Danika Chase Jackson

Danika Chase Jackson

Por intermédio de outras pessoas, eu havia descoberto que Amy, minha melhor amiga, estava [novamente] no chalé de Paris, meu irmão gêmeo. Traduzindo, Paris estava pegando Amy. Eu não era boba, muito menos burra e nem mesmo precisava ser filha de Afrodite para notar algo tão fácil de ser visto. Pois é, e depois, dizem que as amigas não conseguem ver o que está disposto a sua frente! Eu já estava exausta daquela enrolação do meu irmão, tanto que, para passar o tempo, roubei um Hyanna bastante sonhadora e a fiz me ensinar celta. Ela havia começado a me explicar sobre tudo aquilo, quando um ser de cabelos loiros chamuscados e olhos azuis entrou pela porta do chalé de Hera, com um sorriso conquistador que eu sabia muito bem o porque de estar ali.

- E ai, funcionou? - perguntei anotando uma das ultimas falas de Hyanna, que agora, lia um pergaminho.

- Sim, funcionou. - respondeu Lucien todo contente e feliz da vida - Preciso dizer que você merecia um presente por ser tão espetacular?

Sorri daquilo, passando o olhar de um livro a outro.

- Não, não precisa, nem mesmo do presente. Só me fala uma coisa - bati a caneta no meu caderno sobre as pernas enquanto levantava o olhar para fita-lo - Valeu a pena todo o esforço?

- Se valeu a pena? - ele se jogou no único sofá dali, de um jeito muito... Sexy - Valeu até mesmo o tempo que eu poderia estar na academia, deixando esses músculos lindos em forma. - como sempre quando falava sobre seu corpo, ele passou os dedos sobre aquele tanquinho tão perfeitamente completo.Deixa eu explicar antes de você pensar que sou masoquista. A aposta foi a seguinte: se ele conseguisse pegar a irmã mais nova da Dafne, visto que são filhas de Ares, eu faria aquilo que ele desejasse durante uma semana. Caso contrario, eu teria que “faturar” o Diego. Uma pequena vingança ao que fizeram ao meu irmãozão. 

Se aquela Dafne descobre isso, pensei me sentindo tão bem que ela desse uma de corna.

Anotei mais uma vez, o alfabeto em celta, sem nem mesmo ter olhado para cima de novo.

- Ela ao menos beija bem? - questionei mais acida do que preferiria. Tanto que Hyanna me fitou sob os cílios loiros pálidos que entornavam o olhar azul dela. Como Lucien mesmo diz, e que não posso negar, “Ela parece um anjinho” As vezes, pelo modo dela, me perguntava se não sabia de algo e guardava só para si mesma.

- Nada mal para uma filha de Ares - brincou com um sorriso em sua voz - Ela só foi fácil demais, queria algo mais... Difícil.

- Tipo?

 Como é que é mesmo essa ordem? Ah... Escrevi na folha como lembrei, dividindo  minha atenção entre ele e o aprendizado. Algo fácil para mim.

- Tipo, a Hyanna seria uma boa opção.

A garota só olhou para ele como se tivesse dito que “Papai Noel existe e o Natal chegou mais cedo” e voltou para suas escrituras, não sem antes deixar para trás um:

- No instante, Lucien, estou comprometida.

Segurei o riso.

- Acabou de me dar um fora, Hy?

- Demorou a descobrir isso, Lucien.

- Partiu meu coração, Hy - dramatizou como de praxe, uma mão sob peito.

- Fiquei até com dó de você - murmurou ela, ácida, sem prestar de fato atenção no Lucien.

- Ok, que tal, você, Danika?

Dei um sorriso de lado zombeteiro para Lucien.

- Se toca né? - disse rindo a fechar o livro que estava em minhas mãos - Vamos lá, o que eu vou ter que fazer, em? Afinal, você ganhou a aposta.

 - Estou calculando - admitiu com aqueles olhos azuis em um tom mais safado do que eu queria. - Ah, é, eu vou ter uma semana para pensar bem. Na verdade, eu quero uma pra hoje.

- Você sabe os limites, Lucien.

Ele suspirou.

