The World Behind My Wall escrita por Ruuh


Capítulo 30
Capítulo Vinte&Nove - Vestido para matar


Notas iniciais do capítulo

Oii milhas lindas, acho que nem demorei muito né?Vamos lá, eu quero agradecer do fundo do meu coração de papel a Alexandra_th e a minha linda May_Mello pela indicação. Vocês não sabem como eu fiquei feliz aqui, sério eu não tenho nem palavras pra descrever o que senti, por isso esse capítulo é dedicado a vocês e me arrisco em dizer que a May deve gostar porque sinto que ela adora ver o circo pegar fogo! Hahahaha!Muito obrigada a todas que estão acompanhando, novas por aqui ou não, saibam que são muito importantes pra mim!



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Os dias ruins todo mundo tem
Já jurei pra mim não desanimar
e não ter mais pressa, pois sei que o mundo vai girar
Eu espero a minha vez.

NX Zero – Espero a minha vez

Alley’s P.O.V

– Então, como foi o seu dia?

Eu enrolava a parte de cima de minha saia, nervosa, enquanto esperava Jay responder. Isso era definitivamente estranho. Eu não sabia o que dizer a ele fora da biblioteca ou da sala de aula. Eu não acho que falar sobre a dinâmica populacional ou mutações genéticas seriam um assunto interessante de se discutir aqui. Ele não tinha dito muita coisa desde que entrou no carro, e isso me preocupou. Além disso, meus sapatos estavam me incomodando, meu corpete estava apertado e eu estava suando como um copo de água gelada. O encontro já começou bem.

– Ah, foi bom, e o seu? – Ele não fazia o tipo de ter respostas muito articuladas. Tirei alguns cachos de minha testa e respirei fundo antes de responder.

– Bom... foi bom. – Eu parei, não tendo muita certeza de como prosseguir. Essa coisa toda de “conversa fiada” ia além da minha compreensão.

– Bem, isso é bom.

Eu tive a súbita vontade de rir. Quantas vezes mais poderíamos repetir a palavra “bom” nos próximos trinta segundos? Fingi uma tosse para encobrir o riso. Eu vi Jay pelo canto do olho. Não estava muito impressionada com sua “fantasia”. Ele alegou estar vestido como alguém da máfia, mas eu suspeitava que era só uma desculpa para usar aquele terno caro italiano. Bem, ele estava muito bonito de qualquer maneira.

– Ah, aqui estamos. – Ele falou quando se aproximou de uma casa com um grande jardim. Os carros estavam estacionados a esmo pelo gramado. A casa estava toda iluminada. E mesmo com as portas e as janelas fechadas eu era capaz de ouvir a música vindo lá de dentro. Dor de cabeça aí vou eu – Eu gemia mentalmente. O que eu estava fazendo? Isso não faz o meu estilo.

– Pronta? – Ele perguntou, enquanto saíamos de seu carro. Deus, me dê forças. Pensei enquanto me esforçava para andar no chão macio. Segui-o até a varanda e relutantemente até a casa.

A primeira coisa que vi foram corpos. Massas de corpos suados. Um após o outro, vestidos com algum tipo de fantasia, todos amontoados juntos em um cômodo da casa enorme, copos de plástico cheios de cerveja em suas mãos. Gritando, rindo, fumando, e bebendo. Todos os olhos se voltaram curiosamente para Jay e eu quando entramos na cozinha.

– Hey Jay! Fala aí cara! – Um cara alto de peito largo e cabelos loiros gritou vindo em nossa direção. Ele se virou para outro cara perto do balcão onde pegou duas bebidas. – Toma aqui cara, vamos abastecer.

– Valeu Bryan! –Jay disse pegando o copo e engolindo uma grande quantidade do liquido de uma só vez. Bryan estendeu um para mim, mas eu levantei a mão hesitante.

– Não, obrigada. – Eu disse sentindo um leve blush percorrer minhas bochechas. Bryan me deu um olhar esquisito.

– Ah, pára. Vamos lá, você não vai morrer por causa disso. Só experimenta.

– Não, não. Eu realmente não quero. – E nada do que ele fosse me oferecer também.

