And Now...? escrita por Nivea_Leticia, Lorena Harris


Capítulo 13
E agora... Uma deusa vem me visitar?




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Notas da Autora: Preciso que recordem algo ^^

Capítulo 30 de And If...? – E se... eu sonho algo?

Ponto de Vista:: Nico

Senti um aperto no canto do meu corpo, algo estranho.

Tudo queimava.

A minha alma parecia sair, aos poucos, provocando dores.

Nada meu correspondia.

O que estava acontecendo?

Tentei abrir os olhos para ver onde estava, mas também havia algo ali, não permitindo.

Gritei de novo ao sentir um metal gelado descer pela minha perna, arrancando cada vez mais uma parte de mim.

Estava torturando-me por algo que eu não sabia.

O que estava acontecendo?

Então, com um só golpe, parei, sem ar.

Minha consciência sumiu

Meu corpo parou

O sangue pingou no chão

Minha cabeça virou para o lado.

O metal ainda dentro do meu peito, no coração.

E eu fechei os olhos, feliz por não sentir nada daquela dor.

Eu havia morrido.

Pronto, só isso que eu queria recordar. Boa leitura.

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Lucien Grace Castellan

E a ultima coisa que pensei que fosse acontecer era eu dar um soco em meu melhor amigo em menos de vinte quatro horas de viagem, a garota que eu gosto estar desacordada a quase dois dias, Amy ter sumido do mapa quase que por mágica e Kylle e Hyanna entrarem em uma DR só por causa de algo que ele não deveria ter feito. Suspirei, exausto. Um dia sem dormir finalmente pesava sobre meus ombros, mas a ultima coisa que eu desejava era descansar sem ter conseguido trazer Danika de volta. Mas, para minha completa raiva, meus olhos pesados fechavam-se automaticamente e nem mesmo a forte luz do sol da Califórnia me deixava mais sóbrio. Cruzei os braços, de repente quase desfalecendo no capo do carro em que eu me encostava. Um carro roubado, é claro, para melhorar ainda mais as coisas. E só o que faltava para tudo ficar ainda pior era a Policia chegar e querer colocar todos em cana. Pronto, seria o final perfeito depois de noites conturbada com sonhos sobre Arcanjos, péssimas rotas e Deuses calados quase que com medo de que descobríssemos algo. Um soco fraco me acordou do torpor que por instantes me fez dormir. Paris parou a meu lado, as mãos nos bolsos e um sorriso triste naquele rosto também cheio de marcas de noites mal dormidas e lutas contra monstros.

- Desculpe – sussurrou ele, apontando para meu olho que uma hora dessas deveria estar muito inchado. Aquele garoto só poderia ter a força de um demônio. – Por isso... Ai.

Com um pouco de dificuldade, sorri, sentindo meu lábio rachado esticar-se sob pretexto.

- Você me pedindo desculpas? Meus deuses, eu deveria ter gravado isso. Eu poderia escutar por toda a eternidade essas palavras.

Paris deu um sorriso mínimo.

- Você não está melhorando as coisas. Sinceramente... – olhou para o por do sol. – Esse foi o pedido de desculpas mais difícil que já tive de dizer. Estou um pouco chateado e conturbado com a situação, então...

Com uma piscadela no olho não machucado, apertei um de seus ombros e o balancei de leve, como velhos amigos. Se para mim perder Danika era difícil, imagine para ele, quem perdera a namorada e a irmã?

- Relaxa, cara, nem precisa pedir desculpas. Mas, da próxima vez, tente não dar um soco em meu olho, ok? As garotas do acampamento o matariam se me vissem deste modo. Como elas encarariam meus olhos azuis tão perfeitos?

- Narcisista e humilde ainda por cima!

Rimos um do outro, dando socos sem realmente machucar e eu pude sentir que tudo estava melhor entre nós dois. Como antes disso tudo ocorrer. Éramos apenas dois caras solteiros, curtindo a vida adoidado e matando monstros. Quase Dean e Sam Winchester. Só pelo pequeno fato que os monstros vinham atrás de nós, e não ao contrário. Mas, sempre como irmãos.