- Ah, qual é, Danny, vai desistir? - arqueou uma sobrancelha - É isso mesmo que eu estou ouvindo? Uma filha de Atena está desistindo?

Argh! Orgulho... Minhas mãos se fecharam em pequenos punhos. Eu odiava ser desafiada. Ia contra minha mente negar algo. E eu sabia disso. E ele também. Nada vem ao acaso daquele garoto. Em meu peito, os sentimentos estavam em conflito: humilhação ou orgulho. Qual escolher? Não parece algo bom estar dividida.

Com um suspiro, para me acalmar, fitei-o. Seu sorriso me disse a expressão que eu fazia.

- E eu já desisti de algo, Lu? - questionei com voz divertida.

- Essa é a minha garota - então, ele levantou-se e andou a passos calmos até onde eu estava. Os olhos de Hyanna seguia nossas ações com curiosidade sob as folhas do livro celta que lia, ou melhor, fingia ler. Parecia que nossos atos eram bem mais legais. Mas, minha mente estava em outro lugar, como no modo que o cabelo dele caia perfeitamente ou a cor dos olhos. Minha tia não podia ter feito um cara menos bonito não? Cruzes, todos babam por ele. Inclusive uma idiota chamada, Danika. Não que eu fosse admitir. Ele passou devagar por mim, o seu perfume vindo junto. - Seja criativa, Danny - sussurrou em meu ouvido, para depois dar um tapa na minha bunda e rir. Não pensei duas vezes e taquei meu livro onde um dia estivera ele, aos som do riso de Hyanna.

- Seu... SAFADO - gritei com muita raiva do que ele havia feito. As minhas bochechas estavam mais coradas que antes, se possível e eu estava a ponto de explodir. Mas, já era tarde, ele havia sumido. MALDITO PODER DE HERMES. Se eu pegasse aquele garoto, eu arrancaria sua pele. Pedacinho por pedacinho. QUEM ELE PENSA QUE ERA? 

- Não doeu, não? - fui tirada das promessas de morte por Hyanna que sorria, a me visualizar.

Hã?

- Que? - eu estava seriamente confusa.

Ela apontou sua unha com esmalte rosa para minha calça jeans.

- Seu traseiro não está doendo? - perguntou ela com um sorriso.

Dei meu melhor olhar mortal à ela.

- Calada - reclamei, o que não a impediu de cair na gargalhada, indo catar as minhas coisas e jogá-las na minha bolsa. Logo que empurrei o ultimo pergaminho, puxei a alça por cima do ombro e andei quase bufando até a porta por onde Lucien também havia sumido. - Tchau, Hyanna.

Por cima das risadas, escutei um "EU SEI QUE VOCÊ GOSTOU DO QUE ELE FEZ" gritado que foi abafado pela madeira. Todos que passavam envolta do chalé, pararam para olhar o que tinha ocorrido e confirmar se haviam escutado certo. Bufando ainda mais, segurei com força a alça e comecei a andar. Acho que eu teria uma turma bem grande pra matar. Poderia até colocar o nome de "Obituário" e, claro, como primeiro lugar estaria Lucien, logo abaixo Hyanna e... Ainda não havia escolhido o resto. Mas tinha certeza de que outros apareceriam.

Algo criativo... Hum.... o que poderia ser legal e provocativo? 

Pela centésima vez pelo menos eu fazia essa pergunta pra mim, fitando meu guarda roupa. Faltava pouco para o horário de jantar e o meu direito de escolher o que fazer se esgotaria no instante em que a trombeta soasse. Hyanna entrou sem ar no chalé, com algo em suas mãos. Aquela menina havia saído da onde?

- Ei - falei fitando seu rosto vermelho.

- Eu... tenho... a solução - ela tossiu - Dos seus problemas.

Pisquei, pasma

.- É algo muiiiito provocativo, Dan - e esticou-me a sacola que trazia em uma das mãos. Apanhei-a meia em dúvida

.- O que ser isso? - perguntei pasma ao ver o conteúdo.

Ela piscou.

- Se quiser impressionar, use isto e faça o que eu digo.