O olhar de descrença em seu rosto era quase cômico. O quê? Uma garota universitária está recusando uma bebida? Parem as máquinas! Ele fez contato visual com Jay e pude ver uma comunicação silenciosa lá. Fiquei um pouco irritada. Qual era o problema? Eu não era fã de cerveja, e daí? Ele pôs o copo de volta em cima do balcão.

– Bem, se depois mudar de idéia... – Ele caminhou em direção a sala parando na porta e se virando novamente. – Jay, antes de ir me procura pra gente bater um papinho ok?

– Beleza cara. – Ele respondeu e virou-se para mim, apontando com a mão esquerda livre para o copo que jazia a nossa frente. – Tem certeza que você não quer?

– Tenho certeza. – Respondi exasperada.

– Tudo bem, tudo bem. – Ele murmurou. Eu cruzei meus braços perto do peito, de repente me sentindo muito nua e exposta, desejando simplesmente encolher e sumir. Alguém esbarrou em mim, derramando cerveja na borda da minha saia. Eu resmunguei irritada.

– FOI MAL! – Uma garota meio aérea, fantasiada de prostituta gritou na minha cara. Bem, eu esperava que fosse uma fantasia. Pensei em lhe dizer que apesar de a música estar alta ela não tinha a necessidade de gritar estando só a três centímetros de distancia do meu nariz, mas pensei melhor. Eu não queria fazer nenhum inimigo nesse lugar, de prostituta bêbada eu me contentava com minha vizinha Jessica.

Bill estava certo – minha voz interior deu as caras novamente. – Talvez você devesse ter dado ouvidos a ele.

Tanto quanto eu odiava admitir, dessa vez minha voz interior estava certa. Como isso era irritante. E quanto ao Bill, ele devia estar em casa agora provavelmente tendo uma hérnia, a julgar pelo seu comportamento pouco antes de eu sair de casa. Qual era o problema dele? Eu estava começando a me perguntar se ele estava sofrendo de esquizofrenia ou coisa do tipo, porque né. Olhei para o caos a minha volta e suspirei, ou quem sabe telepatia.

– Eu vou dar uma volta. – Jay declarou.

– Uhn... tá...

Ele saiu, deixando-me sozinha na cozinha. Bem, tecnicamente, não sozinha. Se você for contar a prostituta, o fantasma, o Frankenstein, o M&M’s e um casal vestido como Sid e Nancy. Fiquei um pouco chateada. Não era pra ele pelo menos me apresentar para as pessoas ou algo assim?

Saí da cozinha com meus olhos contemplando o caos a minha volta. Pensei em segui-lo, mas ponderei, se ele quer dar uma “volta” então que vá. Entrei em outro cômodo que parecia ser a sala de estar da casa. A TV estava gritando e as pessoas estavam esparramadas preguiçosamente contra os moveis e as paredes conversando. Fui até eles disfarçadamente, escutando. Após vários minutos a conversa se dirigiu para música. Sim! Pensei. Isso é algo que eu posso discutir. Eles não me notaram enquanto eu andava em volta do sofá, eu fiquei ali por vários minutos, esperando minha deixa.

– Não, não, não... Keith Moon era um baterista muito melhor do que John Bonham. – Um rapaz alto de cabelos escuros disse. Ele estava fantasiado de vampiro, com uma longa capa preta e presas. Sufoquei uma risada lembrando dos dentes tortinhos de Bill. A namorada do vampiro riu, entrelaçando suas mãos em torno do pescoço dele. Eu revirei os olhos, obviamente ela não estava acompanhando a conversa.

– Eu tenho que discordar. – Eu falei de repente entrando no assunto do grupo. – Keith pode ter sido mais divertido, com suas travessuras loucas e tudo o mais, mas Bonham era muito mais sólido. – Sorri, sentindo-me bastante satisfeita sabendo que eu poderia melhor do que ninguém sustentar um debate sobre rock.

– Quem é você? – O vampiro perguntou rudemente e eu fiquei sem palavras por um segundo.

– Eu... ahn... me chamo Alley... estou acompanhada com o Jay.

Seus olhos se dilataram um pouco e eu percebi vários olhares significativos serem trocados. Alisei freneticamente minha saia de repente me sentindo extremamente desconfortável.

