The World Behind My Wall escrita por Ruuh


Capítulo 22
Capítulo Vinte&um - Hopeful




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/121586/chapter/22

Se você tivesse na minha mão
Agora, pra onde você iria, Aurora?
Vejo você lá na frente,
mas eu não sei se posso ir tão longe quanto você.

Veruca Salt - Aurora

Alley’s P.O.V

06 de Setembro de 2008

Eu torcia as mãos nervosamente enquanto dava um passo para trás olhando-me melhor no espelho para julgar minha aparência. Bem, não tão terrivelmente ruim... Cuidadosamente pressionei minhas mãos em meu colete preto. Consistia basicamente nisso: um vestido rodado curto preto, com um colete por cima de mesma cor que se encaixavam perfeitamente sobre ele abotoado e fechado. Meu cabelo estava delicadamente preso em um coque estilo francês com algumas poucas e elegantes mechas soltas, cortesia de Louise. Deus sabe que eu jamais seria capaz de um ato heróico como esse. Uma sombra clara em meus olhos, acompanhada por uma volumosa camada de máscara para cílios e um brilho labial discreto. Claro que Louise havia feito isso por mim também (sob os protestos silenciosos de Bill, que queria me maquiar, mas seria uma experiência um tanto paranormal). Eu era uma impotente quando o assunto se resumia a moda.
Depois de decidir que minha aparência passou no teste, caminhei até meu armário para encontrar um sapato adequado. Eles provavelmente estariam soterrados dentro de meu guarda-roupa. Suspirando, me ajoelhei escavando a pequena montanha, empurrando os objetos inúteis. Botas pretas? Hum... Não, muito desajeitadas. Sandálias? Nem pensar, eu estava usando meia-calça e não seria legal alguém olhando par a o meu pé. Finalmente me decidi por um par de sapatilhas pretas, não muito altas, nem muito vistosas, porém nem tão casuais. Perfeitas.
Sentei-me no chão puxando a saia do meu vestido para cima para que eu pudesse trazer meu pé perto o suficiente para calçar minhas sapatilhas. Minha meia calça não ofereceu muita resistência e fiz uma careta de desagrado quando ouvi o som de algo se rasgando.

– Merda! – Olhei para minhas pernas, procurando onde estaria o estrago. Estranho, eu não conseguia encontrar... rolei para o lado e ergui uma perna no ar na tentativa de encontrá-lo... Será que eu estava imaginando coisas?
– Que diabos você tá fazendo? Ensaiando balé?

A voz divertida e sarcástica de Bill preencheu o silêncio, fazendo-me dar um pulo de surpresa. Rapidamente abaixei minha perna agarrando meu vestido tentando fazer voltar para o lugar, tentando não enrubescer por ele ter me encontrado nessa posição tão inapropriada. Embora que não fosse novidade para ele, já que eu não era uma das garotas mais educadas da cidade.

– Estou só... você sabe, vestindo-me – Disse indignada enquanto continuava a puxar meu vestido que havia se enroscado e subido mais ainda, deixando a mostra minhas coxas e muito provavelmente um pouco da minha roupa íntima também.


– Então... – Bill disse lentamente – “Vestir-se” no seu vocabulário inclui chafurdar no chão?


– Não seja um espertinho, Bill. Você é tão inconveniente. – Disse olhando para ele do chão.


– Bem, eu realmente não estou tentando ser nenhum espertinho dessa vez. Você só não respondeu minha pergunta de forma satisfatória. E você está atrasada, como se isso fosse novidade, então estou tentando descobrir o por que de você estar sentada no chão brincando de bailarina quando deveria estar a caminho da Exposição de Arte.

