The World Behind My Wall escrita por Ruuh


Capítulo 19
Capítulo Dezoito - And She Was




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Eu pensava que me conhecia, mas de alguma forma você me conhece mais
Eu nunca soube disso, nunca antes. Você é o primeiro a concluir que somos um casal. Eu não sei quem eu seria se eu não te conhecesse.

Adele - My same

No final de Agosto

Bill’s P.O.V

– The world was moving and she was right there waiting, and she was – Alley cantava em voz alta e desafinada enquanto esfregava uma panela enegrecida de fritura na pia. Ela tentou fazer frango frito, para nosso almoço. Pelo menos, é isso que eu pensei que era. O resultado foi vários pedaços de ave carbonizados que mais pareciam pedaços de carvão que de frango. Agora ela estava tentando remover a espessa camada de carne queimada da superfície da panela que haviam grudado. Parecia que ia demorar um bom tempo.

Joining the world of missing persons, and she was… – Ela parou abruptamente sua interpretação da canção do Talking Heads e virou o rosto para mim. Hey, você pode subir e pegar um pano de prato limpo para mim? – Eu assenti e ela sorriu. – Obrigada amor – Ela voltou sua concentração para a panela e continuou a cantar.

Trotei pelas escadas, balançando a cabeça, mas sorrindo. Eu estava aqui a cerca de dois meses, e nesse tempo aprendemos muito sobre o outro. Todo o seu amor incondicionável a todas as coisas sobre o rock and roll dos anos 80 e seus fetiches mais estranhos.

Encontrei o armário da despensa e peguei um pano limpo. Sim, nós conseguimos superar nossas diferenças e agora parece que eu a conheço há anos. Claro, vivendo com uma pessoa 24 horas por dia nos 7 dias da semana durante dois meses, te fazem sentir isso. No começo eu estava um pouco preocupado por estar perto dela durante todo o tempo, achei que com isso acabaríamos nos odiando... Especialmente em nossa situação, onde eu praticamente seguia todos os passos dela. Felizmente isso não tinha acontecido. As peculiaridades que ela tinha, que provavelmente irritariam muitas pessoas, eu achava muito simpáticas. Na verdade, quanto mais a conhecia, mais gostava dela...

Mentalmente me corrigi com essa afirmação. Eu não gosto dela desse jeito... Eu só quis dizer que ela estava se transformando em uma grande amiga, isso é tudo. Quero dizer, eu tenho uma namorada me esperando em casa...

Afastei todos esses pensamentos enquanto descia as escadas. Entrei na cozinha e lhe joguei o pano.

– Obrigada! – Ela abriu um grande sorriso e voltou para o seu trabalho. Hmmm... Ela estava muito alegre hoje. Alguma coisa estava acontecendo. Eu pensava enquanto a observava lavar a panela. A água corria meio lamacenta e marrom pela pia, quando ela afundava o utensílio na água limpa, distraidamente ela esbarrou no pote de sabão líquido e despejou quase todo seu conteúdo na água fazendo com que espumasse descontroladamente. Ela gritou quando as bolhas de sabão começaram a estourar em sua cara. – Desculpe pelo almoço. – Ela continuou, com um sorriso envergonhado enquanto tentava empurrar freneticamente a espuma de volta para a pia. Eu ri silenciosamente.

– Está tudo bem – Respondi. – Estou realmente acostumado com isso agora.

Ela me olhou e atirou o pano úmido em meu rosto mostrando a língua.

– Engraçadinho... Então, você quer pedir uma pizza?

Eu gemi de forma audível. Outra coisa que eu havia aprendido foi que pizza era sua solução para tudo. Almoço arruinado? Peça uma pizza. Mal humorada? Peça uma pizza. Bin Laden bombardeou a Casa Branca? Peça uma pizza. Isso devia estar no sangue italiano dela, assim como no de seu pai.