– Hum... – ele disse friamente. – Prazer em conhecê-la. – Se ele tivesse sido mais transparente eu teria sido capaz de ver a parede de concreto atrás dele.

– Igualmente. – Eu murmurei. A namorada dele riu novamente e eu reprimi a vontade de lhe dar um tapa. – Bem, até mais então.

– Aham. – Ele disse enquanto eu saia. – Então, com eu estava dizendo...

Voltei para a cozinha, sentando-me num banco ao lado da bancada sentindo-me desanimada. Deus, até para os mortos eu era uma perdedora. Eu preferia estar em casa agora comendo pizza e bebendo Ale8, estar com Bill mesmo ele estando meio louco do jeito que estava. Pelo menos ele queria conversar comigo... Embora agora eu me perguntava se ele ainda iria querer olhar na minha cara depois do que eu fiz. Quem sabe? Talvez eu fosse para casa e seria ignorada lá também. E eu merecia. Tudo isso para provar um ponto de vista imbecil.

Apoiei meu cotovelo no balcão com o mau humor estampado na minha cara. Ninguém sequer percebeu que eu estava ali, continuaram a curtir a festa. Agora eu sabia como Bill se sentia o tempo todo. Como era ser invisível enquanto os outros continuam suas vidas sem você e não lhe dã0 nenhum segundo de pensamento.

Eu realmente sou um idiota, não sou? Pensei. Estremeci quando me lembrei a forma que eu havia gritado com ele apenas algumas semanas atrás e das coisas horriveis que disse. É claro que ele estava certo. Ele sabia que eu não me divertiria aqui. Eu sabia que não me divertiria aqui. Ele sabia que eu sabia que eu não me divertiria aqui. Então, Srtª Anabelle Alley Vittoreli, por que está aqui? Essa é uma pergunta muito complicada de se responder.

Saltei do banco, preenchida com o súbito impulso de sair. Quero dizer, não era como se alguém fosse tentar me convencer a ficar. Jay certamentenão iria notar minha ausência. Eu poderia ir para casa, sair desta fantasia ridiculamente apertada e finalmente por minhas roupas largas, e depois tentar salvar o que restou da minha relação com Bill. Ele tinha sido nada menos que grande amigo para mim, e eu agredeci sendo uma idiota ... Deus, eu espero que ele possa me perdoar.

Meu humor melhorou com a idéia de ir pra casa, e foi a coisa mais feliz que senti a noite toda. Iria apenas dizer a Jay que não estava me sentindo bem e que queria ir para casa, sem problemas. Olhei para o relógio que indicava que eu já estava sentada ali há uma hora, que era tempo mais do que suficiente para alegar que eu fiz uma aparição na festa. Eu me levantei no banco, esbarrando em outra garota. Ela me encarou e virou a cara saindo da cozinha. Vadia estúpida.

Eu lentamente passei de cômodo em cômodo com meus olhos esquadrinhando a multidão a procura de Jay. Ele estava longe de ser visto. Depois de me certificar que eu já havia olhado por todos os cantos do lugar resignei-me a subir as escadas e olhar no andar de cima. O pior que poderia acontecer era eu encontrar ele na cama com outra garota, certo? Esse pensamento curiosamente me animou um pouco. Seria uma ótima desculpa para eu cair fora dali. Era óbvio que ele não estava interessado em mim, então tanto faz...

Quando alcancei o topo das escadas, deslizei pelo corredor segurando minha saia firmemente junto ao meu corpo, só por precaução. Eu podia ouvir vozes que soavam abafadas e distantes vindo através da parede. Parei por um minuto e fechei os olhos, ouvindo atentamente. As vozes vinham de um quarto no fim do corredor a esquerda e eu segui o som. A porta estava entreaberta de modo que quanto mais me aproximava , mais claramente eu podia ouvir o que estavam conversando.

– Passa outra pra cá – A voz profunda de Jay soou pelo lugar. Até que enfim o encontrei!

– Demorou pra pedir hein! – Reconheci a voz de Bryan.

