Frostnatter escrita por Blue Dammerung


Capítulo 13
Capítulo 13: Artigheter


Notas iniciais do capítulo

"Não há nenhum problema tão terrível que você não possa adicionar um pouco de culpa e tornar ele pior ainda." Gilbert tentando consolar um Antonio que acabou de bater o carro dos pais.



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O dias que se seguiram foram, no mínimo, inexistentes, uma vez que para mim eles não passavam de espaços de tempos vazios e sem vida alguma, nada que me prendesse, nada que me chamasse atenção.

Thomas disse algo que depois não recordei e acho que acabei comentando sobre aquela criança, mas antes que falasse sobre tudo o que ela causara em mim, me calei. O que ela tinha feito para mim, a 'salvação' que ela me proporcionara pertencia somente a mim, um fato apenas meu que eu jamais dividiria com outra pessoa.

Era o meu tesouro mais precioso.

Nas vezes que eu sem querer passava em frente ao orfanato, resistia ao máximo a vontade de entrar, de invadir aquele lugar e pegar meu tesouro de volta, até que me dei conta de que não era sem querer que eu acabava parando ali. Caminhando sem rumo, eu apenas voltava ao lugar aonde minha casa estava, com ele, com aquela criança.

Eu precisava dele. Muito. Minha necessidade apenas aumentou quando o diretor do orfanato me ligou numa tarde e disse que no natal eles iriam fazer uma festa aberta a visitantes, e mesmo que eu não pudesse adotar nenhuma criança, ele me convidou.

E eu fui, mesmo sabendo que depois iria sangrar por dentro.”

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Saímos do banheiro depois do... Beijo. Eu achei que meu professor até fosse me tocar ou algo assim, mas ele apenas me beijou. O problema é que eu não sabia dizer se estava feliz ou não com aquilo, embora ainda estivesse meio triste.

Nós saímos do prédio e fomos até o estacionamento, aproveitando que grande parte dos alunos estava no pátio, de qualquer forma. Entramos no carro e fomos para casa porque, enfim, meu professor também não daria aula naquele dia.

-Você está melhor?-Ele me perguntou quando ligava o carro.

-Estou, vou ficar bem. Como sabia que eu estava no banheiro?-Perguntei, fitando por através da janela o colégio.

-Intuição.-Ele respondeu, dando de ombros. Logo estávamos nas ruas, mais vazia do que o de costume, ou seria porque tínhamos saído bem mais cedo desta vez?

-Estou preocupado com a nota que os professores que nos fiscalizaram vão nos dar. O Lukas e o Stéfan apresentaram muito bem, mas eu errei porque disse que a Suécia era um dos principais países do Eixo na Segunda Guerra Mundial. Eu tenho medo de eles acabarem achando que eu estava caçoando deles ou, sei lá... E o pior que eu nem sei de onde eu tirei essa Suécia.

-Nasci lá.

-Sério? Na Suécia? Ah... Que legal.-Sorri, tentando quebrar o silêncio antes mesmo que este se instalasse.-Ainda estou com medo da nota...

-Se você quiser, posso dar um jeito de mudar sua nota.

-Faria isso?! Mas... É contra as normas. O senhor não seria prejudicado nem nada? Poderia até perder o emprego e...

-Se você me pedisse, eu faria.-Berwald afirmou, virando uma esquina. Agora estávamos bem perto e não precisamos estacionar em frente a casa para ouvirmos um barulho alto vindo do quintal de trás. Lembrei que Thomas ainda estava ali, o irmão problemático do meu professor com um passado meio obscuro.

Descemos do carro e entramos em casa, logo indo até o quintal de trás. A medida que nós nos aproximávamos, eu notei que aquele barulho era deveras estranho embora ainda fosse familiar, e toda vez que se repetia, doía os ouvidos.

Fitei meu professor, que agora abria a porta que dava para o quintal, e ele não estava nem um pouco feliz, na verdade, parecia mais furioso do que em qualquer outra ocasião. Assim que Thomas nos viu, sorriu e acenou. Em suas mãos tinha uma coisa preta e...