Ele ergueu as sobrancelhas para mim em um olhar interrogativo. Ele tinha um pirulito vermelho de cereja em sua mão, e periodicamente o trazia até a boca para prová-lo, em seguida puxando novamente com um sonoro estalo. Eu assisti a esse processo, um tanto hipnotizada. Embora Bill estivesse longe de ser perfeito – Deus sabe que eu vi o suficiente de suas falhas para assustarem todas as suas fãs lunáticas – ainda assim ele era... Magnético. Só ele era capaz de fazer algo tão infantil quanto comer um pirulito uma cena tão hipnotizante chegando até a me dar arrepios. Era tão interessante que, de fato, eu não conseguia pensar em uma resposta decente.

– Então? Por que você esta me encarando desse jeito? Vem, levante-se. – Ele estendeu a mão para mim e eu aceitei em silêncio, tentando limpar minha cabeça. Ele tem uma namorada, eu disse a mim mesma. Sem mencionar todas as outras razões demasiada numerosas que indicam que ter uma paixão tola pelo meu amigo invisível seria má idéia. Além disso, também tem o Oliver... haha. Como se eu fosse vê-lo novamente, mas ainda assim, era uma boa fantasia...

– Eu preciso da minha bolsa. – Murmurei já de pé, sem encarar seus olhos. Eu me sentia um pouco tola e envergonhada, como se ele pudesse ler meus pensamentos, ou coisa do tipo. Deixe de ser idiota! Você tem mais coisas com o que se preocupar. Às vezes eu era uma pessoa muito volúvel, para o meu próprio bem. – Acho que vou com essa aqui. – Disse pegando uma mochila de veludo marrom jogada em cima da cama.

– Olha, eu sei que você não tem o menor senso de moda. Mas uma pessoa cega faria uma escolha melhor que essa. Está óbvio que essa bolsa não tem nada a ver com o seu vestido. – Bill disse ao mesmo tempo em que passava o pirulito na língua. Era melhor ele parar com essas coisas, antes que eu surtasse.

– Detalhes, detalhes. – Eu mordi meu lábio, tentando lembrar onde minha bolsa preta estava escondida. No armário? Não... eu acabei de revirá-lo inteiro atrás de meus sapatos... Lá embaixo? Também não... Louise havia acabado de dar uma limpeza por lá. Debaixo da cama? Fiquei de joelhos mais uma vez espiando debaixo da cama. AHA! – Achei! – Exclamei triunfante. – Agora me dá as chaves do carro que eu vou cair fora! – Olhei para o meu relógio. – Não estou tão atrasada assim.

Corri para a porta, mas meu impulso foi abruptamente interrompido quando Bill pegou meu braço e me puxou de volta. Sabe o nome que damos aquelas cenas que parecem se repetir? Déjà vu. Eu me vi mais uma vez sendo agarrada inesperadamente pelo meu novo amigo imaginário, pude sentir o baque de nossos corpos e seu rosto a alguns centímetros de distancia. Perguntei-me brevemente se ele iria me beijar outra vez, mas ao invés disso, um sorriso malicioso passou por seus lábios.

– Bem, não exatamente. – Ele disse com a voz divertida. – Eu acho que você vai se atrasar um pouco mais.


– Por quê? – Perguntei um pouco atônita.


– Porque você tem um rasgo enorme em sua meia calça. – Ele apontou para a parte de trás da minha perna. Eu gritava tentando me contorcer para olhar, mas aparentemente estava fora do meu alcance de visão.

– Merda! – Eu choraminguei. – O que eu vou fazer? Eu só tenho essa!

Eu olhei freneticamente na minha gaveta de cômoda, arremessando as minhas meias e sutiãs para o lado. Mas já que eu odiava meia-calça, e raramente as usava, não havia outro par. E eu nem sequer pensei em comprar uma de reserva.

– Rápido, eu preciso do seu esmalte!


– Bem, eu teria se alguém tivesse concordado em ficar mais tempo no Shopping comigo...

Eu corri para fora do quarto ignorando sua mini-birra. Certamente Louise deveria ter em seu quarto em algum lugar... Ele me seguiu, ainda reclamando e desfrutando seu pirulito de cereja.

