The World Behind My Wall escrita por Ruuh


Capítulo 26
Capítulo Vinte&CInco - Convite Inesperado




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O amor é um jogo para todo mundo

Tokio Hotel – Hurricanes and Suns

Alley’s P.O.V

Sentei-me nervosamente na cadeira, esperando que os assistentes do professor entregassem a prova e o cartão de respostas. Uma rápida olhada no relógio indicava que iríamos começar em dois minutos. Jay ainda não tinha chegado. É melhor ele aparecer aqui logo, pensei batendo a caneta rapidamente na mesa. Se você chegasse atrasado a um teste do Tanembaum, então simplesmente pode esquecer, ele não vai deixá-lo completar a prova e ainda te daria um glorioso F.

– Com licença. – Uma voz irritada sussurrou em meu ouvido. – Você poderia parar com isso?

Virei-me para ver um garoto pálido e muito magro, com cabelos castanhos e encaracolados olhando para minha caneta que estava em frenética batida. Ele parecia o cruzamento entre um poodle com um cachorro salsicha. Eu sufoquei uma risada, mas eu não precisava de inimigos agora.

– Foi mal, cara. – respondi com um mínimo ânimo segurando a caneta firmemente em minha mão. Ele se recostou na cadeira com o rosto um pouco relaxado.

– Obrigado.

Eu balancei minha cabeça. Parece que eu não sou a única que está nervosa por aqui. Olhei para o relógio novamente, mais trinta segundos... Trouxe a caneta até a boca e mordi a tampa com nervosismo. Meu escape de alívio: mastigue algo rígido.

Uma repentina lufada de ar seguida por barulho de passos fez o anunciar que alguém havia entrado na sala. Virei a cabeça para ver Jay, já sentado ao meu lado, com suas pernas esticadas para fora, ele geralmente ocupava mais espaço que o necessário.

– Oi – ele disse com aquele sorriso. – Como vai?

– Bem... eu acho. Pensei que você fosse se atrasar.

– Quase, amor, quase.

Eu me mexi no lugar, um pouco irritada com seu último comentário. Eu não gostava de ser chamada de “amor” por um cara... Claro que Bill às vezes me chamava assim, mas eu não me importava com isso, e dizia o mesmo. Nós éramos muito amigos. Talvez eu esteja muito tensa por causa da prova, mas não gosto disso, nem mesmo vindo da boca de Jay. Tossi levemente, tentando ignorar a irritação que se passou em minha mente.

– Então, você está pronto? Nervoso?

– Eu, nervoso? – Repetiu sorrindo de leve. – Não... depois de todo o estudo que tivemos? Eu estou bem.

Balancei a cabeça sorrindo ligeiramente. Ele com certeza estava confiante... queria me sentir assim, afinal eu era a nerd por aqui.

– Silêncio, todo mundo – gritou o professor. – Os assistentes entregaram as provas e os cartões de respostas. Se você não recebeu um, levante a mão. – Ele parou por um momento. Vendo que ninguém levantou a mão, ele continuou. – Usem apenas caneta de cor preta. Preencha todas as informações necessárias sobre o dorso. Quando acabar, venha para frente da sala e me entreguem a prova, o cartão de respostas, e sua identificação de aluno. Sem conversas durante a prova. Se você estiver usando um boné, tire agora. Lembre-se, se eu pegar alguém colando... não vão querer saber as conseqüências. – Todos concordaram em silêncio. – Tudo bem, vamos começar. – Ele se virou e sentou-se atrás da mesa na frente da sala.

Respirei fundo e fechei os olhos, tive que me concentrar para entrar em um estado de meditação para entrar em meu próprio mundo. Eu bloqueei cada ruído, cada distração... é uma técnica que aprendi a cultivar ao longo dos anos. Depois de alguns segundos abri meus olhos e virei a primeira página do teste.
Estava tudo muito mais fácil do que eu esperava, especialmente porque era tudo de múltipla escolha. Dei um suspiro de alivio e rapidamente respondia as questões. Maravilha... toda esse preocupação pra nada. Depois que terminei, chequei rapidamente todas as minhas respostas, quando acabei me levantei e fui em direção a mesa de Tanenbaum e lhe entreguei minha prova e o cartão de respostas junto com minha identificação. Peguei minha mochila e saí da sala.

