And Now...? escrita por Nivea_Leticia, Lorena Harris


Capítulo 6
E agora... Cuidados são necessários.


Notas iniciais do capítulo

Oiii, genteemmmm!!
Como estão?? Espero que bem!!
Vim postar mais cedo, quer dizer, ia postar só sabado!
Mais, ai, quis e puff
;D
Ps: a Danika vai sumir por um tempinho, não consegui escrever nada sobre ela =/



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Hyanna Hoffmeister

Lá estava eu, sentada debaixo de uma arvore comendo o que consegui com os filhos de Hermes, uma vez que preferia mil vezes ficar sozinha a ter de aparecer em público ainda mais sendo quem minha mãe era. Pois é, eu sou a traição de Hera. Muitos nunca pensariam que isso iria um dia acontecer, mas, sim, aconteceu! E eu sou a prova viva disso. Para alguns, Hera poderia ter sido a pior pessoa do mundo, principalmente para os meio-sangues, contudo, para mim, ela foi a melhor pouco-presente-mãe do mundo. Ela, em todos os natais e aniversários, aparecia durante a noite e ficava comigo até ver que não poderia mais. Foram anos se passando assim, e hoje em dia, digo que ser sua filha não é nem de longe ruim. Eu adorava quando ela trazia para mim biscoitos e doces estranhos extremamente deliciosos.
   Minha mente voava em minha família, a vontade louca de estar com eles de novo contra o desejo de descobrir qual era o nome daquele cara misterioso da floresta negra cujo cara chamei de “Batman” e os seus demais nomes. Sempre fora difícil ficar longe de quem eu amo, talvez pelo fato da minha mãe ser a deusa da fidelidade que eu só conseguia encontrar com os meus familiares, sangue do meu sangue. Desde mais nova, nunca troquei ninguém pela minha irmã. Pessoas normais eram apenas amigos que não deviam jamais estar acima do meu pai. E eu convivi muito com isso.
Até o dia de hoje.
Aquele garoto com olhos de duas cores, o seu jeito sombrio, a sua indiferença sobre mim, tudo isso me chamava para reconhecer quem era e saber como se chamava. Era uma necessidade intima conhecer ele.
- De novo aqui sozinha? - perguntou uma voz que eu sabia bem de quem era dono. Ele me demonstrava carinho, amor e lealdade. O reverso do meu Batman. Franzi o cenho diante daquele pensamento. Ele não era meu, nem por um momento passamos de conhecidos para amigos, se é que ele me considerava uma amiga.
- Não gosto muito de ficar lá - admiti batendo as mãos afim de tirar o resto das migalhas do bolo de chocolate que havia comprado por um dracma, para depois levantar o olhar ao garoto de cabelos loiros e sorriso confiável.
- Poderia me ajudar com a neta de Hefesto? - pediu Will, que aparentava muito cansado mesmo. - Acho que preciso dormir. Finalmente, consegui tirar o Paris de lá.
- O filho de Percy? - perguntei indiferente me levantando para ir a enfermaria que era o local onde a neta de Afrodite tinha estado ao longo desses quatro ou cinco dias. Ou eram mais? Não sabia, o tempo passava voando ali, alem do que, não conhecia ninguém alem de um estranho e Will. Os únicos que sabiam sobre quem eu era pelo jeito, também.
- Sim, ele mesmo - ele deu um sorriso - E então... Pode ficar com ela durante um tempo?
- Estou ao seu dispor, Will - o que era verdade, afinal, eu não participava nem mesmo dos treinamentos que todos eram ordenados a comparecer. Na verdade, acho que nem mesmo o Senhor Dionísio sabe que eu vivo aqui. Minha mãe ainda não tinha me reconhecido como sua filha, dizendo que deveria estar de frente a Quíron para isso acontecer ou qualquer outra pessoa de alto escalão. Por esse e por outros motivos, fiz o máximo para não esbarrar com o centauro e implorei para Will não contar nada a Quiron sobre minha pessoa. Estava funcionando.
- Cuide dela, troque as bandagens, passe ambrosia, mas só um pouco, não esqueça do que acontece com um semi-deus caso extravase na quantidade. Mantenha ela sempre sentada, e tente ao maximo não mexe-la. Ela ainda não está comendo muita coisa, então só comidas macias, nada de maçã, mesmo que ela queira.
- Ela pediu maçã? - perguntei curiosa. Ao invés de sorrir, algo esperado, ele fechou o rosto.
