The World Behind My Wall escrita por Ruuh


Capítulo 20
Capítulo Dezenove - Wish you were here


Notas iniciais do capítulo

Como vocês vão notar abaixo, eu modifiquei a data de aniversário dos gêmeos para outro dia, se não eu não conseguiria manter a linha do tempo de acontecimentos que criei.



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E eu não quero que o mundo me veja
Porque eu acho que eles não entenderiam
Quando tudo parecer quebrado
Eu só quero que sem lembre quem eu sou

Goo Goo Dolls - Iris

 

01 de Setembro de 2008

Alley’s P.O.V

—BILL! – Gritei – VOCÊ VIU MEUS SAPATOS?

Corri em volta do meu quarto desarrumado, pegando o lixo espalhado e joguei-o fora do meu caminho procurando freneticamente meus sapatos perdidos. Caramba! Eu ia chegar atrasada para a aula, logo no primeiro dia! Ótima maneira de causar uma boa impressão. Emburrei meu rosto enquanto me jogava de joelhos no chão procurando debaixo da cama. Nada, exceto um monte de meias sujas e um coelho de pelúcia horrendo e gigante que eu não fazia idéia de como tinha ido parar ali.

Parei por um momento, percebendo que Bill não havia respondido. Ele estava sentado na sala vendo Tv. Marchei para o topo da escada , respirei fundo e gritei novamente.

— BILL – Gritei com toda a força de meus pulmões. – RESPONDE DIABO!

Ouvi um barulho de queda seguida por um fluxo de palavrões ininteligíveis. Bill sempre xingava quando estava com raiva. Sorrindo com satisfação cruzei os braços sobre o peito e esperei. Passos ecoaram pelo corredor quando Bill marchava até o pé das escadas olhando para mim com desgosto.

— Você me assustou! – Ele grunhiu. – Qual é o seu problema?

— Eu não consigo encontrar meus sapatos.

Ele olhou para mim com a boca aberta por alguns segundos antes de responder.

— Você está dando um chilique porque não consegue encontrar seus sapatos? Você tem um milhão deles, Alley! Por que não pega um par diferente?

— Porque eles são meus favoritos... e eu quero usá-los – Respondi.

— Supere isso, vamos procurá-los hoje a noite quando chegarmos.

— NÃO! VAMOS PROCURÁ-LOS AGORA! – Eu exigi.

— Tudo bem, TUDO BEM! – Ele disse com raiva. – Vou procurar aqui embaixo. Como eles são?

— Bem, eles são pretos e têm uma grande faixa branca por cima... são meio esportivos, bem confortáveis, não muito femininos e tem o símbolo da Nike bem do lado. – Enrolei tentando descrevê-los com precisão... eu era péssima nessas coisas.

Durante meu detalhamento, Bill tinha um olhar estranho no rosto, e um blush avermelhado espalhou em sua face. Ele olhou para baixo com culpa, e eu segui seu olhar. Oh, meu Deus. Ele estava usando os meus sapatos? Mas que diabos? Meus pés eram medonhamente grandes assim?

— Uhn... Seriam esses aqui? – Ele perguntou timidamente. – Ér... desculpe.

— BILL! – Eu gritei enquanto desci correndo as escadas. Provavelmente essa não foi uma idéia muito inteligente, claro, sendo eu uma pessoa com um equilíbrio nato, embolei minhas pernas caindo exatamente em cima dele, que tropeçou sob meu peso batendo na parede e nos derrubando no chão.

— Porra mulher, eu pedi desculpas! – Ele murmurou enquanto se endireitava no chão. Aproveitei a oportunidade e agarrei seus pés forçando meus sapatos a saírem. Uma vez vitoriosa, coloquei em meus próprios pés.

— Por que você estava usando meus sapatos? Você tem os seus!

— Porque eles são bem confortáveis... E não são muito femininos, e você tem pés de pato!

O fuzilei com os olhos.

— Você é um babaca. – Eu disse enquanto estendia minhas mãos para ajudá-lo a levantar, que ele aceitou com relutância, dando-me um olhar suspeito e hesitante enquanto enrolava seus dedos nos meus. Eu acho que ele estava com medo de que eu iria deixá-lo cair mais uma vez ou coisa parecida. Bem, na verdade, eu teria feito isso, mas hoje eu estava com muita pressa e não dava para brincar. – Venha! – Eu disse com urgência. – Nós estamos atrasados!

— Nós? – Ele disse entre uma risada. – Quis dizer você né? Eu já estou pronto há 20 minutos.

