The World Behind My Wall escrita por Ruuh


Capítulo 11
Capítulo Dez - Através de Mim




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Eu escuto o som de uma batida de relógios
volte e olhe para mim, olhe para mim quando eu estou perdido

Coldplay - A whisper

Bill's P.O.V

Deus, eu prometo ao Senhor, que se o Senhor me tirar desta bagunça com a minha sanidade mental intacta, eu vou voltar a ir à igreja todos os domingos... Não, mais do que isso, eu vou começar a ir duas vezes por semana... Três vezes, se o Senhor realmente me ajudar.

Eu estava deitado no sofá com a cara enterrada na almofada. Jesus, por que essa garota tava levando mais de 20 minutos pra calçar um sapatos? Finalmente, após o que pareceram vidas de espera, ouvi o tamborilar alto de seus passos descerem as escadas.

– Prontinho. - Ouvi-a dizer com uma falsa empolgação. - Aqui estou eu Sr. "Kaulitz".

– Engraçadinha - Será que ela não me reconhece? Será que eu caí em desgraça com o público? O que houve com a banda? - Esse é o meu nome ok? Você vai ter que aceitar isso.

Ela me ignorou.

– Bem, não íamos sair? – Analisei sua aparência, franzindo o cenho, ela usava ainda as roupas de dormir (que estavam bem amassadas por sinal) e seu cabelo estava completamente assustador, ponderei a ideia de mandá-la tomar um banho antes de sairmos em público, mas pensando bem, se ela levou vinte minutos apenas para calçar os sapatos, um banho não levaria menos que uma hora e meia, e minha paciência já estava perigosamente atingindo seu limite.

– Sim – Eu disse. Caminhei até a porta da frente fazendo sinal para que ela me seguisse. Fazia um brilhante e úmido dia de Sol. A luz quase me cegou quando pisei na varanda. Agora, tudo o que tínhamos que fazer era encontrar algumas pessoas... certamente haveriam transeuntes lá fora, ou algo assim. Pus a mão a cima de meus olhos para tentar bloquear a claridade solar, olhando ao redor.

– Ai que calor do cacete – A ouvi resmungar. Balançando a cabeça distraidamente caminhei em direção a calçada. Olhei para os lados e pude ver duas figuras distantes correndo em nossa direção... Perfeito! Agora era só sentar e esperar...

– O que você tá esperando? – Ela reclamou. – Escute, eu não posso ficar aqui o dia todo, eu tenho mais o que fazer. E caso você não tenha notado, minha pele não é lá muito compatível com o sol.

Respirei fundo.

– É, eu percebi. – Murmurei olhando para ela. – Estamos esperando por eles. – Apontei para as pessoas que vinham na extremidade da rua.

Ela bufou, sentando-se sobre a grama fofa.

– Ok. – Disse emburrada. – Mas é melhor que isso seja breve – Depois de pensar por um momento, sentei-me ao lado dela para esperar.

Levou quase cinco minutos para que eles pudesse se aproximar o suficiente. Ainda com eles a vários metros de distância, levantei-me cutucando sua canela para chamar a atenção e prostrei-me no meio da calçada. Abri meus braços, sentindo um tanto quanto idiota por isso, e os abanei.

– EI! – Gritei com toda a força de meus pulmões. – OLÁ! VOCÊS AÍ!

– O quê você está fazendo ? – Ela sussurrou enquanto eles se aproximavam.

– Estou provando o que eu disse. – Respondi em voz alta. – EI! – Gritei novamente abrindo mais meus braços enquanto eles se aproximavam ainda mais, com o risco de uma colisão e então... atravessaram. Me atravessaram. Foi uma sensação completamente assustadora. Como se uma cortina de água gelada atravessasse meu corpo. Estremeci quando eles passaram, envolvendo meus braços em torno de meu peito. Ugh... Eu esperava que ela tivesse acreditado em mim depois disso, por que eu não estava com a mínima vontade de fazer isso de novo.

Virei-me para ela, com um olhar interrogatório.

– Bem, o que você acha? – Perguntei.

Sua boca estava aberta, seus olhos arregalados em choque. Uma expressão a qual eu já estava bem familiarizado. Ela piscou e gaguejou.

– Q-que diabos foi isso?

– Eu não sei. – Encolhi os ombros com simplicidade.

