The World Behind My Wall escrita por Ruuh


Capítulo 24
Capítulo Vinte&Três - Strange Morning




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Oh, por que nós gostamos tanto de nos machucar?
É isso o que você ganha quando deixa o seu coração vencer

Paramore – That’s what you get

Alley’s P.O.V

Na segunda feira seguinte

– Como estou?

Bill não me respondeu. Ele estava ocupado demais lendo as fabulosas informações nutricionais da caixa de cereal. Ou era isso, ou ele estava me ignorando completamente.

– Bill! – Eu repeti irritada. – Como eu estou?

Ele revirou os olhos para me olhar por cima da caixa. Com uma mão a segurava e na outra se encaixava uma colher pronta cheia de cereal.

– Você está bem. – Ele disse sem rodeios voltando logo em seguida sua atenção para a caixa.

Bem, bem... parece que alguém acordou do lado errado da cama hoje.

– Você não acha muito exagerada, sei lá? Meio diferente do que eu costumo usar? Acha que ele vai gostar? – Perguntei olhando para minha roupa.

Normalmente para ir para a aula eu geralmente vestia o que considerava estar limpo. Ou às vezes se eu estivesse muito cansada ia com a roupa que tive preguiça de tirar pra dormir na noite anterior. Fala sério, era faculdade e não uma entrevista de emprego. Ninguém ligava realmente para mim ou para minha aparecia. Bem, não até agora.

Hoje eu havia optado por um agradável jeans, aqueles com flores enfeitando os bolsos (Louise havia me convencido a comprar num momento de fraqueza) uma blusa com mangas curtas brancas e, numa tentativa de aumentar minha altura, um par de botas pretas com um salto de dois dedos. Ok, talvez eu não estivesse deslumbrante mas era muito mais agradável em comparação ao que eu geralmente usava. Além do mais, hoje pela primeira vez consegui dar um jeito no meu cabelo sem a ajuda de ninguém e ele não estaria preso num rabo de cavalo idiota.

Bill me olhou irritado por minha interrupção contínua em sua leitura da caixa de cereais.

– Eu não sei se o que você está fazendo é uma boa idéia. O cara é um idiota, você mesma disse isso.

– Bem as pessoas podem mudar sabia? Talvez ele tenha percebido que cometeu um erro ou algo assim.

– Seja como for. – Bill bufou. Suspirando com irritação eu revirei os olhos e saí da cozinha.

– Você poderia pelo menos fingir que está interessado e ser solidário. – Eu murmurei enquanto marchava em direção às escadas para pegar minha mochila e chaves.

Eu pisava duramente, enquanto subia os degraus com raiva. Bill me seguia, e por alguma estranha razão ainda estava com a colher na mão. Ele gentil e um tanto ameaçadoramente batia com ela na palma de sua mão quando entramos no quarto. Me lembrava brevemente um policial com um cassetete, ou algo do tipo. Inclinando-se preguiçosamente contra a porta, ele me estudou enquanto eu pegava meu material. Eu olhei de volta pra ele.

– O que você quer? Se você veio até aqui para me insultar ou me repreender, você está desperdiçando seu tempo, porque eu não estou ouvindo. – Disse fazendo uma careta para dar efeito.

Bill não disse nada, apenas continuou a me olhar. Eu parei por um momento, confusa com sua observação, e ficamos olhando um para o outro até que finalmente eu quebrei o contato visual. Embora eu soubesse que Bill era geralmente uma pessoa estranha na maioria das vezes, ele estava agindo excepcionalmente estranho hoje. E o que ele estava planejando com aquela colher?

Ajoelhei-me no chão para socar alguns livros teimosos na minha mochila com meu cabelo caindo sobre meu rosto. Eu suspirei, tanto esforço para mantê-lo arrumado... Frustrada, fiquei novamente de pé jogando minha mochila por sobre o ombro e pegando minhas chaves indo em direção as escadas passando por Bill.

Ele colocou o braço para me impedir. Cedi, suspirando impaciente e querendo saber o que ele queria agora. Para minha surpresa, ele estendeu a mão, passando seus finos dedos pelo meu rosto, e delicadamente virou a mecha solta para trás de minha orelha. Eu franzi a testa.

– Mas... o que ...?

– Você estava muito bonita sábado. – Ele disse distraidamente. Estranho... ele estava olhando para mim, mas não diretamente me encarando, era como se seu olhar estivesse em atravessando, olhando através de mim. – Eu queria ter te dito antes, mas me esqueci.

– Bill, você está bêbado? – Perguntei confusa. – E por que você está me ameaçando com uma colher?

