Frostnatter escrita por Blue Dammerung


Capítulo 10
Capítulo 10: Saapuminen Veljensä.


Notas iniciais do capítulo

"Porque perder tempo aprendendo quando a ignorância é instantânea?" - Francis, Antonio e Gilbert sobre o simples fato de estudar e aprender.



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O sol nascera. O orfanato já a esperava. Tudo estava preparado para aquela silenciosa e dolorosa partida. Ainda enrolada nos cobertores enquanto respirava normalmente, a levei nos braços e desci pelas escadas do prédio procurando, quem sabe, prolongar aquele momento um pouco mais.

Chegamos á rua ainda deserta. Liguei para o táxi e enquanto esperava passou pela minha cabeça o quanto estranha aquela imagem de nós dois parecia ser. Ligados não por um elo familiar e tão pouco de amizade, apenas um acaso do destino.

Duas almas interligadas por uma precisar da outra, pois num deserto de infelicidades e diferenças, almas assim se encontram, se acham, se identificam e se aproximam como se fossem parte do mesmo elo. Meio poético, eu sei.

Não era amor e tampouco paixão, apenas uma necessidade mútua de sentir um o toque e a presença do outro. Segurança, afeto e todas aquelas emoções porque infelizmente éramos seres humanos destinados a depender, mesmo sem querer, de alguém.

O táxi chegou. Entrei no carro com a criança em meus braços e mandei que fosse ao orfanato mais próximo, e sem fazer mais perguntas, o motorista deixou o acostamento e lá fomos nós como se atravessássemos um corredor da morte, cada vez mais perto do fim.”

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Na manhã seguinte eu acordei tarde, quase na hora do almoço. Vesti minhas roupas mais simples apenas para ficar em casa e desci as escadas, logo vendo Berwald mudando freneticamente os canais da televisão enquanto se sentava no sofá.

As imagens da noite anterior voltaram à minha cabeça, e como um maldito reflexo, corei. Na verdade, durante a noite inteira aquelas imagens tinham vagado pelo meu cérebro, inclusive nos meus sonhos.

E por falar em sonhos, já tinha notado que fazia um tempo que eu já não sonhava mais com neve, sangue e aquela silhueta que sempre apareciam. Agora eram apenas imagens comuns, figuras disformes e sem sentido que eram coisas normais diante de sonhos, ou então eu nem os tinha, apenas dormia.

Passei por ele na sala e fui em direção a cozinha, sem saber o que fazer.

Noite passada ele dissera que sentia atração por mim, que me desejava todas as vezes que me olhava e que por isso bebia para não ceder a esta tentação, e o que eu deveria fazer diante disso? Agir normalmente? Vestir quilos de roupas para esconder mais meu corpo? Ignorá-lo? Eu não sabia o que fazer.

E também ainda estava meio assustado. Claro que eu confiava no meu professor, era o mínimo que eu podia fazer diante de toda a ajuda que ele me dera, mas mesmo ele me dizendo que jamais voltaria a fazer aquilo, eu ainda estava inseguro.

-Tem almoço na geladeira. -Ele disse da sala, ainda mudando de canais, provavelmente entediado.

-Ah, ok. -Abri a geladeira, agindo normalmente. Perguntei-me se ele estava com raiva, se estava magoado ou apenas o sério de sempre. -Foi o senhor que fez?

-Pedi do restaurante. -Ele respondeu, se levantando do sofá e vindo até a cozinha, onde eu pegava o almoço e colocava na mesa para comer, assim como pratos e talheres, mas ele negou, deixando claro que já tinha almoçado. Sentei-me e comecei a comer. -Está bem?

-Estou bem. -Respondi, fitando meu prato durante as garfadas. -O senhor dormiu bem? O senhor já pode dormir no seu quarto, posso dormir na sala, meus ferimentos não vão abrir. Na verdade, eles já estão quase totalmente curados.

Ele assentiu, se sentando e entrelaçando as mãos sob o queixo, provavelmente pensando em alguma coisa, vez por outra olhando para mim e então desviando o olhar.