- Não, ela ainda continua mal. Só as vezes eu acordo ela para dar algo, mas isso dura no máximo cinco minutos.
- E o Paris?
Houve um suspiro.
- Está lá, todo preocupado. Me pergunto se ele não está se sentindo culpado.
O que eu tinha a falar sobre isso? Nem sabia quem eles eram. Só assenti para não deixá-lo pensando que não tinha nenhuma noção de quem cuidaria. E acho que só com o que ele falou, eu conseguisse.
- Bem... Eu vou indo?! - saiu mais um questionamento.
O sorriso voltou.
- Sim, você vai lá e cuide dela direitinho. Mais tarde eu apareço e a gente troca de turno, pode ser?
- Claro - dei de ombros levemente desconfiada de que a partir de agora ficaria cuidando dela quando Will estivesse exausto como neste momento. Mas, não tem nada para fazer, é melhor arrumar algo.
Sem falar mais nada, ele foi embora com um repuxar de lábios quando o sol tocava ele. Esse era o legal dos demais deuses, sempre havia algo que só você conseguia. Agora, me diga, o que uma filha de Hera pode fazer? Não que eu odiasse ser o que era, mas ter algo como curar alguma pessoa ou andar nas sombras [como o garoto], era bem mais emocionante. Fui andando enquanto pensava quais seriam os meus dons. Diferente dos outros, nada de fogo ou água para controlar, nem mesmo sentimentos para mexer. O que seria? Hera, a deusa do casamento, e o que isso fazia? Poder brincar com o ar, uma vez que mamãe é a deusa dos céus? Não, acho que não. Estava tão concentrada que mal notei o quanto o caminho fora silencioso e calmo, sem ninguém andando de um lado para outro ou me encarando e se perguntando “Quem é aquela platinada?”. Quando dei por mim, a Casa Grande já aparecia, as suas estruturas de um tipo estranho de madeira que continuavam a ser finas, chique de um modo quase... Divino de viver. Ri baixinho disso, lembrando bem como uma filha de Afrodite que estava em nosso grupo em Berlim falou sobre o Acampamento para mim. Falando nessa menina, eu nunca mais a tinha visto. Poucos foram aqueles que entraram em contato comigo.
Entrei sorrateiramente na casa, vendo bem se Quiron não estava por lá. Só quando tive a certeza, foi que fechei a porta atrás de mim. Pelo que a garota que conheci me explicou, a enfermaria ficava nos fundos, onde havia mais silencio e era mais calmo. Quase ninguém ia para ali. Ainda assim, andei com passos apertados pelos lugares, fitando os lados a todo momento, tendo vislumbres de grandes salas e quartos muito bem decorados. Ao total acho que foram quatorze cômodos que passei, caso não tenha perdido algum durante a pressa em que eu estava.
O ultimo, aonde a porta era branca e em letras gregas [que com um pouco de esforço consegui descobrir o que significava] escrevia “Enfermaria” em vermelho, tive a certeza de onde entrar.
Igualmente a porta, o local era branco, grande e básico. Em cada compartimento para um campista havia somente o catre, um criado mudo de metal esbranquiçado, as famosas cortinas, um suporte de soro, uma mesinha pequena que dava assistência e quatro caixinhas que eu não fazia a mínima idéia sobre o que havia dentro. Todas as demais camas estavam desocupadas, tirando a de uma garota menor do que eu de cabelos castanhos e pele que pareceu fracamente bronzeada, mas, no momento, se encontrava pálida. Fui chegando perto dela lentamente, notando as suas características: seu rosto era em forma de coração - delicado apesar de contorcido pela dor -, corpo bem formado o que contradizia a minha tese dela ser novinha. Não, ela deveria ter envolta dos dezenove. E uma enorme gaze avermelhada tampando quase um ombro inteiro dela. A visão daquele liquido saindo lentamente dela me deu ânsia, a bile subindo pela minha garganta.
Fiz-me de forte. Não poderia negar a alguém que precisava de ajuda.
Colocando um par de luvas que peguei na primeira caixa das quatro que abri, me aproximei ainda mais, minhas pernas tocando suavemente a colcha de cama e me dando a chance de conseguir visualizar bem o ferimento. Havia sido mais feio do que Will me indicara.
As bordas estavam de um tom marrom que parecia quase infectado, e de alguma forma, soube que não era bem assim. A parte mais funda estava fechada com muitos pontos, impedindo que fluísse muito sangue. Embaixo, onde deduzi ter transpassado a arma, já se encontrava fechada.