– Por que você precisa de esmaltes, afinal? Você vai pintar a meia esperando que ninguém perceba esse rasgo enorme? – Ele perguntou disfarçadamente. Meu Deus, ele era realmente irritante.


– Cala a boca! – Eu murmurei, enquanto puxava as gavetas de Louise. Após alguns segundos finalmente os encontrei. Um pequeno vidro de esmalte preto. Virei-me para ele e lhe entreguei o vidro. – Tudo bem, agora você vai pegar isso e passar um pouco em cada ponta do rasgo. – Ele jogou os braços para cima e abriu a boca deixando escapulir seu doce.

– O quê? – Perguntou incrédulo.

– Anda logo! – Eu disse com uma careta. – É só dar umas pinceladas. Eu estou atrasada, me ajuda aqui!

– E o que exatamente estamos com esperanças de conseguir com isso?

– É para selar! Para que o rasgo não se alastre mais, entendeu? Porque eu não tenho mais nada, eu só vou ter que sorrir e suportar isso. Agora, anda logo!

Ele resmungou pegando cuidadosamente o pincel. Virei de costas para ele, me sentindo um pouco constrangida, e mais ainda quando senti a pressão fria de seus dedos em minha coxa.

– Não pinte! – Eu o alertei. – Só sele as pontas!

– Ahn... ér..

– Droga Bill, eu vou te matar!

– Hahaha... eu só estava brincando nervosinha. – Ele parou por um segundo e depois limpou a garganta. – Uhn... Alley?

– O que foi?

– Você... ahn... vai ter que levantar o vestido um pouco mais. Eu não consigo ver a outra ponta.

Suspirei alto, fingindo irritação, esperando fervorosamente que cobrisse minha mortificação. Com cuidado, levantei meu vestido, certificando-me de não ir longe demais. Eu não queria expor-me totalmente assim bem na sua cara, literalmente.

– Uhn... um pouco mais. Eu ainda não consigo ver. – Ele disse timidamente.

– Deixa isso pra lá. Ninguém vai reparar na outra ponta. – Eu disse apressadamente, empurrando meu vestido para baixo. Peguei minha bolsa e me joguei em direção as escadas. – Obrigadatélogotenhoqueir. – Falei num só jato.

– O quê? – A voz confusa de Bill soou atrás de mim nas escadas. Peguei minhas chaves em cima da mesa e desapareci pela porta, quase no mesmo segundo já estava em meu Jetta.

Decolei pelas ruas, lançando olhares furtivos para o relógio que, como de costume, me avisou que eu estava atrasada e chegaria pelo menos 15 minutos depois que todo mundo. Suspirei, escovando meus cabelos para fora do rosto, eu ainda me sentia um pouco corada.
Cheguei ao centro de Singletary, jogando o carro de qualquer jeito no estacionamento e corri em direção à porta. Parei um pouco antes de alcançá-la e respirei fundo, tentando recuperar a compostura. Após alguns segundos, minha respiração abrandou, endireitei meu vestido e confiante passei pela porta.

– Olá. – Uma jovem senhora me saldou atrás de uma mesa. – Posso ajudar?

– Sim, hum... eu sou Allison... Eu tenho uma pintura em exposição aqui... onde a encontro?

– Oh! – Seus olhos ficaram grandes e ela sorriu. – Eu vi o seu, é maravilhoso!

– Obrigada. – Murmurei um pouco sem graça.

– Muito bem, ele está no corredor para a direita. Ah, e aqui está o seu crachá. Boa sorte, espero realmente que ganhe.

– Obrigada de novo. – Disse enquanto me afastava observando meu crachá rosa e branco. Caminhei pelo corredor até chegar ao meu quadro.

