Frostnatter escrita por Blue Dammerung


Capítulo 9
Capítulo 9: Jag Vill Att Du


Notas iniciais do capítulo

"Nada ajuda um mau humor como espalhá-lo." - Gilbert depois de pregar uma peça em um professor já de péssimo humor, o que resultou num ataque de raiva tão grande que o homem se demitiu por causa do albino.



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Era agora madrugada. As horas pareciam passar num ritmo diferente, quem sabe mais rápidas apenas para apressar o momento no qual eu teria que levar aquela criança dali, afastar um dos poucos seres cujo realmente senti alguma espécie de afeição.

Ela não poderia ficar, disso eu sabia, mas não queria que se fosse. Sentado ao seu lado, vendo seu corpo se recuperar cada vez mais da quase morte pelo frio, previ que quando acordasse iria olhar em volta, estranhar o lugar, assustar-se comigo como todos os outros faziam.

E isso eu não queria ver.

Medo do que ela acharia de mim, uma simples criança, eu estava com medo do que uma simples criança poderia achar de alguém como eu. Mas do lado dela não saí sequer uma vez. Logo amanheceria, e com o sol, viria novamente a solidão.

Engraçado como a luz nem sempre ilumina. Ou talvez não engraçado, apenas doloroso demais.

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Eram mais de oito horas da noite e lá estava eu, no banheiro, tentando de todas as formas possíveis acertar o jeito que deveria se colocar aquela gravata, mas já tinha perdido a conta de quantas vezes falhara até ali e agora tentava soltar o meu dedo que ficara preso em um dos nós que eu tentei fazer.

Íamos eu e Berwald sair para jantar. Por alguma razão eu achava que talvez fosse num restaurante muito chique ou então seria uma festa de gala que teria jantar, não sei o porquê, talvez pelo fato de eu tê-lo visto andando pela casa no seu terno novo ao mesmo tempo que me pedia para ir tomar um banho e vestir o meu.

Lógico que eu obedeci, e tendo cuidado com as feridas, que graças aos céus estavam cicatrizando bem, tomei um banho rápido e agora terminava de me vestir, senão fosse por aquela bendita gravata que não viera sequer com um manual de instruções.

Ouvi algumas batidas na porta do banheiro e disse um alto “pode entrar” ao mesmo tempo em que me virava para ver meu professor se aproximar e me fitar de cima, graças à sua altura avantajada.

-Está pronto? -Ele perguntou. Mesmo não estando muito perto, aquele perto-bem-perto, mas perto o bastante, eu conseguia sentir o cheiro de um provável perfume dele. Sei que era perfume porque era bem mais artificial e doce do que aquela fragrância que tinha em suas roupas, que era realmente o cheiro dele.

-Não consigo colocar a gravata direito! -Eu resmunguei, corando um pouco sem querer. Era um tanto burro por não conseguir fazer aquilo só. -Tentei milhares de vezes, mas não consegui.

Ele se aproximou e levou ambas as mãos até meu colarinho, pegando a gravata e de alguma forma a amarrando direito, assim como a sua, impecável. Terminou, mas demorou alguns segundos para se afastar, e quando o fez, já estava saindo pela porta do banheiro enquanto eu o seguia e desligava a luz.

Ele pegou sua carteira e celular e saiu porta afora de casa, deixando que eu passasse para que a fechasse novamente, ambos agora na garagem. O céu, embora escuro, dava sinais de que iria novamente chover.

Entramos no carro, e tão logo que estávamos na rua, falei:

-Aonde vamos?

-Pasta & Wine.

-Onde é isso? É um restaurante mesmo? O nome é engraçado. - Ri. -Lá é muito chique? Nunca fui num restaurante chique na vida. Meus pais não tinham dinheiro para gastar, até porque eu e meu irmão sempre comíamos demais.

Eu ri por mais alguns instantes, só que um silêncio pesado se instalou e eu me calei. Sempre seria assim. Todas as vezes que eu me lembrasse do meu irmão, todas elas, mesmo que a lembrança fosse infinitamente engraçada e alegre, depois de alguns segundos nada restaria do meu sorriso e pronto. Apenas um silêncio de necrotério.