O sol brilhava suave durante a tarde preguiçosa de outubro. Era um clima agradável, nem muito quente e nem muito frio. As folhas caiam girando em espirais das árvores e se espalhavam pelo chão, dando ao campus uma tonalidade vermelho e ouro. Andei até um banco próximo às árvores e me sentei. Eu havia terminado a prova mais cedo do que a maioria dos alunos, então tinha um tempo livre extra antes da próxima aula.

Peguei minha bolsa e tirei um bloco de papel e um lápis. Concentrando minha atenção num edifício próximo, decidindo esboçá-lo para prática. Desenhar nunca foi o meu forte – era algo que éramos obrigados a fazer na aula – eu me sentia muito mais a vontade com pinceis e tintas. Mas a Sra. Stewart me convenceu de que eu deveria praticar outros meios.

Meus dedos voavam rapidamente sobre o papel. Deus, eu não desenhava nem pintava nada há séculos! Pensei enquanto tirava o cabelo de meu rosto. Bill tinha razão, eu passei tanto tempo estudando com Jay e não tive um segundo sequer para ir até minha garagem e pintar algo. Sentada no banco com a brisa fresca de outubro roçando em minha pele, eu me sentia bem. Eu havia me esquecido de como era bom aliviar a tensão com meus escapes criativos. Agora sei como Bill se sente... não podendo usufruir de seu talento e criatividade... hmm... isso me deu uma idéia.

Senti algo se mexer levemente ao meu lado e olhei para cima, me surpreendendo ao ver Jay sentando-se ao meu lado. O que me surpreendeu de duas maneiras: 1ª Ele havia me seguido até aqui e 2ª Ele acabou a prova muito rápido. Ele não era muito conhecido por suas realizações intelectuais.

– Como foi?

– Muito bem – ele respondeu sem muito entusiasmo e abruptamente mudou de assunto. – Escuta, queria te perguntar uma coisa.

– Pode perguntar. – Deixei minhas mãos em meu colo e o olhei diretamente nos olhos. Ele me encarava descaradamente com seu olhar ardente. Eu me encolhi um pouco. O sol brilhante de outubro estava bem acima de nós e a luz caiu sobre seu rosto de uma forma totalmente desagradável. Sua pele parecia estranhamente velha e áspera e seus olhos estavam escuros e com grandes olheiras. Será que ele estava cansado ou algo assim? Porque me parecia totalmente bem quando estávamos dentro do prédio.

– Meu amigo vai dar uma festa de Halloween daqui a alguns dias... você quer ir comigo?

Uau. Um encontro de verdade.

– Quando é? – perguntei.

– Na sexta daqui a duas semanas. Posso te buscar as sete?

Um lampejo de irritação passou por mim. Eu não tinha nem sequer dito que sim e ele já estava dizendo a que horas ia me buscar? Eu já tinha planos com Louise para esse dia, íamos ver filme e comer pizza até tarde depois ela ia fazer minhas unhas, pois ela reclamava que eu não fazia mais nada com ela, que entre meu tempo com Jay e Bill era compreensível. Sem contar o fato de que estar com ele em um ambiente diferente e em público me fazia sentir-me desconfortável... ele não é muito bom em conversa e eu estava nervosa sobre o embaraço que provavelmente resultaria em um encontro de verdade com ele.

De repente me senti uma idiota. No que eu estava pensando? Eu queria isso há meses! E Louise não se importaria de remarcarmos nosso sábado de garotas. Eu mal o conhecia e essa seria uma ótima oportunidade para isso. Para ver se havia alguma faísca lá. Quero dizer, eu disse a Bill que, se não houvesse nada eu não me incomodaria mais com ele... e esta poderia ser uma maneira de descobrir.

