Frostnatter escrita por Blue Dammerung


Capítulo 4
Capítulo 4: Pelasta Minut.


Notas iniciais do capítulo

“Descobri minha missão na terra: fazer com que as pessoas façam a minha vontade. Assim que todos enxergarem isso viveremos em paz.” - Gilbert num lapso de compreensão durante o castigo por ter pregado chiclete no cabelo de uma menina na Quarta Série.



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“Talvez eu devesse ter ido num hospital, porque talvez ela não estivesse tão saudável quanto aparentava, se é que aquele estado poderia ser chamado de saudável. Mas não fui, afinal, que tipo de ligação eu e ela teríamos que fosse suficientemente convincente para os médicos que eu não era só um desconhecido talvez abalado pelo espírito natalino?

            Entrei no meu apartamento sem que ninguém me visse, e por ser um prédio antigo, ainda não havia câmeras nem nada do tipo. Entrei em casa e a deitei no sofá, vindo-lhe cobrir com vários cobertores mais tarde, mas mesmo assim, ela ainda respirava com dificuldade.

            Suspirei, sem saber ao certo o que fazer. Lidar com crianças jamais fora meu forte, e a pele branca daquele menino parecia tanto com a mais delicada porcelana que temi fazer algum movimento errado e quebrá-la.

            Por alguns momentos, apenas fiquei ali de pé, fitando-o enquanto seu peito sob os cobertores sobia e descia lentamente. Engoli em seco. Talvez não quisesse perdê-lo.”

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            Mesmo com ainda bastante sono, não consegui dormir em todas as horas que passei dentro do porta-malas do carro. Limitava-me à chorar, sempre acordado, e contar todos os ruídos de carros que conseguia ouvir, vindos da rua nem tão próxima nem tão longínqua.

            Estava agora bastante escuro, e eu apostava que o sol já tinha se posto e anoitecido. Não queria nem especular o tipo de punição que meu pai me daria. Além de tudo isso, estava ficando cada vez mais frio, o que provocava vez por outra leve tremedeiras em mim.

            Só Deus sabe, se ele existir, o quanto eu fiquei feliz em ouvir o toque ressoar por todo o colégio, anunciando que todas as aulas daquele dia tinham acabado. Isso significava que Berwald não teria mais ninguém para ensinar, então ele estava livre.

            Me animei mais e limpei as lágrimas dos olhos, atento para que quando ele chegasse eu pudesse dar algum sinal de que estava ali dentro. Nenhuma vez me passou pela cabeça o tipo de reação que ele teria ao ver um de seus alunos dentro do porta-malas do seu carro (ou o que sobrara dele), mas estava mais preocupado em sair dali do que com a cara que ele faria.

            Logo ouvi várias vozes juntas numa multidão, grande parte delas bastante jovens, o que mostrava que eram os estudantes saindo. Tentei gritar, pedir ajuda logo, mas minha voz estava estranhamente esganiçada e então comecei à tossir.

            Infelizmente, graças à localização do carro no estacionamento, quase escondido, eu duvidava até que qualquer uma delas pudesse ver o estado do automóvel.

            Foi então que ouvi passos mais calmos e seguros do que todos os outros. Parei de tossir e tentei ouvir melhor, rezando que fosse meu professor se aproximando do carro, e a medida que ele chegava mais perto, pude ouvir sua voz conversando com outra pessoa, mas não pude ouvir a outra pessoa respondendo. Ele estava falando no telefone.

            -Não, minha casa não tem espaço para você, você sabe...-Ele disse, agora próximo o bastante enquanto eu ouvia algo pesado cair no chão. Poderia ser sua maleta.-Merda.

            Comecei a bater na tampa do porta-malas e gritar o máximo que eu podia, mas isso só me fazia tossir novamente, com cada vez mais força. Berwald se aproximou mais do carro até que eu o ouvisse passando pela lateral para entrar no mesmo.

            -Não foi nada.-Ele disse, ainda no telefone enquanto eu sentia o carro tremer e depois roncar fortemente. Ele estava o ligando, e agora dava ré em direção à rua enquanto eu tentava insistentemente fazer com que ele me ouvisse.

            Até chutar eu tentei, mas agora, com o barulho alto do motor, tudo que eu conseguia ouvir eram apenas umas poucas palavras que ele falava, mais altas que as demais, além do barulho do trânsito do lado de fora como buzinas e outro motores.