Sorri disso.
Não havia duvidas de que Will era um ótimo médico. Mesmo sentindo cansaço, o homem havia conseguido criar uma dura pele para salvar a garota.
- Will? - sussurrou a menina para meu espanto, abrindo com dificuldade os seus olhos e me permitindo ver o verde-azulado que eram aquelas orbes cobertas de dor. Em algum ponto daquilo tudo, a minha compaixão cresceu e eu me encontrei afastando suavemente seu cabelo de seu rosto.
- Não - balbuciei baixinho - Sou Hyanna, uma amiga de Will, vim cuidar de você.
- Onde ele está? - percebi que um sofrimento transbordava de cada palavra pronunciada por ela.
- No chalé dele, espero que dormindo, estava cansado quando o achei. - me virei para pegar um cantil de ambrosia que encontrei sobre a mesinha e as gazes dentro do terceiro quadrado. - Pediu que eu viesse ficar com você.
- Agora vai ficar comigo? - perguntou em um fio de voz, fitando os movimentos que eu fazia.
- Sim, por um tempinho, depois ele voltará.
- Preferia que fosse você. Will me deixa louca quando fica de um lado ao outro soltando cânticos antigos e diferentes formulas que só um filho de Apolo sabe traduzir.
Ri baixinho de suas reclamações, enquanto voltava-me para ela, pronta para começar a limpeza do ferimento. Me perguntei se aquilo deixaria marcas, ou se seria somente algo passageiro, retirando a camada de gaze que Will tinha colocado somente para tampar fracamente. O pior, sem duvida, estava debaixo daquilo. Me forcei a somente trabalhar, sem me aderir aos detalhes, molhando o algodão com a bebida dos deuses [curativa] e limpando até onde eu sabia que podia.
Amy, se não me engano, não gritou, não choramingou, nem nada disso. Só mordeu o lábio com força, provavelmente evitando qualquer um dos antes citados.
Quando finalizei, enrolando com uma faixa onde encontrei um papel do filho de Apolo em que avisava para colocar nela, tanto eu quanto ela quase agradecemos aos deuses. Eu, pela agonia que provocava. Ela, pela dor do inferno que devia ser.
- Obri-Obrigada - gaguejou ela respirando profundamente o que lhe retirou um gemido de desgosto quando mexeu sem querer o corte.
- De nada, agora, melhor descansar - disse retirando as luvas cobertas de sangue, após ter colocado todos os algodões e gazes usadas em um pequeno potinho de metal, e juntando-a ao lixo. Para finalizar perfeitamente, coloquei álcool e fogo, onde o metal nem mesmo esquentou. Ele devia ser fabricado para aquilo. Depois de fazer todos esses passos, eu pude me virar para conversar com ela - Deve estar cansada.
- Não, passei os dias dormindo, o que mais quero agora é sair daqui - replicou tentando se sentar, o que só foi possível com minha ajuda. Talvez ser enfermeira fosse minha profissão. - Obrigada de novo.
- Tem certeza? Você parece um pouco... Ruim ainda.
- Mas, sou forte, acho - ela sorriu fracamente fechando os olhos - Quem sobrevive a esse veneno deveria ganhar um premio.
Também sorri com ela.
- Sem duvida alguma, não me imagino ficar assim.
- Nem tente, é a pior... - se mexeu - Coisa do mundo. Ai.
- Pare de se mover, garota, assim vai ficar pior.
- Desculpa, mas é que está... Agonizante.
Afofei os enormes travesseiros nas suas costas.
- Deve estar com fome, certo, Amy? - perguntei lembrando de cada coisa que Will me disse. Somente comidas macias e fáceis de digerir. Certo... O que eu pegaria?
Antes que tivesse a certeza do que fazer, um garoto alto, bem maior do que eu, de cabelos loiros e visíveis olhos verdes entrou quase correndo pela porta. Ele primeiramente me fitou, confuso, e então, quase como automaticamente, passou o olhar para Amy. Eu conhecia aquele tipo de brilho. Algo dentro de mim acendeu, acordando um lado um pouco... Afrodite de ser. Havia uma áurea... Diferente. Sacudi a cabeça, querendo tirar aquele sentimento de dentro de mim, o que não foi possível. Droga, o que era isso? Sem se importar se devia ou não entrar com uma roupa limpa, o garoto chegou perto da gente, um sorriso quase impossível de não dizer que era muito bonito em seu rosto másculo.
