And Now...? escrita por Nivea_Leticia, Lorena Harris


Capítulo 4
E agora... Os Mistérios começam.


Notas iniciais do capítulo

Oiie, pessoal BAD *-*
Resolvi postar mais cedo, por pedido da minha beta/prima Gabriela, que me enche o saco todos os dias.
Ela me aguenta o dia inteiro, e a madrugada tambem, mas isso não vem ao caso! ^^
Ahhhh... Olha que lindoooo, adotei um gato chamado Paris!
Tão lindo quanto o nosso filhotinho de Percy. Tãoo fofoo *-*
Ok, eu estou saindo do assunto!
E ai, cadê o pessoal? Todo mundo sumiu!
Bem.... Obrigadaãooooo pelos rewis! *-* Lindos, lindos!
Agora, vamos lá!
Boa Leitura e espero que gostem!
[Ps: Só para reforçar,a Danika tem cabelo negro com olhos cinza e o Paris é loiro de olhos verdes.]



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Paris Chase Jackson

Não sabia quantas horas eram quando acordei com algo molhado se passando em mim. Aquele aroma adocicado preencheu o ar antes mesmo de meus olhos se abrirem para ver uma garota pequena cuidando de meus ferimentos. Ela nem parecia estar ali, inerte em pensamentos que desejei saber quais eram. ‘’Se curiosidade matasse‘’, pensei sorrindo do seu rostinho concentrado. Ela era ágil, trocando todas as gazes e curativos assim que terminava com a ambrosia. Aquilo era... Encantador. Quer dizer, ela era totalmente fascinante. Ok, o que eu estou pensando? Ela é minha amiga. Ou não?

- Bom dia - sussurrei roucamente retirando-a dos seus devaneios. - Molestando pessoas enquanto elas dormem?

- Nã-não - gaguejou espantada com aquilo. - Eu não estava fazendo nada, eu...

Peguei sua mão pequena que coube perfeitamente dentro da minha, e lhe dei um aperto confortador. Como alguém podia ser tão ingênuo hoje em dia? Pois, até mesmo minha irmã tinha pensamentos não adequados. E eu sabia com quem. Ampliei ainda mais o sorriso com aquela lembrança de Danika me contando coisas que não devia.

- Ei, relaxa, estava brincando com você - falei mantendo o tom baixo - Não que eu achasse ruim caso isso acontecesse.

Foi ai que ela saiu do branco para o vermelho. E nessa hora tive a certeza de que não era somente eu que tinha idéias safadas. Tudo bem, eu sei, ela é minha amiga, mas ainda assim não posso controlar os meus instintos masculinos. Foram anos aprimorando isso, difícil querer esquecer. Sem contar que eu tenho um ótimo primo, Lucien, que só fala merda. 

- Paris, acho melhor você...

Não agüentei, tive que rir. Como ela podia ser tão santa assim? 

- Relaxa, Amy, não vou fazer coisas... Erradas com você.

Ela bufou jogando um travesseiro na minha cara.

- Meninos - aquela palavra foi dita como um pecado. Opa, eu era um pecado. 

- Acho que hoje acordei meio... Safado - passei os dedos nos meus cabelos - Deve ter sido por que fui bonzinho demais ontem.

- Então quer dizer que você escolhe os dias para ser bom e dias para ser ruim? - ela sorriu - Alguém já te disse que você poderia ir em um psiquiatra?

- Minha irmã fala isso quase todos os dias - admiti fitando as costas dela enquanto a mesma pegava alguma coisa nas gavetas do criado mudo. Hoje, usava uma blusinha sem mangas preta contrastando com a sua pele branquinha e um short jeans em tamanho normal, nem grande, nem pequeno, na medida certa. Mas, que ainda assim, acordou todos os meus sentidos. 

Ela era tão pequenina que chegava a ser engraçado quando andava com Danika, que por acaso, era bem alta para o padrão das garotas. Enquanto Danika apresentava confiança, Amy demonstrava bondade. O que, de fato, era o contrario a minha irmã, pelo menos comigo.

- Que horas chegou aqui? - perguntei procurando algo para conversar com ela. Não é legal ficar em total silencio quando uma pessoa falou o dia inteiro com você ontem.

- Acho que uns trinta minutos atrás - fez um coque desajeitado com o cabelo - Você ainda estava parecendo uma criança, mas quando acordou, acabou com qualquer idéia disso.