– Hum, não. Eu vou ter que declinar respeitosamente dessa oferta. – Eu tinha comido o suficiente de calabresa e mussarela nos últimos dois meses para durarem uma vida.

– Você tem uma Idéia melhor?

Uma luz se acendeu em minha cabeça.

– Na verdade, eu tenho. – Disse ansiosamente. – Deixe que eu cozinhe. – Eu não tinha muita experiência com culinária, mas tinha que ser melhor do que ela havia tentado fazer, certo?

– Você? – Indagou, logo em seguida mordendo os lábios, pensativa. – Bom tudo bem. Fique a vontade.

Fiquei um pouco surpreso com sua vontade repentina de me dar rédea solta na cozinha. Normalmente Alley teria protestado, não necessariamente porque ela não confiava em mim na cozinha, mas apenas por uma questão de argumentação. Ela era assim. Mas, novamente, ela estava agindo estranhamente hoje.

– Uhm, bem... – Eu disse. – O que você quer?

Ela estudou a parede por um minuto, pensando. Então, encontrou meu olhar e deu outro sorriso enorme.

– Surpreenda-me – Disse batendo palmas. Ela se aproximou e passou a mão em meus cabelos. – Você faz o que você quiser. Eu vou ver televisão.

Ela saiu da cozinha me deixando sozinho. Fiquei parado ali, piscando os olhos várias vezes e me perguntando o que havia acontecido.

– Quem é você e o que você fez com a verdadeira Alley? – Murmurei para mim mesmo.

Abri a geladeira e analisei seu conteúdo. Eu não tinha muitas opções. A maioria das escolhas de Alley era sempre no corredor de congelados do supermercado. Apesar de que Louise parecia ser a chef por aqui. Hmm... Gostaria de saber se ela ficaria irritada, ou desconfiada, se alguns de seus ingredientes desaparecessem. Continuei analisando o freezer. Talvez outra pizza do Domino’s não fosse uma idéia tão ruim afinal...

– A-há! – Exclamei triunfante quando encontrei alguns hambúrgueres congelados. Agora, só preciso de queijo, batatas e pães e estaria tudo pronto. Talvez isso não fosse um filé mignon, mas pelo menos não era tão ruim. Peguei a panela que ela acabara de lavar e coloquei no fogo.

_

Um pouco mais tarde com a refeição já concluída. Peguei dois pratos cheios de hambúrgueres e batatas fritas e os levei para a sala. Alley descansava no sofá, assistindo a mais um programa de comédia, que eram os seus favoritos.

Bon appétit, – Eu disse, curvando-me para entregar um prato. Seus olhos se arregalaram um pouco.

– Bill! Parecem ótimos! – Ela se entusiasmou e levantou a ponta de um hambúrguer. – Hum.. mas falta maionese. Já volto.

Ela desapareceu na cozinha e retornou com uma faca e o pote inteiro de maionese. Observei-a me sentindo um pouco revoltado. Ela comia maionese em tudo – hambúrgueres, batatas, macarronada, queijo, cabelo, shampoo, no Chester... Seu colesterol devia estar ultrapassando o telhado! Ela ajeitou seu hambúrguer e deu uma mordida gigante.

– Mmmm... Bom trabalho, Bill – Ela murmurou com a boca cheia de comida. – Eu acho que vou te deixar cozinha com mais freqüência.

– Graças a Deus. – Sussurrei baixinho. Mordi o meu mastigando metodicamente. Uow, isso está muito bom. Pensei presunçosamente. – Então isso significa que você vai me deixar ir no supermercado com você? E então poderemos comprar comida de verdade?

Pela primeira vez durante todo o dia, seu rosto caiu. Fazia dois meses desde o incidente na loja com o cara que ela gostava, mas ela ainda estava com vergonha de encará-lo. Todas as vezes que ia até lá, preferia ir tarde da noite e permanecia bem pouco tempo, ela também se recusava a me levar com ela, eu não estava muito certo do porque, a menos que ela achasse que eu poderia distraí-la. Tanto faz. Eu disse a ela que estava louca todas essas vezes mas ela não gostou muito do comentário.