– Claro. – Eu disse.

– Tá bom então. Te vejo mais tarde. – Disse e se levantou.

Talvez seja só TPM. Pensei quando via Jay se afastar. O que mais poderia explicar essas mudanças repentinas de humor? Um cara lindo e popular havia me chamado para sair e eu só consegui manifestar esse entusiasmo morno? Se ele tivesse me pedido há uma semana atrás provavelmente eu estaria dando a volta Olímpica em torno da UK. Eu devia estar muito cansada hoje, o teste realmente me esgotou.

Bem, pelo menos se eu for à festa eu teria a chance de ser um pouco social. Mesmo que não me divertisse lá, só de dizer que fui já é alguma coisa. Eu realmente não saia de casa a não ser para estudar e fazer algumas compras de mercado desde que Bill apareceu. Eu me sentia um pouco culpada com esse pensamento, mas verdade seja dita: Ele necessitava de cuidados e atenção constante como se fosse uma criança. Sem contar que eu me sentia culpada todas as vezes que o deixei sozinho, já que ele realmente não tinha mais ninguém a quem recorrer.

Esbocei durante alguns minutos mais, com minha mente vagueando sempre na mesma linha de pensamentos. Quando foi que eu deixei minha vida tão complicada? Eu estava acostumada a não me preocupar com atividades diárias e tampouco com meninos. Isso é tão ginasial.

Vou ter uma conversa com Bill quando chegar em casa, decidi de repente. Ele com certeza havia se mostrado muito bom em conversas. Eu precisava da opinião de Bill e Louise, apesar de que a dela só vou conseguir ouvir mais tarde

As pessoas começavam a fluir dos edifícios e percebi que as primeiras aulas já estavam terminando. Enfiei tudo de volta na mochila e me dirigi à próxima aula.
Eu adorava História da Arte Americana. Entrar nessa sala, era como beber um copo de água gelado após correr uma maratona. Mellody era tão simpática e compreensiva que a tornava um forte contraste em relação ao Tanenbaum. Eu apreciava cada momento de sua aula, inspiradora e divertida, o que nunca deixava de levantar meu astral.

Quando a aula terminou, guardei minhas coisas e me dirigi à porta como sempre fazia. A professora me parou, fazendo-me lembrar do primeiro dia de aula quando Bill desapareceu e ela tinha tido a amabilidade de me perguntar se eu estava bem.

– Ei Alley! – Ela disse me parando na porta. – Posso falar com você um segundo?

– Claro... – Dei meia volta e me fui até uma cadeira perto de sua mesa. Ela sentou-se sorrindo.

– Bem, querida, você já se decidiu? Nós não ouvimos a sua resposta ainda, então eles me pediram para perguntar pessoalmente.

– Han? Decidir o que? Do que você está falando? – Perguntei confusa. Seu rosto mudou da expressão de indagação para a de preocupação.

– Você não recebeu a carta?

– Que carta?

– Ah... – Ela suspirou depois balançou a cabeça dando uma pequena risada. – Não se admira você não ter respondido ainda, sua carta deve ter se perdido no correio.

– Ahnn...

– Ah Alley me desculpe... Bem, nós enviamos cartas após a exibição de artes para informar os vencedores.

– Sério?

– Sim... mas a sua não chegou. Bem, você não ganhou – Ela me deu um olhar solidário após essa informação como se esperasse que eu entrasse em desespero e começasse a chorar com a notícia. – Embora, eu achasse que você mais do que ninguém deveria ter ganhado, mas-

– Eu não ganhei, mas o quê? – A interrompi. Eu não queria ser grossa, ela era uma pessoa gentil. Mas eu estava cansada e com sede. E queria chegar logo em casa e conversar com Bill.

– Você foi uma das finalistas. Foi uma decisão muito difícil. Mas, de qualquer maneira, sua carta de notificação foi um pouco diferente da dos outros artistas. Um dos diretores do museu de basquete foi à exposição e viu sua pintura e adorou. Ele queria saber se poderiam exibi-la no museu dele. Então, em sua carta pediu permissão para isso.