-Viu?! Eu disse que ele tinha uma arma na gaveta das cuecas!-Thomas exclamou, o que me fez perceber que aquilo que ele segurava era um revólver e todo aquele barulho eram de tiros.

Antes sequer de eu dizer alguma coisa, Berwald correu até ele e, como se fosse treinado, o derrubou no chão sem dificuldades e tomou sua arma, descarregando-a e deixando que todas as balas caíssem na grama, e o olhar com o qual olhou para o irmão foi tão mortal que até a Medusa perderia para ele.

-O que diabos pensou que estava fazendo?-Perguntou, a voz cortante como uma navalha.

-Ah, eu estava entediado.-Thomas disse, se levantando com algum esforço.-Achei que vocês só fossem voltar mais tarde, eu ia devolver a arma, eu juro! E Berwald, você tem uma autorização do governo para usar esta arma, o documento também estava no meio das cuecas, não tem com o que se preocupar, eu...

-Exatamente. Eu tenho uma autorização, e não você. Dá próxima vez que mexer nas minhas coisas, eu lhe mato.-Meu professor disse, sério, entrando logo em casa e desaparecendo lá dentro, me deixando com um Thomas com cara de uma criança que acaba de ter sue novo brinquedo tomado pelo pai.

Eu suspirei, logo entrando em casa também, tirando os sapatos e subindo para trocar de roupa, encontrando meu professor no quarto que agora ambos dividíamos. Estava guardando a arma no fundo da gaveta aonde ficavam suas roupas íntimas, e quando me viu entrar, apenas fitou-me, em silêncio.

Eu também nada falei, certo de que não deveria fazer comentários sobre aquele assunto. Se ele tinha uma arma em casa é porque ele deveria ter uma razão para tal, embora eu achasse que a violência nunca deveria ser usada para resolver um problema.

-Fiz um curso na polícia de autodefesa antes de me mudar para cá. No final, pedi uma autorização para portar uma arma apenas para fins defensivos.-Ele disse então, fechando a gaveta e me fitando.

-Ah... Não precisava se explicar, tudo bem. Todos nós temos segredos e...-Tentei falar, mas ele me interrompeu.

-Não gosto que mantenha segredos comigo. Quero saber de tudo.

Me virei para ele, vendo que estava falando sério. Não era um pedido muito grande para quem morava junto já fazia um tempo relativamente grande, mas mesmo assim... Não era algo que eu fosse fazer de bom grado. Era como desenterrar todos os fantasmas do passado.

-Eu...

-Mas não quero que me conte agora. Quero que me conte quando sentir liberdade para tal, quando quiser que eu saiba. E então eu vou ouvir, mas não vou te julgar porque não tenho autoridade nem vontade para tal, apenas irei te ouvir.

Sorri, um pouco mais aliviado com aquilo. Era bom saber que ele não me pressionaria, o que me dava um tempo a mais para pensar em tudo que vinha acontecendo entre... A gente. Peguei uma muda de roupas e me troquei no banheiro, e quando saí, no quarto não havia mais ninguém.

Pela janela pude ver que Thomas ainda estava lá fora, dessa vez mexendo em algumas plantas como uma criança que acaba de encontrar outro brinquedo para brincar. Me perguntei se ele estaria ali fora porque realmente queria ficar com as plantas ou se por um acaso do destino Berwald o tinha trancado do lado de fora.

Desci as escadas e encontrei meu professor sentado no sofá da sala, assistindo televisão e parando num canal de notícias que falava alguma coisa sobre um terremoto pequeno que provocou deslizamentos num país da América do Sul.

Me sentei na poltrona ao seu lado, prestando atenção a notícia, mexendo na barra da minha camisa quando ele falou como quem não quer nada.

-Ouvi que Gilbert foi até sua sala nesta manhã.

-Gilbert? Ah, sim, o The Bad Friends Trio... Foi, eles foram até minha sala para me perguntar algumas coisas, nada de mais.-Dei de ombros, sem contar sobre o que Gilbert tinha perguntado. Poderia ser que até os professores tivessem ouvido aquilo?