- Está mais engraçadinha - sorri - Quer dizer, ontem mal dizia algo.

- Não pense que vou mudar - então entregou um saco de papel de onde saia um cheiro gostoso - Trouxe para você a pedido de Quíron. Algo saudável, nas palavras dele.

- Aquele cara sabe de tudo que acontece nesse lugar - reclamei pegando de suas mãos a “encomenda”. 

- Mas, como eu sou uma boa pessoa, dei uma passadinha no Chalé de Hermes e troquei por algo mais gostoso, porque, sem querer ofender, aquele sanduíche natural não parecia muito apetitoso. Então, gosta de Donuts?

Novamente, quase dei um beijo nela, dessa vez, por vontade própria. E como ela sabia que eu gostava de Donuts? Abri a embalagem, vendo que tinham várias rosquinhas cobertas de chocolate dentro. Sem hesitar, peguei uma e comi. Estava do jeito que eu adorava.

- Como soube que eu gostava? - questionei realmente curioso.

Ela colocou um cabelo atrás da orelha, um sinal que eu já estava notando sempre acontecer quando eu fazia perguntas especificas. Será que ela estava nervosa?

- Eu sou a melhor amiga da sua irmã - ela falou sorrindo timidamente - Então, achei que... Vocês devessem gostar quase das mesmas coisas.

- Ponto para você, acertou.

Ofereci o pacote a ela.

- Não quero um Quíron me acusando de matar uma garota de fome.

- Eu já comi - dispensou - Algo saudável.

- Então traz o que faz mal para mim e come o que é certo?

Ela ampliou o sorriso, enrolando entre os dedos um fio de cabelo castanho mantendo os olhos no chão, parecendo pensar em algo.

- Eu odeio ficar doente - anunciou. ‘’Ok, o que isso tem a ver?’’ Perguntei a mim mesmo dando outra mordida no Donuts e ainda fitando-a.

- Hum, porque? - já que ela estava indo por esse caminho, porque não acompanhar?

- Por que ficava na cama, sem poder ver Danika, sem poder ver meus amigos e ainda por cima tomando remédio - ela franziu o nariz provavelmente se lembrando - Mas, eu tinha um primo que ia me visitar.

- Quem é ele?

Ela pareceu desconfortável.

- Meu primo sempre me trazia besteiras. - ela ignorou o que eu disse - E ai eu ficava feliz. Então pensei, porque levar comidas saudáveis para Paris? Já não basta ter que sentir dor? Acho que essa foi a minha linha de raciocínio para o que eu fiz.

- Mas - peguei mais uma rosquinha dentro da sacola - Você não respondeu quem é seu primo.

Sim, ela estava bastante inquieta sobre aquilo. Tanto que voltou a arrumar o cabelo em um nó, mostrando que sempre que ficava agoniada, mexia nos fios castanhos.

- Assunto delicado, posso pular essa pergunta? - pediu não encarando meus olhos. 

A curiosidade me corroia de um jeito estranho, mas, forçar a barra não seria legal agora. Mais por falta de opção, do que de vontade, mudei drasticamente o assunto

- O que gosta de fazer? - isso foi a primeira pergunta que veio em minha mente. Seus olhos encontraram os meus, agradecendo por não ter desejado saber o nome do seu primo. 

- Ouvir música, ler livros, poderia até chutar estudar - mordeu o lábio inferior, chamando minha atenção para aquela boca. Logo, ela corava - Hum... Acho que cuidar de seus ferimentos agora está na minha lista.

- Então quer dizer que eu também sou algo importante? 

- Paris, abaixa a bola, já está se achando demais.

- Meu jeito - sorri daquela forma “capa de revista” como Danika costumava zoar quando passava pelo meu quarto e via-me se olhando no espelho.

- O pessoal todinho te atura assim? - agora acho que foi curiosidade de verdade.

- Ser popular requer se achar.

- Hum... A Danika estava querendo que você fosse treinar hoje - tocou levemente o meu peito, onde antes havia um roxo, criando uma corrente elétrica. - Seus ferimentos estão quase todos curados, não precisa mais ficar deitado aqui.

- Até que eu gostava.

Ela ficou ainda mais sem graça.

- Paris, controle-se.

- Sabia, ser popular também requer conseguir qualquer garota.