– O QUE?! – Eu lati.

– Sim, ele quer saber se pode colocá-la como exposição permanente de lá. – Ela sorriu ligeiramente. – Claro, se você não quiser, tudo bem.

– Não querer? Eu adoraria isso! – Exclamei. Felizmente Mellody parecia estar de bom humor (ou quem sabe ela teria uma paciência inesgotável com adolescentes).

– Ótimo! – Ela bateu palmas e se levantou. – Bem, vou avisá-lo o mais rápido possível.

– Ok! – Levantei-me sorrindo. – Obrigada! Te vejo depois então.

– Tenha um bom dia, querida.

Caminhei pelo corredor ainda com um sorriso de orelha a orelha. Uau... Bill ficaria feliz em ouvir isso. Afinal ele sempre estava comentando sobre meus quadros. Tem como esse dia ficar melhor?

No caminho para casa, simplesmente optei por ouvir a rádio ao invés de procurar algum CD. Abri as janelas do carro, deixando o chicote de vento frio do outono bagunçar meu cabelo... Foi revigorante. Foi inspirador. Foi... causando uma bagunça gigante em meu carro com os papéis se espalhando para todos os lados e grudando em minha cara quase me fazendo bater no poste nesse minuto de cegueira temporária. Imediatamente fechei as janelas, rindo da minha própria cara.

Minha casa finalmente entrou em meu campo de visão. Estacionei meu carro na calçada, não me preocupando em colocá-lo na garagem. Iria deixar a vaga hoje para Louise, já que estava me sentindo muito generosa.

– Olá! – Uma voz lenta e sedosa me saudou quando desci do carro. Amaldiçoei silenciosamente quando virei para encarar a única pessoa que conseguia fazer uma saudação soar quase como um gemido de filme pornô... Jessica. Ugh! Ela me repugnava. Ela estava em seu quintal, vestindo um minúsculo short e um top curto. Tudo bem que estava fazendo sol, mas não estava tão quente assim. Parecia que estava lavando seu carro... Embora eu suspeitasse que isso era apenas uma desculpa para “acidentalmente” se molhar e fazer com que todos os caras do quarteirão a olhassem. Ela me deu um sorriso açucarado e eu respondi batendo com força a porta do carro.

– Oi. – Eu disse o mais apaticamente possível. Tirei as chaves do bolso e caminhei em direção a minha porta. Não estava com a menor vontade de perder meu tempo com ela, nem agora e nem nunca.

– Como está o Bill? – Ela perguntou. Me virei abruptamente para ela, horrorizada. Bill? O que ela sabia sobre ele?

– O q-quê? – Eu gaguejei com meu rosto em chamas.

– Seu namorado, Bill... ou ele já terminou com você? – O sarcasmo escorria de sua voz e eu suspirei de alívio quando me lembrei do que ela estava falando. Certo... meu namorado, Bill...

– Ele está bem. – respondi entediada.

– Ah que bom. Quando ele vier não se esqueça de nos apresentar.

– Aham. – respondi enquanto me virava para sair dali. Vadia irritante.

– Seu cabelo está lindo! – Bati a porta na cara dela.

– AAAAAAAAAAAAAAAAAAAARRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRGHHHHH!!! – Gritei com toda a força quando entrei em casa tirando minha jaqueta e jogando com força no chão. Ufa, me sinto bem melhor agora.

Bill apareceu no canto do corredor, com os olhos esbugalhados e um picolé de chocolate na mão. Ele timidamente se aproximou de mim, botando o cabelo para trás da orelha.

– Uhn... Você está bem? – Ele coçou o nariz, nervoso, em seguida estendeu o picolé para mim. – Eu... ahn... ouvi o barulho do seu carro e peguei isso pra você, mas se não quiser tudo bem, eu como... – Fiquei parada um momento sorrindo pra ele. Awwn que bonitinho... corri em sua direção e lhe dei um abraço.