- Finalmente, Bela Adormecida - disse ele pegando a mão dela após me dar  um aceno de cabeça. - Pensei que não acordaria mais.
Para minha surpresa, Amy estava muito corada, sem fita-lo nos olhos. Parecia quase... Nervosa com sua aproximação.
- Não se cura rápido disso, Paris - falou ela mais baixo do que tinha dito comigo, sua voz tremendo levemente. Então, quer dizer que alguém ficava tímida com a chegada de um certo garoto? Quase sorri daquilo. Estava na cara de que ela gostava dele. Ele no entanto, minha alegria murchou, a tratava como uma amiga. Mas, o jeito que o verde cintilava não me enganava.
- O que importa é que está melhor - disse com um beijo no dorso da mão que segurava - Me deixou preocupado, sabia?
Evitando estar de penetra na conversa, fingi buscar a comida dela, só o que eu não esperava era que quando voltasse com  bolo e o suco de morango [especialidade da casa], o tal Paris falasse comigo:
- Posso dar comida a ela?
Olhei para Amy, pedindo resposta. Ela, no entanto, se mantinha com o olhar baixo, cada vez mais corada enquanto ele fazia movimentos circulares em seu braço bom, a mão masculina ainda trançada a dela.
- Claro - sorri lhe entregando. Ele nem mesmo deu tempo para negar caso quisesse.
- Sem querer ser um pouco rude, mas quem é você? - havia uma curiosidade genuína em sua voz que foi seguido de Amy me olhando com a mesma pergunta em sua face.
- Hyanna Hoffmeister, uma amiga de Will. - mudei o peso da perna - Ele pediu que eu viesse cuidar dela.
- Deve ser de confiança então - deduziu Amy ainda com aquele brilho de desejo de saber mais sobre mim.
- Você é filha de quem? - lá vinha a pergunta que eu mais odiava da boca do loiro. Sem notar o que fazia, prendi o meu cabelo em um rabo de cavalo. Dizer ou não dizer? Se passava em minha mente. Eu poderia dar uma evasiva, ao mesmo tempo em que poderia abrir o jogo, afinal, eles eram amigos de Will, logo, deviam ser boas pessoas, certo? Ainda mais Paris sendo filho do herói do Olimpo. Ele seria chato? Mimado? E Amy, seria esnobe? Não, nenhum dos dois me tratou mal.
- Bem... É complicado, mas preciso ter a certeza de que isso não vai sair daqui - pedi em voz baixa olhando os dois que estava ansiosos. Como eu soube daquilo? Ah, sim, a áurea. - Eu sou filha de Hera, a deusa dos céus.
Ambos ficaram em choque, parados por completo, sem acreditar no que disse. Sempre era a mesma reação quando eu dizia algo assim. Até mesmo Will fez uma cara de espanto parecida com a de Paris. Foram longos minutos para que conseguissem sair daquele entorpecimento, e a primeira foi Amy, murmurando um “Uma traição” para si mesma a todo momento em que me vistoriava com o olhar. Neste, não havia maldade, nem nojo, apenas... Perplexidade, um sentimento novo para mim que estava até mesmo me acostumando com o fato de algumas pessoas me fitarem atravessado quando meu pai dizia ser “pai solteiro”. Não era bem visto ser uma família sem a mãe.
- Uma filha de Hera - repetiu Paris como se mal pudesse crer que existisse uma pessoa sangue da deusa.
- Bem... É... - eu estava sem palavras diante aquilo - Acho que já vou, quer dizer, você pode cuidar dela um pouco? Eu vou... Eu vou dar uma volta. - eu faria qualquer coisa para sair daquele lugar.
Quase prevendo o que eu queria, Amy assentiu com a cabeça, nos seus olhos, se via um “Seu segredo está bem guardado”. Aquilo duraria até o dia em que eu visse Quiron. Não querendo saber de mais nada, dei as costas aos dois e sai quase correndo pela porta.


Paris Chase Jackson.


Eu estava em choque. Pane total. Desligamento com o cérebro.
Só consegui sair quando já estávamos só eu e uma Amy tão pasma quanto eu mesmo.
- Não há como ter filhos de Hera sem ela não trair - sussurrei idiotamente, com a comida da garota em minhas mãos. Aquilo era muito para minha cabeça. Uma filha de Hera entre nós.