Ela abaixou a cabeça, encarando a grama. Caminhei em sua direção e segurei seus braços. Ela se ergueu em surpresa ao meu toque.

– Você vê agora? – Perguntei baixinho. – Acredita em mim?

Ela assentiu, muito lentamente. Ok, um ponto a mais em evolução aqui. Levantei-me depressa. Sem palavras ela mecanicamente repetiu meu ato e caminhou em direção a casa, sendo seguida por mim. Por um momento, fiquei preocupado... talvez tenha sido demais. Muita informação para ela absorver de uma vez só... mas o que mais eu poderia fazer?

– Ahn... você tem internet aqui? – Perguntei, uma vez que já estávamos dentro de casa. Ela assentiu com a cabeça novamente, com o olhar vagamente olhando para o teto. Meu Deus será que ela estava em choque? - Tudo bem, tudo bem... acho que você não vai gostar muito, mas eu tenho mais uma coisa pra te mostrar.
_

Mais uma vez estávamos no andar de cima, no que parecia ser um pequeno escritório dentro de casa. Com duas mesas e umas prateleiras repletas de livros encostadas sob a parede. Ela sentou-se ao computador digitando alguma coisa. Sentei-me a sua frente, do outro lado da mesa. Provavelmente ela devia estar no Google, procurando por fotos de "Bill Kaulitz" para poder comparar comigo. Eu estava tentado a cantar para ela como prova, mas percebi que ela não era muito fã de minha música então descartei essa possibilidade. Além do mais, o Google era cheio de imagens que ela podia escolher, então decidi esperar...

Após um momento ela parou. Olhando fixamente para a tela... depois, fixamente para mim. Em seguida para a tela de novo, depois para mim outra vez.

– Aaaannh... - Eu comecei.

– Puta merda. – Ela sussurrou. Eu fiquei realmente aliviado... já estava ficando muito preocupado com o silêncio. Ela não me parecia o tipo de pessoa que ficava calada por muito tempo. – Você... Você é...

– Bill Kaulitz. – Terminei a frase para ela. – O próprio, ok?

– Mas... – Ela hesitou em suas palavras. – É impossível! O que está acontecendo? Por que você está aqui?

– Eu não sei. – Respondi calmamente. – Tudo o que sei, é que algo aconteceu... algo que eu não consigo lembrar... Como eu te disse, eu acordei em uma manhã e eu estava assim. Preso, nesse estado sobrenatural... as coisas não mudaram até noite passada. Quero dizer, eu continuei esse "menino-fantasma" mas minha casa era a mesma, eu dormia no mesmo lugar. – Parei por um segundo. – Pode parecer estúpido mas... eu rezei, pedi pra Deus que me ajudasse de alguma maneira. E quando acordei, eu estava aqui. – Encolhi meus ombros. – Sei que isso soa metafisicamente impossível, mas...

– Se esse for o caso. Então por quê você foi enviado para cá? Eu, obviamente, não tenho idéia do que está acontecendo. Você também não. Eu não sei como posso te ajudar.

Eu sorri, possivelmente o motivo foi o nosso primeiro encontro.

– Não é bem assim... nós já nos conhecemos antes Alley Kat. – Tomei fôlego e continuei antes que ela pudesse me cortar. – Você se lembra.... há alguns anos atrás... no final de 2002 ou começo de 2003, não me lembro bem... você correndo pela rua a noite e viu um menino apanhando de uns caras mais velhos? – Eu parei de falar por um momento. Podia praticamente ver as engrenagens girando em sua cabeça. – Você gritou com eles... seu pai saiu e os assustou... – Pude ver um flash de reconhecimento em suas feições. –Vocês o levaram para casa...

– Sim... – Ela disse com a voz fraca.

– Você se lembra qual era o nome daquele menino?

– Era... – Ela parou e olhou para mim. De repente riu. – Bill... Meu Deus era você!

– Sim. – Eu disse. – Era eu.
Ela balançou a cabeça em admiração.

– Eu livrei Bill Kaulitz de uma surra... – Ela meditou – O garoto que virou o alvo dos tablóides... eu poderia ter até ganhado algum com isso....

– Obrigado. – Eu disse secamente. Apesar da situação, sorri para ela. – Eu nunca tive a oportunidade de agradecer a vocês. Aquela noite, foram embora tão rápido que eu nem pude me despedir direito.

