Harry Potter e a Arma de Slytherin escrita por Shanda Cavich


Capítulo 20
Capítulo 20 – Legilimência




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No início formaram-se imagens extremamente confusas. O foco era a noite de 2 de Novembro de 1981. Podia-se enxergar um bosque escuro. A pouca claridade que se formava no ambiente vinha de duas varinhas se movendo entre as árvores. Alice Longbottom, escondida atrás dos arbustos, observava duas pessoas encapuzadas que caminhavam lado a lado. Alvo Potter estava ao lado da auror, como se pertencesse àquela cena.

– Sra. Longbottom? – disse Alvo, observando uma mulher de aparentemente trinta e poucos anos. – É a senhora?

Alice Longbottom não respondeu. Alvo reconheceu a sua própria burrice. Não poderia se comunicar com o passado, apenas assisti-lo. Reparou como a sua concentração era grande. Na maioria das vezes em que se utiliza legilimência, os pensamentos da vítima não costumam ser claros. Mas como Alice estava completamente fraca e indefesa, á mercê de qualquer um que resolvesse enfrentá-la, o legilimente seria capaz de enxergar a lembrança que ele decidisse. Como se pudesse escolher uma memória a dedo de dentro de uma penseira.

A auror parecia aflita. Fazia todo o esforço para que sua presença no local não fosse notada. Fazia apenas dois dias que dois membros da Ordem da Fênix foram assassinados, Lílian e Tiago Potter. Entretanto Lord Voldemort havia morrido. A questão no momento era capturar aqueles que serviram a ele: Comensais da Morte.

– Tem certeza de que estamos seguros aqui? – uma voz grave e feminina pôde ser ouvida de uma das pessoas encapuzadas.

– Sim, Bela. – o bruxo robusto de vestes negras retirou sua máscara metálica com a varinha. O rosto de Rodolfo Lestrange demonstrava convicção. – Não fique assim, meu amor. Tenho certeza de que Lord das Trevas não gostaria de vê-la cho...

– Não estou chorando! – Belatriz retirara seu capuz. Seus olhos pesados estavam vivos e avermelhados. Sua beleza arrogante combinava perfeitamente com seu vestido empedrado por ametistas na ponta das mangas. – Até por que nós sabemos que o Tom, digo, Lord das Trevas não se foi.

Rodolfo colocou suas mãos sobre os ombros da esposa:

– Horcruxes não são garantias, Bela. Sabemos que ele as fez. Mas não sabemos quais são, ou sequer onde estão.

Belatriz deu uma risada aguda e esganiçada. Tão alta que Alvo a sentiu bem perto de seu ouvido.

– O que foi, agora? – Rodolfo se espantara. – Você sabe de alguma coisa sobre elas?

– Não. – Belatriz Lestrange parara de rir. – Você não vê? O Lord das Trevas não pode ser morto!

– Eu também achava isso. Mas se você não reparou, ele foi morto anteontem.

O rosto de Belatriz foi tomado por uma expressão ferozmente desdenhosa:

– Você sabe mesmo o que aconteceu na casa dos Potter? – disse Belatriz, aproximando-se ainda mais do marido. – Magia mui antiga. Poderosa, devemos admitir. Quando aquela sangue-ruim asquerosa deu a vida para salvar o menino, criou uma proteção máxima a ele, fazendo com que a maldição da morte se virasse contra Milorde.

– Como sabe de tudo isso, Bela? – Rodolfo pareceu ligeiramente enciumado.

– Tom me ensinou magia negra, Rodolfo. Tão prestigiosa que jamais poderia esquecer. Cada feitiço, cada maldição...

Rodolfo começou a ofegar intensamente. Naquele instante seu olhar demonstrou despeito. Belatriz deu as costas a ele. O vento bateu diretamente em seus longos cabelos escuros. A bruxa matinha um sorriso particularmente excitado. Rodolfo segurou seu braço.

– Além de nós dois, quem mais sabe da existência das Horcruxes?

– O menino Crouch e a aberração do Pettigrew.

– Não contou ao seu cunhado?

– Não. Lúcio e Ciça têm estado muito ocupados. Ainda mais depois do nascimento de Draco. – disse Belatriz, se esquivando do abraço do marido, que se enfurecera por essa atitude.

– Você está sabendo de algo que eu não sei, Belatriz? – disse Rodolfo, claramente irritado. – Acho bom você me contar.

– A herança dos Gaunt. – prosseguiu a bruxa.

– Que herança?

– Um curioso objeto transpassado pelas famílias descendentes de Salazar Slytherin há muitas gerações.