No poente, o sol se despedia, deixando para trás sua orla de cores magníficas, desde o vermelho até o anil, passando do salmão ao esverdeado, uma tonalidade seriamente estranha. Mas, talvez, fosse tudo por causa do local ou do meu cansaço. Já eram seis da tarde quando Kylle, exausto, segurou-se na porta do carro após ter ido em uma viagem pelas sombras acompanhado por Hyanna e trouxeram o que seria o nosso jantar.

- Isso é tudo o que temos – disse Hyanna, a sua primeira frase completa depois de mais de doze horas calada, sem pronunciar com ninguém, igualmente fazem os monges quando precisam relaxar a mente, algo realmente complicado ao se deparar com sentimentos bagunçados de mais outras três pessoas e uma desacordada. Isso mostrou-se ser pior para ela do que para qualquer outro, por tal fato, deixávamos ela quieta, quase a meditar.

Agarrei as três barrinhas de cereais que ela jogou para mim. Duas de morangos com chocolate e outra de biscoitos estranhos. Dei de ombros. Ao menos era algo que eu gostava. Enquanto me deliciava com um alimento realmente muito bom, ou talvez fosse minha fome, fiquei a olhar o chão, minha mente a mil, tentando decifrar aquilo que havíamos visto no hotel. Após tudo aquilo ocorrer, Paris havia acordado e dito que o próprio Poseidon, em um sonho seu, havia pedido que saíssemos dali imediatamente. E quando um deus fala assim, bem, a única maneira é seguir suas instruções. Por isso seguimos em direção oeste, sem parar, quer dizer, até aquele instante. Suspirei.

E o mais estranho era que, todas as vezes que eu recordava do instante em que o vidro se espatifou, a fim de descodificar aquilo que Danika havia descoberto, minha mente voltava-se propositalmente para a estranha sombra negra com suas enormes asas como um péssimo pesadelo. Dessa vez não foi diferente. Lembrava-me claramente, se passasse toda aquela cena novamente a minha frente, eu chegaria a não saber se era real ou se meus pensamentos pregando-me peças. Suspirei e passei a mão em meus cabelos, adorando a suave brisa gelada que alastrava-se curiosamente pela cidade agora mais frias depois da queda do sol. Pelo menos, algo me acordava.

Depois de jogar todo o lixo dentro de um saquinho e entrar no carro, decidimos que uma boa noite de sono em um hotelzinho de estrada seria muito bem vindo e roupas novas também. Engraçado foi acara que a atendente fez ao me ver. Era quase como se eu fosse um ET. Ok, minha aparência não era das melhoras e fiquei realmente satisfeito quando, já dentro do quarto, pude retirar minha blusa toda furada da explosão do vidro e tomar um banho bem quente. Devia ter demorado mais do que imaginei, porque, ao voltar para o quarto onde eu, Danika e Paris dormiríamos, o últimos já achava-se dormindo, com a toalha em volta do pescoço, provavelmente a esperar que eu saísse do banho para ir lavar-se. Mas, depois de alguns tapas, ele só resmungou e não acordou, deixei-o dormindo, logicamente que isso foi após gravá-lo dizendo “Amy, amorzinho, só mais cinco minutinhos”. Acomodei-me ao lado de uma inerte Danika, puxando-a para meus braços e suspirei, meus dedos passeando de leve pelos seus longos cabelos cor de ônix.

- Precisamos tanto de sua ajuda, Danny. Só a sua mente esperta conseguiu decodificar o que era. Danny, volte para nós.

E dentre o suave som da constante respiração dela, adormeci, finalmente podendo relaxar.

Ou era assim que eu pensava. Não demorou muito para alguém invadir meus sonhos. Eu estava lá, parado no meio de uma grande caverna mal, mal iluminada pelas labaredas de uma pequena fogueira. O chão, para minha surpresa, era cheio de gramíneas e cá e lá haviam algumas flores brancas e uma vermelha. E pareciam claustrofóbico, sem saída. O calor atingiu-me e, aos poucos, meu medo foi se dissipando. Uma mulher, não muito alta, de longos e ondulados cabelos ruivos, trajando uma grande toga grega cor de sangue presa por um curioso broche em forma de fogo, aproximou-se de onde eu me encontrava e fez um antiga saudação grega, praticamente esquecida, até mesmo por nós, semi-deuses. Ela sorriu.