Para minha surpresa ela corou.

– Ahn... certo... – Ela levantou-se repentinamente fechando a tampa de seu notebook. – Eu... vou tomar um banho.

– Banho? – Eu perguntei incrédulo. – Espere, nós estamos fazendo um progresso aqui. Vamos olhar um site de notícias, procurar nos arquivos, para ver se achamos alguma coisa que possa me ajudar.

– Eu já volto! – Ela gritou por cima do ombro enquanto corria da sala, deixando-me sentado sozinho e desnorteado. Hum... ok. Isso foi uma reação inesperada. Encolhi os ombros. Bem, acho que não é certo ir atrás dela de novo. Então decidi esperar. Deixei-a tomar seu banho, se era isso que ela queria. Enquanto isso...

Andei em torno do escritório. Era uma sala bonita, assim como todos os outros cômodos da casa... toda a mobília era cuidadamente esculpida, feito de madeira escura e pesada. Não havia muitas pinturas nas paredes, mas vários retratos – um homem que a acompanhava em uma foto, eu reconheci de imediato, era seu pai. – Fiz uma nota mental para perguntar por ele para ela, quando retornasse.

Estudei a linha de prateleiras cobertas por livros. Debrucei-me para ver melhor os títulos. Hum.. Contos Femininos? E O Guia Completo para a Arte da Sedução. Caramba, havia mesmo um guia idiota para tudo na vida. Havia livros de mistério, suspense, biografias... Havia também diversos livros sobre Mitologia, o que eu achei bem interessante. Peguei uma cópia desgastada de “A Odisséia”, que estava caindo aos pedaços... a coluna central tinha se desprendido das páginas, e várias delas caiu no chão quando eu abri o livro. Ops... Apressadamente peguei as folhas, socando de volta para o livro.
Meus olhos caíram sobre um fichário preto e grosso, na prateleira de baixo, ao canto. Curiosamente, peguei-o e o abri a capa de plástico rígido e vi uma pilha de páginas claras como papel de seda. Um álbum de fotografia... sentei-me no chão, de pernas cruzadas e lentamente folheei as páginas. Quem organizou esse álbum o havia feito em ordem cronológica. As primeiras fotos eram do pai de Alley e uma mulher que tinha uma estranha semelhança com a menina de cabelos ruivos que eu conheci. Provavelmente, era a mãe dela. Continuei passando as páginas e finalmente cheguei a foto de um bebê de olhos brilhantes e travessos, `Alley Kat com 3 meses´, lia-se na legenda. Hmm... a partir de então as fotos continham apenas Alley e seu pai. Lembrei-me também, que só os dois me levaram para casa naquela noite a tantos anos atrás. Aos poucos os pedaços se encaixaram em minha mente, talvez sua mãe tenha morrido quando ela era muito nova... ou até mesmo no parto.

Ouvi uma porta bater noutra parte da casa, e percebi que ela já havia acabado com seu banho. O som de passos se aproximando pelo corredor confirmou minhas suspeitas, e então substituí as pressas o álbum de fotos por um livro aleatório na prateleira. Voei de volta a uma cadeira no lado oposto da sala e abri o livro de modo que parecesse que eu o estava lendo. Não queria que ela pensasse que eu estava sendo muito intrometido...

Ela entrou na sala, seu cabelo molhado e vestida com uma das roupas mais ridículas que eu já vi. Uma camisa azul desbotada com o logotipo do Surpeman... só que ao invés de “Superman” dizia: “Supermanager”, o que pra mim não fazia sentido algum... um short laranja e um par de chinelos cor-de-rosa. Sinceramente, parecia que ela tinha caído em um pote da cor do arco-íris. Abri minha boca para fazer um comentário sarcástico mas ela falou primeiro.

– O que você está lendo? – Perguntou enquanto se aproximava. Hmmm boa pergunta. Eu não tinha sequer olhado o título do livro que peguei... eu sorri abertamente para ela fechando o livro e o levantando para que ela pudesse ler... então imediatamente quis me enfiar em um buraco de tanta vergonha.

Para leigos: O Cumprimento da Sexualidade Feminina, por Barbach Lonnie.

É, isso não ia soar muito bem para a minha reputação.


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