Abanei minha mão para essa informação. Detalhes, detalhes. Peguei minha mochila de cima do sofá em seguida as chaves do carro virando-me para ele.

— Vamos... – Eu disse. – Tanenbaum nos espera... Ou melhor, me espera.

— Ok, ok... Tanenbaum hein? É homem ou mulher? – Perguntou ele esperançoso.

— Homem, Bill... Não fique muito animadinho.

— Droga. Eu estava esperando por alguma professora sexy de Universidade.

O que ele queria com esses constantes comentários sobre as garotas? Os caras já pensaram em outra coisa na vida que não fossem peitos? Revirei os olhos quando saímos de casa e entramos no carro.

Dirigi por Lexington em direção a UK com Pinky Floyd explodindo em meu rádio. E é claro sendo acompanhado por mim a plenos pulmões, para o desgosto de Bill. O que, naturalmente, me incentivou a cantar mais alto.

— AND DID THEY GET YOU TO RADE YOUR HEROES FOR GHOSTS? – Minha voz estridente e aguda ressoava pelo carro enquanto acompanhava a canção. HOW I WISH, HOW I WISH YOU WERE HERE.

— Será que dá pra abaixar isso? – Bill perguntou em voz alta, mas não alto o bastante. Eu apontei para meus ouvidos indicando que não o estava escutando. Ele parecia irritado.

— VOCÊ PODE ABAIXAR ISSO? – Ele se inclinou e gritou na minha cara.

— POR QUÊ? ESSA MÚSICA É ÓTIMA!

— PORQUE MINHA CABEÇA VAI EXPLODIR!

Eu rapidamente me virei e abaixei o volume esticando minha língua para ele.

— Você não é um cara divertido.

— O quê? O que você disse? – Ele disparou de volta. – Eu não consigo te ouvir, porque me deixaram surdo!

— Para de drama Bill. – Eu disse rindo. – Você está acostumado com esse tipo de barulho, afinal de contas suas fãs é que deveriam ser consirderadas o pulmão do mundo, a Floresta Amazônica é fichinha perto delas. Então, não lamente pelo meu pequeno som velho.

— Preciso começar a usar tampões de ouvidos. - Ele murmurou

— Bem, eu vou comprar uns para você no mercado quando estivermos voltando. – Sorri para ele.

— HÁ! E como isso vai acontecer se você não vai lá de dia?

Hmm, ele estava certo.

— Ah, sim. Eu esqueci. Bem, parece que você terá que sofrer então.

Ele franziu os lábios numa linha fina e apertada, e soltou alguns barulhos irritados, que me lembrou algo como gorilas, mas não disse nada. Imaginei que ele percebeu que eu era uma causa perdida.

Finalmente o campus da UK surgiu em nosso campo de visão. Estávamos nos aproximando. Bill, finalmente se calou, e começou a estudar o cenário com um certo fascínio. Chegamos ao lugar, e descemos a rua principal, que era preenchida com uma multidão de estudantes universitários que passeavam em direção as suas classes. Manobrei o carro através do parque e encontrei uma vaga. Antes de sair, abri um mapa do lugar e expliquei para Bill indicando os vários pontos de referência, caso ele se perdesse. Ele acenou em compreensão e, finalmente, senti-me prepara o suficiente para ir.

— Tudo bem, você está pronto? – Eu perguntei. Ele concordou em silêncio. Ele parecia um pouco sobrecarregado com esse novo ambiente... Eu não poderia culpá-lo. Senti o mesmo quando pisei no campus, com dezenas de milhares de pessoas vagando para lá e para cá. Afaguei seus ombros com carinho antes de travar as portas do carro.

Rapidamente atravessamos o lugar e nos dirigimos para minha primeira aula. Ugh, Biologia. Embora um de meus estudos fosse Química, a universidade sentiu necessidade de me fazer estudar todos os tipos de ciências eles chamavam de ‘ensino geral’ ou alguma merda desse tipo. Tanto faz. Tudo o que eu sabia era que eu odiava Biologia, com fervor. Sem mencionar que eu havia ouvido coisas não muito agradáveis sobre o professor Tanenbaum.

Nos aproximamos do prédio de Biologia. Haviam estudantes ao redor, alguns fumando, outros lendo, e ainda outro apenas apreciando o sol. Entramos no prédio e não demoramos a encontrar a sala onde a aula seria realizada. Era um auditório enorme, com centenas de lugares.