- Saudações, herói. Creio que deva estar se perguntando o que faz aqui, estou certa?

Um pouco mais relaxado, mas não menos desconfiado, assenti a pergunta.

- Quem é você... – recordando que talvez fosse uma deusa, acrescentei: - ...senhora?

Delicadamente, de uma forma extremamente feminina, ela franziu o cenho, a cabeça inclinando-se de leve e sorriu, os olhos vermelhos, que só agora pude enxergá-los, pareciam pacíficos e acolhedores, como o lar.

- Eu? Bem, eu sou Hestia, e devo inferir que você sabe quem sou, ou precisarei explicar, não que eu me importe, temos tempo de sobra para isso. – e sorriu amavelmente. Minhas bochechas arderam, a vergonha por ter perguntado tal coisa me deixando sem graça. – Creio que já recordou, então, minhas explicações poderão ser dispensadas.

Assenti.

- Mas, senhora Hestia, er, bem, o que faço... – fiz alusão ao espaço ao meu redor. – Aqui?

Com um estalar de dedos, duas confortáveis poltronas (que mais pareciam tronos) apareceram, uma de frente a outra, bem ao lado do fogo.  Ela sentou-se e apontou para o assento a sua frente, com um acolhedor sorriso.

- Sente-se que eu lhe explicarei.

Com ela a me fitar, não de uma forma intimidadora, e sim quase amável, aconcheguei-me da deliciosa almofada e ela começou:

- Vamos começar pelas perguntas que quase posso ver flutuarem a minha frente, todas saindo de sua mente. Primeiro, eu o trouxe aqui para que pudesse lhe explicar que existe muito mais do que apenas deuses gregos, heróis e animais mitológicos. – sem saber como agir perante tal olha, limitei-me a assentir. – Sua mente, diferente das demais, parece ser bem mais aberta e confesso que acho até ironia a neta de Atena não saber sobre as demais religiões. E por isso, só você poderia ser o escolhido. Você foi criado entre os humanos, muito mais do que os outros, chegou até cursar faculdade, e logo, teve mais chance de adaptar-se a outras idéias de mundo de seus amigos. Mas, não é sobre isso que devemos falar, e sim sobre aquilo que você viu.

Um pouco confuso, ergui uma de minhas sobrancelhas e sei que minha cara de cético estava estampada.

- Você quer dizer sobre os Cincos Arcanjos e os Cinco Deuses Poderosos?

Ela assentiu,

- Sim, meu querido, exatamente sobre isso.

- Mas, o que um tem a ver com outro? Quer dizer, somos Gregos e isso é...

- Cristão – sorriu – Eu sei. E estão mais entrelaçados do que imagina. Sabe que, com a ascensão do Império Romano, os Deuses ganharam outras formas e com sua queda, fomos praticamente extintos, por assim dizer. E, dessa vez, apareceu outra historia. Outra fé.

Enruguei o nariz.

- Serio que estamos falando sobre Jesus, Deus e os Arcanjos? Quer dizer, com todo respeito, mas, isso é tão... Contraditório.

Para minha completa surpresa, ela soltou uma risada melodiosa e quase infantil antes de apertar minhas mãos de leve. Seus dedos eram quentes como deliciosos cobertores no inverno.

- Mais ou menos. A questão é, não estamos sozinhos neste mundo.

- Tipo, ET?

Outra vez, ela riu.

- Não, tipo “existem outros deuses alem de nós”.

- Uow, espera ai, a senhora está me dizendo que...

Antes que eu terminasse, ela já assentia.

- Deus é um termo muito maleável. Para alguns, uma celebridade é quase uma divindade de tão adorada que é, muitas vezes, sem quase fazer nada. E é assim que nascemos.