– Valeu cara. – Eu estava prestes a abrir a porta, mas parei de súbito. Hmm... ele provavelmente ficaria irritado se soubesse que eu estou espiando por detrás da porta, mas eu estava curiosa... Eu nunca tinha visto como ele agia perto de seus amigos. Eu me perguntava se era diferente. Baixei a mão e fiquei perfeitamente imóvel, escutando do lado de fora enquanto ele e Bryan discutiam sobre filmes, música, e, é claro, cerveja (Bryan gostava da Rolling Rock e Jay preferia Âmbar Bock). Revirei os olhos. É sobre isso que os caras falam? Eu suspirei, me preparando para bater, quando a voz de Byan me interrompeu novamente.

– Então Jay, o que tá rolando entre você e aquela garota?

– Que garota? – A ironia dançou em sua voz.

– Porra cara, você sabe de quem eu to falando. É daquela magrinha. Você tá pegando ela?

– Claro que não! – Jay riu ruidosamente. Eu me encolhi. Será que eu era mesmo um motivo de risada se alguém achar que um cara bonito está saindo comigo?

– Então por que trouxe ela contigo? Você viu a cara dela quando ofereci a cerveja? Eu hein... ela é uma dessas pirralhas nerds que estudam o tempo todo? Provavelmente ela não sai de uma biblioteca há anos. – Ele bufou depois dessa declaração e eu senti meu rosto esquentar de raiva. – Ela não faz exatamente o seu tipo.

– Não, não faz. E sim, ela é uma nerd desesperada. – Jay disse num tom presunçoso. – Eu te contei do A que tirei em Biologia? E no teste anterior também.

– O que? De jeito nenhum! Você é um energúmeno. Não sabe soletrar nem o seu nome direito! – Ambos caíram na risada depois disso.

– Ela me ajudou a “estudar” né, sabe como é...

– Até parece, conta outra cara. Como você fez isso?

– Aquele idiota do Tanenbaum não enxerga nem um palmo diante daquele nariz imenso e não presta muita atenção enquanto está aplicando os testes.

– Então... você está dizendo...

– Todo mundo recebe o mesmo teste... Eu me sentei ao lado dela, deixei meus olhos vaguearem um pouco... – Ele parou por um segundo antes de terminar. – E pronto! Média 93 na primeira etapa!

Esse filho da mãe me enganou? Me usou esse tempo todo só pra poder colar de mim? Eu respirei fundo tentando dissipar a raiva que havia crescido dentro de mim.

– Ele não percebeu que tinham as mesmas respostas? – Bryan perguntou de modo fascinado pela história, ao seu ponto de vista foi incapaz de ver a falta de ética que estava envolvida ali.

– Eu mudei algumas respostas. Imaginei que aquela otária era inteligente o suficiente para acertar todas, então me dei ao luxo de errar algumas.

– Fala sério! – Ambos caíram na gargalhada. – Qual é o nome dela cara? Eu preciso me inscrever nesse negocio de estudo de biologia.

Raiva era uma palavra que não podia me descrever naquele momento. Talvez ódio e fúria chegassem perto de descrever, mas ainda não o suficiente. Ele me usou! Eu não significava porra nenhuma pra ele! Eu era apenas um peão usado nesse jogo imoral e covarde! Meu Deus, quantas vezes o Bill poderia estar certo em um único dia? Ele me usou porra!

Aparentemente Jay não estava satisfeito e ouvi horroriza ele prosseguir com seu relato, o incentivo de Bryan parece tê-lo encorajado a continuar.

– Eu sabia que ia dar um pouco de trabalho. Mas ela é louca por mim há sei lá quanto tempo. Ela está morrendo só por uma chance comigo.

– Você vai deixar ela ter?

Pra começo de conversa, eu não estava morrendo por uma chance com ele e segundo ele estava me dando somente uma carona nessa bosta.

– Sim, eu acho que vou ter que fazer isso mais cedo ou mais tarde. Tenho que dar um pouco para conseguir mais, entende? – Ele arrotou alto. – Além disso, são só mais dois meses. Acho que vamos sair mais algumas vezes até eu tentar alguma coisa séria... ela parece do tipo difícil. Mas eu consigo, é só até as provas finais depois dou meu jeito de despistá-la. – Ele fez uma pausa. – Mas, se ela for boa... sabe como é, eu posso vê-la outras vezes como um prêmio de consolação.