Encontramos um conjunto de lugares na parte da frente da sala e percebi que ali deveria ser um lugar mais seguro a se sentar. Olhei para o meu relógio. Faltavam dois minutos para o meio-dia. Peguei um caderno e um lápis na mochila e me afundei em uma cadeira de canto. Bill preferiu sentar-se no chão bem ao meu lado com as costas viradas para a parede.

— Uau, eu nunca imaginei que a Universidade pudesse ser assim. – Disse ele maravilhado. – É enorme!

Eu balancei ligeiramente a cabeça e sorri. Essa era definitivamente uma das maiores salas de aula de todo o lugar.

De repente uma porta que ficava no outro extremo da sala se abriu e um homem alto, magro, com cabelos grisalhos, uma barba longa e óculos de aros finos entrou, em outras palavras, o estereótipo típico de um professor universitário de Biologia. Eu tive um enorme desejo de cair na gargalhada, embora eu soubesse que isso seria um erro fatal.

— Atenção. – Exigiu ele. A classe que estava movimentada entre murmúrios e risadas, imediatamente se calou. Eu já poderia dizer que esse homem era do tipo que não aceitava nenhum tipo de brincadeira. Parei meu riso sufocado enquanto ele esquadrinhava a sala com seus olhos penetrantes.

— Certo. Meu nome é Carl Tanenbaum. Vocês podem me chamar de Professor Tanenbaum. Peguem seus cadernos e canetas e preparem-se para tomar notas, eu detesto as introduções inúteis do primeiro dia de aula. – Dito isso ele virou-se e ligou o retroprojetor e começou a rabiscar furiosamente no quadro.

Bill assobiou.

— Rapaz, mas ele é uma gracinha né não?

Eu tentei ignorá-lo e copiar as notas. Fantástico. Seria um inferno daqui pra frente.

O Professor Tanenbaum continuou a tagarelar. De vez em quando ele parava de falar para assediar algum aluno que havia adormecido, ou que não estava prestando atenção, ou que estivesse falando, ou trocando bilhetes. Ele chutou vários alunos para fora da classe. Mas sempre, imediatamente recomeçava exatamente de onde tinha parado. Sua voz áspera continuava divagando sobre a dinâmica populacional. Em um momento, eu simplesmente parei de escrever e inclinei minha cabeça para frente e massageei minhas têmporas. Meu cérebro estava dolorido. Meu Deus, isso deveria ser considerado uma nova forma de homicídio. Fechei os olhos e imaginei um pelotão da polícia e o barulho sirenes pelo lugar, e os policiais vinham e prendiam o professor depois que me cérebro tinha derretido e escorrido por minhas orelhas de tanto ouvir esse lenga-lenga. “Você tem o direito de permanecer calado Senhor Tanenbaum, tudo o que disser pode e será usado contra você no tribunal.”

Eu sorri, já me sentindo muito melhor. Devaneios vingativos eram uma ótima terapia...

— Bem, eu estou falando com você mocinha. Qual é o seu nome? – A voz do professor Tanenbaum me empurrou de volta a realidade. Ergui minha cabeça e percebi que, apesar de minha fantasia ter servido para me relaxar ela também havia tirado minha concentração, o que era... bem, não era bom.

— Allison – gaguejei. – Allison Rockenbach.. Eu... uh…

— Uh? Essa é a sua resposta, Srtª Rockenbach?

Apertei meus olhos por um momento. Eu não fazia idéia do que ele havia me perguntado, eu não tinha escolha a não ser admitir minha ignorância. Eu esperava que ele não me fizesse chorar quando começasse a gritar... Eu estava meio sensível sobre esse tipo de coisa.

— Ele perguntou qual é a diferença entre fecundidade e fertilidade. – Bill disse suavemente. Eu tomei uma respiração profunda. Se não estivéssemos entre tantas pessoas eu teria pulado em seu colo e o esmagado em um abraço.

— Bem, senhor... Fecundidade é, hum, a capacidade física de um indivíduo para se reproduzir... E fertilidade, é como uma medida do número real de filhos que uma pessoa produz. – Eu disse nervosa. O professor olhou para mim, e por um momento louco, eu pensei que ele ia me dizer que eu estava errada. Eu sabia que estava certo... Já havia estudado isso antes. Mas, até mesmo minha auto-confiança em meu cérebro nerd era colocada em questionamento sobre o olhar desse homem.

Por fim, ele retirou seu olhar impiedoso e até me ofereceu um pequeno sorriso.

— Muito bem Srtª Rockenbach. Está correto.