- Mas, quer dizer que a historia que vocês nos contaram sobre lobinho Urano e vovozinha Gaia eram mentira?

- Não – ela tratou logo de dizer. – Não, jamais. Todos existem, o que chega a ter ser algo ruim, mas assim como dominamos o mundo, outras divindades fazem o mesmo.

- Então, você esta me dizendo que todos trabalham juntos como duendes na Grande Fábrica do Papai Noel?

- Uma estranha comparação, mas, sim, trabalhamos juntos. – moveu a cabeça, sorrindo como se houvessem contado-lhe uma piada. – Como deuses, compreendemos que devemos cooperar e cuidar dos humanos, cada um ao seu modo.

Sorri de um modo pertinente.

- E até mesmo o vovo Zeus, o bambambã dos Deuses, aceita isso?

- Cuidado como fala, contudo, sim, ele esta de acordo com isso. E por tal fato que existe o Acampamento Meio-Sangue. Mas algo esta seriamente fora do normal.

- E o que seria isso alem de vários deuses andando por ai?

Ela pareceu não gostar da minha frase.

- Ao ser criado, assim como Chronos fez, Deus criou os Cinco Arcanjos.

- Sei, sei, todos aqueles que estavam no Hotel e em que cada um era um de vocês. E o que isso tem a ver? Alem de que Hades e Lúcifer dividem o mesmo quarto no porão, é claro.

A sombra de um sorriso serpenteou pelos delicados lábios da deusa, mas antes que aparecesse, ela o segurou e moveu negativamente a cabeça, como se risse internamente.

- E ai está o problema. Os Cincos estão agindo da forma que bem desejavam.

- Como humanos adolescentes e revoltados, quase roqueiros.

Agora, ela sorriu.

- Exato, mas parece que algo está mudando. Os acordos que criamos, se quebram e o perigo mais iminente são exatamente eles.

- Então... – deduzi – Estamos em uma missão de procura. É algum semideus?

Ela assentiu, um pouco preocupada.

- Mas ele não é um simples semideus. Ele foi a violação principal dos votos que fizemos. E completamente contrario a Paris e Danika.

Franzi o cenho.

- O que tem Paris e Danika?

Ela de repente parou, como se houvesse falado demais, e suspirou.

- Deve perguntar isso ao filho de Poseidon, só ele poderá responder. Não está em minhas posses desvendar segredos de outros heróis, me desculpe. – e moveu a mão de leve. – Mas, isso não é o mais importante. Os Arcanjos querem algo que vai quebrar por completo este frágil equilíbrio. Deuses não se importam em dividir o trabalho, mas se isso se partir, será um grande problema. E até mesmo Gaia, Urano e a própria Nyx podem voltar a reerguer-se e ai, seria o fim. Até mesmo os Egípcios concordam que seriam um grande dano.

- Devagar, devagar. São muitas coisas para se assimilar. Temos de achar um semideus e um... – franzi o nariz – Artefato muito poderoso que pode excluir todo mundo da Terra? – ela assentiu. – Mas, afinal, o que esse garoto tem de tão especial?

Ela sorriu e piscou.

- Ele é filho de Miguel, o Arcanjo.

Por um instante ou dois, fiquei calado, tentando absorver e desmembrar parte por parte do que ela havia me dito até ali. Deuses existem? Certo. Arcanjos existem? Ok. Artefato poderoso? Já tá na lista. Filho de Miguel com uma deusa Grega? Isso é impossível. Ao ver que eu não me movia, ela apertou meus dedos de leve e eu, muito deliberadamente, voltei, com tudo muito mais claro.

- Então, este garoto que nasceu é o fato da quebra do acordo, correto?

- Mais do que isso, a deusa quem fez isso, destruiu um voto de Estige.

E eu sabia que a quebra de um voto desses era quase um pecado para os Gregos. Não que eles tivessem seguido muito da ultima vez, quando disseram que não teriam mais filhos e minha mãe, Thalia e o tio Percy apareceram. Mas, eu sabia que era diferente. Que dessa vez, era uma das eternas damas.

- Hum, deixe-me adivinhar. Tia Art saiu da linha?