- Relaxa, tudo vai dar certo - sussurrou Hyanna para mim, logo após a trombeta ter soado, antes de sumir e me deixar com o resto do pessoal. Admito, aquilo ia ser o pior mico da minha louca vida. Amy sorriu para mim daquela sua forma fofa. Ela, ao menos, aparentava estar bem melhor. E meu irmão também, com um braço envolta da cintura dela. Nem preciso comentar, certo?

- Como vai a recuperação, Amy? - perguntei dando meu sorriso, procurando conversa.

- Vai... - fitou meu irmão de perfil - Bem. Aquelas mesmas dores.

Eu queria ter tido mais, mas fomos obrigados a nos separar ( tadinha da Amy que teve de ter todos os olhares das filhas de Afrodite a fitando com ódio por causa do beijo demorado que Paris deu nela) e admitia que não sabia o que fazer alem de sentar e esperar o destino trágico.

Hyanna cutucou de leve Lucien e lhe disse algo em seu ouvido, eu havia visto do outro lado, onde me cobria com um sobretudo. Sabia bem o que era. Só de imaginar o que eu estava para fazer, meu estômago dava voltas e mais voltas. Minhas mãos tremiam.

- Você está bem? - perguntou Paris pela milésima vez, me fitando.

- Estou ótima - menti. Ele me mataria se soubesse do meu plano.

- Por que passou maquiagem?

De fato, eu havia feito uma maquiagem caprichada e o meu cabelo caia em ondas pelas minhas costas.

- Você pergunta demais, Paris - e engoli um pedaço de biscoito.

Comíamos em calma (alguns), um dia comum. Seria comum... Hyanna, depois de olhar para Lucien que já olhava pra mim, fez o sinal que havíamos combinado. ( COLOQUEM PARA TOCAR "DEJA VU" - BEYONCE) Com um suspiro de aceitação do meu fatídico dia, coloquei-me de pé a abrir o laço do sobretudo e caminhei nos saltos stillenos pretos de quinze centímetros, até chegar aonde eu havia pensando em ficar. Já que estava para pagar o mico, que fosse inteiro, não pelas metades. Ao som dos primeiros acordes, que assustaram algumas pessoas, comecei a remexer o quadril de leve deixando o casaco cair ao chão e mostrar o que continha por baixo: um colã dourado com espartilho que marcava todas as minhas curvas (sim, só havia ele e uma meia calça). Lentamente, falando o começo com Lucien, me virei e sentei na mesa alta, as pernas cruzadas e o sorriso safado que havia pensando antes. Tive o privilégio de ver o sorriso surpreso dele enquanto o mesmo cantava a sua parte, só de vez em quando sendo interrompido por uma parte que eu falava e que eu fazia cara e bocas sedutoras. Não perdi seus olhos em nenhum instante.

I used to run base like Juan Pierre

Now I run the bass hi hat and the snareI used to bag girls like Birkin Bags

Now I bag B

([BEYONCE]: Boy you hurtin' that)

Brooklyn Bay where they birthed me at

Now I be everywhere, the nerve of rap

The audacity to have me whippin curtains back

Me and B, she about to sting

Stand back

Desci suavemente da mesa em que estava sentada, sem tirar os olhos dele e comecei a cantar. Com movimentos lentos, escorreguei minhas mãos pelo meu corpo, até as minhas pernas, onde me agachei e joguei o cabelo para trás com charme, recebendo boa parte dos olhares masculinos do lugar.

Baby, seems like everywhere I go, I see you

From your eyes, your smile, its like I breath you

Helplessly I reminisce don't want to

Compare nobody to you

Ergui-me e passei a andar em sua direção, com passos ritmados, até a metade do caminho. Puxei dois meninos pela gola e fingi ir beijar cada uma deles, para só depois empurrá-los e continuar meu caminho. Dançando sensualmente.

Boy I try to catch myself, but I'm out of control

You sexiness is so appealing I can't let it go

You know that I can't get over you

Cuz everything I see is you

And I don't want no substitute

Baby I swear, it's deja vu

Parei a sua frente e sorri, cantando pertinho de seu ouvido, evitando suas mãos que tentavam me pegar. E dancei ao redor de sua cadeira. As vezes, passando por baixo da sua cadeira, sempre tendo sua atenção.

