Frostnatter escrita por Blue Dammerung


Capítulo 14
Capítulo 14: Elokuva.


Notas iniciais do capítulo

"Eu sou um líder natural! Sou do tipo que comanda! O problema é que ninguém quer ir pra onde eu quero levar..." Gilbert quando tentou ser líder de sala.



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Na noite do natal, que naturalmente me lembrava quando eu encontrara aquela criança um ano antes (já tinha se passado um ano naquela minha letargia), fui à festa do orfanato com uma esperança mínima, mas existente, de falar com ele. Talvez ele se lembrasse de mim, me fitasse com aqueles olhos violetas.

Na festa, crianças corriam soltas pelos cantos. Casais procuravam por seus futuros filhos e eu estava ao lado do diretor, que tinha me servido alguma coisa cujo gosto não me importava. E logo o vi, sorrindo alegremente, falando com um casal do outro lado do salão.

Algo em minha garganta, algo prestes a me sufocar. Dor, raiva, muitas coisas negativas. Ciúmes. Quis me aproximar, afastá-lo daquele homem e daquela mulher que mesmo parecendo boas pessoas, não tinham o direito de tirá-lo de mim. Não podiam, não podiam, não, não...

Mas quando vi, ele já tinha dado a mão ao casal, e parecia feliz. Uma felicidade que, mesmo me doendo, eu não poderia privá-lo. O queria feliz. Engoli em seco e me afastei, empurrando de leve algumas pessoas.

E mesmo que não quisesse, eu teria que sumir da sua vida.”

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Aquele dia foi bastante comum, assim como os outros que se seguiram até que a semana acabasse e outra começasse apenas para findar novamente. Thomas estava tentando ser mais cuidadoso com as coisas enquanto Berwald, do modo dele, estava sendo mais tolerante em relação ao irmão, embora nem tudo tenha mudado.

Duas semanas depois do meu fracasso no trabalho (porque eu tinha sido mesmo um fracasso), quando nem Stéfan nem Lukas tocavam mais no assunto, eu os chamei para sair, mas por duas razões importantes: Fazer as pazes, um pedido a mais de desculpas por ter diminuído a nota que eles iam ganhar, e porque Thomas estava me implorando para sair e levar meus amigos juntos.

Mas Thomas também tinha deixado claro que não queria que Berwald fosse, até porque meu professor não podia ir mesmo, então marquei de irmos ao cinema para ver um novo filme que muita gente estava elogiando, chamado o Ósculo Perdido. Eu não sabia o que era um ósculo, mas pelo “perdido” imaginei que fosse de caça ao tesouro ou algo assim, então todos marcamos de ver esse.

Falei com Berwald um dia antes e o expliquei tudo, então ele simplesmente assentiu e me deu uma nota de cinquenta euros, e ainda perguntou se eu queria mais. Eu disse que não, que na verdade não precisava de tanto dinheiro assim, mas ele mandou que eu guardasse o que sobrasse para “emergências”.

Então lá fomos nós numa agradável tarde de sábado para o shopping mais próximo, aonde passava o filme no cinema, e mesmo que eu tivesse marcado de ir junto com Thomas, acabei por chegar antes porque Berwald deixou bem claro apenas com um olhar que não queria seu irmão no seu carro, então Thomas optou por ir de ônibus mesmo.

Enfim, voltando ao presente, lá estava eu, vestindo uma bermuda escura que ia até os joelhos, uma camiseta e por cima um casaco, já que estava ficando frio, calçando all-stars porque achei que sapatos seriam muito formais.

Logo Thomas apareceu, vestindo uma calça jeans de aspecto velho, uma camisa branca e por cima também uma jaqueta de cor escura, os all-stars vermelhos chamando atenção e os cabelos espichados para todos os lados.