- Jamais, suas caçadoras ficariam loucas se isso ocorresse e sua honra perante elas é muito importante para a deusa.

Suspirei.

- Tenho dó de Apolo, tadinho do meu tio. Um dia ele consegue. Mas, se não for ela... – olhei-a surpresa. – Tia Atena, tá de brincadeira né?

Com uma risadinha, ela negou e mostrou-me um pequeno texto em grego. Lia-se “A Fruta e a Estrela irão os guiar. Por novos mundos irão passar. Luz e escuridão se encontrarão. E somente aquele híbrido a todos salvará.” Fitei-a.

- Serio, havia uma profecia para isso?

- Sempre há uma profecia. Agora... – ela colou um beijo em minha testa. – Boa sorte, herói, que a sabedoria esteja contigo.

- Mas, para onde devo ir?

Ela sorriu.

- Cada religião tem o seu próprio local. Adeus.

Acordei suado, tremendo e com a forte luz do sol diretamente em minha cara. Ao meu lado, Danika continuava a dormir como se nada houvesse ocorrido e pude respirar mais calmamente ao deitar de volta nos travesseiros, uma mão tampando meus olhos.

- Acordou de mau humor? – a voz de Paris era divertida. Quase pode ver a piada chegando. Eram sempre assim, os dois.

- Chame os outros – fitei-o, serio – Eu tive um sonho.

Paris Chase Jackson.


- E então, acordei. – terminou Lucien, deixando um silencio absurdo tomar conta do local. Respirei fundo ao escutar o que ele havia dito e associar a tremenda enrascada em que nos metíamos. E algo dentro do meu coração disse que aquele sonho que tive havia algo a ver, mas preferi manter em segredo. Parecia-me mais a lembrança de uma lembrança, ou a recordação de um sonho de alguém. Eu havia acordado do mesmo modo que Lucien, só que minutos mais cedo. E ainda podia sentir onde a faca havia adentrado em minha pele, se é que aquele era eu mesmo. Toquei meu peito, acima do coração. Era como se eu tivesse sendo torturado, horas a fio, por alguém conhecido. O acido jogado em minhas costas, os machucados e aquela risada. Havia algo de muito sinistro nisso tudo.

Foi quando Hyanna tocou meu braço e em seus olhos azulados quase pude ver os meus pesadelos, como se ela me lesse. O que garanto não ser nada bom.

- Você tem que ligar para seu pai, Paris, e descobrir o que Hestia quis dizer.

Neguei, antes de balançar as chaves do carro em minhas mãos.

- Perto como estamos... – dei um sorriso frio. – Nada melhor que uma visitinha, certo?

Lucien Grace Castellan.

Todos nós aceitamos o plano de Paris, afinal, aquilo que ele deveria discutir com o tio Percy, parecia ser muito importante para tal missão e com uma chance dessas, jamais poderíamos abrir mão de saber da fonte. E os deuses pareciam muito afim de ajudar-nos. Encontramos nada menos que a nossa antiga van no estacionamento, com a porta destrancada e as chaves no  banco do motorista. Assim, eu ao fundo com Danika em meu colo, Kylle (que tornou-se ainda mais sombrio depois de tal conversa) e Hyanna mais a frente, e com Paris dirigindo, visivelmente decepcionado por não termos uma noticia sobre Amy. Embora quiséssemos procurá-la, sabíamos que se deixássemos de lado tal missão, poderia ser o fim.

- Tudo o que fizemos até agora foi a toa? – questionou Kylle, um pouco frio.

Neguei.

- Não, parece que o desaparecimento de Amy, o coma de Danika e esses Arcanjos, alem do tal semideus, são intrinsecamente ligados. Acho que um fato desencadeia o outro. Amy deve ter descoberto algo, assim como Danika e ambas foram levadas. Mas, antes de começar essa loucura toda, acho que Paris deve conversar com seu pai.

E após isso, a viagem de fato tornou-se extremamente silenciosa.