Um silêncio pesado se instalou, e quando terminei de comer acabei por colocar um pouco mais de comida no prato apenas para ter algo para fazer, constrangido.

-Está com medo de mim? -Ele perguntou então, me encarando.

Levantei meu olhar para ele e então voltei a desviá-lo.

-Eu... Ahm... É que... O senhor me assustou um pouco e... Mas estou bem, eu juro. Desculpe por fazer isso com o senhor, é meio uma tortura, não é? Desculpe, deve doer, mas não podemos... Fazer isso. O senhor é meu professor e ambos somos homens e... Desculpe, é minha culpa. Vou tentar não... Ahm... Chamar muita atenção para o senhor.

-Não respondeu minha pergunta e mentiu enquanto a resposta da outra. -Ele disse.

-Não estou com medo do senhor, sei que o senhor não vai me fazer mal... Mas sobre o que eu menti? Estou falando a verdade, eu...

-Sobre estar bem. Você não está bem.

-Claro que estou não estou sentindo nada e...

-Não está bem. Ainda não sorriu nenhuma vez hoje. -Ele disse e por alguns segundos vi seu rosto assumir uma expressão menos séria, quase que “meiga”, mesmo que não estivesse sorrindo.

Mas isso me fez sorrir mesmo que fosse um sorriso amarelo enquanto mais uma vez pedia desculpas e ria apenas para quebrar o clima pesado. Terminei de comer e me levantei da mesa, indo até a pia para lavar a louça enquanto Berwald me observava.

E assim foi. Aquele domingo foi bastante calmo. Não saímos de casa e passamos o dia vendo televisão, mesmo que a programação não fosse a melhor, e o silêncio que se instalava não era o sufocante, mas o agradável.

Semanas passaram desde então. A convivência com meu professor estava se tornando mais fácil, mais calma, e mesmo que eu o ainda flagrasse vez por outra bebendo o uísque que o acalmava, ele não tinha mais feito aquilo, quero dizer, me tocar.

Eu já tinha uma chave da casa e tínhamos ajeitado nossos horários para que eu sempre chegasse antes que ele no colégio para não deixar suspeitas, e nas saídas, eu ia metade do caminho a pé e então ele me encontrava e me levava a outra metade de carro, exceto nos dias que ele dava aula até tarde, que era quando eu voltava só para casa.

As refeições eram feitas por mim. Na verdade eu até gostava de cozinhar, me sentia mais útil, assim como a limpeza da casa nos fins de semana e a lavagem de roupas. Quando saíamos, evitávamos lugares lotados demais a fim de não sermos vistos por nenhum aluno do colégio ou funcionário.

Tudo estava correndo bem, e durante muito tempo eu não tinha sido tão feliz quanto era agora.

Mas algo estava me preocupando. Eu não tinha recebido notícia alguma dos meus pais, e toda vez que pensava neles, mesmo que sentisse uma pontada de simpatia, afinal, eram meus pais, também acabava por ter um mau agouro, um mau pressentimento, como se algo ruim fosse acontecer e tivesse ligação com eles.

Enfim, com os dias passando tão rapidamente, de repente faltavam apenas dois para a feira de trabalhos de “Integração de Séries” no colégio, que antes era apenas uma simples apresentação, mas que agora era uma verdadeira feira que se estenderia por todo o pátio e várias salas do prédio da escola.

O detalhe era que ainda não tínhamos feito quase nada.

Nosso tema era a Segunda Guerra Mundial. Tínhamos que fazer um painel que, ainda bem, já estava feito, uma maquete e decorar e explicar todo um texto, porque várias pessoas da cidade viriam nessa feira, uma vez que o colégio fizera publicidade da mesma até no jornal.

Lukas e Stefán estavam pegando no meu pé. Eles que tinham feito o painel porque no dia eu não pudera ir, então eu teria que ajudar no próximo trabalho sem nem pensar em furar com eles. O problema era que Lukas já dissera que não poderia ser na casa dele e Stefán dissera o mesmo graças ao fato de que sua família lotaria sua casa para uma festa de um parente.