_

Eu estava ao lado de minha pintura, sendo muito cuidadosa para não me virar, com medo que alguém pudesse ver minha meia, rasgada e borrada. Recebi vários elogios sobre meu trabalho. Depois de um tempo olhei para o relógio e me surpreendi que, cerca de duas horas haviam se passado. Faltava apenas mais uma para que eu pudesse ir... Mas, que inferno, meu pés doíam. Os sapatos que eu havia escolhido poderiam ser os mais adequados, mas eram também os menos confortáveis. Comecei a andar de um lado para o outro, tentando aliviar a dor nos meus calcanhares. Eu provavelmente deveria estar parecendo um galo pronto para a birga.
Lancei um olhar pelo corredor não havia quase ninguém por ali, por isso decidi aproveitar o momento. Rapidamente tirei os sapatos e coloquei os pés no chão, saboreando a sensação do azulejo frio contra ele. Inclinei-me sobre minhas pernas e massageei meu pobre pé, gemendo de alívio.

– Não é o calçado mais confortável não é? – Uma voz suave e profunda, falou acima de mim. Virei a cabeça para cima e quase cai. JAY. O que ele estava fazendo aqui?

– Não, eles realmente não são. – Respondi, rindo nervosamente. Amaldiçoei meu coração que saltava em meu peito. Será que ele já esqueceu do acidente horrível em junho? Esqueça-o Alley... pare de agir como uma idiota apaixonada...

– Ah, isso é muito ruim. – Ele sorriu para mim, lentamente passando o olhar pelo meu quadro apontando casualmente. – Isso é seu?

– Hum, sim. Se chama Celebration.

Ele balançou a cabeça com aprovação.

– É realmente muito bom. – Comentou se virando para mim. – Alley, certo?

Eu quase engasguei

– Si-sim... – Gaguejei. Aparentemente, meu coração de fato, possui uma memória de curto prazo.

– Hey, temos aula de biologia juntos. No primeiro dia você realmente deu uma lição do Tanenbaum hein, quando ele tentou de pegar. – Disse ele sorrindo.

– Oh, bem... – Eu olhei para baixo, corando, e constatando que ainda não havia calçado meus sapatos. Idiota! Eu os enfiei no pé, esperando que ele não tivesse notado nada. – Não foi nada de mais.

– Bem, eu achei muito legal.

– Ahn.. obrigada.

– De nada. Bem... eu tenho que ir agora, vejo você por ai então?

– Sim, claro! – Eu respondi um pouco ansiosa demais. Ele começou a se afastar e eu tentei desesperadamente pensar em alguma coisa para falar ou fazer, antes que ele fosse embora. BEBIDAS! Meu cérebro gritou. Qualquer desculpa é valida para ficar com ele mais alguns minutos. Após alguns segundos já trotava ao seu lado.

– Bem, eu estou indo tomar alguma coisa, por isso vou andando com você.

– Por mim tudo bem. – Ele assentiu me olhando.

Caminhamos juntos pelo corredor, e eu notei os olhares apreciativos que recebi da outras garotas. É, se eu tivesse visto outra garota andando com Jay eu teria inveja também. Ele era lindo além da crença. Chegamos a máquina de refrigerantes e parei, sorrindo timidamente.

– Ok, te vejo depois então. – Eu disse.

– Tudo bem, concerteza. – Ele respondeu. Sorrindo incontrolavelmente me virei para pegar a lata que caia da maquina e um momento depois, senti que ele estava de pé ao meu lado. – Ah... Alley? – Ele murmurou meu no meu ouvido.

– Sim? – Joelhos por favor, não me falhem agora.

– Sua meia está rasgada.

– Oh. – Parei, perplexa e totalmente envergonhada. – Hum... bem... obrigada por avisar.. eu acho.. é-

Ele me interrompeu com uma risada.

– Sabe... eu até que acho bem sexy.

Então ele saiu, deixando meus sentidos completamente em desordem e meu coração quase saltando pela minha garganta. Minha mente totalmente paralisada com um novo sentimento... a esperança.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!