– Bem...

– Ah, vamos!

– Eu não sei...

– Você tem que acabar com isso, Alley. Não é para tanto, quero dizer, ele provavelmente já até esqueceu de você.

– Oh, muito obrigada, Bill!

– Eu não quis dizer nesse sentido, você me entendeu... Enfim, por que você não a outro mercado então?

– Porque acontece que eu gosto da Kroger, e eu não vou deixar de ir por causa dele. – Ela deu outra mordida feroz em seu hambúrguer.

– Então – Eu comecei um pouco exasperado – você vai se dar ao trabalho de fazer compras no meio da noite, mas você não vai fazer algo simples como ir em outro lugar?

– É mais ou menos por aí.

Eu suspirei derrotado e decidi mudar de assunto. Ela era muito teimosa, o que me lembrava muito o Tom.

– Então... – comecei – o que aconteceu para te deixar de tão bom humor hoje?

Seu rosto se iluminou novamente. Ela colocou o prato de lado e correu para a cozinha, voltando com uma carta na mão, em entregando enquanto sentava. Abri-a e comecei a ler.

– Prezada Srtª Rockenbach... Estamos felizes em informar que o seu retrato “Celebration” foi escolhido para estar este ano na Exposição de Belas Artes, seu retrato estará em exposição junto com os de outros jovens talentos no fim de semana de 6 a 8 de setembro de 2008. – Terminei a leitura – Uau... parabéns!

Ela sorriu alegremente batendo palmas.

– Obrigada! Isso é tão inacreditável, quero dizer, essa é uma das ocasiões que todo estudante de Artes tenta entras, mas poucos são escolhidos. Eu ainda não consigo acreditar que escolheram o meu!

– Isso é ótimo! Sobre o que é o quadro?

– É sobre a comemoração de quando o Kentucky conquistou o último campeonato de basquete... Depois da vitória, estudantes, fãs, todo mundo se reuniu nas ruas e comemoraram com uma grande festa. Eu fui a duas delas... meu pai me levou em 2002, e eu fui com uns amigos em 2004. É uma sensação louca e incrível, orgulhosa... Então, eu basicamente tentei capturar essa sensação, a atmosfera do lugar “Celebration” na imagem.

Eu balancei lentamente a cabeça em concordância.

– Então, você ganha alguma coisa com isso?

– Bem, o reconhecimento já é uma grande conquista. Mas eles também dão prêmios para o primeiro lugar. Quem ganhar tem seu quadro em exposição permanente e ganha uma bolsa de estudos.

– Aposto que você tem uma boa chance de ganhar isso.

– Não, nem tantas... muitos jovens talentosos participam. Mas é realmente inacreditável. – Ela jogou as mãos para o ar. – Estou completamente chocada que eu fui escolhida para a exposição. Estou tão feliz!

– Você é muito modesta amor. – Comentei rindo. – Mas isso é realmente incrível. Quando você recebeu a carta?

– Hoje de manhã. Eu a li antes de você acordar. Lou ainda não sabe, eu mal posso esperar pra contar para ela, que foi a única que me motivou a apresentar esse quadro em primeiro lugar.

– E com razão. – Eu disse lambendo o Cheddar de meus dedos.

– Ah, pára com isso. –Protestou ela, mas corando. Eu não podia deixar de sorrir. – E você está com a bochecha suja de Cheddar também, seu palhação!

Deixei minha boca aberta e ampliei meus olhos.

– Alley! – Eu disse numa surpresa simulada. – Você voltou!

Ela me deu a língua e sorriu.

– Sim sou eu. Só fiquei um pouco aérea com toda essa situação.

– É eu percebi. Enfim, o que vamos fazer agora? Eu estou cheio. – E entediado. Eu precisava sair de casa por algum tempo... mesmo que fosse só para dar uma volta no quarteirão ou algo assim...