Ou seja, a única opção era a minha casa, a de Berwald, para ser mais exato. E como amanhã seria sábado e já estava acertado de ser lá em casa, eu teria que convencer meu professor para que passasse o dia fora, pois se eles o vessem ali, descobririam tudo sobre morarmos juntos e tudo o mais.

Por isso, quando meu professor chegou em casa naquela noite enquanto eu estava na cozinha terminando de fazer o jantar, estava decidindo entre falar a verdade ou inventar qualquer história sem pé nem cabeça para tirá-lo de casa durante todo o sábado.

Ele tirou os sapatos e os deixou na sala, assim como o costumeiro sobretudo e maleta, indo até a cozinha e se sentando a mesa enquanto eu colocava o jantar sobre a mesma. Sentei-me e começamos a comer.

-Boa noite, professor. -Eu o cumprimentei como sempre, sorrindo. Ele assentiu enquanto comia. -Como foi o dia do senhor?

Ele deu de ombros num “normal” mudo.

Ponderei se deveria falar logo da feira ou esperar um instante, tentando descobrir em qual das ocasiões ele provavelmente teria mais raiva, e acho que ele notou que eu estava com algo na cabeça porque ergueu o olhar da comida e me fitou, perguntando mudamente o que havia de errado.

Engraçado como em apenas pouco mais de um mês de convivência eu já conhecia quase todas suas expressões, suas variações de sério e toda sua linguagem corporal, o que era preciso em virtude que Berwald não morria de amores por conversar.

-O senhor sabe da Feira que vai acontecer no colégio? -Perguntei tentando começar o assunto enquanto apenas mexia na comida com o garfo. Ele assentiu e continuei. -Pois é... O senhor vai fiscalizá-la junto com os outros professores?

-Provavelmente. -Disse, querendo saber aonde eu queria chegar.

-Bem... É que eu e meu grupo só fizemos um dos três trabalhos totais até agora e... Precisamos de um lugar para fazer os outros dois, mas não pode ser na casa de nenhum deles e... Eu queria saber se... Podia ser aqui, por favor? -Perguntei, fitando-o nos olhos e tentando convencê-lo.

Ele ficou em silêncio por alguns momentos enquanto ponderava, então disse:

-Quer que eu saia. -Afirmou. -Tudo bem.

-Sério?! -Eu exclamei enquanto um enorme sorriso aparecia em meu rosto. Nunca imaginei que ele lidasse tão bem com aquilo. -Prometo que vou cuidar de tudo, não vou deixar que eles quebrem nada nem roubem nem ponham fogo na casa, eu juro! Muito obrigado, Berwald! Ah, quero dizer, professor.

Ele me fitou e repuxou um lado da boca, numa expressão bem mínima e quase invisível do que poderia ser um sorriso se ele praticasse mais.

-Pode me chamar pelo nome quando estivermos fora do colégio. -Disse, voltando a comer.

-Berwald? -Ri um pouco constrangido. -Obrigado de novo.

Ele assentiu e eu comecei a comer em silêncio. Quando ele terminou, levantou-se da mesa e deixou os pratos sobre a pia, indo até o balcão e apoiando as costas no mesmo, me fitando enquanto pegava um palito e o colocava na boca.

-Beilschmidt ainda lhe incomoda? -Perguntou, sério novamente.

-Quem? -Perguntei, terminando de comer e indo até a pia para lavar a louça.

-Gilbert Beilschmidt.

-Ah, bem... Eles ainda me tomam dinheiro quase todos os dias no colégio, mas eu estou aprendendo a evitá-los. Prefiro entregar todo meu dinheiro a eles do que levar mais uma surra. -Eu disse, rindo um pouco, mas Berwald não pareceu gostar.

-Não quer se vingar?

-Me vingar? -Perguntei, estranhando, virando o rosto para ele enquanto passava a esponja num prato sem entender. -Como assim?

-Tenho acesso aos arquivos permanentes de cada aluno.

-E o que eu faria com eles? Descobrir seus segredos mais sórdidos e chantageá-lo? É engraçado, mas apesar de tudo, eu não odeio Gilbert, Francis e Antonio. Na verdade, acho que não odeio ninguém... -Respondi, enxaguando o restante da louça.