O que acabava por fazer várias pessoas do shopping olhá-lo com olhares estranhos. Eu não era muito bom para dizer quem era bonito e quem era feio, mas eu sabia que Thomas não era feio. Ele tinha... Algo estranho com ele, e quando não estava sorrindo como quem apronta uma brincadeira, estava sorrindo como quem quer seduzir, e se eu, que não sei quase nada disso, digo que ele consegue seduzir sorrindo, é porque ele realmente deveria conseguir.

Ele se aproximou e ficou ao meu lado, se apoiando no parapeito, uma vez que estávamos no terceiro andar.

-Hey, cara, que filme nós vamos ver mesmo? Não é nada meloso, é?-Ele perguntou, o cordão de prata, que até então eu não tinha visto, saindo debaixo da camisa.

-Eu não sei, ainda não vi ainda, como posso saber?-Eu disse, vendo todos que passavam lá embaixo, ao seu lado.

-O Berwald não reclamou em você sair comigo? Não fez nenhum comentário e nenhuma restrição?

-Ele não me disse nada, apenas me deu dinheiro e pronto.-Dei de ombros, sem entender aonde Thomas queria chegar.-Você acha que ele deveria ter dito algo?

-Ele parece querer te proteger de tudo, sei lá, eu acho meio estranho. Ah, seus amigos chegaram, olha eles ali! Oi, aqui!-Thomas exclamou, acenando animadamente do terceiro andar enquanto meus amigos estavam no segundo ainda.

Claro que Lukas e Stéfan nos viram e nos olharam, e além deles, quase todo mundo que estava ali perto fez o mesmo, o que me fez corar e querer desaparecer, mas Thomas não parecia se importar muito.

Logo Lukas e seu irmão tinha subido e estavam ao nosso lado, o norueguês vestindo uma calça jeans escura e uma camisa azul, bem simples mas um tanto formal, e o islandês de bermuda clara e camisa azul clara, o que o deixava com uma feição mais gentil do que tinha, na verdade.

-Se queria ter nos dado as boas vindas, deveria ter trazido os fogos de artifício também, seu imbecil.-Lukas disse a Thomas, que riu, ignorando toda a acidez da frase.-E, Tino, eu não sabia que você ia trazer uma mula com você.

-Ah, bem... Vocês se lembram do irmão do meu pai, o Thomas... Ele ainda está ficando lá em casa e queria sair, então eu o trouxe. Achei que não teria mal algum.-Expliquei, sorrindo amarelo.

-Pra mim tanto faz.-Stéfan disse, fitando as lojas do shopping ao nosso redor.

-Contanto que ele não me incomode, não me importo.-Lukas falou, cruzando os braços, e mesmo dizendo que não se importava, não parecia muito feliz.

-O Tino me disse que você é norueguês e seu irmão é islandês, mas ele não parece ser muito mais novo que você, então como...-Thomas ia perguntar, mas Lukas o interrompeu na mesma hora, emburrado.

-Somos irmãos apenas por parte de pai. Minha mãe é norueguesa e eu nasci e cresci na Noruega, e o Stéfan tem mãe islandesa e ele nasceu e cresceu na Islândia. Agora moramos juntos porque nosso pai acha que precisamos nos aproximar como irmãos e como filhos dele, mas não me importa. Essa informação basta para você ou quer saber o dia e a hora do nosso nascimento?

-Ah, eu adoraria.-Thomas sorriu daquele jeito estranho que eu classificava como “sexy”, o que me fazia desviar o olhar enquanto ele encarava Lukas de forma desafiadora.

-Pois vai sofrer na ignorância dessa informação.-Lukas rebateu, estreitando os olhos, aceitando o desafio.

-Pessoal, vamos comprar logo as entradas para o filme, sim? Não vai demorar muito para começar.-Eu disse, tentando evitar uma briga.

-Concordo.-Stéfan disse, cruzando os braços.

-Vamos então.-Thomas aceitou, se afastando de Lukas para ir até a bilheteria perto dali, tirando uma nota da carteira e comprando sua entrada. Cada um comprou a sua e antes de entrarmos na sala paramos numa bomboneria para comprar chocolate e outras “porcarias”, aonde por acaso também vendia pipocas e refrigerantes.