I'm seeing thing that I know can't be

Am I dreaming?When I saw you walkin' past me,

Almost call your name

Gotta a better glimpse and then I looked away

Feels like I'm losin' it

Deitei enviesada na escada e levantei a minha perna, o provocando, cantando. Quando ele veio, eu subi mais um devagar. Fiz sinal de não. Com mais um passo dele, levantei e corri para o outro lado. 

Boy I try to catch myself, but I'm out of control

You sexiness is so appealing I can't let it go

You know that I can't get over you

Cuz everything I see is you

And I don't want no substitute

Baby I swear, it's deja vu

Ele começou a cantar, e sentou-se em uma cadeira, ao outro lado da mesa que estava a minha frente. 

Hova's flow so unusual

Baby, girl you should already know

It's H-O, light up the strobe

'Cause you gon' need help tryna study my

Bounce, blow, blow

What's the difference

One, you take in vein

While the other you sniffin'It's still dough

Po-po try to convict him

That's a no-goMy dough keep the scales, tippin

Like 4-4'sLike

I'm from the H-O-U-S-T-O-N

Blow, wind

So Chicago of himIs he the best ever

That's the argu-a-mentI don't make the list, don't be mad at meI just make the hits, like a factory

I'm just one-to-one, nothin' after me

No Dejá Vú

Just me and my, Oh

Ajoelhei-me na mesa e cantei, antes de levantar e ir andando até o outro lado, onde deitei lentamente. Os meninos de Apolo me fitavam, sem reação, ante aquela exibição. Rodei, e fiquei de quatro, como uma pantera indo caçá-lo até chegar um pouco perto. Não fui muito perto. Tracejei seu rosto com um dedo.

Baby, I can't go anywhere

Without thinkin' that you're there

Seems like everywhere, it's true

Gotta be havin' deja vu

Cuz in my mind, I want you here

Get on the next plane, I don't careIs it because I'm missin' you

That I'm havin' deja vu

Ao final, dei o ultimo passo que faltava e cai em seu colo e parei com o rosto a pouco centímetros do seu, uma mão em seu maxilar e a sua sobre minha coxa. Uma cena meio... indicativa para quem via.

- Trato terminado - sussurrei descendo de leve a boca para perto da dele, anestesiada. Pude sentir sua risada ao mesmo tempo que sua mão apertava suavemente minha perna, aceitando o selo. Faltava pouco, no instante em que Quiron adentrou o refeitório indignado e eu saltei do agarro de Lucien, corada e com a respiração entrecortada.

- O que... - então o centauro me olhou e depois para Lucien. Era possível ver a desaprovação em seus olhos amêndoas.

- Senhor...

Quiron interrompeu-me e somente apontou para fora, sem dizer nada. Droga! Sempre me meto em confusão por causa de Lucien! Um pouco revoltada, andei com rapidez para fora e esperei Quiron. Mas, não fora somente a mim e a Lucien que ele havia convocado, e sim também Hyanna, Kylle, Paris e Amy. Uhul... Grupo Dinâmico. Revirei os olhos. Não precisava disso agora. Vi o centauro dar algumas instruções para Paris e sumir. Sinceramente, eu não entendia nada. Pude até ver meu cenho franzir de confusão ante tal idéia. Paris só apontou para uma arvore não muito longe e juntos, fomos. Kylle conversava com Lucien, conseguia ouvir. E preferia não ter feito isso. Falavam de mulheres. Apoiei meu peso no salto e fiquei calada ao chegar embaixo do Pinheiro.

- Você ficou sexy de Beyonce, maninha - sussurrou Paris, mexendo em um cabelo meu com cara de que aprontou. Bati em sua mão.

- Cala a boca - rebati, a cruzar os braços, ignorando o frio que se passava pelo meu corpo naquela mini-roupa que me fez pagar aquele mico. Paris riu, de mãos dadas com Amy que estava corada (pude ver que ela se segurava para não rir) e se encolhia sob o braço de meu irmão. Obrigada, Amy, ao menos você me respeita. Revirei os olhos, forçando-me a não tremer

.- Foi uma... - Amy tossiu de leve - Boa apresentação.