Suspirei trêmula de alívio acenando minha cabeça para ele. Rabisquei um “OBRIGADO!!!” em um papel e entreguei sorrateiramente para Bill. Ele me deu um enorme sorriso e acenou com a cabeça, obviamente satisfeito por ter feito algo produtivo no dia.

— De nada Alley Kat.

Consegui passar pelos restantes 50 minutos de aula sem incidentes. Um sino ecoou estridente e irritante pelo lugar, anunciando para os alunos que deveriam seguir para a próxima classe. Professor Tanenbaum, silenciado pelo sinal, nos dispensou.

— Bem, alunos, parece que o nosso primeiro dia chegou ao fim. – Sorriu doentio. – Vejo vocês na sexta-feira.

Não, se eu abandonar o curso antes. Peguei minhas coisas e corri para fora da sala, contente por sair daquele inferno. Saí pela porta dupla e a luz do sol se chocou com meu rosto e pela primeira vez, eu estava contente em vê-la. Que, com minha pele de zumbi, era uma raridade.

Eu estava no meio do campus quando percebi que Bill não estava atrás de mim. Parei instantaneamente meus passos e me virei para trás, com os olhos arregalados. Ah não... Estudantes irritados me encaravam quando eu interrompi o fluxo de tráfego humano na contra-mão, mas eu não me importei. Droga! Olhei pela multidão mas ele estava longe de ser visto. Amaldiçoei-me por correr para fora com tanta pressa. Mais uma vez eu o havia abandonado. Pensando apenas em mim e no quanto eu queria sair de lá. Que tipo de amiga eu era?

Olhei para o relógio e percebi que já estava em cima da hora para a próxima aula. Considerei em matá-la para ir atrás dele... mas eu não podia me dar a esse luxo. Se alguém não comparecesse ao primeiro dia de aula, eram retirados da lista da classe... e já era tarde demais para adicionar outra classe na minha agenda se isso acontecesse. Mordi meu lábio nervosamente, dividida sobre o que fazer.

Você precisa ir para a aula. Minha voz, calma e tranqüila, interior disse. Ele vai ficar bem, ele tem um mapa. E também sabe que você tem aula de história da arte americana agora. Ele vai esperar por você aqui fora.

Deixei essa voz razoável decidir por mim, e com relutância fui para a próxima aula, rezando para que essa voz tivesse com razão. Entrei na sala, tomando meu lugar e tentando me concentrar na professora. Ela era uma mulher jovem, muito bonita e simpática. Seu nome era Mellody Stewart e ela pediu para que todos se levantassem e comentássemos sobre nós mesmos, para que nos conhecêssemos melhor. Tentei me concentrar em meus colegas, mas minha mente não conseguia desviar os pensamentos de meu amigo rockstar imaginário... Bill perdido, vagando sem rumo, Bill se sentindo abandonado e sozinho... merda. Eu estava preocupada.

Finalmente, depois de todas as apresentações, inclusive a minha, a aula acabou e a classe começou a se dispersar. Mellody parou em minha frente antes que eu pudesse sair.

— Allison certo? – Perguntou ela.

Balancei a cabeça.

— Só... só Alley... Sim?

— Ah, eu já ouvi sobre você e vi alguns de seus trabalhos. Você é ótima.

— Oh, obrigada. – Eu disse. Normalmente eu teria pulado e dado três saltos mortais para trás, mas no momento eu estava com coisas mais importantes na cabeça.

— De nada, querida... Você está bem? Parece um pouco pálida... - Uh que novidade, esqueci de comentar que não fui apresentada ao sol.

— Bem, ah... não muito. Estou preocupada com um amigo meu. – Respondi suavemente. – Tenho que encontrá-lo.

— Bem, ah... então não me deixe mais tomar seu tempo. – Ela sorriu compreensivamente. – Espero que fique tudo bem.

— Eu também... – Disse baixinho antes de correr pela porta. Desci as escadas de dois em dois em direção ao saguão, esperando que Bill estivesse sentado num dos bancos almofadados esperando por mim para gritar comigo por tê-lo deixado novamente. Meus sapatos ecoavam a cada passo, pensei na ironia da situação, dada a canção que eu havia cantado mais cedo. Sim, como eu queria que você estivesse aqui Bill.

Corri pela porta de vidro, mas ele não estava lá, nem ao redor. Havia uma area de descanso, onde os alunos ficavam entre os horários das classes, mas ele não estava ali também. Parei, descansando a mão sobre o quadril, incerta do que fazer a seguir.

Bem Alley — A maldita voz interior falou novamente. – Parece que temos uma situação complicada pela frente.


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