– Está falando do medalhão que o Lord das Trevas roubou de Hepzibá Smith?

– Não. Estou falando de algo muito mais poderoso. – Belatriz sussurrou. – Algo que assume o poder sobre a vida e a morte.

Os olhos de Rodolfo brilharam de malícia. Ao mesmo tempo em que estava irritado pela visível intimidade entre sua esposa e Lord Voldemort, estava também entusiasmado. A notícia que acabara de receber lhe deu esperanças. O ministério todo estava a caçando Comensais da Morte. Mas se Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado retornasse, eles teriam suas antigas vidas de volta. Ao lado do Lord das Trevas, nada poderia atingi-los.

Alvo estava tão curioso, que se fosse possível, se intrometeria na conversa dos dois Comensais para saber de mais detalhes. Já Alice Longbottom nem piscava o olho. Seu rosto estava tão apavorado que seu queixo tremia de desespero. Era compreensível. Afinal, ela acabara de descobrir que Lord Voldemort havia feito Horcruxes. E como se não bastasse, ainda havia mais magia negra envolvida.

– Bela? – Rodolfo se posicionou em frente à bruxa, encarando-a nos olhos. – Conte-me onde está este objeto.

Belatriz ficou quieta durante alguns segundos. A idéia de revelar o segredo de seu Lord ao marido não lhe agradava.

– Milorde não foi claro quando me disse... – a voz de Belatriz saiu baixa.

– Conte-me, Bela! O que foi que ele disse?

– Disse que pertencia ao avô dele, Servolo Gaunt. Mas o poder do objeto jamais foi utilizado por ele. Pelo que se entende, ele nem sabia da existência de tal objeto.

– Como você fica sabendo dessas coisas?

– Porque... Enfim. – Belatriz suspirou, segurando um riso. – Segundo Milorde, se Servolo o tivesse descoberto, estaria vivo até hoje.

Rodolfo explanou um largo sorriso pernicioso.

– E que objeto é esse?! Onde ele está?!

– Não sei dizer. Apenas sei que tem o formato de uma ampulheta, gravada com o brasão de Slytherin. Milorde disse que tentaria procurá-lo. Mas antes queria se certificar de que o filho dos Potter estaria morto.

– Vamos reunir os Comensais e procurá-lo até o fim do mundo se necessário for!

– Não! Milorde foi bem específico quanto a isso. Não podemos contar a ninguém! Ouviu? Ninguém! A essas alturas não sabemos distinguir os traidores... Severo Snape me parece suspeito...

Alice Longbottom deixou escapar um ruído. Alvo compreendeu que aquilo foi o suficiente para os Comensais notarem sua presença. Belatriz e Rodolfo levantaram suas varinhas imediatamente.

Expelliarmus! – gritou Alice Longbottom, levantando-se depressa. A varinha de Rodolfo foi arremessada para longe através do feitiço. Alice já havia sido descoberta. Só restava lutar para sobreviver.

– Maldita auror! – berrou Belatriz Lestrange, lançando um feitiço estuporante em Alice, que foi brutalmente impelida para trás, batendo contra uma árvore.

Alvo apenas assistia a cena, horrorizado.

– É a esposa de Frank Longbottom! O auror que participou do assassinato de Rosier! Mate-a, Bela! Mate-a sem piedade! – gritava Rodolfo, tentando achar sua varinha.

– Ainda não! Ela pode saber alguma coisa sobre Milorde! Incarcerous! – Belatriz apontara sua varinha diretamente para Alice, a qual se protegeu tradicionalmente clamando ''Protego''.

Alvo pôde ver mais dois Comensais da Morte chegando ao local. Formaram-se fumaças negras quando pousaram no gramado. Alice correu para trás de um grande tronco de cedro, a fim de se defender dos ataques. Bartô Crouch Jr., que estava ao lado de Rabastan Lestrange lançou a maldição da morte na direção da auror. Seria muito difícil escapar dos quatro. Sem pensar duas vezes Alice aparatou. Então a cena se distorceu na mente de Alvo.

A segunda cena se desenvolveu intricada. Alvo notou que o ambiente havia mudado. Agora a Sra. Longbottom estava no chão da sala de jantar de uma linda casa, ao lado de seu marido, Frank. A situação se tornou terrível com a visão dos quatro Comensais da Morte reunidos em volta deles.

Rabastan, um homem alto e magro, de cabelos castanhos levemente compridos fez um gesto com sua varinha. No mesmo instante o casal Longbottom se ajoelhou no tapete. Seus corpos tremiam. Belatriz e seu marido estavam de pé, em frente ao casal.