Achei que tivesse que aguentar aquele silêncio até lá, mas Berwald comentou:

-Gostava do seu irmão?

-Sim, muito. Nem éramos irmãos de sangue mesmo, mas eu o adorava demais, o amava. -Disse, lembrando dele. Berwald abaixou um pouco o olhar, mas sem tirá-lo da rua. -Estávamos sempre juntos e fazíamos tudo de errado, e quando nos pegavam, dividíamos a culpa. Nossos pais nunca fizeram diferença entre nós, mesmo eu sendo adotado bem mais velho do que o de costume. O senhor tem um irmão?

Ele ficou em silêncio por alguns segundos e eu temi ter tocado numa ferida aberta, mas respondeu, embora lacônico:

-Um grande tolo, mas tenho.

-E como ele é? Onde ele vive? O senhor fala muito com ele? Deve ser legal ter alguém da família assim, que te apoie e coisas assim...

-Ele me decepcionou muito tempo atrás. Desde então, nunca mais o vi. Mora com meus pais e insiste em vir me visitar, mas não o quero perto de mim. -Disse apenas, de uma forma rude o bastante para que encerrasse o assunto.

Não perguntei mais pelo irmão do meu professor, e embora a curiosidade borbulhasse em minha cabeça para saber o que ele tinha feito, lógico que eu não insistiria em nada. Afinal, não era da minha conta. Entretanto, algo me dizia que ele era aquele tal de Thomas, aquele cujo meu professor conversara na noite que me tirara do porta-malas do seu carro.

Parecia que tinha sido há tanto tempo atrás.

Não demoramos para chegar ao restaurante, e tão logo paramos em frente, um manobrista vestindo um uniforme padronizado veio nos receber e perguntou se poderia estacionar o carro. Meu professor aceitou e saímos do automóvel, entrando no restaurante e pedindo uma mesa sem reserva que, por algum milagre do destino, estava vaga. Ou fora um milagre ou a nota de cinquenta euros que meu professor puxou do bolso.

Logo nos sentávamos numa das partes mais reservadas do restaurante. Pessoas de todos os tipos estavam ali e uma música calma tocava enquanto garçons andavam para lá e para cá o tempo inteiro.

Então um deles se aproximou de nós com um cardápio em mãos e o entregou ao meu professor, que o abriu e pediu alguma coisa que era em outra língua, provavelmente francês. Ergueu o rosto para mim.

-O que quer?-Perguntou enquanto o garçom anotava o pedido dele.

-Ahm... Eu não faço questão, qualquer coisa para mim está bom.-Respondi, meio constrangido.

-Posso recomendar o prato do dia, senhor?-Perguntou então o garçom. Eu assenti, certo de que qualquer coisa que fosse feita ali teria um sabor bom. Então ele anotou em sua caderneta e saiu em direção a cozinha do lugar, um pouco mais distante.

Meu professor me fitava diretamente. Preferi apenas abaixar o olhar para os diversos tipos de talheres que havia sobre a mesa, de tamanhos e provavelmente usos diferentes. Então Berwald disse:

-Te ensino.

-O quê?-Perguntei, se entender, agora o fitando também.

-Usar os talheres certos.

-Ah, obrigado. Os que eu conheço são só os normais, não sei porque tem um diferente para sopa, outro para comer sorvete, outro para comer macarrão...-Eu ri, tentando colocar um pouco de humor na conversa, mas ele não riu, como eu já esperava.

-Ficou bem. O terno.

-Em mim? O senhor acha? Nunca tinha vestido um terno antes, fiquei até com medo de que houvesse vestido errado, mas se o senhor não falou nada, acho que está bom.

-Ficou muito bem.-Disse, inesperadamente engolindo em seco. Então virou-se e levantou uma das mãos, chamando o garçom, que se aproximou.-Vinho.

-E o que o acompanhante vai querer?-Perguntou o funcionário, apontando para mim.

-Ahm... Acho que vou querer um refrigerante, qualquer um serve.