- E eu estou fora dessa, eu sou a melhor amiga da sua irmã.

Dei de ombros, não querendo admitir que quem sabe ela entrasse na lista. Ia depender muito, afinal agora, ela também era a minha amiga.

- Vai treinar? - indagou novamente centrada em tirar os curativos.

- Devo.

- Ela disse algo sobre floresta e sobre o primo de vocês também estar na jogada.

- Obrigado.

- De nada.

Ela terminou rapidamente, juntando todo o lixo em um saquinho plástico e, para evitar algum tipo de contaminação, queimou tudo na lareira que ela deve ter acendido enquanto eu estava ou desacordado ou voando em pensamentos. Preciso dizer que ela era muito inteligente? 

- Bem... Eu preciso ir. Malcolm me mata se eu chegar atrasada para a aula de grego.

- Você tem aula com meu tio? - Malcolm era irmão da minha mãe, Annabeth.

- Tecnicamente, sim - ela sorriu - Acho que não é pedir demais que se mantenha inteiro, certo?

- Errado.

Agora, ela riu.

- A gente se vê no jantar, se você estiver vivo.

- Vou tentar continuar vivo.

- Tchau, Paris - e assim, ela foi embora.

Danika Chase Jackson

Eu tinha acabado de sair do Pavilhão quando uma certa pessoa esbarrou em mim.

- Opa, gatinha, bom dia - disse Lucien, dando a volta.

- Oi - falei resumidamente. - Não estou para papo hoje.

- Deixe-me ver... TPM?

- Acertou - empurrei ele sem ligar se tinha sido forte demais - Então, não mexa comigo hoje.

- Sabia que você está pior do que minha mãe?

- Pior que a tia Thália? - fiz uma careta - Acho que isso não é uma boa comparação.

- Realmente, é uma péssima comparação, você está bem pior. 

- Obrigada - disse numa voz irônica - Você sempre me ajuda quando as coisas estão ótimas.

- Já te disse que você é um amor de pessoa?

Aquele garoto está me irritando. Por sorte dele, Amy apareceu na minha frente, um sorriso idiota no rosto que eu não conhecia, entre suas mãos uma cópia de Romeu e Julieta em grego. Dislexia acaba com a graça de ler em qualquer outra língua.

- Seu tio pediu que me ensinasse hoje - disse Amy trocando o peso do corpo de um pé para outro - Se importa de me ajudar?

- Se quiser, eu posso te ajudar - intrometeu-se Lucien usando a pior cantada que o mundo já viu.

- Lucien, na boa, fica calado - falei pegando a mão da minha amiga - Vamos na frente, Amy. Lucien vai levar Paris para o lugar, certo?

- Aviso para você Amy: ela está de TPM - gritou Lucien quando já estávamos um pouco longe. Ao meu lado, Amy riu. 

- O que aconteceu com Malcolm? - perguntei sem entender muito bem o porque dele ter trocado o turno de professor da Amy comigo. Eu e ele fazíamos uma rotina, cada dia, um ensinava a ela.

- Ele disse que estava ocupado hoje, algo com Quíron, então resolvi não perguntar mais - respondeu ela baixo como sempre. Se alguém queria uma filha perfeita, essa era Amy. Inteligente, competente e leal. Quem precisa de mais quando se tem ela? E agora, noto que meu irmão também começou a prestar atenção nisso.

- Quíron, isso não é bom.

- Se quiser, posso descobrir o que Malcolm está fazendo - sugeriu ela prestativa. - Sabe que posso fazer isso.

- Não, vamos evitar isso de novo - logo neguei, lembrando muito bem o que aconteceu na ultima vez. Não foi muito legal.

- Tudo bem, você que sabe - ela sorriu amigavelmente. Como alguém poderia odiar essa menina? Sempre se dedicava a te ajudar mesmo que isso custasse as suas noites lavando louças. O mais estranho ainda, era que Amy era filha de Silena, a tia mais louca que nós temos! Como Amy era tímida sendo que sua mãe era totalmente atirada? Era... Confuso. Ok, o que não era diferente quando se é um meio-sangue [ou quase meio-sangue, no meu caso].

- Paris vai vir?

Foi só falar o nome dele que ela tratou de criar uma grande vontade de olhar para suas sapatilhas brancas, as bochechas corando automaticamente. Hum... 

