu disse imediatamente percebendo o que ela queria dizer – É verdade – Me sentei coçando a cabeça – Mas por que você está me dizendo isso agora... quatro da manhã?

– Eu não conseguia dormir...

Ela estava me confundindo mais do que esclarecendo alguma coisa.

– Então... – Eu disse lentamente – Você ficou aqui sentada, acordada pensando e de repente decidiu que estávamos falando a verdade?

– Não... depois que saí do restaurante, vim pra cá... eu estava um pouco irritada.

Isso é um eufemismo, obviamente!

– Porque eu pensei que voces estavam fazendo algum tipo de brincadeira estúpida. Mas então... eu fiquei preocupada... vocês pareciam tão sérios que eu comecei a pensar que... – Ela se perdeu em pensamentos – Quero dizer, é tão absurdo e inacreditável! Mas vocês dois estavam agindo como se isso não fosse nada demais. Então eu achei que talvez vocês estavam, sabe...

– Enlouquecendo? – Eu terminei sua frase.

– Bem, sim... – Admitiu ela com timidez.

– Por que mudou de ideia?

– Eu comecei a me lembrar de cada coisa estranha que aconteceu aqui nos últimos seis meses... Pequenas coisas, como perceber que a almofada do sofá tinha mudado de posição quando eu virava as costas, alguns ruídos estranhos aqui e ali... E isso realmente me fez pensar, bem será que pode ser possível? Algo tão absurdo e inviável. Quero dizer, porque os meus pais – Ela parou de repente e eu enruguei minha testa em confusão – Bem, para resumir a história, eu segui vocês.

– Eu sabia! – Concluí triunfante – Era você na loja!

– Sim, você quase me pegou da última vez – Ela sorriu – Mas foi aí que eu decidi que era mesmo verdade.

– Por quê?

– Porque... – Ela lutou com as palavras – Era como se você não estivesse mesmo lá! – Ela disse e eu balancei lentamente a cabeça – Ninguém, exceto Alley, reparou que você estava gritando, correndo e porra, você caiu bem na frente do caixa! Ninguém disse uma palavra... nem olhou em volta. – Ela esfregou as mãos, abaixando a cabeça – Isso é muito mais que uma coincidência, especialmente depois de estar no restaurante... Toda essa situação não faz o menor sentido, mas sabe, a sua explicação faz. Quero dizer, eu sempre acreditei em coisas sobrenaturais, mas... – Sua voz sumiu.

– É... – Eu disse – Sei como é isso. Imagine nossa supresa quando você entrou e pediu para ser apresentada?

– Acho que posso imaginar – Ela disse suavemente olhando para o relógio logo em seguida e suspirou – Bem, eu só queria te pedir desculpas... Podemos continuar essa conversa amanhã junto com Alley.

– Bem, obrigado – Eu disse – Eu sinto muito por toda essa situação, sei que é muito estranha.

– Você não deve pedir desculpas, não se pode controlar o destino.

Destino?

– É, eu acho que não – Sorri levantando-me – Acho que já vou me deitar.

– Digo o mesmo.

Caminhamos juntos até o andar de cima calmamente. Quando chegamos ao topo das escadas, me virei para o quarto de Alley enquanto ela se dirigia para o seu quarto.

– Sabe, você pode dormir no quarto de hóspedes agora. Eu sei que Alley parece um epilético dormindo... e ela fala muito durante o sono.

– E-eu... – Gaguejei – Não me incomodo – Eu sabia que estava corando furiosamente – I-isso não me importa...

– De alguma forma, eu acredito que não – Louise sorriu – Boa noite, Bill – Ela começou a caminhar para seu quarto me deixando em pé à porta de Alley com um sorriso bobo e um rosto vermelho. Eu parei antes de entrar, com a lembrança de algo inacabado que ela havia dito anteriormente que aguçou minha curiosidade.

– Louise? – Chamei em voz baixa.

– Sim? – Ela se virou e olhou para mim interrogativamente.

– Você disse algo sobre seus pais e não terminou... o que você ia dizer?

Ela mordeu o lábio por uns instantes, debatendo-se se me diria ou não o que estava pensando. Finalmente, ela olhou em meus olhos, balançando a cabeça.

– Eu acredito no sobrenatural, em coisas estranhas por causa dos meus pais... Porque minha mãe quando era adolescente se apaixonou por um belo homem de cabelos escuros que ela via constantemente em seus sonhos. Meu pai, por outro lado, dizia-se apaixonado por aquela mulher com ar oriental, que o visitava todas as noites enquanto dormia... – Eu balancei a cabea lentamente, percebendo aonde ela queria chegar – Em suma, eles alegaram que sonharam um com o outro, mas o encontro na vida real só aconteceu cinco anos após esses sonhos... Quando eles tinham 22 anos meu pai a reconheceu nas aulas de pós-graduação.

– Certo... – Eu disse lentamente – Então você acha que algo maior, a fora do destino, os fizeram sonhar um com o outro até se encontrarem na vida real?

Ela assentiu suavemente e sorriu.

– Sim, mamãe está convencida de que era um dom de Deus, porque de que outra forma isso teria se cumprido? Eles nunca teriam se dado uma segunda olhada se já não se “conhecessem” de seus sonhos. Eles eram tão diferentes um do outro.... diferentes culturas, diferentes gostos, estilo de vida diferentes, de lados opostos do país... maçãs e laranjas, sabe... – Sua voz sumiu de novo. Eu pisquei, percebendo que meus olhos estavam queimando, isso me soava muito familiar... – Nunca esqueci essa história – Ela ponderou – Eu costumava achar isso tão bobo, mas fui crescendo e comecei a achar isso tão lindo, e acreditava no fundo da minha mente que era verdade... – Ela encolheu os ombros – Sabe, agora tenho certeza de que realmente é. Agora sei que eles não foram os únicos no mundo a receber ajuda de uma mão divina.

– Sim... – Eu disse suavemente.

– Então, esse é mais um motivo pelo qual eu finalmente acredito – Ela se virou indo para seu quarto – Boa noite, Bill.

– A Alley sabe disso? – Perguntei de repente. Eu nunca havia ouvido essa história dela em todo esse tempo que estou aqui.

Louise sorriu.

– Não, eu nunca disse isso a ela.

– Por quê?

– Bem... – Ela disse encolhendo um pouco os ombros. – Eu achei que ela ia pensar que eu era louca...

Senti um sorriso se formando em meus lábios.

– Entendo... – Concordei com ela – Boa noite.

– Noite.

Caminhei lentamente para o quarto de Alley. Tive que fazer uma pausa antes de ir em direção a cama até que meus olhos se ajustassem a escuridão até que eu pudesse ver seu corpo enrolado entre as cobertas. Enquanto a observava as palavras de Louise ainda ecoavam em minha mente.

Destino? Ajuda de Deus? Alley bufou alto gemendo em seu sono se mexendo ferozmente na cama. Eu não pude deixar de sorrir. Sim... talvez sim.


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Notas finais do capítulo

Eu adoro essa musica do Snow Patrol, acho que vale a pena pra quem não conhece, dar uma conferida hein?
Vamos lá, é indicação da autora e juro que não vão se arrepender!
( http://www.youtube.com/watch?v=jS8IZcx7tJY )
Eai, o que acharam do capitulo? Acharam bonitinha a historia dos pais da Louise? Eu achei bem fofinha *-*
Mas, como opinião particular eu acredito mesmo no destino...
Bem, espero encontrar voces nos meus reviews... Se ainda tiver alguem ai né G_G
Inté!