O garçom assentiu e saiu, deixando-nos a sós novamente. Berwald voltou a me fitar, só que além da seriedade comum no olhar, havia algo mais que eu não conseguia identificar. Não era raiva nem medo nem alegria nem preocupação... Era algo mais... Estranho. Não sei o porquê, me lembrou o olhar do Francis no dia que ele quase me... Tocara.

-Professor, o senhor está bem?-Eu perguntei.

Ele assentiu e seu olhar mudou para o sério comum, levando as mãos até a cabeça e desviando o olhar de mim, meio perturbado eu acho.

-Ahm... Já que todo mundo está conversando, o senhor não quer conversar, professor? Ah, sim, e as provas? O senhor já as fez? Estou com medo porque não sei quase nada da matéria do senhor, desculpe, mas não sei mesmo. Ano passado fiquei de recuperação e quase que repito.

O garçom voltou e deixou uma garrafa de vinho e uma taça de cristal sobre a mesa, servindo meu professor e depois pondo uma coca-cola para mim num copo, deixando a lata na mesa à minha frente, saindo em seguida.

-Estão feitas.-Ele disse, sem propriamente me fitar, tomando um gole do vinho.

-Ah, mas não seria desonesto se o senhor me desse alguma ajuda, não é? Quero dizer, só para me ajudar nessa matéria. Ou seria errado? Ainda bem que estamos na segunda metade do ano. Mal posso esperar pelas férias...-Comentei, esperando que ele dissesse algo, mas continuou mudo.

Tomei uns goles da coca-cola. Será que eu tinha feito algo errado? Não lembrava de ter feito nada de mais ali. Ficamos em silêncio por vários minutos enquanto meu professor tomava mais e mais goles da garrafa de vinho como se fosse apenas água.

Foi então que de repente um homem que não era um garçom se aproximou de nós e parou ao lado da mesa, sorrindo simpaticamente e dizendo:

-Berwald? É você?!

Meu professor ergueu o olhar e o fitou, desinteressando, enquanto o outro lhe estendia uma das mãos para que a apertasse e, sem se levantar da cadeira, a apertou com tanta empáfia que de longe qualquer um podia ver que estava sendo rude.

Mas o outro não notou, e se notou, não pareceu se importar.

-Puxa, não esperava te encontrar aqui!-Disse o homem.-Nós sentimos falta de você! Sumiu, assim, tão de repente! Helena até chorou quando foi embora, coitada.

-Hmpf.-Meu professor murmurou, tomando goles do vinho.

-Até o hospital se lamentou em perder o melhor e mais jovem médico da área, mas eles se recusaram a nos dar seu novo endereço. Ah, e quem é esse rapaz? É seu filho? Ah, cara, não me diga que você já tem uma família! Não esperou, heim, garanhão?!-O homem riu alto da própria piada.

-É minha esposa.-Meu professor disse, olhando para a mesa como se dissesse a frase mais simples e sem importância do mundo enquanto eu, na mesma hora, procurava um lugar para me esconder. Sem sucesso.

-O-o quê?-O homem perguntou, o sorriso deixando seus lábios rapidamente.

-Você ouviu. Sei que não é surdo. Se não se importa, quero jantar.-Berwald disse, agora o fitando bem nos olhos e então olhando para mim, que já estava emudecido.

-Ah... Entendi. Bem, foi bom te ver. Só não esperava isso de você. Que horror...-Murmurou, saindo e nos deixando a sós. Meu professor terminou com a garrafa de vinho enchendo um último copo e então me fitou. Eu estava, na melhor das palavras, embasbacado.

-O quê?-Ele perguntou.

-O senhor... Disse que sou sua esposa para aquele homem. Não seria mais fácil dizer que sou seu filho ou sobrinho ou irmão, qualquer coisa, mas por que esposa? Agora ele vai achar que somos... Ahm... Gays.

-Ele é homofóbico e me inveja desde sempre. Só ia parar de me irritar se achasse que eu fosse gay.