- Ele disse que sim - murmurou ela tão baixo que tive de me esforçar para escutar. - Os hematomas já sumiram, só alguns no peito que continuam. Nada que ele não possa administrar - aquilo pareceu uma piada particular que eu sinceramente me senti de fora. 

- Faltar mais um dia de treinamento seria o mesmo que pedir para o Senhor D. ficar brigando com ele.

- Mas, o Quíron é uma pessoa mais boazinha - ela rebateu - Acho que ele não faria isso.

Dei meu melhor olhar de “Você também deve acreditar em papai Noel, se pensa que o Quíron é bonzinho a esse ponto”, que muitos diziam parecer com o da minha mãe, Annabeth.

- Sim, ele faria - disse sem hesitar.

- Pode ser, quem sabe? - ela deu de ombros - Tanto faz, Paris diz que vem.

- Isso é bom. Ele alguma vez viu Diego?

- Não, não deixei que ele saísse do chalé. Com a raiva que ele ficou com Dafne, tive até medo da reação caso fosse Diego.

- É bom que ele não saiba nada sobre esse menino.

Ela nada disse, tendo os mesmos pensamentos que eu. Muitas coisas implicavam com Diego, uma delas valia muito para Amy que fazia o máximo para esconder. Eu sabia, pois era a sua melhor amiga, tirando isso, creio que mais ninguém, só o próprio filho de Hades.

- Ele não sabe - prometeu Amy confiante disso. Um tipo de sentimento que eu odiava. Fazia com que ficássemos cegos, e eu detesto não ter saída.

- Tome cuidado, Amy.

- Tomarei.

Chegamos a campina onde geralmente treinávamos poucos minutos depois daquela conversa tensa entre eu e Amy que por acaso não se pronunciou mais. Seu olhar estava fixo em algum ponto desconhecido, curtindo a natureza de um modo que filhas [netas nesse caso] não deveriam gostar por haver alguns bichinhos e insetos. Não puxei papo, desejando ficar inerte em meus pensamentos. Mas, como tinha de ensinar grego a ela, logo não pude deixar de dizer. A conduzi para um canto onde tinha mais sombra, nos tirando daquele calor infernal que fazia no dia de hoje. 

- O que Malcolm ia te ensinar hoje? - perguntei em um dado momento enquanto ela folheava as paginas do livro de Shakespeare.

- Hoje seriam as historias mitológicas - falou baixinho.

- Então, quer começar por qual?

- Você escolhe - ela disse num sorriso cadenciado de sempre - Mas sabe que se quiser fazer uma outra atividade pode, não sabe?

Agora foi minha vez de sorrir.

- Somos amigas e eu adoro conversar com você, pelo amor dos deuses, claro que quero te ensinar.

-  Então, quando quiser começar...

Sua voz morreu por algo que não soube o que era, aqueles olhos amigáveis se abriram ainda mais, quase como se não pudesse acreditar. Ela não era de se assustar assim, mas tão pouco era totalmente segura de si (outro fato que influenciou para ela ser tímida). Então, quando algo desse tipo ocorre, tenha em mente que é muito ruim. Uma mão pequena me deteu para que eu não me virasse, seu olhar se tornou gélido e difícil de não concordar com tudo o que falasse ou ordenasse. Outro modo que sabia que era ruim. Então, em sua mão, a sua tão usual espada de bronze apareceu, que geralmente era apenas um relógio, bastava um clique nele para criar a mágica.

- Danika, vamos fazer o seguinte - sussurrou ela chegando um pouqinho mais perto. - Você vai sair pelo lado esquerdo, onde a floresta vai te dar proteção. Chame Quíron, acho que ele vai saber o que fazer.

- Mas, do que você está...

Ela segurou meu queixo.

- Não olhe para trás em nenhum momento, está escutando? Eu sei cuidar disso. Só faça o que pedi, uma vez na vida, faça o que pedi. - vi uma centelha de coragem no verde-azulado dela.

- Amy.

- Agora, não olhe. Chame a primeira pessoa que encontrar para me ajudar.

Vi que ela não ia ceder.

- Tudo bem.

- Pode confiar em mim.

- É o que acho que estou fazendo, apesar de pensar ser burrada. - e sem olhar para trás, me pus a correr.