            Foi então que ouvi um outro barulho de água seguido por um mais alto, bem mais alto, do que qualquer outro: Um trovão. Estava chovendo, e Berwald parecia dirigir com pressa na pista logo encharcada.

            Aquilo me trouxe lembranças tristes sobre meu irmão, mas antes que eu pensasse mais no assunto, o carro parou de repente com um freio duro e então ouvi o barulho da porta do motorista se abrindo. Será que já estávamos na casa dele?

            Voltei a chutar e a bater na tampa do porta-malas com todas as forças que ainda me restavam, resistindo ao frio e ao cansaço que estava se abatendo sobre mim. Talvez, com aquele frio todo, eu tivesse começado a adoecer.

            Bati e bati, mas não tive nenhuma resposta, e ao contrário, ouvi a porta do motorista batendo de novo, se fechando, enquanto ele passava por mim, ainda falando com alguém no telefone.

            -Thomas... Não, não o quero aqui, pela última vez. Que se dane, não o quero.-Disse, correndo até um certo ponto enquanto eu batia na tampa e tentava gritar, o que só me fazia tossir mais. Comecei a chamar pelo nome dele o mais alto que conseguia, ao invés de só chamar por “socorro”.

            -Não, nem setembro nem outubro nem mês algum...-Ele continuou a falar enquanto eu ouvia o som de chaves, como se ele estivesse abrindo a porta de sua casa. Comecei a me desesperar de verdade. Se ele não me ouvisse agora, provavelmente só me ouviria longas horas depois. Continuei a gritar, com os olhos ficando cada vez mais úmidos. Não aguentava mais todo aquele escuro e frio.

            -Não, nada disso de “irmãos”.-Ele voltou a falar, dessa vez abrindo a porta com um empurrão, pelo o que eu ouvi, então eu realmente entrei em pânico ali dentro, já claustrofóbico. Minhas mãos já doíam de tanto bater na tampa, e em algumas partes chegavam até à sangrar, aliás, todo meu corpo ainda doía bastante por causa da surra que Gilbert me dera.

            Eu só não queria ficar mais no escuro.

            E antes que começasse a tossir novamente, gritei por ele o mais alto que pude, pelo nome dele, enquanto batia na tampa do porta-malas, numa súplica misturada com choro e desespero e dor.

            -Não, eu... Ligue mais tarde. Cale a boca, mandei ligar mais tarde.-Ele disse, ficando em silêncio enquanto eu o ouvia se aproximar do carro, mesmo que estivesse começando a chover pesadamente.

            Continuei a gritar e a bater na tampa, criando finalmente uma esperança de que ele tivesse ouvido, mas agora ele não falava mais nada.

            Então ele pegou a chave do carro e ouvi quando a adentrou na fechadura do porta-malas, levantando a tampa enquanto eu parava de bater e ele me via, com seu rosto se dividindo entre confusão e seriedade.

            Não sei o que ele deve ter pensado ao ver um adolescente ferido e sangrando e chorando em seu porta-malas, ainda mais seu aluno, esse por vez demonstrando em suas feições medo, desespero, dor, só sei que ele não fez pergunta alguma, apenas me fitou por alguns segundos, parado na chuva, ainda com o celular numa das mãos.

            Foi então que tive uma intensa sensação de dejavú, como se ele já tivesse me olhado assim, como se já tivesse me encontrado com sérios problemas antes, mas logo essa sensação desapareceu e eu senti que precisava falar alguma coisa.

            Esfreguei os olhos e tentei não parecer tão criança na frente dele, afinal, todo mundo dizia que homens não deviam chorar, e mesmo que eu ainda estivesse com medo e sentisse dor por todo meu corpo mais o frio da chuva, além de estar me molhando, falei, como se não houvesse problema algum:

            -Seu celular vai quebrar se continuar na chuva, professor.

            Ele piscou por alguns instantes, como se tivesse acordado de algum transe, então colocou o celular dentro do bolso e se curvou sobre mim, segurando-me sob as axilas e me erguendo do carro, segurando-me então nos braços até que pegou o caminho para a porta aberta de sua casa, onde entrou na sala e me deixou sentado no sofá, enquanto voltava lá fora para fechar o porta-malas.

            Olhei ao redor, ainda tremendo um pouco enquanto tentava esconder a queimação em meu rosto. Não precisava daquilo, precisava? Eu certamente ainda conseguia andar, ele bastava apenas ter se afastado um pouco para que eu saísse, mas antes que pensasse mais, ele voltou e trancou a porta da casa, tirando seu sobretudo e deixando-o sobre um armador ao lado da porta, que também guardava alguns guarda-chuvas.