Berwald me fitou com um olhar diferente, acho que com um pouco de admiração, e acabou por comentar:

-Tanto perdão não é para mim.

Sorri então, começando a guardar a louça nos armários.

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No dia seguinte, Berwald saiu bem cedo e me avisou que só voltaria por volta das 9 horas da noite, o que com certeza nos daria tempo o suficiente para fazer todos os trabalhos que restavam. Mandou que eu deixasse o celular no meu bolso caso ele ligasse e também fez com que eu decorasse os números da polícia, bombeiros e da ambulância.

-Vou ficar bem, eu prometo. Qualquer coisa, eu ligo para o senhor, pode deixar. -Eu disse enquanto ele abria a porta para sair de casa e vestia o sobretudo, então parando e se virando para mim.

-Não faça tolices.

-Tudo bem. -Eu ri diante de toda a preocupação dele.

Mas então ele levou sua mão até meu queixo e ergueu meu rosto, dando um beijo não nos meus lábios, mas na minha testa. O ato foi bem rápido, acho que justamente para que eu não me afastasse, mas uma vez que ele encostou seus lábios na minha pele, ficou ali por quase um minuto inteiro. Inspirou fundo e então se afastou, olhando nos meus olhos, até que se virou e saiu pela porta, indo em direção ao carro e entrando no mesmo, saindo pela garagem e desaparecendo na rua enquanto eu acenava de longe.

-Não é como se eu ou ele fôssemos morrer da manhã para noite. -Eu comentei comigo mesmo, logicamente achando que ele estava sendo super protetor.

Entrei em casa e assim que deu oito da manhã, me preparei para sair. Teria que passar nas casas de Lukas e de Stefán para ajudá-los a em o material, e como a distância era grande, saí cedo de casa, tendo certeza que havia trancado a porta.

Apertei a campainha algumas vezes e logo Lukas apareceu trazendo consigo dois sacos enormes repletos de materiais enquanto Stefán vinha logo atrás, com mais algumas sacolas pequenas e então despediram-se de sua mãe. Minutos depois caminhávamos em direção à casa de Berwald.

Só que na metade do caminho tivemos um pequeno problema porque o caminho que havíamos pegado que deveria nos levar até lá estava totalmente interditada, inclusive as calçadas, então tivemos que dar a volta, o que nos tirou mais vinte minutos.

O resultado foi que, quando chegamos finalmente casa do Berwald, eram quase dez da manhã. Tirei a chave do bolso da calça jeans que vestia e a encaixei na fechadura enquanto Stefán bocejava de sono e Lukas batia o pé de impaciência.

Foi quando eu ouvi um barulho alto vindo de dentro da casa ao mesmo tempo em que percebia que a porta estava aberta quando deveria estar trancada. Virei-me e fitei meus amigos, que pareciam não saber a causa da minha cara de espanto.

-O que é? Vai fazer a gente passar mais tempo aqui fora? -Lukas perguntou de mau humor.

-Ahm... É que... Vocês não ouviram isso? -Perguntei com medo que fosse um ladrão ou coisa assim.

-Isso o quê? -Lukas perguntou mais nervoso provavelmente por achar que eu estava apenas inventando uma história para irritá-lo.

Virei-me de volta para a porta e dei algumas batidas de leve, a empurrando lentamente, e para meu mais completo desespero, por incrível que pareça, ouvi alguém gritar de dentro da casa um “já vou, espere aí” ao mesmo tempo que passos rápidos eram ouvidos e a porta se abria completamente.

Não sei que tipo de reação eu deveria ter, mas simplesmente abri a boca, surpreso demais para acreditar no que via, e fiquei pasmo com a imagem nem um pouco preocupada que exibia-se com uma das mãos na porta e a outra na parede do outro lado, barrando a entrada enquanto um sorriso bastante brincalhão aparecia em seu rosto.