– Ameaçando você? – Ele ergueu ligeiramente as sobrancelhas desviando o olhar para suas mãos. –Ah... eu me esqueci de que estava com ela.

– Ahn... tá. Agora chega de brincadeiras. Eu tenho que ir pra aula. Se não Tanenbaum vai arrancar minha cabeça. – Eu disse me afastando dando as costas para ela e me preparando para descer as escadas.

– Eu não estava brincando. – Ele disse e eu me virei para encará-lo. – Sobre você estar bonita, você deve vestir-se assim com mais freqüência.

E o que é que eu estava fazendo agora?

– Eu estou fazendo isso! – Resmunguei irritada. – Mas você está dando chilique.

– Você está apenas se vestindo assim para impressionar um idiota que te tratou como um nada. Você está fazendo isso pelas razões erradas. É sobre isso que eu estou dando “chilique” – Ele parecia aborrecido.

Seus comentários estavam começando a me tirar do sério. Que inferno, ele nem conhecia o cara...

– Bem, e que outra razão eu teria para me arrumar, Bill? Eu não estou aqui para impressionar ninguém. – Ele permaneceu em silêncio, aparentemente sem uma resposta para isso. Suspirei levemente e me inclinei para frente pousando minha mão sobre seu braço. – Podemos continuar essa discussão depois? Eu realmente preciso ir agora. – Desci apressadamente as escadas virando-me para trás quando cheguei ao andar de baixo. – Tchau Bill, seja bonzinho. – Acrescentei.

– Tchau Alley Kat. – Ele disse sombriamente. Balancei minha cabeça enquanto saia pela porta e entrava em meu carro. Que manhã estranha... e que garoto estranho.

Avancei com meu carro para fora da garagem. Uma grande pilha de CD’s estava amontoada no banco do passageiro, e eu vasculhei entre eles rapidamente, procurando algo para ouvir. Sorri abertamente quando encontrei um de meus CD’s de Soundgarden. Estourando as caixas de som, e muito provavelmente meus tímpanos também, cantei a plenos pulmões a música Spoonman. Era bem adequada para o dia de hoje, devido ao comportamento excêntrico de Bill.

– TODOS OS MEUS AMIGOS SÃO INDIOS, TODOS OS MEUS AMIGOS SÃO MARRONS E VERMELHOS! – eu cantava – SPOONMAN! – A letra realmente não faz muito sentido, mas hey, era uma canção bem cativante. Pena que Bill não estivesse aqui para apreciá-la.

Hmmm... talvez esse seja o problema dele. Eu disse para ele noite passada que definitivamente ele não viria comigo para a aula hoje, porque eu precisava estar completamente livre de distrações no caso de eu ter alguma chance de conversar com Jay... Bill parecia incrivelmente irritado com essa revelação, mas eu não conseguia compreender por que ele não podia entender que a sua marcação junto comigo em todos os lugares era uma má idéia. O ocorrido no primeiro dia de aula foi o suficiente para me convencer disso. Mas, quem sabe ele realmente gosta de ir para a aula? Deus sabe que eu odeio. Então ele estava de mau humor... e agora aparentemente estava se achando um irmão mais velho querendo decidir quais caras são “aceitáveis” para mim.

Olhei no espelho retrovisor ansiosamente quando me aproximei do campus checando o cabelo e a maquiagem. Havia uma parte de mim que sentia vergonha desse meu comportamento, mas a outra parte estava muito mais animada. Isso era um fato marcante... finalmente, talvez, eu teria aquilo que as pessoas chamam de vida social.

Estacionei meu carro em um canto e pulei para fora, pegando minha mochila e a atirando por cima do ombro. Felizmente o vento estava ao meu favor hoje e meu cabelo ficou relativamente incólume enquanto eu caminhava rapidamente em direção ao prédio de biologia. Assim que entrei pelas portas duplas, eu diminuí o ritmo e pareipara tomar fôlego com um sentimento oscilante estômago.

Quando finalmente minha respiração se normalizou entrei na sala de aula e , lentamente esquadrinhei o lugar, tentando não parecer muito indiscreta. Jay estava longe de ser visto.

Sentei-me na terceira fileira da frente da classe, jogando minha mochila no assento ao me lado. Tentei manter meu olhar ocupado em meu livro de biologia, para disfarçar quando na verdade meus ouvidos estavam atentos para captarem qualquer sinal daquela voz profunda e tão familiar... Droga e se ele não vier hoje? Todo esse esforço para nada...