- Hum... - Amy mexeu em seu cabelo sem querer movendo um pouco o seu ombro. Ranger de dentes.
- Não se mecha - briguei passando minha mão inconscientemente no seu rosto - Vai ficar cada vez pior. Então, fiquei quietinha, Amy.
- Desculpe - ela novamente não olhava para mim, preferindo o teto enquanto respirava entrecortadamente, deixando seu pescoço a minha vista. Era pedir demais que eu não fizesse nada diante daquela ação. Sem me importar, toquei meu nariz na pele quente da sua nuca, provando aquele cheiro adocicado de perto. Era viciante. Ela quase perdeu o ar quando fiz isso, sua respiração falhando mais e mais. Hum... Reação legal. Querendo forçar um pouco mais a barra já quase quebrada, encostei os meus lábios em um beijo na sua nuca, um carinho que eu não deveria ter com minha melhor amiga, certo? Eu queria saber todas as suas reações em instantes assim. Para minha perplexidade, senti a sua mão subir para meu braço, os dedos femininos contornando os meus músculos, acordando todos os meus hormônios em um velocidade surpreendentemente rápida, e quando notou o que fazia, se afastou. Mas, não podia fugir de mim, a não ser que resolvesse andar com aquele ferimento.
- Não invente dar uma de heroína - avisei novamente sentindo aquele pavor estranho daquele momento de loucura.
- Eu não dei uma de heroína - sussurrou baixinho, quase em meu ouvido também. Seu hálito era quente, o aroma doce mais forte ali, quase enlouquecedor. O que era aquilo? Aquele cheiro?
- Danika poderia ter te ajudado, e sabe disso - lentamente, tomando cuidado para não machucá-la, passei um braço por sua cintura, a abraçando fracamente por medo de fazê-la sentir dor. Também não seria um ato heróico meu, caso acontecesse algo a aquela menina.
Como resposta, só recebi o movimento ritmado da sua inspiração e expiração que sempre trazia o sabor doce para minha boca. Ela nem mesmo tentou sair de meu aperto, preferindo se encolher. Nesse momento, poderia até mesmo dizer que ela se sentia protegida, calma e segura. Não sei se era verdade, mas algo sussurrava em minha mente falando que sim.
Eu nunca tinha me sentindo assim.
Deve ser outra reação, pensei escondendo o meu rosto em seu cabelo macio e com cheiro de... Chocolate. Exatamente o meu doce preferido. Tive até mesmo vontade de rir estrondosamente dessa, mas, tudo nela brilhava “Cuidado, estou machucada, não se mexa com rapidez”, logo, meus músculos respondiam a aquele apelo, sendo cuidadosos com seu corpinho em meu braço.
Então, sem notar, eu a tinha contra meu peito, me abraçando de verdade, inclusive com direito a um braço em minha cintura e seu rosto encostado contra o meu.
- Fo-foi bom te ver naquela hora - tremeu a sua voz. Era adorável o seu jeitinho tímido e prestativo. Sempre delicada.
- Eu sou bom em ser visto a qualquer hora - brinquei desejando que ela risse, o que sucedeu.
- Você se acha - tom baixo, quase inaudível - Você sempre se acha.
- Mentira, teve um momento em que me senti impotente, sabia?
Acho que ela nem notava o que fazia com seus dedos descendo vagarosamente em minhas costas para depois subir, e ficar nesse vai e vem, que estava arrepiando os meus pêlos e acordando minha masculinidade.
- Quando?
- Naquele dia, quando te encontrei. Não fazia a mínima idéia de como reagir com o veneno em sua pele.
Ela tremeu, visivelmente se lembrando daquele dia. Nem mesmo eu desejava guardar algo daqueles momentos, imagine ela, que esteve frente a frente e ainda foi machucada. Uma perca de memória nessas horas são as melhores. Querendo acalmá-la, pois seu pânico ligava automaticamente o meu, comecei a desenhar imagens disformes em sua coluna, notando o quanto tinha emagrecido. Era uma menina forte afinal.
- Desculpe por provocar tanta preocupação - murmurou ela pousando o queixo em meu ombro, gostando do calor do abraço. - Mas, não tinha como fugir daquele monstro. Era eu ou então Danika. Eu não ia permitir que um bicho machucasse minha melhor amiga, não mesmo. - ela respirou - Peço desculpas por isso.
- Desculpas? Você sobreviveu, Amy, deveria estar era rindo, não pedindo desculpas a mim.
- Mas...