Quinze minutos depois, entramos na sala. Pegamos os lugares mais distantes da tela porque todo o resto estava lotado, e nos sentamos, eu ao lado de Stéfan, que estava ao lado de Lukas e que por sua vez ficou ao lado de Thomas, que parecia mais animado ainda.

-Se você ficar com medo durante o filme, pode pegar na minha mão, okay?-Thomas disse a Lukas, que apenas disse:

-Só se for para quebrá-la, seu imbecil.

E o filme começou. Tenho que dizer que no começo parecia bem legal, mas só bem no começo mesmo, porque não demorou muito para que eu percebesse que era um daqueles filmes melosos de romance, uma mistura de Titanic com sei lá, qualquer outro romance meloso. Veja bem, não que eu detestasse profundamente, na verdade eu até gostava, mas sabia que nenhum dos meus amigos gostariam.

Dei uma olhada nas pessoas a nossa frente, visíveis apenas pela iluminação que o filme disponibilizava, o que não as tornava mais que vultos simples, mas não era difícil de ver, lá na frente, um casal se agarrando e atrás deles outro casal. Uma mulher deveras velha numa das pontas, chorando, e um homem velho na outra ponta fitando uma mocinha na sua frente.

A grande maioria eram adultos comuns, algumas poucas crianças, bem poucas mesmo, e velhos. Eu estava olhando para um grupo de amigos que não paravam de rir quando senti Stéfan me cutucar, o que me fez indicar a cabeça para ele, para ouvir melhor.

-Que grande filme você escolheu.-Ele disse.

-Eu não sabia que era de romance!-Eu murmurei, tomando cuidado para falar baixo.-O nome é “Ósculo Perdido”, o que você pensa sobre ele?!

-E o Lukas vai matar o Thomas a qualquer momento. Ele já matou o gato da nossa vizinha quando era menor, não duvido que ele mate o seu tio.

-Não diga essas coisas... O Lukas é mais paciente do que...-Eu sorri amarelo, mas Lukas me interrompeu porque se levantou da cadeira e pegou o refrigerante que tinha, derramando todo na cabeça de Thomas, mas sem fazer alarde algum, de modo que apenas quem estava na nossa fileira pode ver.-Retiro o que eu disse.

Lukas então voltou a se sentar ao lado de Thomas, como se não tivesse feito nada. Do lugar aonde eu estava, pude ouvir Thomas rindo. Virei a cabeça para o lado a tempo de vê-lo dar um daqueles sorrisos e incrivelmente, puxar Lukas para si.

Okay, pode ser porque estivesse escuro, pode ser porque eu estivesse ficando louco, mas eu afirmo que vi Thomas beijando Lukas naquele momento, e meu amigo até tentou se afastar, mas aposto que não conseguiu.

Desviei o olhar, fitando o filme, aonde o protagonista dizia alguma coisa que magoava sua parceira, dizendo algo sobre mentiras e que tudo que ele tinha dito até aquele momento nunca passou de meras mentiras, mas que ele pedia desculpas e pedia para continuar.

Stéfan voltou a me cutucar, sussurrando no meu ouvido:

-Além de me trazer para um filme meloso, como é que você me deixa segurando vela?

-Não reclame porque eu também estou segurando vela aqui.

-Quero ir embora.

-Também quero.-Murmurei, afundando mais na cadeira do cinema enquanto ouvia um barulho surdo aonde Thomas e Lukas estavam. Me virei para olhá-los e, pela cara que Thomas fazia e pelo punho do meu amigo ainda levantado, parecia ter levado um soco.-Eu vou... Ao banheiro.

Me levantei, saindo de perto do dois antes que eles começassem a trocar socos e o pior recaísse sobre mim. Saí da sala de cinema e caminhei pelo corredor, entrando no banheiro e me fitando no espelho, lavando o rosto.