Eu estava estupidamente relendo um parágrafo sobre a erosão do solo quando uma voz profunda me assustou.

– Oi! – disse Jay, bem ao meu lado gesticulando em direção a minha mochila. – Tem alguém sentado aqui?

F.U.C.K

– Ahn... não.. – Eu gaguejei nervosa com o coração quase entalado na garganta. – não tem ninguém sentado aqui. – Meu Deus por que eu sempre pareço uma idiota quando estou perto dele?

– Ótimo! – Ele sorriu daquela forma magnética e meus joelhos fraquejaram. Tinha a sorte de estar sentada ou provavelmente já estaria estatelada no chão.

– Então... – Quebrei a cabeça pensando em coisas inteligentes para dizer. – Como foi seu fim de semana? – Ok, talvez isso não fosse inteligente... mas pelo menos não estava abaixo da média.

– Ah foi legal. Depois do Singletary fui para Richmond – ele começou a descrever o seu fim de semana com grandes detalhes. Eu balancei a cabeça encantada enquanto ele falava. Admito, eu perdi a noção do que ele estava dizendo, porque eu estava pensando muito ocupada no que eu iria dizer em seguida. Sim, eu sei que todos dizem para você dar uma boa resposta é preciso prestar atenção no que a outra pessoa está dizendo. Mas sabe de uma coisa? Ninguém nunca se sentou ao lado de Jason Edward Blanding, Jr., não é? Ele tem esse jeito de fazer sua mente ficar em branco...

– Legal! – Eu disse continuando a apenas acenar quando era necessário. De repente a classe toda ficou em silêncio e eu lancei meu olhar para longe. O professor tinha acabado de entrar na sala e imediatamente começou com a sua falação habitual e eu me forcei a prestar atenção, suspirando. Jay era importe, é verdade, mas eu preciso me preocupar também com minhas notas. Anotava diligentemente tudo o que Tanembaum falava lançando um olhar de vez em quando para apreciar Jay ao meu lado. Eu não conseguia acreditar. Alguns meses atrás ele sequer sabia o meu nome e agora ele voluntariamente estava disposto a me conhecer. A verdade é mais estranha que a ficção, fato.

Após vários minutos de tortura, finalmente o sino tocou anunciando o término da aula e todos começaram a juntar seus pertences. A voz do professor soou sobre o barulho de embaralhamento de papéis.

– Não se esqueçam que o nosso primeiro teste é na próxima semana. – Avisou calmamente sob os gemidos da classe. – E devo acrescentar que são mais de 90 questões. – Mais gemidos. – Agora podem ir.

Eu lentamente coloquei meus livros de volta, certificando-me de demorar o máximo possível e discretamente esperando por outra oportunidade de conversa. Eu não queria sair, mas realmente não tive escolha. Finalmente, depois da estagnação, enquanto eu sentia que não podia mais disfarçar se não se tornaria totalmente óbvio, eu me levantei.

– Tchau Jay. – eu disse suavemente e decepcionada enquanto saia em direção a porta.

– Ei, espere! – Virei-me rapidamente torcendo para não parecer muito ansiosa. Ele pegou sua mochila e correu até mim, sorrindo. – Então – ele disse casualmente. – Você está pronta para o teste?

– Sim... eu acho - eu disse lentamente e confusa. – Quero dizer, preciso dar mais uma revisada na matéria, mas estou muito bem preparada.

– Ah, legal – Ele balançou a cabeça em aprovação. – Escute, eu estava pensado, se você não estiver muito ocupada...

Eu nunca estaria ocupada para você... Deus, o que havia de errado comigo? Isso soou tão... cafona! É isso que o amor faz com as pessoas?

– ... talvez pudesse me ajudar com os estudos?

Fique quieto coração.

– Claro! – Eu soltei, esquecendo-me de minha cafonice. Ele queria estudar comigo? Nós iríamos ficar tipo... a sós?

– Ótimo! – Ah... aquele sorriso de novo. – Posso anotar o seu número, para que eu possa ligar para marcarmos?

– Oh, sim! Só um minuto. – Eu rezava para que ele não pudesse ver minhas mãos tremendo. Me atrapalhei um pouco procurando em minha bolsa e logo arranjei um pedaço de papel e uma caneta. Escrevi meu número apressadamente e entreguei a ele.

– Tudo bem... – Ele disse acenando em aprovação mais uma vez. – Eu te ligo essa semana.

– Ok... – Eu sorri timidamente. Seguimos nossos caminhos separados e eu flutuava sob meus pés enquanto ia em direção à próxima aula. Inacreditável!


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