-Eles pegam no seu pé ainda?

-De vez em quando, mas eu acho que vão parar porque eu fiz um trato com o Gilbert e... Ahm... Só.-Menti, pensando se não teria falado coisas que deveriam permanecer não ditas. Se Berwald quisesse saber que tipo de coisa eu dei em troca para que Gilbert me deixasse em paz, eu teria que lhe contar sobre o incidente no parque e também sobre seu irmão, a quem Gilbert parecia querer proteger a todo custo.

-Trato?

-Foi, eu... Ahm... Prometi não contar para ninguém o que eles tinham feito comigo para que eles não fossem presos nem nada, e com isso eles disseram que me deixariam em paz.-Menti, me sentindo um pouco culpado, mas eu tinha dado minha palavra a Gilbert de que não contaria sobre Ludwig para ninguém, e eu cumpria as minhas promessas.

-Entendo.-Meu professor disse, me fitando como se dissesse que sabia que eu estava mentindo, mas então ele desviou o olhar, quem sabe deixando o assunto para lá. Como ele mesmo dissera, queria saber todos os meus segredos, mas era eu que tinha que contá-los por espontânea vontade.

Ficamos vendo televisão até a hora do almoço, quando fomos até um restaurante não muito longe e comemos calmamente, uma vez que Thomas tinha ficado em casa, realmente trancado do lado de fora. Convenci meu professor a levar a uma marmita para ele quando voltamos, mas ele pediu que eu entregasse porque ainda estava bastante irritado com o irmão.

Eu não o culpava, então apenas sorri e assenti, entrando no quintal de trás com a marmita numa das mãos e talheres na outra, logo vendo-o deitado sobre a grama e fitando o sol. Não parecia muito preocupado, aliás, parecia bem relaxado, como se não fosse a primeira vez que Berwald fizesse aquilo com ele.

Me aproximei, vendo-o se sentar e sorrir para mim animadamente.

-Hey! E aí? Trouxe minha comida? Ah, obrigado, cara! Puxa, eu nem consigo imaginar como seria o clima aqui em casa sem você pra controlar o Berwald.-Thomas disse, pegando a marmita e os talheres, começando a comer, sem reclamar, embora tenha sorrido ao ver o conteúdo da marmita.-Ele não esqueceu, afinal...

-O quê?-Perguntei, me sentando ao lado dele e abraçando as pernas. O sol estava quente, mas não terrivelmente quente, o que deixava o clima um tanto agradável aonde geralmente fazia sempre frio.

-Meu querido e amoroso irmão ainda se lembra das comidas que eu mais gosto e... Detesto.-Thomas riu, apontando para uma das comidas.-Eu odeio esse troço aqui, mas vou comer apenas para não dar o gostinho de vitória a ele... Embora ele tenha colocado esse aqui também, que eu adoro, o que me faz pensar que ele realmente está pensando em me perdoar, sei lá, me aceitar de volta.

Eu ri então, segurando um tufo de grama e o arrancando.

-Não vai achar ruim se eu disser que fui eu que escolheu a comida, e não Berwald, vai?-Eu disse.

-Ahá! Então lá se vai toda a minha esperança.-Thomas riu também, comendo.-Mas eu acho que Berwald vai me aceitar de volta um dia... Ele é uma boa pessoa, incapaz de fazer um mal de verdade a alguém, e é gentil também.

-Quando ele quer.

-É, quando ele quer!-Thomas riu mais ainda, mastigando e engolindo.-O Berwald tem um jeito só dele de fazer as coisas. Por exemplo, quando éramos crianças, eu era mais forte que ele, então ele sempre dava um jeito de me trancar em algum lugar e só me soltava quando nossos pais chegavam em casa. Mas também eu não o deixava em paz e, geralmente, quando ele me trancava, eu rasgava seus cadernos. Era engraçado porque ele ficava muito irritado!

-Não gosto de imaginar meu professor irritado.-Comentei, imaginando e logo desistindo de tal ato.