- Boa? - uma voz falou um pouco alto perto do meu ouvido enquanto um braço me envolvia, o calor de Lucien me esquentando mesmo sem querer. - Foi perfeita.

Eles riram.

Apartei os músculos de Lucien de cima de mim e dei um passo ao lado.

- Desgruda, safado - falei com raiva, as minhas terminações nervosas estalando pelo pouco contato que tive com a pele dele. Eu odiava o que ele provocava em mim. Por isso, dei a volta e fiquei ao lado de Hyanna que toda hora olhava para Kylle. Hum... rolando uma conexão bem aqui? Desde quando meu primo gostava da Hyanna? Logo o caçula? Quem era eu para dizer algo sobre eles? Sustentei-me apenas em me abraçar e esperar o frio passar. Que droga. Logo no dia de hoje precisava estar tão frio que até fazia uma nuvem de fumaça quando falávamos? Meu corpo tremia de leve, e cada vez mais, meus lábios ficavam mais arroxeados. Estava um gelo! E cadê a droga daquele centauro? Que merda! 

Cinco minutos desse inferno congelado, olhando para o pessoal conversando e as vezes sentindo o olhar de Lucien sobre mim, Quiron finalmente chegou, trotando. Bolsas estavam em sua garupa, grande e pesada. Ao total, seis. E nem precisei ser gênio para entender o que aconteceria ali. Quiron parou a minha frente e sorriu de lado.

- Você causou certo... alvoroço, Senhorita - disse ele, sério, passando uma das malas para mim - Veremos seu castigo depois. - então se virou aos outros, entregando o mesmo - Foi algo de ultima hora, e estamos sem tempo para se prepararem. Lamento.

Olhei pasma para o centauro.

- Uma missão? - perguntei, atônita.

Ele me olhou duramente.

- Sim, Danika - falou em uma voz calma, mas com a transparência do desespero nela - Vocês vão ter que ir para Grécia, agora.

- Como é? - essas foram as palavras mais inteligentes que meu irmão pode soltar de tão surpreso que estava. Acho que todos nós estávamos.Quiron suspirou e sorriu.

- É apenas uma exploração... Há suspeitas de haver um filho dos três grandes lá... Preciso que verifiquem.

Passei a mão no meu cabelo.

- Níveis altos de monstros atrás dele?

- Sim, Danika, ele precisa de ajuda

Assenti. E foi como se todos aceitassem juntos. A espera da minha fala. Ao menos isso eles me escutavam. Quiron desviou para o topo da colina por poucos segundos e acenou para nós.

- Esperam vocês lá em cima... Boa sorte, garotos.

Então, provavelmente fugindo de dizer adeus, voltou para a confusão que era o refeitório.

- Ótimo - reclamei irônica, colocando-me a subir os pedregulhos que me levariam até a SUV preta que se distinguia sob a escuridão da rodovia. Os outros logo passaram a subir junto, cada vez mais rápido, por causa do frio. Preferi ficar mais atrás, usar da subida uma forma de aquecer. Foi quando a bolsa fora retirada de mim e um casaco que batia em minha coxa caiu sobre meus ombros. Olhei para quem salvou-me do frio.

- Pode usar - disse-me Lucien baixinho fitando o horizonte enquanto acomodava minha mala em um de seus ombros fortes - Você parece estar com muito frio.

Eu tinha orgulho, mas não era burra de ficar parecendo um picolé se eu tinha a chance de usar algo tão quente e tão cheiroso como aquela moletom.

- Obrigada - agradeci após fechar o zíper e me abraçar. - Eu estava congelando.

Ele sorriu e por fim me olhou.

- Vem cá - chamou-me sem um pingo de sarcasmo ou safadeza em sua voz. Cheguei perto lentamente - Eu não mordo - riu passando um braço ao meu redor, a sua mão descendo e subindo pelo meu braço, criando atrito - Melhor?