Chegamos por volta das três da tarde na casa de campo da mãe de Kylle onde descobrimos que todos os nossos pais estavam, aparentemente de férias. Era uma casa simples, com varanda com algumas redes, um imenso jardim, um grande cão infernal como animal de estimação e um lindo lago, com tudo envolta fechada por uma grande floresta. Se não tivéssemos Kylle, duvido que teríamos achado aquele local. Propositalmente fora de área. Kylle foi o primeiro a descer e ser amassado em um abraço de urso de sua mãe, Nicole, como sempre, muito bonita. E não demorou muito para eu estar levando um grande tapa na cabeça e um abraço de minha mãe. Meu pai se sustentou com um tapinha em meu ombro. E eu virei-me para ver meus tios, Percy e Annabeth, conversando baixinho com um Paris fitando o chão, aparentemente a contar algo. Minha mãe se virou para mim, seus olhos azuis relâmpago curiosos e mandões como sempre.

- O que aconteceu, pirralho? – sempre amável senhora Thalia! Suspirei.

- Você não tem noção, mãe.

Com aquelas palavras, ela olhou para meu pai, como se trocassem informação e todos trataram de empurrar seus filhotes para dentro de casa. Era um local confortável, bem ventilado e com o mais delicioso aroma de frutas e flores. Grandes poltronas se espalhavam pela sala, de fronte a uma lareira onde, após deixar Danika em um dos quartos lá em cima, me espatifei, apreciando como todos os outros aquele momento família. E isso foi uma ironia. Annabeth praticamente me queimava com olhos, Percy parecia conversar algo importante com Nico e Thalia, Luke e Nicole pareciam em alguma discussão. Simplesmente mágico voltar para casa! Tããão confortável. Suspirei e fitei Paris. Ele fez uma careta, dizendo em nosso código que havia levado um “sapo” bem legal, e então ergueu-se.

- Que tal começarem a contar a historia? – incentivou ele, com os braços cruzados, encarando tio Percy como quem dissesse “eu sei de tudo, pode ir soltando.” E tudo ficaria mais louco ainda.

Annabeth Chase Jackson.

Percy me olhou. Sabíamos que aquele dia chegaria, que deveríamos jogar as cartas na mesa ou os próprios deuses fariam isso por nós. Mas jamais havíamos pensado que chegaria tão cedo assim. Seus olhos verdes, agora tão amáveis, se desculparam antes de virar-se para nosso filho. Os inconfundíveis olhos de Poseidon de Paris pareciam turvos como um mar revolto, igual os de seu pai, quando ficavam nervosos. Mas o cabelo, trazia certa lembrança de mim. Era a perfeita divisão entre nós.

- Sente-se – ordenou Percy, apontando para uma cadeira. Um pouco relutante, principalmente porque ele ainda o tratava como criança, Paris demorou-se, mas acabou contra as almofadas do sofá. Percy sentou-se a sua frente. – E nem invente de me olhar dessa forma, sua mãe usa a mesma estratégia e não funciona mais. Então, se quiser que eu o trate como adulto, preste atenção e não invente de dar uma de filho rebelde. – suspirou. – Primeiramente, não lhe contamos isso porque eu e sua mãe havíamos feito um trato de não comentar sobre o passado. É um historia longa e espero que esteja pronto para escutar.

E foi como ser engolfada em péssimas lembranças, com a mais marcante delas em que Percy estava morto em meus braços. Meus olhos encheram-se de água ao recordar tal fato e por isso afastei-me, mas mantendo-me a ouvir o que meu marido dizia, para olhar pela janela que dava ao fundo da casa. O mundo parecia estranho, quase calado demais e os fatos sobre a queda de Chronos nos arrepiava. Era possível sentir o medo em nós. E fora assim que passaram-se horas e horas. Paris engolia aquilo devagar, e ao ouvir sobre a Caixa de Pandora e o que havia ocorrido a Percy, sua expressão tornou-se solene, o que me disse que ele havia compreendido muitas coisas que omitiam. E ao final, depois de falar sobre ter voltado, Percy suspirou e passou a mão nos cabelos lisos, o velho costume seu.