            Então se aproximou de mim, fitando-me seriamente, e tirou uma pequena lanterna de um bolso da calça. Por alguns minutos me perguntei o que ele mais carregava nos bolsos, mas então ele ficou na minha frente e ergueu meu rosto com uma mão e abrindo meu olho com a outra, iluminando-o com a lanterna como os médicos fazem.

            Engoli em seco, temendo que ele estivesse próximo demais, mas ele continuava em silêncio, e eu sentia que não seria bom contestar. Ele examinou meu outro olho, subiu as escadas que havia no canto da sala e então voltou com uma caixa branca e uma toalha, puxando uma poltrona para que sentasse na minha frente novamente.

            Sem falar nada ainda, fez curativos nos meus braços e rosto, onde havia ferimentos mais visíveis. Não falei nada, mas durante todo esse tempo eu evitei olhar para o sua face. Ele trabalhava rápido, como se tivesse certeza do que fazia e como se já tivesse feito aquilo centenas de vezes.

            -Você tem uma casa... Legal.-Eu disse, olhando ao redor por precaução. Realmente, era legal. A sala era ampla, com um sofá, duas poltronas de cada lado e uma mesa de centro, mais uma TV de plasma na frente. Havia uma porta que deveria dar para a cozinha e, no canto, estava a escada que deveria levar ao quarto. Era legal, mas talvez fosse... Um pouco morta.

            Não havia fotos, quadros, plantas e até todas as janelas estavam fechadas e tinham grossas cortinas para que quando estivessem abertas, não deixassem a claridade entrar de modo algum. Também não havia qualquer indício de outra pessoa vivendo ali.

            Olhei para o chão e encontrei os pés dele, ainda dentro dos sapatos de couro formais, e voltei a tremer por causa do frio, uma vez que minhas roupas estavam meio molhadas, além de manchadas de sangue.

            Ele me entregou a toalha e eu me enrolei nela, sem jeito diante do olhar fixo dele. Olhei ao redor novamente até que achei um relógio de parede, mostrando que passavam das 9 agora. Agora, sério, meu pai iria me matar.

            -Err... Obrigado, professor, mas eu preciso ir embora, senão meu pai vai ficar com raiva e...-Eu disse, me levantando, meio cambaleante e me apoiando no encosto do sofá. Ele me fitou por alguns instantes e pela terceira vez desde que me encontrara no colégio, dirigiu sua palavra diretamente para mim.

            -Sente aí.-Disse, numa ordem.

            -Mas eu realmente preciso ir para casa...

            -Você não vai à lugar algum. Sente aí.

            Engoli em seco novamente e obedeci. Não sabia lidar direito com ele. Certo de que eu poderia desobedecer, mas estava tarde, estava chovendo, e chegar em casa encharcado e com as roupas sujas de sangue só enfureceriam mais meus pais.

            Ainda assim, Berwald me dava um pouco de medo.

            Ele se afastou um pouco e apoiou as costas no encosto da poltrona, uma vez que estivera curvado em minha direção até aquele momento. Então, me fitando ainda, disse:

            -Tire a camisa.

            E eu gelei.

            De todas as pessoas, ele era o único de quem eu jamais esperaria aquilo.

            -Como?!-Perguntei, já ficando com medo. Levando em conta o tamanho dele para o meu, além da idade e da força, se ele quisesse podia facilmente me subjugar, além de que estávamos entre quatro paredes e ninguém me ouviria se eu gritasse, porque minha voz ainda estava fraca. Comecei a me apavorar de verdade.

            -Quero ver se você está ferido embaixo da camisa-Ele disse, parecendo ou fingindo não notar o meu medo. Não queria passar novamente pelo o que Francis começara outro dia.

            -N-Não, e-estou bem, juro!-Exclamei, dando um sorriso amarelo. Lógico que era mentira. Gilbert me dera chutes e socos naquela área, e eu tinha certeza que algo ali deveria estar roxo, mas eu não queria tirar a camisa para ele.-Não estou sentindo dor alguma, hehe...

            -Não te farei nada.

            -Mas eu não estou machucado...

            -Nunca faria nada que você não quisesse fazer.-Ele disse, olhando-me nos olhos por alguns segundos.