-Então por que o senhor simplesmente não pede para que ele o deixe em paz? Não parece muito difícil para o senhor.

-Ficou com raiva?

-Não, é que... Ahm... É estranho. Primeiro o senhor me acolhe, me salva, me dá coisas e então, hoje, me dá aquele... Abraço que... Você me entendeu, e então me leva para jantar, paga todas as despesas e...

-Acha que tenho segundas intenções?

-Não, não, não é isso, é que... É estranho só. O senhor mal me conhece e qualquer pessoa que visse de fora estranharia também porque o senhor não tem nenhum motivo forte o suficiente para isso. Por favor, não estou querendo ser chato nem mal-agradecido, claro que não, o agradeço muito por tudo, apenas quero entender!

Berwald ficou em silêncio por alguns instantes, fitando a taça vazia. Então disse:

-Não vou dizer que não tenho segundas intenções porque não sou santo para tal. As tenho. Mas te ferir ou te magoar é algo que não desejo fazer de forma alguma, e por isso, se deseja, estranhe, mas não duvide. Prezo pelo seu bem-estar e principalmente pela sua felicidade por motivos que ainda guardo apenas para mim.

-Aqui está a comida. Bom apetite.-Disse o garçom, que chegara bem na hora que meu professor terminara de falar. Colocou as comidas sobre a mesa e se foi, deixando-nos com um silêncio pesado e constrangedor.

Agora eu me culpava por estranhar as atitudes de meu professor, e tinha quase certeza que ele estava, no mínimo, aborrecido ou magoado pelo o que eu disse. Eu realmente duvidara dele, mas isso era incondicional. Querendo ou não, quando alguém faz muitas coisas boas para você, é normal duvidar da índole daquela pessoa, mas se Berwald quisesse me fazer mal, já o teria feito há muito tempo.

Comemos em silêncio. Eu nem sabia o nome do prato que comia, mas estava bom. Meu professor nada comentou até que acabasse de comer, exceto quando chamou o garçom e pediu mais uma garrafa de vinho. Quando terminei, disse:

-Vou ao banheiro.

Então me levantei e saí, sentindo o olhar de Berwald em minhas costas enquanto eu caminhava até onde achava que era o banheiro, felizmente acertando. Entrei pela porta que dizia “homens” e um relógio bem alto na parede indicava que eram pouco mais das 9 e meia da noite.

Na verdade não estava sentindo vontade de fazer nada, nenhuma necessidade fisiológica, apenas queria me levantar. Não estava me sentindo muito bem na mesa. Lavei meu rosto e o enxuguei com o papel higiênico perfumado que havia ali, olhando-me no espelho antes de sair.

Realmente não estava ruim de terno, mas não estava maravilhoso. Gostava de roupas mais simples. Saí do banheiro e rumei de volta para a mesa, mas quando lá cheguei, Berwald não estava sentado.

Na verdade, de longe eu conseguia ouvir sua voz, dois tons mais altos, falando com uma pessoa do outro lado do restaurante. Todos olhavam para ele, e no mesmo instante que o vi falando com o homem que reconheci sendo aquele que nos cumprimentara tempos antes, o homofóbico, meu professor recuou um dos braços e como se fosse tudo coreografado, esmurrou o homem, que caiu no chão com um baque alto.

A música cessou. Os garçons pararam de atender e todo mundo colocava os olhos sobre Berwald, que agora erguia o outro do chão pelo colarinho. Mas o homem se soltou de suas mãos e também lhe deu um soco no rosto, quase atingindo os óculos, fazendo meu professor recuar alguns passos.

Eu não sabia o que fazer.

Nos cinco minutos que eu me ausentara, lá estava ele, brigando. Quem sabe fosse efeito da bebida, quem sabe ele fosse fraco quando se tratasse de vinho, ou ainda, quem sabe ele agora não descontava sua raiva escondida do homem, porque pelo o que me pareceu, Berwald não morria de amores por ele.

Sem pensar direito, corri até eles dois, desviando de garçons e pessoas, todos imóveis e emudecidos. Onde diabos estavam os seguranças daquele lugar?!