- E foi isso que aconteceu – disse ele quando aproximei-me e pus minhas mãos em seus ombros. Paris me fitou, serio.

- Então quer dizer que eu e Danika temos sangue de demônio em nossas veias? – assenti para sua pergunta. Ele respirou fundo. – E acharam que esconder isso de nós melhoraria tudo? – ele levantou-se, visivelmente tremendo de raiva. Rápido como uma bala, Percy o confrontou, mas de uma forma seria que raras vezes Poseidon precisava usar que, contudo, colocava tudo em ordem, até em Zeus.

- Eu lhe disse para não agir como um adolescente revoltado, Paris.

Ele riu, uma risada irônica e fria como seus olhos que, para minha surpresa, estavam nivelados com o de Percy. Eram dois mares em guerra.

- Como você pede para que eu não fique revoltado? Eu tenho sangue de demônio e você vem me dizer como se estivéssemos escolhendo qual prancha deveríamos comprar. – e me olhou – Eu jamais esperaria algo assim de você, mãe.

Mais rápido que da ultima vez, Percy segurou a gola da blusa de couro de Paris e trouxe para perto. Seu rosto bronzeado contrastava com os olhos verdes nervosos que agora, o fitavam de uma maneira muito fria e terrivelmente cruel, o que chegou a dar medo em todos ali, menos em Thalia e Nico. Ele sorriu de lado.

- Ou aceitávamos o que os Demônios queriam, ou você e Danika morriam. O que você escolheria, filho rebelde? – todos escutaram Paris engolir a seco e os olhos dele, agora amedrontados, me fitaram. – Peça desculpas a sua mãe. Agora.

Era claro o pavor dele, uma vez que Percy nunca havia agido daquela maneira com ele e o poder de persuasão dos Três Grandes sem duvida era um dom que poucos conheciam. Ante aquilo, segurei de leve o braço tenso de Percy e o encarei com carinho, apenas deixando-o ver que o recado havia sido dado ao seu filho.

- Chega, Cabeça-de-Algas – sussurrei para ele, sorrindo de leve. – Tenho certeza de que ele aprendeu sua lição.

- Annie – sua voz era firme, mas suave comigo.

Assenti para seu olhar de “Tem certeza? Ainda acho que eu deveria colocá-lo de castigo e deixá-lo sem balinha”. Quase ri de sua idéia.

- Está bom, querido. – olhei para Paris. – Ele não vai mais fazer isso.

Ainda segurando sua fúria e desgosto, Percy soltou lentamente nosso filho, que sem o apoio caiu no sofá, e encaminhou-se para a janela, a mesma em que eu me encontrava. Com um suspiro, olhei para Paris, um pouco séria.

- Escute o que seu pai diz, filho. – sorri de leve. – Ele pode ser bem ruim quando quer.

- Eu ouvi isso, amor.

- Era para ouvir mesmo, querido.

A sala inteira riu, como se o clima pesado tivesse se dissipado com aquelas palavras, e era exatamente aquele sinal para que Nicole e Thalia me entendessem. Em alguns minutos, só os que restavam na sala e não se juntaram a aventura de fazer cupcakes, éramos eu e Percy. Suavemente toquei seu rosto, seu maxilar estava trincado, como se só com a força bruta pudesse estancar essa raiva e seus olhos, em geral tão serenos, agitavam-se, daquele modo em que só o poder de Atena podia com ele.

- Por que ele tem que ser tão teimoso, Annie?

Sorri, adorando que ele houvesse feito essa pergunta. Fitando-o amorosamente, o vi sorrir um pouco para mim como que pudesse prever o que eu dizia.

- Porque se não, ele não seria seu filho. – toquei de leve seus lábios com os meus, adorando sentir aquele delicioso formigar de toda vez que o tocava. Anos se passavam e nada aplacava essa sensação. Ele sorriu, os olhos mais carinhosos antes de escorregar as costas de uma de suas mãos em meu rosto. – Teimoso como o pai. Dê tempo a ele, acabou de saber algo que sem duvida não é muito bom.

Ele suspirou, e o sorriso aumentou, mostrando suas duas pequenas covinhas. Nossos lábios se colaram mais vez.