Assenti.

- Muito melhor - sorri e fitei seus olhos - Obrigada de novo.

Seu olhar divertido caiu em meus lábios e voltaram aos meus olhos varias vezes.

- Se quiser, posso aquecer sua boca também. Ela está muito roxa.

- Idiota - disse rindo de sua tentativa de me  beijar enquanto depositava um tapa em seu braço de leve - Tem como você ser menos pervertido?

- ai, baby - ele chegou bem perto de meu ouvido - Não seria o Lucien.

Sem desejar, tremi e ele apertou o abraço. Talvez ele pensasse ser por frio... Na verdade, era que sua voz, era muito safada e me arrepiava de um jeito sem explicações. Depois da sua tentativa vã, caminhamos o resto do trajeto calados, mas abraçados. Aposto que quem olhasse, pensaria que éramos namorados ou algo assim, o que era uma perfeita mentira. Inclusive recebi um olhar "o que estavam fazendo?' de Kylle, que já havia jogado as coisas, junto com o resto na parte de trás da SUV e se acomodavam nos bancos (ele sentou-se ao lado de Hyanna ao acaso!). Ignorei a olhada e fiz como o pessoal, empurrando a minha mala com a ajuda de Lucien dentro do carro. Foi uma estalada alta quando o filho de Hermes bateu a porta da traseira e trancou. 

- Quem vai dirigir? - perguntou ele, com as chaves na mão. Paris praticamente arrancou dele o molho e passou para frente sem dizer nada, com Amy ao seu lado. Respondi ao olhar de Lucien com um dar de ombros e me enfiei dentro do carro. Nada poderia ser ainda pior do que estar com um colã, uma blusa de frio de Lucien e estar maquiada. Isso era o que eu pensava até o momento. Suspirei.

- Tá zoando, não está? - questionei para Paris, o fitando pelo retrovisor, com uma sobrancelha arqueada. Ele só riu e nada disse. Argh! Bufei, com as risadas baixas de Kylle e Hyanna que sentavam-se a frente do ultimo banco ao canto. Havia somente mais um assento.

- Vai ser o jeito, Danny - murmurou Lucien em meu ouvido, suas mãos em minha cintura. 

- Se você fizer algo... juro que te mato - disse nervosa com ele, mesmo tremendo pela sensação de sua pele em meu corpo. FOCO, DANIKA, FOCO.

- Eu nunca faria algo com você, querida - falou ele com carinha de inocente.

- Possa ser que outra vez eu acredite, hoje não - e me afastei, indo pro cantinho afim de deixar ele se sentar. Assim que ele o fez, não teve qualquer medo, e me puxou com um braço para seu colo. Preciso admitir que corei muito ao me sentar ao meio de suas pernas? Tentei me afastar mais, sentar ao canto, mas ele não permitiu.

- Vou ter uma ótima viagem - sussurrou sob a depressão do meu ouvido, seus braços a minha volta.

- Ou uma perfeita morte se não me soltar agora - ladrei tentando ser forte e não cair no encanto dele que delineava um desenho qualquer em minha barriga. Ele riu, um som cheio de promessas safadas e diversão, mas cedeu ao meu pedido. Logo, virei de lado, encostando as costas contra o ferro e o vidro da janela, que sem duvida me machucariam depois e joguei minhas pernas ao outro lado, ficando um pouco distante. Como se isso o impedisse! 

- Meu sonho se realizando - disse-me ele com  uma pitada de perversão, seus olhos descendo pelas minhas pernas.

- Lucien, quieta - revirei os olhos - Por favor.

Ele suspirou e passou a mão em meu cabelo.

- Ok, vou me comportar - prometeu e piscou. 

Sinceramente, preferia as cantadas de Lucien à aquele silêncio mórbido que se abateu pelo pessoal a medida que dormiam. Só ouvia-se o som do motor do carro ronronando e o rádio baixo que tocava uma música um pouco velha. Afinal de tudo, Lucien se comportava bem e só de vez em quando, eu sentia seu olhar em meu rosto, que eu geralmente fingia não notar. No carro, somente eu, Paris e Lucien não havíamos sucumbido aos recantos de Morfeu. E estava um tédio. Foi tanto, que apos olhar pela segunda vez o relógio e notar ser uma da manhã, finalmente meu corpo se cansou e minhas pálpebras começaram a se fecharem sozinhas, bocejei. Suavemente, Lucien me puxou para contra seu peito, descansando minha cabeça em seu ombro, seu corpo me aquecendo.