Ouvi alguns barulhos estranhos vindos de um dos privativos atrás de mim, mas tentei ignorar. Não era bom ficar se metendo em assuntos alheios, mas...

-Matthew... Sorria, vamos, sorria...!-Disse uma voz vinda do mesmo privativo.

-Não... Não... Senhor I-Ivan, não...-Murmurou outra voz, vinda do mesmo lugar.-Aaahh!

Engoli em seco, ficando paralisado por alguns segundos. Na minha sala tinha um menino chamado Matthew, e se eu não me enganava, ele era irmão de Alfred. Sempre fora bastante calado, diferente do irmão, e poderia ser que ali não fosse ele, mas enquanto ao Ivan, eu não tinha dúvidas. Tinha um professor com aquele mesmo nome, e o tom da voz era o mesmo.

-Está doendo... Aah!-Matthew gritou, mas eu não sabia se era dor ou de... Outra coisa.

-Vai ficar gostoso em breve...-O outro murmurou, o que me fez criar coragem para sair daquele banheiro.

Matthew, pelo menos se ele fosse o mesmo da minha sala, tinha prováveis 16 anos, cabelos loiros um pouco abaixo dos ombros e olhos azuis. Não quis nem pensar se aquilo fosse um estupro, porque se fosse... O que fazer?

Não tinha estômago para voltar a ver o filme, então saí do cinema e acabei de esbarrar com um dos seguranças do lugar. Era a minha chance de dizer algo, de dizer, sei lá, tem umas pessoas fazendo coisas estranhas no banheiro do cinema, não sei, pode ser estupro...?

-Você está bem?-O segurança perguntou, me fitando.

-Ahm... Eu... Eu vi...

Mas e se não fosse um estupro? E se Matthew estivesse ali por querer estar? Afinal, ele já deveria ter certeza do que queria, deveria saber se cuidar, e com certeza seria constrangedor ser encontrado por um segurança no meio... Daquilo.

-Você viu o quê?-O segurança me perguntou.

-O senhor pode dar uma olhada no banheiro masculino, por favor?-Perguntei. Pensei que seria melhor ser encontrado num momento íntimo do que ser provavelmente estuprado, o que causaria bem mais traumas.-Eu acho que... Tem alguma coisa errada lá.

-No banheiro masculino? Vou mandar alguém ver.-Ele disse, pegando um daqueles walk-talkies e falando com outra pessoa enquanto eu me afastava, andando pelo shopping. O filme provavelmente só iria terminar dentro de uma hora, e como eu não estava mais com ânimo algum para voltar a ver um romance meloso, decidi andar por aí.

Olhei algumas lojas, comprei um refrigerante e saí caminhando, despreocupado, embora a todo segundo sentisse uma sensação de estar sendo observado. Olhei para trás, procurando alguém suspeito, mas não havia muita gente e as que havia eram bem comuns.

Dei de ombros e voltei a andar, achando que deveria ser apenas minha imaginação, ouvindo de repente passos rápidos e, antes que me virasse para ver quem era, um braço passava por meu ombro e me fazia virar numa outra direção e por sua vez, me fazia entrar numa daquelas saídas de emergências sem ninguém.

O braço que me guiara até ali se afastou e quando eu ergui o olhar, vi uma figura albina sorrindo para mim enquanto tirava um cigarro do bolso e o acendia, logo pondo-o na boca.

-Você tem que ter cuidado por onde anda, moleque.-Gilbert riu.

-Gilbert?! O que está fazendo aqui?!-Eu exclamei, me surpreendendo. Como assim, todo o colégio tinha aparecido naquele shopping no mesmo dia e horário?!

-Vim passear com meu irmãozinho.-Ele respondeu, sorrindo alegremente enquanto tragava o cigarro.-Já que você já sabe sobre ele, não preciso esconder mais nada.

-Mas... E...

-Antes que você pergunte, só te puxei porque tinha um cara que vinha seguindo você desde o cinema. Por isso, tenha cuidado, okay? As pessoas não são tão boas quanto parecem... E não ande sozinho. Você não tinha chegado aqui com mais três pessoas?

