The World Behind My Wall escrita por Ruuh


Capítulo 14
Capítulo Treze - A teoria de Saint Augustine


Notas iniciais do capítulo

Prontos para uma aula de filosofia religiosa extracurricular totalmente grátis?

hehe



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/121586/chapter/14


E quando eu penso em todos os lugares que eu não pertenço,
Eu vim para lidar com a vida e percebo que isso está indo longe demais
Eu não pertenço a esse lugar, nós precisamos fugir daqui querida.
Escapar dessa pós-vida, porque desta vez estou prestes a me movimentar mais e mais para longe daqui

Avenged Sevenfold - Afterlife

Alley’s P.O.V


Dá próxima vez, vou pensar dez vezes antes de perguntar algo a Bill Kaulitz.


Já faziam mais de 30 minutos desde que eu pedi que ele dissesse algo sobre si mesmo, e eu estava começando seriamente a me arrepender. Especialmente desde que minha mente continuava vagando, pensando em nossa situação bizarra... tentando evocar explicações plausíveis para sua aparição. Houve um miudinho estranho de respostas no fundo de minha mente... como uma idéia que tenta tomar forma, só que ela não conseguia, porque toda vez que eu chegava perto de entendê-la, Bill me interrompia, parecendo irritado e perguntando se eu estava prestando atenção no que ele estava falando.

– ... Então, meu padrasto foi o nosso grande mestre para nossa carreira, ele que nos incentivou desde o início, quero dizer, desde criança eu componho minhas próprias canções, e eu toco teclado também... – Bill fez uma pausa, olhando fixamente para mim esperando uma resposta.

Pisquei, tentando descobrir o quão longe em sua autobiografia ele havia chegado. Eita, ele não estava cansado não?

– Canções... – eu consegui repetir. – Ah... Por que você quis ser o vocalista? Já fez aulas de canto ou coisa assim? – Ei, pelo menos eu estava me esforçando.

– Ah, bem... Costumavam dizer que minha voz era suave, então comecei a trabalhar com ela.

– Aaah.. entendo... – Eu disse distraidamente. Resvalei-me novamente para uma profunda reflexão. Somando os fatos, ele havia acordado há duas semanas. Olhei para ele, sua aparência era mácula e impecável... tinha que haver alguma coisa nisso. Seres humanos comuns, simplesmente não ficavam perfeitos na vida cotidiana... eram inviáveis de muitas maneiras, tudo na Terra se desgasta eventualmente... fica sujo, degradado, ou morto.

Parei nesse pensamento: Terra, realidade... sim, mas não por assim dizer, outro lugar... metafísico...

Certo... eu tive uma aula sobre filosofia religiosa semestre passado, onde tínhamos discutido sobre perfeição e suas limitações... havia vários tipos de teorias interessantes... como por exemplo, Platão dissera que somente a ideia de algo poderia ser perfeito, nunca a manifestação física dessa ideia... bem, eu não tinha certeza sobre isso, pois não era certamente o físico de Bill que estava sentado em meu sofá tagarelando compulsivamente. O que St. Aquino disse mesmo? Algo como tudo era classificado por sua perfeição... “Logo deve existir um ser que tenha este padrão máximo de perfeição e que é a causa da perfeição dos demais seres.” De qualquer forma isso não me ajudou muito. E Saint Augustine veio com a ideia que existiam duas partes para cada pessoa, a imperfeita e a perfeita, o corpo e a alma e –

Pisquei. Duas partes?

– Fique aqui! – Eu disse de repente saltando do sofá. – Volto num minuto.

Ele me deu um olhar confuso enquanto eu refazia meus passos apressados em direção a meu quarto, com uma ideia se formando em minha mente.


_

Quarenta e cinco espirros, sete livros empoeirados, quatro garrafas de Ale8 e o que pareceu ser um ano e meio depois, eu tive minha resposta. Bem, eu tinha uma hipótese, de qualquer maneira. Talvez uma hipótese estranha, inacreditável, mas era um começo... E pra falar a verdade, nesse momento era a única coisa que tínhamos para seguir em frente. Agarrei a cópia muito antiga e gasta de “Retratações” me sentindo muito realizada.

Foi ali mesmo, na página de St. Augustine, que fala sobre o Evangelho de João. Eu re-li o segundo parágrafo, estudando a frase-chave... “Há, portanto, uma sede interior, uma alma interior. Porque há um homem interior. O homem interior é realmente invisível, mas o exterior é visível. mas ainda melhor que o exterior é o interior”... Eu supus que ele se referia a uma declaração feita por Cristo, sobre ‘alimentar’ a alma com o pão, que seria o amor de Deus. O certo é que o homem ame mais a sua alma que seu corpo, e um amigo verdadeiro deveria compartilhar esse amor da mesma forma pura e sincera. O que importa mais... a mente ou o corpo? Obviamente... a mente... a alma, o “homem interior” ... assim.... uma vez que o interior era mais importante, era possível que ele tenha sido enviado para cá para que eu cuidasse dele? Que, de alguma forma, os dois seres – interno e externo – tinham se separado antes do tempo devido e que até podiam ser... reunidos, e por falta de uma palavra melhor eu fui acidentalmente nomeada a guardiã de sua alma?

Marquei a página e respirei fundo. Bill, para minha surpresa, havia seguido minhas ordens e ficou esperando-me lá em baixo. Enfiei o livro debaixo do braço e corri pelos degraus em direção à sala. Ele me olhava com expectativa quando entrei.

– Eu tenho uma ideia geral. – Eu disse. – É um pouco louca e pode parecer ridícula, sem contar que você pode pensar que eu fui fumar um baseado ou coisa do tipo, mas é uma teoria.