- Sshh, pode dormir - falou a um fio de voz para mim, os dedos a afastarem fios morenos de meu rosto, exatamente quando eu iria reclamar. Como prova, ele me acomodou melhor em seus braços.

- Não estou com sono - repliquei com força para não deixar-me ser vencida pelo sono, mas a luz da lua que caia sobre meus olhos não me ajudava muito.

Ele simplesmente sorriu em seu jeito fofo de ser que me conquistava.

- Então, mude de lado, prometo que não vai se arrepender.

Só compreendi o que ele dizia quando o mesmo rodou-me em seu colo e colocou a cabeça encostada no vidro, comigo contra seu ombro. Eu não havia entendido o que ele queria dizer, mas não tive coragem de perguntar. Seu rosto havia ficado mais... calmo. Relaxado. Em paz, eu poderia dizer ao fitar lá fora. Talvez por curiosidade por saber o que o deixava assim, segui seu olhar e vi, então: a lua em seu estado cheio, brilhante e cheio de vida, banhando a paisagem que se estendia ao horizonte de prateado. O lago que rodeava por ali parecia uma jóia de tão lindo que estava, refletindo perfeitamente o retrato das suas bordas e a bola ao alto. Lucien me olhou com o olhar eclipsado e me trouxe para mais perto, para encostar minha testa em seu pescoço.

- É lindo - sussurrei suspirando, também a fitá-la.

- Eu me acostumei a olhá-la - pude ouvir um sorriso em sua voz - Ela sempre me faz... melhor.

Sem aviso, fitei seus olhos e sorri.

- Quem diria você ficar olhando a lua! Temos avanços aqui.

Ele riu baixinho.

- Há muitas coisas que você ainda não sabe sobre mim - disse com um puxar de lábios que foi se desvanecendo lentamente enquanto me olhava. Meu coração errou duas batidas e borboletas flutuaram em minha barriga ante aqueles olhos azuis tão claros. Minha mão, ao acaso, já se encontrava em seu peito e dali, pude sentir seus batimentos. Estavam longe de serem calmo. - Danika - sussurrou ele, se aproximando ainda mais. E admito, deixei. Eu queria aquilo! A quem eu tentava enganar? Com cuidado, prendi meu dedos em seus cabelos, sem deixar seus olhos por nenhum segundo. Sua mão subia pelas minhas costas. Seu polegar se passava em minha bochecha. Então, nossos narizes se tocaram, avisando a hora de fechar os olhos e foi o que fiz, apreciando sua respiração contra minha face. Suavemente sua boca encostou a minha em um selinho rápido que prometia mais e... o carro deu uma guinada para frente. Quase cai, por causa de Lucien que não fui de encontro com o tapete de borracha.

- Desculpe-me, sem querer - disse Paris na maior cara de pau, com um sorriso que dizia "eu sabia o que estava fazendo ai atrás, mocinha" e que me deu vontade de matá-lo. Poxa, eu estava quase beijando o Lucien! O LUCIEN! Isso estava mesmo pra acontecer ou eu sonhava?

- Paris - reclamei quando voltei a me arrumar no colo de Lucien, completamente corada - Você me paga!

- Foi mesmo sem querer, maninha - prometeu-me ele com uma risada que fora acompanhada por Lucien que me abraçava contra seu peito.

- Ignore, Danny - sussurrou este em meu ouvido, os dedos masculinos descendo suavemente pelos meus cabelos antes de um beijo ser colado em minha testa - Melhor dormir. Temos uma longa viagem pela frente.

Assenti e sem dizer nada, sem graça, acomodei-me contra seu ombro. Dali, podia ver a lua e com ela, dormi, anestesiada pelo cheiro de Lucien e de seu abraço.