Amy Beauregard Beckendorf

Poucos entendiam o porque de eu ser totalmente contraria a minha mãe, a mulher mais popular na época em que os pais de Paris e Danika também era jovens. A verdade é que eu não gostava da comparação de só por ser neta de Afrodite, ser burra. O que, sem querer ofender as minhas “tias”, fazia jus ao que diziam. Mas, para mim, ser diferente era uma necessidade. Logo, acabei me tornando tímida. As vezes, chegava a ser agonizante as minhas bochechas ganharem tonalidade vermelha, ou como eu gaguejava. Mas, esse é o meu modo. 

Embora poucos saibam o meu outro lado. 

Lutar era minha fascinação, criar peças, desmontar armas, e, acima de tudo, matar monstros. Pode parecer um pouco sanguinário, contudo, quando se viveu maior parte de sua vida sendo seguida por diferente bichos, se aprende que é melhor não hesitar, pois a probabilidade de você morrer é maior do que a de desviar do golpe.

Então, você me pergunta, por que deixei que Danika fosse embora. 

Amigos são as segundas pessoas em minha lista de “Pessoas importantes”, e esses, eu protejo até com a vida. Ai, você pensa “Isso não é suicida”. se é? Não faço a mínima idéia, mas pouco me importa. A dor de perder uma pessoa pode ser incalculável quando se pode sentir uma afeição.

- O que temos aqui, uma filha de Afrodite - disse a besta cheirando o ar como se fosse a melhor comida do mundo, o que me criou repulsa - Com... Hefesto? Que mistura agradável.

- O que você quer aqui? - perguntei em uma voz fria, indo direto ao ponto - Sabe que não tem autorização para entrar.

A Fúria riu, quase grasnando.

- Criança tola, regras imundas de semi-deuses não me afetam.

- O que quer? - repeti.

- Acho que me divertir, mas isso está sendo um tédio mortal.

- Não tem nada para você aqui.

- Sim, tem sim. Muitas coisas me interessam aqui.

- Então, o que quer?

- Um recado para vocês, meros mortais - pousou a poucos metros de mim. As suas asas de couros repuxando-se para se fechar, a sua pele marrom dava gastura, os olhos avermelhados que não demonstravam piedade me encaravam com vontade.

- Diga e vá embora - sugeri com um ar arrogante que costuma funcionar. Para ela, no entanto, só a fez rir ainda mais. Meus músculos rugiam para atacar, para brigar, acabar com a cara daquela mulher-bicho que estava gargalhando da minha cara.

- O recado vem depois da parte em que eu te machuco, não a ponto de matar, mas de a deixar incapacitada. Ordens são ordens.

Empunhei minha espada, segurando com força a base, já prevendo algum tipo de luta corporal.

- Lamento, mas não vai existir a parte de me machucar. - a alertei.

- Mas, quem disse que eu vou fazer esse trabalho? O meu só é esse... - então uma frase que arrepiou todos os meus pêlos se passou em minha mente, uma replica de minha voz com a entonação poderosa de qualquer outro ser. Só algum deus seria capaz daquilo.Tive a leve impressão de que a conhecia. Um entorpecimento ilógico tomou meu corpo, minha cabeça rodando. - Trabalho feito - escutei a voz estridente daquele animal segundos antes do farfalhar de suas asas.

- Você... O que... - tentei dizer algo.

- Não vai doer nadaasss - aquilo sim eu conhecia. Um lestrigão estava por perto. Eram inegáveis as evidencias: o cheiro de algo podre, o uso do “s” por causa de sua língua, a sua risada de serpente. Lutei contra aquela teia incolor que sobrevoou todas as minhas rotas de fuga, agarrando-me na escuridão, o que de nada adiantou. 

Logo, eu estava estirada no chão, o ar me faltando enquanto pequenos vislumbres de um bicho verde vindo para cima de mim. Em uma de suas mãos [ou seriam patas?], uma lança cheia de veneno ameaçava me furar. De um jeito ou de outro, eu tinha que pensar em algo se não quisesse morrer. 

Um passo, uma respiração.

Com muito custo, me coloquei de pé, o instante perfeito para pode amparar a sua arma ainda no ar. 

O que estava acontecendo comigo? Por que meu corpo não correspondia? O que era aquela névoa?