Ele me deu um olhar surpreendido.

– Tá falando sério?

– Sim... – Fui em sua direção e abri o livro. – Leia esta página.

Ele pegou o livro de minha mão e baixou sua cabeça para a página. Sentei-me ao seu lado, à espera de sua resposta. Ele ficou em silêncio por vários minutos enquanto lia.

– Ah... – ele disse finalmente. – uau.

– Eu sei, né? – Disse. – O que você acha?

Por incrível que pareça, seu rosto corou um pouco.

– Sobre... ?

– Sobre o que Saint Augustine disse... Você acha que isso é possível?

– Bom... tudo é possível né? – Perguntou ele. – Além do mais do jeito que as coisas estão por aqui...

– Você sabe o que eu quero dizer. – Eu disse. – Apesar de tudo, não faz sentido?

Ele ficou quieto por alguns minutos e eu o olhei com desconfiança. Certo. Às vezes eu me esqueço que nem todos no mundo são nerds como eu.

– Bill, – eu disse lentamente. – você entendeu o que acabou de ler?

Ele cerrou os lábios.

– Hum.... é... acho que sim... – ele gaguejou. – Tudo bem, não entendi nada.

Eu suspirei fechando os olhos.

– Por que você não me disse isso logo?

– Desculpe! Eu só não queria parecer um idiota. – Ele resmungou – Nem todos são gênios como você. Agora, você poderia explicar isso em termos leigos para mim?

– Tudo bem... – Eu levei mais um minuto para coletar as informações em meu cérebro. – Eu tive aulas sobre esse tipo de coisa... Esse livro aqui – disse apontando para a capa. – foi escrito por Saint Augustine, um filósofo religioso. Ele acreditava que cada pessoa é basicamente composta de duas partes. Todo mundo tem um “homem exterior” e um “homem interior”. Ou “mulher exterior” e “mulher interior”, enfim, você sabe ninguém pode ser perfeito, somente Deus é perfeito. O homem exterior, é o recipiente da alma, não é perfeito e de fato aprisiona a alma. Augustine, na verdade chegou ao ponto de dizer que o corpo é a prisão da alma. Quando pensamos que pessoas vão para o céu, nos referimos ao se estado espiritual, correto? Não o corpo atual, o real. O homem ”interior” e o “exterior” tem que se separarem quando a pessoa morre.

– Agora eu me perdi. – Ele me interrompeu. – O que isso tem a ver comigo?

Eu suspirei com impaciência. Será que ele não via onde isso ia dar?

– Eu não estou certa disso, mas acho que o que poderia ter acontecido é que, de alguma forma, o seu “homem interior” se separou do seu “homem exterior” antes do devido tempo. O seu exterior está deitado em algum hospital do outro lado do país, enquanto o seu interior está aqui – cutuquei suas costelas – sentado no meu sofá sem a prisão de um corpo real.

Ele olhou para mim como se eu tivesse dito que o Arnold Schwarzenegger na verdade era a Britney Spears depois que ficou careca.

– Mas eu tenho um corpo! – Ele disse exasperado. – Você o está cutucando agora mesmo!

– Oh... – eu suspirei. – E quem mais pode tocá-lo? – Ele ficou em silêncio, então continuei. – Eu acho que é como uma ilusão... Por algum motivo eu tenho essa capacidade de te tocar, de te ver, de me comunicar com você. Ninguém mais é capaz disso... Talvez esse exemplo seja bobo, mas é como se fossem óculos 3D que você usa para ver filmes e coisas do tipo. Se não está com os óculos você sente que está faltando alguma coisa. Eles usam essas ilusões de ótica que permitem que você veja todo o material extra. Então, vamos pensar nisso desta maneira: Deus me deu um tipo de percepção extraordinária, como os óculos 3D, para que eu possa te ver... Você é real, e você é tangível para mim, mas não é para mais ninguém. – Ele balançou a cabeça, absorvendo a informação. – Agora, isso também pode explicar o fato de você não ter sentido necessidade de tomar banho nas últimas semanas, e por que parece que você não está prejudicado com os danos físicos que sofreu. – Eu disse. – “O homem exterior leva o ímpeto de danos físicos e das mudanças.” Ele não afeta muito o seu estado interior. – Eu me inclinei contra a almofada. – E quanto ao fato de você vir parar aqui... Você disse que orou, certo? – Ele balançou a cabeça afirmativamente. – Bem... eu acho que fui designada para ser... como... sua protetora, por enquanto. Talvez seja por isso que eu tenho o “dom” de te ver. Você orou pedindo ajuda e você acabou por aqui. Então...

Bill olhou pela janela por alguns minutos.

– Caramba! – Disse ele. – Isso é... incrível. Você pensou nisso tudo sozinha?

– Bem... – Eu disse corando um pouco. – Tecnicamente, Saint Augustine pensou nisso há milhares de anos.

Ele balançou a cabeça.

– Sim, mas... uau. Parece inacreditável... mas faz sentido. – Ele disse com um pequeno sorriso – Eu nunca teria pensado nisso nem em milhares de anos.

Eu encolhi os ombros.

– Sim... até eu me surpreendi com isso.

– Então ... - ele disse lentamente. - Nós estabelecemos como eu poderia ter acabado assim ... mas ... por quê? Por que o meu "homem interior" foi separado? E por que você seria a única capaz de me ajudar?

– Talvez tenha sido um erro..

Ele me deu um olhar penetrante.

– Deus não comete erros.

– Certo... – eu murmurei enrolando os dedos em meus cachos.... – Bem, Bill... acho que nós devemos descobrir com o tempo, por que definitivamente para isso, eu não tenho resposta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

AEAEAEAE