-Como sabe de tudo isso? Você estava me seguindo também?

-Não, seu imbecil, acontece que o parquinho aonde meu irmão quis brincar fica bem ao lado do cinema, se você não notou, então eu vi toda a movimentação naquela área desde que cheguei, o que faz umas três horas.-Ele deu de ombros.

-Ah, entendi... Você viu... Viu...

-Se eu vi o Ivan e aquele outro moleque? Vi sim. O Matt chegou com os pais dele e o Ivan chegou sozinho... Aposto que os encontrou no banheiro, não foi? O Ivan já é bem conhecido, pelo menos entre aqueles que sabem, sobre esse fetiche que tem pelos jovens e loiros... Isso inclui você também.

-Eu?!-Exclamei, só então me tocando de que às vezes o Ivan era um tanto... Íntimo demais.

-É, moleque.-Gilbert riu com aquela risada única, tragando mais uma vez.-Você é tão inocente que chega a ser engraçado... Acho que é por isso que eu adoro pegar no seu pé.

-Ah... Bom saber.-Tino disse, pondo as mãos nos bolsos.-Eu acho que vou indo agora...

-Vai só? E se aquele cara te seguir de novo? Por que não vem comigo? Tenho que voltar para o parquinho antes que Ludwig se dê conta de que eu sumi, senão ele virá atrás de mim e vai se perder no shopping... Até porque, eu não aguento mais ficar rodeado por pirralhos, exceto meu irmão, porque ele é awesome que nem eu!

Ponderei a proposta. Se eu andasse só, era possível que algo ruim acontecesse, até porque eu nem sequer fazia ideia do propósito de alguém me seguindo, mas por outro lado, se eu andasse com Gilbert, Berwald poderia ficar com raiva... Mas não era como se ele fosse descobrir, era?

Gilbert já estava abrindo a porta para sair quando eu o segui, pedindo para que me esperasse. Ele sorriu maliciosamente e esperou, jogando o cigarro fora e caminhando ao meu lado. Quando voltamos ao parquinho, de longe eu vi o pequeno Ludwig ainda bastante entretido nos brinquedos. Gilbert se sentou num dos bancos por perto e tirou de dentro do bolso umas pastilhas, acho que para evitar fumar em público, e começou a comer.

-Você quer?-Me ofereceu, mas eu neguei, sem acreditar que ele era o mesmo cara que em trancara no porta-malas de um carro há alguns meses.

-Aonde estão Antonio e o Francis?-Perguntei, finalmente estranhando o fato de que ele estava sem seus amigos de sempre.

-O Tonio tá com a família. É o aniversário da mãe dele e todo mundo foi pra casa dele hoje, vai ter uma festa e tudo o mais. O Francis tá na psicóloga... Ou seria psiquiatra? Eu sempre confundo essas merdas...

-Psiquiatra?-Perguntei, sem imaginar que tipo de problema o Francis teria.

-Ele é ninfomaníaco, ou será que você ainda não tinha notado?-Gilbert sorriu maliciosamente por alguns instantes, voltando-se para olhar se Ludwig estava bem e então me fitando novamente, conversando.-Você sabe, ninfomaníaco, viciado em sexo.

-Ah... Entendi...-Comentei, realmente entendendo o porquê do Francis ser daquele jeito.-E ele é... Gay?

-Não, quero dizer, sei lá. Se ele gosta, ele vai fundo sem querer saber se homem, mulher, animal... Mas, na verdade, eu nem o culpo. Ele nem sempre foi assim... Ficou dessa forma quando tinha uns 12 anos. Nós três já nos conhecíamos e andávamos todos juntos porque todos nos excluíam, mas o Ivan já dava aula e um dia, estuprou o Francis. Lógico que ele não quis contar para ninguém, na verdade, ele só veio nos contar uns anos atrás... Mas ele disse que não contou por medo porque, lá no fundo, ele disse que tinha gostado. Mas nós éramos os amigos dele, claro que não íamos abandoná-lo.