-O Berwald não era tão calado assim. Ele sorria, sabe? E com frequência, e gritava e falava palavrão, era mais normal, mas um dia ele falou algo sobre uma criança, não sei, e começou a realmente estudar e se esforçar para crescer mais ainda na vida, porque antes ele já era bastante aplicado.

-Uma criança?

-É, ele não me disse nada muito importante sobre isso, apenas que tinha achado uma criança e coisas assim. Não sei o que ele fez com ela, mas depois disso ele parecia sempre muito triste, abatido, e depois, ao invés de triste, ele apenas ficou sério e frio, acho que pra suportar a tristeza. Nunca mais comentou nada sobre ela, e eu também não fui louco para perguntar, mas, sabe, eu não esperava encontrá-lo tão feliz.

-Feliz?

-É porque você não o conheceu antes, mas se você acha ele frio e calado agora, antes era bem pior. Algo me diz que é como se ele tivesse encontrado uma coisa que há muito tempo tinha perdido, ou pode ser apenas uma suposição sem nexo algum, mas pra mim parece isso, sabe? Ele está feliz, ao menos mais que antes.

-Entendi...-Murmurei, apoiando o queixo sobre meus joelhos e fitando o céu azul, o vento agradável mexendo nos nossos cabelos.-Queria saber mais sobre meu professor.

-É só você perguntar a ele. Eu não acho que ele vá negar alguma a você, que conseguiu até convencê-lo a comprar alguma coisa para mim.-Thomas sorriu, colocando a marmita já vazia de lado e voltando a se deitar na grama, colocando as mãos debaixo da cabeça, relaxado.-Ah, sim, aquele seu amigo, qual o nome dele?

-Meu amigo?

-É, aqueles que vieram aqui quando vocês foram fazer aquele trabalho, no dia em que eu cheguei. Aquele com cara de poucos amigos, não o mais baixinho... Aquele que te chamou de imbecil também.-Thomas riu.

-Ah...-Eu pensei, lembrando.-Lukas?

-Lukas, é? Qual o nome dele todo? Você sabe?

-Eu acho que é Lukas Bondevik, mas não tenho certeza... Por que quer saber?

-Eu gosto do jeito dele. Por que não o chama para vir passar uns dias aqui? Ou quem sabe vocês poderiam marcar de sair e me levar junto, sei lá...-Thomas sorriu, voltando a se sentar.-Já que eles não vão poder vir aqui mesmo por causa do Berwald, nós podemos ir até eles.

-Ahm... Okay... Vou ver o que posso fazer por você.-Eu disse, sem entender muito bem para que ele queria falar com Lukas, mas decidi não perguntar nada.

-Valeu, cara!-Thomas sorriu, fitando o céu.-Você lembra a mim mesmo na minha infância... Sempre tão caridoso...!

-Aham, sei.-Eu sorri, me divertindo com Thomas até que ouvi alguém me chamar da porta. Me virei apenas para ver Berwald encostado na mesma, de braços cruzados e parecendo não muito feliz.

-Opa, hora de ir, pequeno Tino.-Thomas disse enquanto eu me levantava e espalmava as roupas para tirar o pó.

-Você não vem?-Perguntei, vendo-o ainda deitado.

-Eu conheço o Berwald. Ele só vai me deixar em casa quando, por acaso, a deixar aberta sem querer, até lá é melhor eu ficar aqui para não irritá-lo mais, afinal, a casa é dele e eu sou apenas um convidado.

-Okay, então... Até mais tarde.-Eu disse, me virando e saindo para caminhar até Berwald, que me deu passagem e, quando eu entrei, fechou a porta atrás de si. Me olhava com um olhar estranho, quase que possessivo.

-Não deve se aproximar muito de Thomas. Ele é má influência para você.-Berwald disse enquanto eu ia me sentar no sofá e me seguia, sentando-se ao meu lado.

-Ele não disse nada de mais...-Eu comentei, ignorando o superprotecionismo do meu professor.-Ele falou sobre você quando era pequeno.-Eu sorri então, fitando o chão.