- Eu sei que falei que estava preocupado, mas, entenda, isso foi por minha causa. Eu devia saber desde o começo que você ia sobreviver, contudo, a mente não dizia isso. Então, foi total culpa minha estar preocupado, ok? - perguntei me afastando um pouco para conseguir chegar aos seus olhos. Estes, estavam molhados e cheios. A dor e a culpa decidindo serem as emoções principais. Não, ela não podia ficar assim. Sequei duas lágrimas que resolveram cair - Nada disso, agora você está bem. Nada de choro.
- Como devo ficar então? - ela permitiu que seu olhar caísse sobre a minha mão por cima da sua - Como deveria ficar depois daquilo? Eu também sei que não é culpa sua, nem de Danika, nem de Will. De ninguém na verdade, mas, isso bate contra a minha mente e fica martelando, fazendo varias hipóteses crescerem. Os “e se” criando frases. E se eu tivesse feito aquilo? E se eu tivesse voltado? E se eu tivesse sido...
- Esqueça - falei colocando um cabelo atrás de sua orelha - Esqueça esse momento.
- Não dá - negou - A cena se repete, de novo e de novo. Aquela frase.... Aquela frase insuportável ainda é audível em minha cabeça. O mesmo tom, o mesmo poder, tudo permaneceu como se nem ao menos eu estivesse desmaiado ou passado dias aqui, nessa cama.
- Shhh , está tudo bem.
Novamente, impotente, pensei puxando-a para perto.
- Depois daremos um jeito nisso - sussurrei lembrando de algo que poderia tirar aquelas idéias insanas de sua mente - Primeiro, você tem que comer algo.
- Nada desce - rebateu olhando para o bolo em minha mão estendida - Não quero.
- Vai ter que comer.
- Mas...
Não permiti que voltasse a reclamar, pegando um pequeno pedaço e colocando na  sua boca antes que tivesse a chance de brigar comigo por ter feito isso. Amy quase engasgou, e com muito esforço, depois de mastigar muito, conseguiu engolir secamente. Sua expressão foi de raiva para... Fome. Sim, ela estava morta de fome. Vendo a sua reação, tratei de abrir o suco em caixinha com o canudinho e entregar a ela. Foi engraçado o jeito que seus lábios fizeram um biquinho para tomar. Logo, sua face estava envolvida em algo como prazer puro. Sem duvida, seu estomago reivindicava mais alimento. Como já tinha conseguido a primeira parte, lhe entreguei o resto da massa fofinha com sabor de chocolate que não fazia nem mesmo um pouco de jus ao cheiro do cabelo dela.
- Então, estava gostoso? - questionei na cara de pau para ela.
Seus olhos se fecharam levemente, deixando uma fresta para me fitar de lado.
- Eu ainda te mato, Paris - brigou dando mais uma gole - Mas, por enquanto, sua morte terá de esperar.
- Esperarei sentado, Amy.
- Melhor deitado, porque do jeito que estou - ela se olhou - É capaz de demorar anos antes de tirar uma perna para fora dessa cama.
Uma idéia nasceu em minha mente.
- Se quiser, podemos sair um pouquinho daqui.
Sem eu nem mesmo ter terminado de dizer, ela já negava com a cabeça, incredulidade se sobressaindo em seus olhos.
- Paris, estou doente. Will ou Hyanna me matariam se me vissem por ai.
- Esse é o seu medo?
- Não, é meu pesadelo. Meu medo é esse ombro ficar bem pior caso entre no sol ou em qualquer coisa assim. Sem contar que não quebro regras.
- Que droga, poderia ser algo bem legal, como ler um livro debaixo de uma arvore, será que você gostaria?
Quase pude ver a palavra “Cretino” se passar em seus pensamentos como um letreiro.
- Regras são regras - disse ela dando o assunto com encerrado. Eu poderia ter rebatido, mas nesse momento, por alguma maldição divina, Danika entrou chorando pela porta, e, se Amy não estivesse tão ruim, aposto que estaria pulando em cima dela.
- Amy, pelos deuses - ela gritou vindo para nós.
Lembrando a mim mesmo como me encontrava abraçado a garota, fui a soltando até estar contra os travesseiros.
- Se cuide - sussurrei lhe entregando um beijo na testa e dando espaço para a minha irmã se empoleirar e chorar ao lado da amiga. Preferindo deixar elas a sós, sai do local com a memória viva de seu perfume contra a minha blusa azul.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam???? Beijinhos