– Eu estou muito feliz em te ver, pensei em você o dia todo. – Eu disse, tirando o picolé de sua mão e dando uma mordida. – Era só disso que eu precisava.

– Você está bem? Se meteu em alguma encrenca? – Ele perguntou preocupado.

– Eu estou bem... não me meti em encrenca. O que te faz pensar isso?

– Sei lá... você gritando... seu cabelo...

– Meu cabelo? O que tem de errado com ele? – Levantei minha mão e a pus na cabeça, em seguida corri meus dedos pelos fios. Merda. Estava uma bagunça, eu nem queria pensar no que eles deviam estar parecendo, provavelmente como um grande emaranhado de feno sujo.

– É... uhn... – Ele parou tentando achar um meio de dizer “Isso está uma merda Alley” – Esquece...

– Tá um pouco bagunçado né? – Um pouco? Puta que pariu, deve ter um bicho peludo morto encarrapitado no alto da minha cabeça. – É que eu abri as janelas do carro hoje...

– E o grito?

– Minha querida vizinha Jessica veio encher o saco. – Suspirei irritada. – Ela perguntou de você Bill.

– Sério? – Ele sorriu. – O que ela perguntou?

– Só queria saber como meu namorado estava e que quando você viesse aqui que era pra eu não me esquecer de te apresentar para ela. E então fez um comentário sarcástico sobre meu cabelo.

– Aaah... entendi – Ele fez uma pausa sorrindo. – É ele parece um pouco bagunçado. – Terminei meu picolé em fui em direção à cozinha para jogar o palito fora.

– Bem, meu amor... infelizmente nem todos podem ser a imagem imaculada da perfeição o tempo todo como você. – Disse por cima do ombro enquanto lavava minhas mãos. – Sou apenas uma simples mortal imperfeita. – Ele apareceu na cozinha com os braços cruzados sobre o peito.

– Ah vamos lá, isso não é justo.

– Claro que é! – Eu ri caminhando em sua direção, colocando minha mão em seu cabelo e correndo os dedos por ele, mas parei de repente. – Bill?

– Sim?

– O que você fez hoje? – Minha mão ainda estava imersa em seus cabelos negros... eu sentia uma leve camada de oleosidade, como se não fosse lavado há muito tempo.

– Hum... Nada. Só assisti televisão e dormi.

– Seu cabelo... – Ele revirou os olhos para mim.

– Tá bom Alley, eu não vou mais tirar sarro do seu cabelo.

– Não, Bill. Eu to falando sério.

Agarrei seu braço e o arrastei pela cozinha o colocando sentado na cadeira. Ele estava de frente para mim, e eu usei minha duas mãos para analisar sua cabeça, levantando seus cabelos para olhar melhor.

– O que você está fazendo? Catando piolho?

– Não. – Suspirei impaciente. – Abaixe um pouco mais você é muito alto. Olha, apóie sua cabeça na mesa – O instruí. Ele suspirou, mas obedeceu. Debrucei-me sobre suas costas, ajuntando minhas mãos através de seus longos cabelos. Isso era estranho, seu cabelo estava sujo... ele nunca tinha se preocupado com isso antes, porque de fato não precisava.

– Sabe de uma coisa? – Ele disse com a voz abafada por estar prensado contra a mesa. – Isso é bem relaxante.

– Eu sei disso, você é manhoso e adora um cafuné. Bem, pode levantar agora.

– Sim senhora! – Ele disse numa continência. – Qual é o problema senhora? – Ainda no estilo militar.

– Seu cabelo está sujo.

– E o que é isso exatamente?

– BILL! – Eu gritei batendo em seu braço. – Seu cabelo está sujo! Você precisa lavá-lo! Lembra?! Você disse que não tomava banho... você deveria ser assim... perfeito! Sem mudar, sempre o mesmo! – Seus olhos se arregalaram.

– Ah, merda.

– De fato.

Ficamos em silêncio na cozinha, os dois roendo as unhas e imersos em pensamentos. Nossos olhos se encontraram por um momento e ele rapidamente desviou o olhar, notei um blush de leve em suas bochechas.