- Isssssso é o poder - disse-me o lestrigão com um sorriso [se é que aquilo poderia ser chamado disso] de puro escárnio que acordou o meu lado mais malvado. Não queria morrer, o que era de se esperar. Agora, o sangue bombeava com mais velocidade, os meus ouvidos só escutando os sons do meu batimento cardíaco. Tanto fazia ser uma minotauro ou uma empousai, só o que eu queria era vingança. Aquele gostinho de vitoria.

Dando um empurrão no bicho para que ficasse um pouco atordoado, desferi um golpe nele, mas não fora suficiente para leva-lo para o inferno ou seja lá onde isso fosse. Eu precisava de força.

- Poder que não existe - rebati com um ranger de dentes e um corte na lateral do corpo reptiliano. Não deixei que ele fizesse mais. Minha força se esvaia ainda por causa daquela confusão em meus pensamentos, não deveria demorar a desmaiar assim que a adrenalina parasse de ser fabricada. 

Para minha surpresa, o lestrigão rodou aquela sua lança. Poderia ter rodado, mas não o fiz. E então, aquela ponta afiada coberta de um tipo de gosma esverdeada transpassou meu braço como uma faca em fogo vivo. Nunca tinha sentido algo do tipo, tão... Agonizante. Sei que dos meus lábios, um grito saiu e o meu corpo perdeu total força. 

E a ultima visão para mim foi a de um animal verde estendendo a sua arma de onde pingava meu sangue e agora mirando em meu peito.

Danika Chase Jackson

Muitas coisas poderiam se dizer sobre Amy, mas a principal sempre seria: lealdade. Foram incontáveis as vezes que ela entrou em uma luta comigo, preferindo se machucar a me deixar sofrer algum tipo de corte. E novamente, aqui estava eu, correndo pela floresta em que ela disse estar mais segura de uma fúria. Das outras vezes, foram animais de baixo escalão, só essa a pequena diferença. Pulei uma, duas, três caules que se embrenhavam uns em cima dos outros das arvores que viram lutas épicas. De longe, eu conseguia  ouvir o bater das asas, aquele cheiro de morte que existia apenas no mundo inferior, e a promessa não dita de que iria me matar. 

- Mas antes eu chego no Quíron - sussurrei para mim mesma me jogando para frente com mais vontade. Eu não ia perder a chance de mostrar para Amy o quanto eu poderia ser útil. Não que ela não me achasse digna de algo, mas era algo que eu queria fazer. Aquela garota merecia toda a bondade do mundo. 

Faltava pouco para chegar no pátio quando lembrei de que ali não teria a proteção que as arvores me davam. Teria de arrumar algum outro modo. 

Pensa, pensa.

O que eu tinha a meu favor? 

Vistoriei todo o local com meus olhos profissionais a procurar algum tipo de esconderijo, não encontrando muito. Haviam os chalés que seriam facilmente destruídos. Tinha o Pavilhão do refeitório um pouco mais para frente. Mentalmente uma trilha sob o mapa do acampamento apareceu para mim. Anos vindo nas férias para cá dão nisso. 

Descontroladamente, troquei o caminho para o local aonde os meus campistas favoritos [pelo menos nesse momento] passavam o dia inteiro. Sobre muitas coisas que se devem aprender por aqui, a primeira é o lugar onde cada chalé fica para caso específicos de emergência. O que para mim, iria cair como uma luva, só implorava para os deuses que o meu irmão ou Lucien ou Kylle estivessem por ali. 

Sim, eu não tinha errado quando pensei naquele lugar em questão.

Vários filhos de Apolo jogavam vôlei na quadra, dividindo-se em grupo de seis, sendo todos observados por Will Solace, um veterano que também foi amigo de minha mãe um dia. Hoje em dia, ele tinha por volta de quarenta anos, contudo, isso não era problema. Ao invés de ficar velho, cada vez mais ele aparentava mais novo, bonito como sempre com os cabelos loiros grandes e um sorriso totalmente amigável. Um cara que não se preocupava em ficar horas e horas te ensinando como usar arco e flecha. 

Will olhava uma pequena prancheta que tinha alguns papeis presos, parecendo bastante concentrado no que fazia, no momento em que entrei como uma louca entre os seus irmãos. Choquei com alguns, não me importando sobre a vida deles. Afinal, a Benevolente queria a mim, não a eles.