-O Ivan?! O meu professor?!

-O “nosso” professor, moleque. Ainda hoje ele olha com uma cara bem pervertida para o Francis, você devia ver. Lembre-se: Loiros e jovens, moleque. Ah, nem preciso dizer que isso é segredo, não é? Se você contar para alguém, eu te mato, então não conte...

-E por que está correndo o risco de me contar?

-Porque você parece um pouco com a gente. Não sei explicar melhor, mas você é confiável... Eu gosto de você, até porque, se não gostasse, não pegaria no seu pé.

-Estranho esse seu jeito de expressar afeto.-Eu ri, vendo que ele ria também.-Não tem problema se outras pessoas do colégio verem seu irmão aqui?

-Não, se nós estivermos separados... Veja bem, eu não me dou bem com os meus pais. Se eu terminar o ensino médio, o que eu podia ter feito há três anos já, a primeira coisa que eles vão fazer é me mandar para algum outro país, para algum colégio interno, ou seja, vão me separar do meu irmão, e eu não posso deixar Ludwig sozinho com meus pais, já que eles vivem brigando e viajando. Não posso dizer a ninguém sobre meu irmão primeiro porque isso acabaria com a minha reputação de “mau” no colégio (que é o que faz com que os professores me deixem em paz) e segundo porque se alguém soubesse, é provável que se vingasse de mim através do meu irmão. Os únicos que sabem disso, além da minha família, são você, o Tonio e o Francis, entendeu?

-Tá, mas... É por isso que você veio repetindo? Para proteger seu irmão? Mas você já é maior de idade, pode fazer o que quer e...

-Não é bem assim. Eu sei que assim que eu terminar o ensino médio, eles vão me mandar para outro país querendo eu ou não, porque vão usar meu irmãozinho como ferramenta. É bem fácil que, caso eu me recuse, eles mandem o meu irmão, e não a mim, para um colégio interno também.

-Mas você não pode ficar nisso para sempre.

-Eu sei, e é por isso que estou pensando em terminar o colégio nesse ano ainda, mas assim que eu terminar, vou fugir junto com o Francis e o Tonio. Vou pegar todo o dinheiro que tenho na minha conta, que não é pouco, e vou formar uma banda de rock com meus melhores amigos, então, quando eu estiver rico, mais rico que os meus pais, vou pegar meu irmãozinho de volta!-Ele exclamou como se estivesse falando o plano mais ardiloso de todos.

-Boa sorte...-Eu comentei, sem saber mais o que falar enquanto Gilbert parecia maravilhado consigo mesmo.

-Obrigado, moleque, eu sei que sou awesome! Kesesese! Até porque nós já acertamos tudo. O Francis também quer fugir, ele não aguenta mais visitar a psiquiatra porque ele diz que está sendo obrigado a ir, e o Tonio disse que também está cansado de estudar, e também disse que quer ter muito dinheiro par ajudar a família dele. Mas e você, moleque, quais são seus planos para o futuro?!

-Eu... Quero ser médico.-Respondi. Tinha sido a primeira coisa que viera à minha cabeça, uma vez que eu nunca parara para pensar realmente no assunto.

-Médico? Que chato...-Gilbert bufou, virando-se novamente para ver se Ludwig estava bem, voltando-se para mim novamente.-Mas, se você gosta, não tem problema, eu acho... O que importa é ser awesome, e não sua profissão!

Eu ri diante da animação de Gilbert. Eu nunca que ia imaginar que ele era tão cuidadoso com seu irmão e com seus amigos, tampouco que Francis tinha “traumas” e que Antonio provavelmente viera de uma família pobre.

As pessoas eram tão diferentes quando as se conhecia. Gilbert me ofereceu uma outra pastilha e ficamos conversando até que todo mundo no cinema começou a sair, o filme tendo acabado, o que aconteceu na mesma hora que Ludwig chamou o irmão para brincar num daqueles jogos de tiro ao alvo. Gilbert se levantou, disse um “tchau, moleque” para mim e saiu, seguindo um Ludwig bastante alegre, que antes também tinha me dado um “oi e um tchau, Tino”.