– Cara, você tem tudo planejado. – Disse Bryan com sua admiração. – Mas e se ela se cansar de você antes? Ou encontrar outro cara?

– Ela não vai se cansar de mim – Ele respondeu confiante. – Eu já disse que ela me persegue há tempos. E, outro cara? - Ele riu alto e eu me encolhi. – Onde é que ela vai encontrar alguém? Na biblioteca? Só se for aqueles nerds asmáticos que nem ela, e tenho certeza de que ela não me trocaria por um daqueles. – Ele bufou. – Tá tudo certo cara.

Raiva e tristeza total e absoluta. Senti as lágrimas quentes começarem a escapar de meus olhos e as sequei rapidamente para impedir que manchassem minha maquiagem pesada. Então era isso que as pessoas pensavam de mim? Não era de se estranhar que todos me olharam daquela forma quando cheguei, eles já sabiam que eu era a grande piada daqui. Eu nem ligava que Jay não gostasse de mim. Quero dizer, eu já sabia que nós não éramos compatíveis... mas o que doía era o fato de ele nem ao menos me ver como um ser humano, só um objeto inútil usado e jogado fora. Eu sou uma idiota.

– É cara, eu vou descer. – Jay anunciou e eu entrei em pânico. Eu tinha que sair de lá. Ajeitei meu sapato e corri pelo corredor para descer as escadas. Eu precisava encontrar um telefone para chamar um táxi ou ligar para Louise. Eu precisava sair daquele lugar para tentar recuperar o que sobrou da minha dignidade.

– ONDE ESTÁ O TELEFONE? – Eu gritei sobre a música. Uns poucos que estavam no sofá deram de ombros e continuaram a fazer o que estavam fazendo. Senti vontade de berrar. Por que todo mundo aqui tinha que ser tão idiota? Eu saí da sala olhando para todos os cantos a procura do telefone ou uma porta para que eu pudesse sair daquele inferno. Que se dane, se eu tivesse que ir a pé pra casa eu iria, vestida de cigana e tudo!

Eu consegui fazer um círculo completo na casa até perceber que havia voltado para o mesmo lugar de onde saíra. Com raiva, me virei para outra direção, mas trombei com alguém.

– Hey, onde você vai? – Eu olhei para o rosto sorridente de Jay, percebendo pela primeira vez que seu sorriso não se encontrava com seus olhos. Eles estavam sempre frios e distantes... essa deveria ter sido minha primeira pista. Comparados aos de Bill, os olhos de Jay era como duas enormes sepulturas frias, opacas e mortas.

– Eu... uhn.. eu... – Gaguejei querendo ter coragem de dizer exatamente o que eu sentia. – Acho que não estou me sentindo bem, talvez você devesse me levar para casa.

– Ah, não... vamos lá a festa está só começando.

– Não, não, eu realmente não me sinto bem. Eu vou chamar um táxi, você não precisa me levar.

– Ah... – Ele disse passando a mão por seu terno. – eu te levo sim, sem problemas.

Ah clar0, tão gentil e solidário. Pensei sarcasticamente. Ele pegou as chaves e outro copo de cerveja e eu o segui de cabeça baixa com meu orgulho se arrastando pelo chão atrás de mim.

Voltamos para casa em silêncio e pela primeira vez fiquei feliz por ele não ser bom em conversas. Eu olhava pela janela divagando sobre tudo o que ouvi. Ele era um idiota desgraçado! Se eu pelo menos tivesse coragem de falar!

Finalmente minha casa entrou em nosso campo de visão, eu juntei minhas coisas pronta para saltar do carro assim que ele parasse. Ele estacionou e sorriu para mim.

– Chegamos... hey, gata... Por que a pressa? – Eu percebi como suas palavras saíram entorpecidas e arrastadas. No que eu estava pensando em deixar um bêbado me trazer até em casa? Quantas cervejas ele tinha bebido? Ele colocou a mão suavemente em minha perna e a apertou, avançando para minha coxa enquanto eu assistia com horror. Oh não... você não...

– Obrigada, tchau! – Eu disse começando a abrir a porta do carro. Ele agarrou meu braço e me fez parar me puxando em sua direção e beijando meus lábios. Ele cheirava a cerveja e cigarro e eu me engasgava com o cheiro. Eu lutava para me afastar, mas ele era muito mais forte que eu.