Meu professor nada disse, então não pude saber se ele tinha ficado com mais raiva ou se tinha ficado feliz por eu saber mais sobre ele.

-E me contou também sobre uma... Ahm... Criança.

E foi aí que ele, pela primeira vez, me olhou realmente surpreso, como se não esperasse por aquilo. Também senti uma sensação familiar, como se não fosse a primeira vez que eu via meu professor, que eu olhava em seus olhos... Mas ele então assumiu uma expressão mais séria, escondendo a surpresa, embora ao invés de me fitar como fazia de costume, olhou para o chão, o que tornava as coisas mais suspeitas.

-Eu acho que... Quero saber seus segredos também, assim como você quer saber os meus.-Eu disse, corando um pouco.-Mas não acho justo exigi-los quando eu ainda não contei nada, então... Só me conte quando quiser, tudo bem?

Ele levantou o olhar para mim então, os olhos esboçando alguma coisa que eu não conseguia identificar, até que assentiu, em silêncio, voltando-se para a televisão novamente. Durante todo o restante do dia nada fizemos além de conversar sobre coisas comuns (sendo que 90% da conversa eram de falas minhas) e ver televisão.

Quando anoiteceu, comemos sanduíches feitos por mim, que eu acho que estavam bons, e antes de lavar a louça pude ver que Berwald, por acaso, deixava a porta do quintal de trás entreaberta com um prato tendo um sanduíche ao lado da mesma. Sorri. Thomas tinha razão, Berwald era gentil quando queria.

Lavei a louça e meu professor me ajudou a guardar a mesma, e quando terminamos, Berwald foi tomar banho e eu fui aprontar minhas coisas para o colégio amanhã, enquanto ele ocupava o banheiro.

Subi até o quarto e escolhi uma roupa no guarda-roupa, logo o vendo sair do banheiro com uma toalha nos ombros, mas dessa vez vestindo a calça larga que usava para dormir. Tirou os óculos e se deitou na cama, de costas para cima, fechando os olhos e parecendo já dormir.

Embora fosse relativamente cedo, escolhi ir dormir também. Estava cansado por causa de todo o stress da feira e do fato que era grande a probabilidade de eu ganhar uma nota ruim, então eu tomei um banho rápido, me troquei, e me deitei na cama ao lado do meu professor, puxando os cobertores para mim.

O clima tinha ficado mais frio que antes, e eu simplesmente não sabia como Berwald conseguia dormir tão pesadamente sem se enrolar todo. Puxei um lençol até sua cintura, como antes, com medo de cobri-lo totalmente e acordá-lo sem querer, me acomodando melhor na cama em seguida.

Fechei os olhos e procurei dormir, lembrando do beijo que ele tinha me dado naquela manhã. Não fora ruim, na verdade, eu até gostara, mas ainda tinha medo do que poderia acontecer, medos das consequências, medo de muitas coisas... E dúvidas.

Quem seria aquela criança, e o que ela poderia ter feito para meu professor ficar tão... “Vidrado” nela? Seria o filho de alguma amante que partiu sem deixar rastros? Seria o filho de um amigo? Seria a alma gêmea dele reencarnada?

Apertei os olhos fechados com mais força, tentando esquecer aquilo. Não tinha que ficar duvidando do meu professor, que tinha me ajudado e cuidado de mim sem pedir nada em troca. Eu iria esperar ele decidir me contar, mesmo que tivesse que agonizar, de certa forma.

Adormeci pouco tempo depois, e naquela noite tive pesadelos com sangue, com neve e com aquela silhueta escura que geralmente também aparecia, mas dessa vez, ela tinha mais detalhes que o normal, e ao invés de ser uma sombra escura que mais se assemelhava a um monstro, tinha a forma de um homem terrivelmente familiar...

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-Você conseguiu encontrá-los? Não me diga que lhe paguei uma fortuna para nada.

-Encontrei. Aqui está o endereço deles... Se quiser fazê-los desaparecer, seria mais fácil nós fazermos esse trabalho. Você é civil, não sabe nada sobre isso.