            Eu ainda estava com medo, e sabia que ele poderia estar mentindo, mas por alguma razão, eu confiei nele. Não sei, apenas confiei e comecei a desabotoar minha camisa bem devagar, constrangido. Nunca ficara nu, nem da cintura para cima, para ninguém exceto para meu irmão que morrera. Nem na aula de educação física, quando depois tínhamos que tomar banho, eu tirava a roupa perto de toda aquela gente. Preferia esperar até ficar só para me despir.

            E uma vez que eu tinha tirado toda a camisa e a deixava ao meu lado no sofá, ele parecia notar a minha vergonha, então evitou demorar e apenas começou a cuidar de alguns cortes e também de alguns hematomas, mais especificamente o que eu tinha na altura das costelas, onde Gilbert tinha me chutado mais cedo.

            Eu agora olhava para o teto enquanto sentia as mãos dele, e corava, mesmo sem querer. Na verdade, queria me esconder em algum buraco o mais cedo possível. Engoli em seco, então pensei que talvez ele fosse médico, mas se fosse, por que estaria ensinando matemática no meu colégio?

            -Terminei.-Ele disse uns 10 minutos depois, se levantando e se afastando enquanto eu rapidamente colocava a camisa de volta, me sentindo muito melhor. Ele subiu as escadas e quando voltou trouxe consigo uma camisa e uma calça, estendendo-as para mim.

            -Ah, obrigado, mas eu não posso dormir aqui.-Eu disse, olhando para os lados.

            -Ainda está chovendo, e é tarde.-Ele disse.

            -Mas meus pais vão brigar muito comigo se eu não chegar em casa hoje e...

            -Diga que está dormindo na casa de um amigo.-Ele disse, sério.

            -Mas eu não tenho amigos, eles sabem disso.

            -Diga que está dormindo na casa de um professor.-Ele disse, ainda sem expressar nada.

            O fitei, piscando rapidamente com um misto de confusão e mais vergonha.

            -N-não p-posso dizer isso!-Exclamei, olhando para todos os lugares exceto ele agora. Claro que eu não poderia dizer isso para os meus pais!-Não posso dizer isso porque senão eles vão pensar que... Vão pensar que... Vão pensar que nós estamos...

            -Transando?-Ele disse, ainda sério.

            -É...!-Eu exclamei, corando mais. Não era um assunto que me agradasse muito falar.

            -Posso dormir no carro se for melhor para você.-Ele disse, deixando as roupas sobre o sofá.

            -Não, não! Pode dormir no seu quarto, eu vou para casa mesmo...-Eu disse, me virando para ir até a porta, até que senti a mão dele segurando meu pulso com força.

            -É perigoso lá fora nessa hora. Não irei deixar que saia.-Ele disse, um pouco alterado.

            -Mas... Eu...

            -Você pode dormir no meu quarto e trancar a porta. Dormirei no sofá. Amanhã chegaremos antes de todos para que ninguém saiba de nada.-Ele disse, todo o tempo olhando nos meus olhos, continuando.-Ligarei para os seus pais, não se preocupe.

            Ele soltou meu pulso e engoli em seco novamente, notando que estava com sede. Sabia que ficar só me arranjaria problemas, mas... Talvez fosse a melhor escolha a fazer, e ele realmente não parecia querer me fazer mal algum.

            Concordei, então ele me disse onde o quarto dele ficava enquanto eu subia as escadas, levando as roupas comigo. Ele disse que quando eu terminasse de me trocar, deixasse o uniforme do colégio do lado de fora do quarto para que ele o colocasse para lavar, tirando as manchas de sangue. Assenti e desejei uma boa-noite, mas ele ficou em silêncio.

            Entrei no quarto, fechei a porta e me despi para depois vestir as outras roupas que provavelmente eram dele. Ficaram grandes em mim, mas pelo menos eram confortáveis. Deixei a farda no corredor como ele me dissera e então tranquei a porta com a chave, me deitando na cama depois.

            Era meio estranho estar na cama de outra pessoa. Essa em especial, uma vez que era de casal, bem maior e mais macia que a minha, com um cheiro singular também. Deitei minha cabeça num dos travesseiros e fechei os olhos, cobrindo-me com um dos lençóis ali. Até o quarto parecia ser morto, tendo apenas um guarda-roupa, uma cama e ao lado da mesma, um criado-mudo. Nada mais.