- O que seria de mim sem você, Annie?

Pisquei para ele.

- Nada.

Percy riu e juntos, de mãos dadas, caminhávamos para a cozinha de onde podíamos ouvir o som de panelas caindo e gargalhadas dos garotos. Ainda riamos, quase chegando, quando a campainha tocou. Soltei-me dele e sorri.

- Eu vou lá atender.

Ele assentiu e o vi adentrar na cozinha. Logo as risadas ficaram mais altas. Negando com a cabeça e rindo, encaminhei-me a porta e o que vi, ao abrir, me deixou ali, parada e pasma demais para que eu me movesse. Um garoto, não muito mais velho que eu, de elétricos olhos azuis e com curtos cabelos loiros postava-se, indiferente a minha frente. Uma bolsa de couro pendia em um de seus ombros e o sorriso, aquele que eu sempre via, agora estampava seu rosto.

- Olá, Annabeth, parece que viu um fantasma! – disse ele e foi como se tudo tivesse voltado, como se historia tivesse recomeçado. Provavelmente curiosa por causa da minha demora, escutei alguém aproximar-se e ao olhar para trás, vi Thalia, com prendendo os cabelos repicados em um coque mal feito.

- Annie, quem é que... – e ela me fitou. Sua expressão ficou preocupada. – Que foi, Annie? Você está branca. Algo..

E sua voz morreu ao encarar o visitante. Seu rosto ficou da cor de osso, sua mão voou para sua boca e eu pude ver o quão pasma ela estava pelos olhos. Ao vê-la, o garoto sorriu ainda mais.

- Você... Você... – ela gaguejou, sem acreditar naquilo. – Você deveria...

O garoto fez um barulho de negação com a língua e balançou a cabeça, seu sorriso de lado ainda presente.

- Estar morto? – ele fez cara de ofendido antes de voltar a repuxar os lábios de um modo sacana. – É assim que você recebe seu irmão, Thalia? Tsc, tsc... Devia ter ensinado-a a ser mais receptiva. – ele me olhou. – Você costumava ser mais receptiva, Beth. Ou a minha morte a tornou assim?

A menção daquele meu apelido me fez voltar ao normal e, aos poucos, tudo foi se associando.

- O que você faz aqui, Alexandre Grace?

Ele sorriu, adentrando a casa e parou ao meu lado, seu olhar de canto e seu sorriso sacana pareciam a versão loira de Damon*.

- Vim ajudar, é claro. – olhou para Thalia. – E ver minha querida e linda irmã.

E eu soube que a partir dali, tudo ficaria ainda pior. Se é que fantasmas pudessem mesmo existir.

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Notas da Autora:

*O Damon de quem falo é o de Vampire Diaries, o Ian Somerhalder. Cara, aquele homem é muito gato, mas, enfim. *------------* Sonho de consumo.

Alguém se lembra daquele sonho que Percy e Nico tiveram em And If? Pensaram que eu tinha o esquecido? *risada maléfica* Pois é... Se parece com o sonho de Paris, né? *assobiando*

Alexandre, quem se lembra dele de And If? Na verdade, Thalia havia morrido e fora ELE quem salvara Annabeth. Quer dizer, até ele morrer. =) Adoro ressuscitar pessoas. Mas, quem será que fez isso com ele? Tá ficando complicadinha a historia. Amo muito tudo isso (Comercial do McDonald’s passando agora ASHUASHAUHS) E mais, de quem será a mãe do semideus precioso, filho de Miguel? E Percy e Anne continuam perfeitos ^^ Percy quase um Poseidon Junior, muito bom. Enfim, o que acharam?

Ps: Obrigada a todos (do fundo do meu coração) pela paciência que tem comigo, por ler esses capítulos monstruosos e, acima de tudo, MUITO OBRIGADA PELOS REWIS *----------* Chegamos aos duzentos com vocês e mais quatro recomendações. Eu poderia estar mais feliz? Impossível. Valeu mesmo, galera, por tudo. O que seria de mim sem vocês? ^^


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