Meu professor já investira novamente contra o homem, que desviara e já se preparava para esmurrá-lo novamente, só que eu cheguei bem nessa hora e, fosse uma medida desesperada ou um ato bastante idiota, me meti no meio deles dois e quem acabou sendo golpeado, no fim das contas, fui eu, que caí com tudo no chão ao lado de uma mesa de senhoras idosas.

Me virei no chão e tentei me sentar, o que consegui fazer depois de muito esforço, embora tudo girasse em minha cabeça. Lógico que se Berwald já não estivesse bêbado graças ao vinho, ele daria uma surra naquele cara, então o fato de ele estar bêbado talvez nem fosse tão mal assim, mas acho que, resumindo tudo, ele não gostou de me ver caído no chão, porque diante dos meus olhos borrados só o vi investir, dessa vez com um chute, em direção ao outro, que fora pego desprevenido por estar me olhando sem saber se pedia desculpas ou me ignorava, e que então caiu no chão, atingido no peito, procurando por ar.

E foi então que finalmente os seguranças interviram e acudiram o homem homofóbico e pegaram meu professor pelos braços, o levando até os fundos do restaurante. Fiquei de pé logo que pude e o segui, mesmo que cambaleante.

Pares de minutos depois, estávamos entrando no carro e indo embora. Berwald teve que pagar todas as taças quebradas e despesas por causa da briga, além da conta, que saiu bem cara até. Nem o manobrista veio nos trazer o carro, então tivemos que andar até o lugar que estava estacionado, bem distante para nossa infelicidade.

Agora no meio do caminho para casa, todo tempo tendo o cuidado de prestar atenção na estrada, já que meu professor estava bêbado, fazia de tudo para não perguntar o que o tinha feito brigar com aquele outro homem. Estava me segurando para não perguntar, mas não queria ser deseducado.

Eu estava com uma enorme mancha roxa no olho e meu professor com uma no lado esquerdo do rosto. Até combinávamos, então chegava a ser um pouco engraçado.

-Está doendo?-Ele perguntou de repente enquanto fazia uma curva.

-Um pouco.-Eu respondi, sem saber mais o que falar.

E até que chegássemos em casa, nada falou.

Minutos depois, quando finalmente estacionamos na garagem e saímos do carro, pude ver meu professor cambalear em direção a porta de entrada, que a abriu com um pouco de dificuldade e entrou, esperando que eu passasse para fechar a porta.

Uma vez em casa, foi até a cozinha enquanto eu tirava os sapatos e os deixava ao lado da porta para não sujar o chão. Levei meu olhar até ele e quando vi que já tinha a garrafa de uísque nas mãos, corri até ele e a tirei de suas mãos, logo sofrendo com seu olhar mortal caindo sobre mim.

Temi estar sendo mal-educado e atrevido demais, mas falei:

-É melhor o senhor não beber mais por hoje.

Ele nada disse, apenas tentou tirar a garrafa de minhas mãos, mas eu recuei antes. Era estranho vê-lo com os reflexos tão fracos assim quando ele, pelo o que eu vira, costumava a lutar tão bem e agir rapidamente em todas as ocasiões.

-Se o senhor beber mais, vai passar mal.

-Me dê a garrafa.-Ele disse, apoiando-se na mesa.

-O senhor mal consegue se aguentar em pé.

-Me dê a porra da garrafa!-Ele gritou, se calando em seguida como se percebesse que estava sendo rude demais.-Preciso dela.

-Não precisa não. Por favor, eu entendo que o senhor que beber mais para se acalmar, mas o senhor acabou de entrar numa briga por causa do álcool!

-Briguei porque quando você se levantou, ele te chamou de bixinha e me chamou de viado. Espanco qualquer um que te ofenda.-Disse, agora voltando a se aproximar de mim.

-Mas... O senhor não faria isso se estivesse sóbrio, tenho certeza.

-Apenas não faria na frente de todos, mas faria.-Então investiu sobre mim, me empurrando até a parede da cozinha e me prendendo contra ela.-Você não sabe o efeito que tem sobre mim. Me dê a garrafa.