            Tentei dormir, mas revirei várias vezes sem conseguir. Me perguntei que horas seriam, mas não havia relógio ou despertador no quarto. Me enrolei melhor, já que estava frio, e me perguntei se ele não estaria sentindo frio lá embaixo, na sala, onde provavelmente deveria circular mais vento.

           

            Agora eu sentia peso na consciência.

            Primeiro porque ele me salvara, cuidara de mim e me abrigara em sua casa mesmo sem nem me conhecer direito, e eu? Eu pensara coisas horríveis dele e ainda o deixara dormir no sofá quando eu era que deveria estar dormindo lá.

            Devia pelo menos fazer alguma coisa por ele também, não era?

            Engoli em seco, com um pouco de medo, e peguei um dos lençóis sobre a cama, caminhando até a porta e a destrancando, saindo do quarto com o cobertor nos braços. Estava escuro no corredor, mas não tanto graças à pouca claridade que as janelas, mesmo fechadas, proporcionavam.

            Desci as escadas degrau por degrau, segurando firme no corrimão para que não caísse, visto que todo o corpo vacilava às vezes. Quando cheguei na sala, olhei ao redor. Não havia luz que não fosse a da lua atravessando as janelas, o que era o bastante para eu enxergar e não bater a canela em móvel algum, não que tivesse muitos, mesmo assim.

            Me aproximei do sofá e olhei por cima do encosto, encontrando-o dormindo, vendo que seus  óculos estavam sobre a mesa de centro. Cheguei mais perto e vi que ainda estava vestindo a mesma roupa que usara no colégio, a mesma vestimenta formal, e estava até de sapatos ainda.

            Não se cobria com nada e tinha um dos braços atrás da cabeça como um travesseiro e outro braço estava sobre o peito. Seu rosto estava estranhamente sereno. Digo estranhamente porque era estranho vê-lo o dia inteiro sério e então tão calmo e sereno. Suas sobrancelhas estavam relaxadas, não tensas assim como todo seu corpo. Ele parecia bem menos assustador e imponente enquanto dormia.

            Abri o cobertor em meus braços e estendi com cuidado sobre ele, cobrindo-o o mais leve e silenciosamente possível. Seria bem constrangedor se ele acordasse. Me virei para ir embora, para ir até as escadas, mas vendo que ainda estava de sapatos, resolvi fazer uma última boa ação.

            Me aproximei dos seus pés e desatei os laços dos cadarços enquanto puxava bem devagar cada sapato, um por um, deixando os calçados ao lado do sofá para quando ele acordasse. Quando levantei o olhar e comecei a sorrir de satisfação “nossa, consigo fazer tudo isso e não o acordei ainda!” encontrei os olhos dele sobre mim e gelei.

            Me fitava com olhos pesados, como se sentisse sono, como se nem soubesse se aquilo era um sonho ou se estava acontecendo de verdade, e não com aquela expressão séria. Me afastei, dando um sorriso amarelo, mas então ele disse:

            -Está conseguindo dormir?

            Eu limpei a garganta e respondi:

            -S-sim, é que... Eu achei que você estivesse com frio e era só isso e... Bem, boa noite!-Então  corri até as escadas e subi o mais rápido que conseguira. Voltei para o quarto, mas não tranquei a porta, acho que devia ter esquecido, ou então não achava que ele fosse realmente fazer alguma coisa.

            Me deitei na cama, voltando a me cobrir, e dessa vez consegui dormir.

            Seja pela ausência dos meus pais naquela casa, a cama de melhor qualidade, o ambiente não tão escuro, tudo isso ou ainda nada disso, aquela foi uma das melhores noites de sono que eu tivera em muito tempo, mesmo com aqueles sonhos que eu nunca parava de ter.


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Notas finais do capítulo

E, bem, como hoje já é sexta, aqui está um novo chap! Espero que gostem, foi um chap agradável de se escrever porque nada melhor do que o Su-san sendo tão prestativo e salvando o Tino neh? huauhauhauha.

Enfim, só para saber, vocês lêem as Notas dos Capítulos? Sei lá, achei que em tanto drama, colocar algumas "pérolas" da infância do The Bad Friends Trio pudesse quebrar o clima de cortar-os-pulsos. Espero que estajam gostando!

Ah, e por favoooooorzinhoo *fica de joelhos* deixem reviews, sim? Nada me deixa mais feliz (ouquasenada) e ainda me ajuda a escrever os próximos chaps!!

Kisses e até próxima sexta!!!