- Will - gritei, o tirando das suas tarefas. Ele de primeira ficou confuso com aquilo, mas, como eu tinha certeza que aconteceria, viu o animal do mundo inferior voando para me pegar. Deveria agradecer a Apolo por ter criado filhos tão espertos? Assim que notou o desespero, com uma só ordem de cabeça, um garoto muito parecido com ele me empurrou pro chão e flechas brotaram no animal, exatamente como ocorria em caçadas de cervos ou patos todo ano, dos quais meu pai as vezes participava apesar de ser péssimo nisso. 

Depois dessa corrida alucinada, eu poderia até mesmo ter passado o dia inteiro lendo um livro de mil paginas em qualquer língua, o que para disléxicos, significa o mesmo que ficar com uma dor de cabeça dos infernos.

Um homem preocupado apareceu em minha visão, estendendo a mão.

- O que foi isso, Danika? - questionou ele me ajudando a levantar já que eu estava atordoada.

- Fúria. Amy. Campina. Treino - falei entre puxadas de ar.

Ele franziu o cenho, confuso.

- Como assim, Danika?

Para minha felicidade [parece que os deuses estão ao meu favor hoje], Paris chegou, também arfante da corrida do seu chalé para cá. Algum campista devia ter avisado no momento em que apareci. Deveria agradecer seja lá quem fosse.

Segurei com força o braço do meu irmão, fitando os seus olhos para que ele sentisse pela aquela estranha conexão que tínhamos o que eu deveria dizer.

- Amy. Fúria.- entre respirações - Briga. Campina. Treinar.

Ele, surpreendentemente, entendeu o que eu queria dizer.

- Seis campistas - ordenou Paris com uma carranca que ninguém pensou nem mesmo em contrariar - Agora.

Antes que eu pudesse me indicar como uma das campistas [que era o meu desejo por ser sua amiga], um garoto mais forte que eu, de cabelos loiros e olhos azuis elétricos passou um braço em minha cintura, puxando contra vontade para algum lugar que não queria saber. A única pessoa que se passava em meus pensamentos era Amy lutando contra uma Benevolente. Eu deveria estar com ela. 

- Desculpe por  isso - sussurrou Lucien.

Algo quente passou pelo meu corpo e então, escuridão profunda.

Paris Chase Jackson

Ver minha irmã daquele jeito, ofegante e preocupada não me restou duvidas de que era algo muito ruim. Mas, a pior parte não foi nem mesmo saber que minha irmã estava em perigo [já que ela conseguira se salvar], e sim Amy. A garotinha delicada e pequena que cuidou de mim. A menininha de sorriso cadenciado. A neta de Afrodite que não era nem um pouco parecida com a deusa. De acordo com o que pude saber de Danika, foi que ela estava em uma luta. Supomos, durante o caminho que em todo foi correndo, que fosse uma outra Benevolente, já que aquela tinha voado atrás de minha irmã. Não esperava era encontrar o local em um silencio tão grande e opressor. Isso, demorou pouco, sendo cortado aquele clima tenso palpável por um grito fino e feminino. Meu cérebro logo associou com Amy. 

Uma raiva subiu por mim, tão cruel quanto a que senti com Diego, mais vermelha sob meus olhos.

Seja o que fosse, estava de fato morto quando encontrasse. Caçaria até acabar.

- Cerquem a área - mandei procurando o epicentro da lamentação de dor - Vejam se tem algo por aqui.

Não esperando respostas, peguei a caneta que meu pai me deu aos dez anos e retirei a tampa. Aquele tão rotineiro brilho fosco do bronze celestial de contra-corrente me deixou ainda mais confiante do que deveria fazer. Anaklusmos, o seu nome verdadeiro, já tinha muitas historias para contar. Entre elas, a do herói do Olimpo. Era um honra, assim como um dever, saber usá-la direito. Jamais seria permitido da parte de meu pai oferecê-la ao lado negro da força, como costumávamos brincar. E não seria, nunca.

O calor fazia com que a minha pele ficasse mais sensível, mais louco para matar. Cada respiração era uma esperança de encontrar logo aquilo que fez mal a Amy. Então, entre a parte mais baixa da campina, estava a garotinha de cabelos castanhos com um lestrigão debruçado, trazendo entre seus dedos um tipo de adaga. Só depois que fui notar. Nunca fora uma faca pequena, mas sim uma lança. Ele tinha quebrado-a em algo. 