Estupefaça! – exclamou Frank com sua varinha, agora apontando-a para Bartô, o qual se defendeu rapidamente.

Belatriz aproximou-se de Frank.

– Talvez queira nos contar sobre o real paradeiro do Lord das Trevas!

– Não sei do que está falando!

Belatriz lhe dá uma bofetada.

– Não minta pra mim!

Num movimento extremamente ágil, Frank aponta sua varinha para Belatriz.

Estup...

Impedimenta!

Frank sentiu um impulso tomá-lo contra o peito. Sua varinha havia sido arremessada para longe. Pelo que Alvo percebeu, Frank já havia sido muito maltratado. Seus olhos estavam inchados e saía sangue de seu nariz.

– Agora, se ainda lhe restar um pingo de juízo, conte-me onde ele está! Onde! – Belatriz já estava gritando! – Crucio!

Frank foi ao chão, trepidante.

– Ora, ora, ora... O melhor auror do ministério! Quem diria! – disse Bartô Crouch Jr. Estava vestindo um lustroso paletó bordô combinando com as jóias em seu pescoço.

Alice se rastejou até a parede, onde estava encostada sua varinha. Alvo se admirou pela insistência dela em tentar vencer os Comensais.

Crucio! – berrou Belatriz, rindo feito louca. Alice tremera no chão. Seu rosto estava pálido e sem vida. – Não vou deixar você se safar, sua traidorazinha do sangue! Crucio!

Lágrimas escorriam do rosto desgastado de Frank. Por sorte, deu tempo de ele levar Neville até a casa de sua mãe, Augusta, antes dos Comensais os encontrarem.

Alvo pôde sentir pelo menos um por cento da dor dos Longbottom. A expressão de sofrimento no rosto de Alice o deixou muito abalado. Viu os irmãos Lestrange torturarem Frank de um modo avassalador, como se estivessem praticando algo prazeroso, enquanto Crouch e Belatriz se divertiam ao maltratar sua esposa.

– O que você ouviu ontem à noite em Little Hangleton? – perguntou Belatriz à Alice, que já não tremia mais. – Responda! Crucio!

A bruxa ao chão encarou o infinito, como se não soubesse mais onde estava. Frank tentou inutilmente atacar Belatriz com as próprias mãos, segurando a barra de seu vestido na intenção de derrubá-la.

– Malditaaaa! Você matou minha mulher! Ordinária! – disse Frank, gastando suas últimas energias em gritos ferozes, agarrando o tecido com todas as suas forças. Depois disso foi recompensado com um chute no rosto vindo de Rodolfo.

Crucio! – disse ele, severamente. O auror não gritou mais.

Alvo estava horripilado. Percebeu que a Sra. Longbottom estava viva e ainda consciente, ao contrário do marido, que começou a demonstrar insanidade, se contorcendo no piso de maneira bizarra.

– Continuando, Sra. Longbottom... – Belatriz soltou mais uma risada aguda e fervorosa. – Seu marido se encontra impossibilitado de nos atender no momento. Então seja gentil, e nos revele o que ouviu ontem à noite! Ou eu juro que vai se arrepender!

As lembranças de Alice Longbottom começaram a enfraquecer. Visto que a cena parecia mais escura e distorcida.

– Já entendi. Não quer responder. – Belatriz riu e suspirou profundamente, então olhou para os outros comensais. Todos eles apontando suas varinhas para a auror. – Crucio!

Crucio!

Crucio!

Crucio!

Os quatro bruxos das trevas lançaram a Maldição Cruciattus de uma só vez. Alvo percebeu que este foi o gatilho para atingir o nível da loucura de Alice Longbottom, visto que a cena se apagou completamente.

Logo lá estava ele, no quarto do Hospital. Uma lágrima corria de um dos olhos enrugados da antiga auror. Alvo respirava fortemente. Observou de perto a dor cruciante que estava tão interessado em saber como era.

– Fiquei sabendo há pouco tempo sobre o destino que eles tiveram. – sussurrou Alice, ainda sentada sobre a cadeira de balanço. Sua voz estava calma e dócil, como se nem se incomodasse de Alvo ter invadido a sua mente.

– Me perdoe, Sra. Longbottom... Não tive a intenção de prejudicá-la. – Alvo começara a sentir remorso. Seus olhos seguravam brutalmente a vontade de chorar.

– A morte foi pouco para a moça. – prosseguiu Alice, não se importando com os pedidos de perdão do garoto. – Pois afinal, os mortos ainda contam histórias.


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