Me levantei do banco aonde estivera sentado e esperei que todos saíssem. Tentei não aparentar nada quando vi Matthew e os pais dele saindo do cinema, com Ivan saindo pouco depois, e não demorei a ver Thomas, Lukas e Stéfan saindo por último, o irmão do meu professor com manchas roxas no rosto e Lukas com os lábios inchados, além de um Stéfan emburrado.

-Parabéns por me abandonar, seu idiota.-Stéfan disse, cruzando os braços.

-É que eu fui comprar uns doces e encontrei um amigo meu fora do cinema, e então a gente começou a conversar e quando fui ver, vocês já estavam saindo.-Menti, sorrindo amarelo e pedindo desculpas.-Mas o filme é bom?

-A mulher morre no final.-Lukas me disse, também cruzando os braços.-Mas acho que se o seu tio continuar com essas coisas, a mulher não vai ser a única morta hoje.

-Tio Thomas, não seja tão...

-Uma ameaça bem estranha para quem tinha até gemido em um dos beijos...-Thomas riu, o que fez com que Lukas lhe desse uma cotovelada nas costelas, que logo fez o sorriso desaparecer.

-Eu não gemi, seu imbecil.-Lukas disse, sem perder a seriedade.

-Então... Vocês querer ir embora ou querem jantar alguma coisa?-Eu sorri, tentando amenizar o clima.

-Quero ir embora.-Stéfan disse ao mesmo tempo que Lukas.

-Okay, então... Nós também estamos indo, não é, tio Thomas?-Perguntei, vendo-o se virar para mim ainda com uma careta de dor enquanto assentia.-Me desculpem por hoje... Até segunda-feira!

Eles já estavam indo embora quando exclamei, e uma vez com o irmão do meu professor, me virei para ele e perguntei:

-O que foi aquilo? Se eu soubesse que estava atrás do Lukas, eu não teria vindo e teria pedido para que o Stéfan também não viesse!

-Eu não estava atrás dele, mas é que... Ele me atrai, sei lá.-Thomas sorriu daquele jeito selvagem, ainda massageando as costelas.-Além de que eu não sou gay, uma vez que sinto atração apenas por ele e não por outros homens.

-Oh, céus...-Levei uma das mãos até a cabeça, sem nem querer saber com que cara Lukas e Stéfan iriam me olhar na segunda.

Logo depois, fomos embora dali, eu sempre sentindo a estranha sensação de estar sendo observado, que só parou quando finalmente cheguei em casa. Thomas pegou alguma coisa na geladeira e deitou no sofá enquanto eu tirava os sapatos e procurava por Berwald, mas ele não parecia estar em casa.

Olhei nos quartos e nos banheiros, mas ele realmente não estava ali. Então, meia hora depois de chegarmos, ouvi o barulho da porta da frente se abrindo e ele entrou, trazendo consigo alguns sacos com o jantar, além do sobretudo no outro braço.

-Bem vindo!-Eu exclamei, indo ajudá-lo com os sacos, mas então ele me abraçou com força, deixando as comidas caírem ruidosamente no chão, assim como todo o resto.

-Senti sua falta.-Ele murmurou, colando minha cabeça em seu peito enquanto eu conseguia ouvir seu coração. Era engraçado o quanto batia mais rápido que o normal.

-Eu também.-Respondi, abraçando-o. Não era mentira.


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Notas finais do capítulo

Como prometido, mais um chap na sexta/sábado ~~
Este chap não foi muito focado no Berwald porque, enfim, me foquei mais nos personagens ao redor do Tino.

Espero que tenham gostado ~~

Kisses!

P.S.> Perdoem quaisquer erros porque este chap não foi betado a tempo de ser postado, então... Foi mal aew.