– Me pergunto o que isso significa. – Murmurei.

– Como se eu soubesse. Você que é a nerd por aqui.

A nerd por aqui... Isso me fez lembra de Jay, o que também me lembrou que eu queria falar com Bill.

– Bem, eu realmente não sei o que está havendo por aqui, mas tenho uma boa sugestão.

– E qual seria?

– Vai tomar um banho.

– Você é um amor de pessoa. – Ele bufou passando a mão pelos cabelos. – Não está tão ruim assim.

– Oh não. Você não vai dormir perto de mim com cheiro de caca de galinha.

– Engraçada você. Tudo bem, eu tomo o banho.

– Ótimo! Depois que acabar vamos ter uma conversa.

Ele inclinou a cabeça para o lado, os olhos enrugados de preocupação. Seus olhos... wow. Não haviam sombras neles. Eram puramente castanhos, quase como um âmbar, tão puros e misteriosos que eu me perguntava se eu era capaz de desvendá-los, Bill falava com os olhos, eu havia notado ao longo do tempo que ocasionalmente eles escureciam indicando tristeza, principalmente quando falava de sua família e amigos. Não tanto escurecer sabe, mas pairava uma sombra sobre eles, como uma nuvem densa, fazendo-o perder seu brilho acentuado.

– Conversa? Você tem tempo para conversar? – Seu tom apesar de brincalhão era amável. Agarrei seu braço o arrastando pelo corredor e subindo as escadas.

– Sim... eu preciso falar com você. É importante.

– Sério? – Ele questionou quando paramos na porta do banheiro. Corri para o armário de toalhas e peguei uma.

– Ok. Aqui está o shampoo, o sabonete ali e tudo o que você precisa, pode usar o que quiser. Você vai cheirar como uma menina, mas não se preocupe que eu serei a única, a saber, disso. – Revirei os olhos. Ele era muito sensível com toda essa questão gay. – Eu não tenho nenhum produto masculino aqui...Hum.. o pente está ali você pode usar. Tudo bem está tudo pronto agora pode ir. – Joguei a toalha em seu ombro Virando-me solenemente passei a mão em seu braço. – Querido, eu sei que essa é a sua primeira vez, por isso vá com calma ok? – Ele baixou os olhos e sorriu.

– Você está ficando cada vez mais louca.

– Talvez.

– Então, sobre o que você quer falar?

– Você não tomou seu banho ainda! – Eu parecia uma mãe repreendendo seu filho, mas eu sabia que se eu falasse, ele iria se distrair e não ia tomar o seu banho... e ele precisava fazer isso antes que Louise chegue em casa.

– Eu sei, mas apenas me diga do que se trata. Sabe, para eu poder pensar em algumas respostas inteligentes para dar. – Ele mexeu as sobrancelhas para mim.

– Respostas inteligentes? – Eu ri histericamente. – Tudo bem, fui convidada para uma festa de Halloween. – Sem mais detalhes era uma longa história. – Você vai entender depois.

Seu olhar caiu abruptamente. Lá estava a sombra de novo, só que dessa vez ela se espalhou por todo seu rosto, modificando seu semblante. Ele trincou a mandíbula e pigarreou. Eu dei um passo para trás um pouco preocupada.

– Ah, ok. – Ele disse casualmente.

Eu sorri timidamente, de repente sentido toda a sensação de calor se esvaindo. Deus, o clima aqui ficou absolutamente tenso. Virei-me e andei pelo corredor, parando no topo da escada e me virando para encará-lo.

– Qualquer coisa que precisar, basta me chamar, tá bom? – Perguntei.

– Não, eu estou bem. Te vejo daqui a pouco. – Ele murmurou sem entusiasmo, virando-se para entrar no banheiro, fechando a porta logo em seguida num pequeno estalo.

– Ok... – eu disse encarando o corredor vazio.Eu me sentia tão... estranha... preocupada. Por que a mudança de humor? Será que ele está com raiva de mim? Mas isso não faz sentido... o que foi que eu fiz?


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