– Bem... eu preciso ver algumas lojas. – Ela se inclinou para trás, esticando os braços sobre o encosto do sofá.

– Lojas? – Perguntei confuso. – Achei que você odiava fazer compras.

– Bem, de roupas e outras coisas, sim. Detesto isso. Mas eu tenho que comprar material de escola.

– Material de escola?

Ela me lançou um olhar incisivo.

– Sim, material de escola. Eu vou para a faculdade, lembra? Universidade do Kentucky.

Faculdade já? Olhei para o calendário, fui ligeiramente surpreendido pela data de 30 de agosto circulada em vermelho. Por que eu não percebi antes?

– Você começa as aulas em dois dias?

– Sim. Preciso de cadernos, canetas, lápis... pílulas de cafeína para me manterem acordada na aula de Biologia...

– Você começa as aulas em dois dias. – Dessa vez foi uma afirmação para mim mesmo.

Ela suspirou.

– Sim, Bill. Nós já conversamos sobre isso.

– O que eu vou fazer?

– Ué, como assim? Você pode ficar aqui e fazer a bagunça que quiser!

Ficar aqui o dia todo? Ah sim, isso parecia ser muito bom mesmo,

– Eu vou ficar sozinho! – Protestei.

– Chester vai estar aqui.

– Chester me odeia.

Ela deu uma risadinha.

– Ele não te odeia, só tem um complexo de inferioridade.

– Por que não posso ir com você? Eu vou me comportar, eu prometo! – Eita, eu parecia uma criança de oito anos de idade.

– Bill... a UK tem atualmente um registro de aproximadamente 28.000 alunos... não é uma boa idéia você vir comigo. Lá pode ser um caos as vezes.

– Eu não me importo... tem que ser melhor do que sentar minha bunda aqui todos os dias. Vou ficar com você, você pode me dar um mapa, e se eu me perder, então podemos decidir um lugar onde podemos nos encontrar. Vamos lá, Alley Kat! Tenha um coração e seja boazinha comigo! – Eu pedi.

Seu rosto relaxou um pouco, eu sabia que ela ia concordar, chamar ela pelo apelido sempre amansava seu coração.

– Eu não acredito que estou concordando com isso... mas tudo bem. Vou lhe dar esse crédito.

– SIM! – Eu pulei no sofá. – A experiência de ir para uma faculdade... Aposto que existem várias garotas quentes por lá.

Ela ficou visivelmente irritada com meu comentário, o que me serviu para ir mais. Qual era o problema? Eu não ia dar em cima de ninguém, não dava para fazer isso né... Infelizmente.

– Se por ‘’quentes’’ você quer dizer vagabundas, então sim.

Eu ri, amando a expressão irritada em seu rosto.

– Melhor ainda!

Ela revirou os olhos e bufou.

– Você vai ficar entediado lá, Bill. Sentado em todas as minhas aulas. Eu me entedio só de pensar. Além disso, eu achei que você tivesse fãs o suficiente para não ter que sair por ai dando em cima de alguém.

– Eu amo minhas fãs, elas são as melhores do mundo. Mas elas são meio... lunáticas sabe, eu preciso de uma mulher madura.

Ela riu exageradamente com esse comentário.

– Uma mulher madura? Bill, você é mesmo demais.

– O que? – Eu exigi. – Por que você está rindo?

– Nada não. Mas, realmente você não vai chegar a lugar nenhum com essas “gostosas” de qualquer maneira.

– Bem, eu sei disso, mas não custa olhar não é?

– Tanto faz. – Ela se levantou e ajeitou os cabelos, cujas ondas caiam-lhe pelas costas. – Enfim, você vai sair para comprar o material comigo ou não?

– Até o fim do mundo meu amor! – Eu disse e apertei seu nariz enquanto corri para o quarto e trocava de roupa.


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