-Não.-Eu disse, fitando seus olhos bastantes próximos dos meus.-O meu professor não faria isso. Ele é um homem bom e não sai batendo em pessoas, mesmo que seja por minha causa. Por favor, professor...

Mas antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ele me beijou.

Ergueu meu rosto e invadiu minha boca com sua língua tendo tanta avidez e luxúria que fiquei surpreso demais para fazer algo. Sua língua procurou a minha, mordeu meus lábios, chupou de leve enquanto suas mãos correram para meu peito e me acariciaram por cima do terno que agradeci ainda estar vestindo.

Mas isso não o impediu de levar suas mãos até aquele ponto que eu mais temia ser tocado por outra pessoa. Me apavorei quando senti sua mão, mesmo por sobre toda a roupa, massagear meu membro, e no mesmo instante tentei me soltar. Bati em seu peito com toda a força que tinha nas mãos, mas ele não pareceu notar.

Continuou enquanto eu me apavorava cada vez mais, tentando sair de seu beijo, mas logo sua mão, aquela que não me tocava, foi para meu queixo e me manteve parado. Comecei a chorar. Ele estava fazendo exatamente o que Francis começara a fazer. Um dos meus maiores medos.

Acho que foi quando uma das minhas lágrimas rolou até nossas bocas e ele sentiu seu gosto salgado que ele voltou a si, porque se afastou de repente e levou uma das mãos até a boca, me olhando com aquele olhar estranho estampado nos orbes novamente.

-Me perdoe.-Disse, recuando até a mesa da cozinha enquanto eu fitava o chão, tentando parar de chorar, mas os soluços continuavam.

-O senhor disse que... Nunca faria nada para me magoar...-Eu murmurei. Sabia que o feriria com aquilo, mas não queria feri-lo, na verdade não sabia exatamente o que queria...

-Sou um monstro por te desejar tanto todos os minutos que olho para você e até quando não te olho. Te desejo tão imensamente que a única forma de me manter são e não sucumbir ao desejo é beber o uísque que me acalma.

-Por quê? É por isso que o senhor vem cuidando de mim? Eu...

-Só porque te desejo não significa que vou voltar a fazer isso. Me perdoe, eu lhe peço. Nunca mais farei isso.

-Eu...

Ele se virou e caminhou até a geladeira, abrindo-a para pegar algo para beber que não consegui bem ver o que era.

-Você pode subir e se trancar no quarto, se estiver com medo de mim. Vou compreender. Também vou entender se não quiser sair do quarto amanhã.-Ele disse, com um tom, não sei se era imaginação minha, triste na voz.

Me retirei da cozinha e subi as escadas em direção ao quarto dele, fechando a porta, mas não a trancando. Eu confiava no meu professor, apesar do que ele acabara de fazer. Eu confiava nele, muito.

Até porque, meu corpo, de certa forma, parecia ser o preço justo a se pagar por toda a assistência que ele me dera até aquele momento, mas se ele dissera que nunca mais faria isso...

Me despi e deitei na cama, cobrindo-me com os cobertores e sentindo o cheiro dele nos lençóis. Sem pensar, levei uma das mãos até minha boca, procurando sentir o toque dele ali novamente.

Tinha sido assustador, mas...

Não deixava de ser bom.


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Notas finais do capítulo

Ah, primeiramente, gostaria de pedir, novamente, desculpas pelo atraso. Acho que se eu NÃO colocar mais prazos, é provável que eu também não atrase mais, uma vez que o destino parece confabular contra mim...

Enfim, uma das leitoras tinha pedido mais "interação física" se não me engano... AÍ ESTÁ! Hahaha, gente, não me matem por favor.

Vejamos... Claro que farei de tudo para que o próximo chap saia numa sexta feira mesmo, okay? PROMETO!

Mas e aí... Vocês gostaram? Mereço reviews? Ah! E muitíssimo obrigada à Amanda_chan que enviou aquela linda recomendação *.* Você não sabe o quanto me deixou feliz!

Kisses e até a próxima!