-Mas sou eu que tem problemas a acertar com eles. Preciso da sua ajuda para conseguir capturar um deles no momento que estiver só, porque se estiverem juntos, não vai dar certo.

-Temos que vigiá-los e agir na hora certa, mas isso vai custar mais caro. Tem certeza que quer continuar? Não sou nenhum moralista, mas você sabe das consequências, não sabe? Enfatizamos bastante esse assunto antes de você assinar o contrato, e devo lembrar que uma vez que fazemos nosso trabalho, pulamos fora e tudo fica a seu cargo.

-Só me ajudem a pegar um deles e então me viro.

-Muito bem então, os meus melhores homens vão ficar a sua disposição vigiando seu alvo 24 horas por dia sem descanso. Na primeira oportunidade, vamos capturá-lo. Quanto ao pagamento...

-Em dinheiro. Aqui está uma metade, a outra lhe darei quando conseguir o que quero.

-O senhor sabe negociar...

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Na manhã seguinte acordei com olheiras sob os olhos. Por causa dos pesadelos, não tinha dormido muito bem, o que me deixou deveras cansado e quase que não saio da cama. Me levantei, fui até o banheiro e tomei um banho rápido, me vestindo e voltando ao quarto, notando que meu professor já tinha acordado provavelmente há muito tempo.

Desci as escadas coçando os olhos e encontrei primeiro Thomas dormindo no sofá, roncando relativamente alto, e então meu professor na cozinha, sentado a mesa bebendo uma xícara de café enquanto lia o jornal.

-Bom dia.-Eu disse, me sentando a mesa e tomando um copo de leite apenas, uma vez que meu estômago também não estava muito disposto.

Berwald assentiu, me dando um bom dia mudo enquanto continuava a ler o jornal. Tomei alguns outros copos de leite e subi para escovar os dentes, e quando desci já com a mochila nas costas embora me apoiasse nas paredes de tanto sono, meu professor já esperava por mim do lado de fora.

Saímos de casa e logo íamos para o colégio, completamente vazio naquela hora, o que era bom. Nem queria saber que tipo de escândalo seria causado se eu e Berwald fôssemos descobertos... Não que tivéssemos feito alguma coisa de errado, era só que... As pessoas geralmente chegavam a uma opinião errada antes de saberem a verdade.

Paramos no estacionamento e deixamos o carro, logo entrando no prédio do colégio. Me virei então para Berwald, que não teria nenhuma aula em minha sala naquele dia, e uma vez que não podíamos nos falar no intervalo para que não levantasse suspeita, era provável que só no fim do dia voltássemos a ficar juntos. Não que... Eu... Me importasse muito com isso... Eu acho...

-Até mais tarde, professor.-Eu disse, sorrindo enquanto corava um pouco.

Eu achei que, como de costume, meu professor apenas assentisse ou então dissesse um “até” e se afastasse, mas longe disso, ele se aproximou e se abaixou para beijar meu rosto, se afastando então e caminhando pelo corredor contrário ao meu.

Fiquei por alguns minutos ali, vendo ele desaparecer ao virar outro corredor. Levei uma das mãos até minha bochecha, ainda sentindo os lábios dele ali. E sorri bobamente, sem saber o que falar nem fazer porque tinha sido algo tão inesperado e... Gentil que sorrir fora a minha única reação.


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Notas finais do capítulo

E aqui está, como prometido, mais um chap ~~ Agora acho que o próximo só vou postar mesmo na próxima semana, provavelmente num sábado ou num domingo...

Ah, queria dizer que, por favor, perdoem quaisquer erros mas me digam quais são, sim? Não tive tempo de mandar para a minha beta porque senão demoraria mais uma semana, então postay logo de uma vez. Por favor, sejam compreensivos //apanha.

Mas enfim, espero que tenham gostado! Me desculpem também se tiver ficado meio pequeno, mas vou tentar aumentar os próximos chaps ~~

KISSES E VEJO VOCÊS NO PRÓXIMO CHAP!

P.S> O tempo de demora do próximo chap é diretamente inverso ao tanto de reviews que recebo, então quanto mais reviews, menor o tempo de espera ~~