– MRGGHMMRHGHG!!!!! – Eu gritei imprensada em seus lábios. Levantei minhas mãos e agarrei em seu cabelo puxando para trás com toda força que eu tinha. Ele gritou e me largou.

– Que porra é essa que você tá fazendo? Será que você sempre tem que agir como uma vadiazinha insuportável? – Ele rugiu. Foi a gota d’água que faltava para transbordar minha paciência. Isso demorava a acontecer, quando acontecia sai de baixo.

– EU?!?! – Meu sangue estava fervendo. – Que porra que você está fazendo? Seu pervertido! Me deixe em paz, não me toque! E sabe do que mais? Nunca mais olha na minha cara, nunca mais entendeu? – Eu estava quase satisfeita. – Otário! – Acrescentei.

Ele agarrou meu braço com força. Olá hematomas como vão? Talvez eu devesse ter esperado até estar fora do alcance dele pra xingá-lo assim... Eu gemi baixinho enquanto tentava me livrar de seu aperto.

– Do que você me chamou? – Ele fervia. – Nunca mais me chame assim... Depois de tudo o que eu FIZ POR VOCÊ! Te levei pra essa festa para que você pudesse sair de casa pelo menos uma vez nessa sua vida miserável! Estudei com você durante semanas!

– Você é um idiota! – Puxei meu braço livre de olho na cerveja que estava no porta-copos. Agarrei-a e joguei tudo em cima dele.

– MEU TERNO! – Ele gritou.

Foi a distração suficiente para me fazer fugir dali. Abri a porta e pulei para fora, correndo para a porta de casa, tentei em vão abri-la, mas estava trancada. Merda. Levantei minhas mãos procurando por minhas chaves. Elas não estavam comigo há um segundo?

– Procurando por isso? – Virei-me horrorizada ao vê-lo avançando lentamente em minha direção com minhas chaves pendurada em seu dedo. Larguei minha bolsa no chão e tirei os sapatos sentindo a adrenalina passando pelo meu corpo. Vestida de cigana ou não, se eu tivesse que lutar, então por Deus, eu lutaria!

Ele parou a menos de dois metros de mim segurando minhas chaves.

– E agora o que você vai fazer? – Ele disse num tom zombeteiro. Suas palavras saíram tropeçadas com o álcool evidente em sua voz. – Sabe o que eu acho? Deixe-me dizer o que vai acontecer. Você vai vir aqui, pedir desculpas por ter arruinado minha noite e-

Eu? Pedir desculpas? Por arruinar a noite dele? Ah, vai pro inferno!

Assim que ele abaixou o braço, avancei para matar batendo o máximo que meu braço alcançava em seu rosto e, em seguida, chutando-lhe extamente aonde dói – e como dói – Ele guinchou alto deixando minhas chaves caírem na grama. Eu a agarrei junto com o resto de minhas coisas e corri para a porta, tremendo a destranquei e entrei batendo-a atrás de mim. Debrucei-me contra a porta, abafando meu choro, e então deslizei até o chão numa posição sentada, ouvindo atentamente.

Eu devo ter ficado ali, ofegante, por pelo menos dez minutos até ouvir ele levantar praguejando e indo em direção ao carro. Aparentemente ele nao estava disposto a outra luta, nem ao menos tentou entrar na minha casa. O carro arrancou e ele foi embora, pus-me de joelhos e rastejei até uma janela lateral, observando-o sair. Pousei uma mão em meu peito, onde meu coração pulsava descontroladamente e com a outra tentava aparar as lágrimas que caiam.

– Alley?

Eu me virei para ver Bill de pé na escada, com os olhos enormes e um ar confuso no rosto. Meus lábios tremiam ao vê-lo, ele parecia tão preocupad0 – e com razão. Eu balancei minha cabeça, fungando em resposta e ele correu o resto do caminho das escadas até mim.

– Bill! – Eu soluçava enquanto ele se aproximava. O alívio me inundou quando joguei todo meu peso contra ele enterrando meu rosto manchado de rímel em seu pescoço. Suas mãos corriam suavemente em minhas costas.

– Então – Ele disse de algum lugar acima de minha cabeça. – Como foi a festa?


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