- Diversão - falei em uma voz mais baixa, ainda assim completa de vontade de retirar a vida daquele ser. Foram poucos movimentos: uns cinco passos, o empunhar da espada e a força bruta para atravessar o corpo coberto de escamas estranhas que nem resistiram a lamina. Para que se faz algo tão complexo assim quando o bicho morre tão rapidamente? Ok, ninguém mata um animal desse jeito, a não ser quando eu estou louco para acabar com eles. Opa, esse era o caso! Assim que a poeira dourada assentou no solo molhado, me virei para Amy. 

Ela gemia de dor.

Sua respiração era instável, com grandes espaçamentos entre uma golfada e outra. 

Isso não era um bom sinal. 

Então, com pânico, visualizei o ferimento fundo que havia em seu ombro. Nas beiradas, o liquido fumegava, soltando um pouco de fumaça enquanto corroia lentamente a carne dilacerada, provocando ainda mais dor nela. 

Se sentir impotente era algo que nunca tinha me ocorrido. 

Não até hoje.

Nem me importando que tivesse outros monstros, que o mundo acabasse, a peguei em meus braços. Como eu esperava, seu corpo pequeno não pesava e tremia, levando gotas de suor com isso. Ela não estava nada bem.

- Amy - escutei alguém murmurar atrás de mim. Para minha surpresa, aquele que falou isso era ninguém mais, ninguém menos que Diego. Ele a fitava preocupado, o que também não gostei. Fingi não notar aquilo, a puxando ainda mais contra mim e passando por um idiota pasmo.

- Diego - chamei-o contra vontade, mas tendo de admitir que era um bom líder - Comande.

Não escutei nada, no entanto, também não esperei. O que me importava se ele dizia sim ou não? Era uma função que ninguém poderia negar nessas horas, ainda mais quando o líder [eu antes] passa para você a missão.

- Voltou - balbuciava Amy baixinho.

- O que, Amy?

- Voltou - cheguei mais perto para escutar, quase encostando seus lábios em minha orelha - O mal voltou, Paris. Voz em minha cabeça. Mal voltou, ele voltou, Paris.

- Ele quem, Amy?

Olhos verde-azulados me encararam, a dor enevoando qualquer outro sentimento, até mesmo o medo. Aquilo foi um golpe para mim, sem saber o que fazer.

- Quem voltou, querida? - perguntei o mais doce possível evitando ao máximo movimentá-la demais apesar do terreno esburacado e cheio de armadilhas.

- Ele, o titã, voltou, Paris.

Então, para meu desespero completo, ela desmaiou em meus braços, e mesmo chamando o seu nome, nada conseguia sair de sua boca. O que aconteceu? Essa pergunta se refletiu por todos aqueles que me viam entrar louco de algo pior ter acontecido com Amy. 

- Will - escutei alguém chamá-lo. O nosso melhor médico.

Em segundos, ele estava ao meu lado, abrindo espaço entre a multidão e me guiando para a Casa Grande. A partir daí, tudo foi um borrão. A minha raiva continuou, ganhando mais força, da qual lutei contra. Amy estava em meus braços, não poderia machucá-la. 

Estava tão dopado de minhas ações que acidentalmente bati as pernas de Amy em Will.

- Paris, eu cuido dela agora - disse-me ele a acolhendo em seus braços de um modo paterno.

- Posso ficar...

- Sim, pode ficar aqui fora. Farei o possível, foi fundo. 

Me deixando ainda pior, mas já avisado, ele se foi com a minha melhor amiga.

O que aconteceu com ela? Quem voltou? Que titã? Estaria ela falando de Cronos? Não, impossível, meu pai mesmo havia matado ele. Consequentemente, a pergunta brotou, “Como ele matou o deus dos titãs sendo apenas um mero meio-sangue?”. Que dizer, tinha que ser ao menos um deus, certo? Ou, papai era algo ainda maior? Isso também explicaria o fato de mamãe sempre olhar atravessado para ele, ainda mais quando omitiam fatos. Será que foi somente uma briga que aconteceu ou algo a mais que não sabemos? 

Eu ainda não sabia, mas descobria exatamente como Percy matou Cronos.


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Notas finais do capítulo

E ai, como foi?
Enfim, obrigadaaaaaaa a todos por ler!
E, deixem rewis? Me fazem feliz :D
Beijinhos e até o próximo!