Mas essa não era a pior parte. O rapaz nos seus prováveis 24 anos, cabelos loiros e porte bem alto, porém mais baixo que Berwald, nada vestia exceto uma toalha pendurada em sua cintura, e por causa do sol, era bem perceptível as gotas de água que escorriam por seu corpo, o que me dizia que ele no mínimo estava no meio do banho.

Meu deus. Alguém... Acho que no mínimo ele era um mendigo, tinha invadido a casa do meu professor e agora me olhava como se eu fosse a piada da história... Berwald iria me matar se descobrisse. Ah, não, será que eu tinha deixado a porta aberta sem querer? Como puder são burro?!

-Posso ajudar em alguma coisa? -Ele disse, soltando a porta e cruzando os braços enquanto agora se apoiava na entrada, ainda com um sorriso divertido nos lábios. -Espero que não estejam vendendo biscoitos, meu irmão não deixou dinheiro pra mim, e é provável que quando ele chegue não me dê de qualquer forma, então...

-Irmão? -Perguntei enquanto arregalava ainda mais os olhos. -Você é o Thomas?!

-Olha aí, gostei, de onde você me conhece? Não me diga que namorei alguma prima ou tia sua, por favor, você sabe como é, o mundo é pequeno e... -Ele riu, desarrumando os cabelos e desviando o olhar de mim para meus amigos, principalmente para Lukas, onde demorou-se por alguns segundos até que voltasse ao mundo e voltasse a me fitar. -Ah, foi mal, quem são vocês mesmo?

-Eu sou Tino... – apresentei-me nervoso - Você não se lembra de mim? -Improvisei com um sorriso amarelo. Se ele dissesse que não me conhecia, deixaria bem claro que eu não morava ali, mas se eu dissesse de cara que morava com o Berwald e que logicamente morava ali, Lukas e Stefán descobririam, afinal, Berwald Oxenstierna não era um nome tão comum assim.

-Cara... Sei lá, você não me parece nem um pouco familiar. -Ele respondeu, coçando o queixo.

Engoli em seco, procurando uma saída.

-Tino, como é, a gente vai ou não vai fazer o trabalho? Se você tiver errado de casa, você vai levar uma surra, imbecil. -Lukas disse alto, colocando uma das mãos nos bolsos enquanto segurava o saco com a outra.

-Não errei, eu moro aqui, tenho até a chave! Eu que não sei quem ele é. -Respondi enquanto via Thomas fazer uma cara como se raciocinasse e então um sorriso aparecesse em seu rosto como se sentisse a compreensão de tão forte que ela veio.

-Você é o dono daquelas roupas pequenas lá em cima?! É você que tá morando aqui?! -Então ele começou a rir bastante alto, curvando-se enquanto perdia o fôlego que olhava para mim voltava a rir, até que uns dez minutos depois, ele parou, tomou ar e falou. -Por que não disse antes? Não sabia que meu irmão tinha um amigo tão próximo assim...

Ele saiu do meio e nos deu passagem. Eu entrei, seguido por Stefán e Lukas, e pedi que fossem até a cozinha e deixassem as coisas lá, onde faríamos o trabalho. Fitei Thomas fechando a porta e tão logo ele se virou, eu disse:

-Você é o irmão do Berwald?

-Lógico que sim. Sou o único e maravilhoso Thomas Densen Oxenstierna, e você, quem é?

-Sou Tino Väinämöinen. Eu moro aqui com Berwald. Não sabia que você vinha, ele não me disse, eu...

-Ele nem sabe. Se eu avisasse a ele, é provável que ele mandasse derrubar meu avião apenas para não me ver, mas tudo bem. Tenho certeza que ele vai amar ver seu irmão mais velho. -Ele riu, cruzando os braços.

-Olha meus amigos não sabem que Berwald mora aqui. Na verdade, ele é meu professor e meu amigo e ele saiu justamente para que pudéssemos fazer o trabalha da escola sem ninguém suspeitar que tenho alguma ligação com ele, entendeu? Então, por favor, senhor Thomas, não diga nada, ok?

-Olha carinha, posso pensar no seu caso. Enfim, tô morto da viagem, então se você não tiver mais nada pra me dizer, vou subir pra dormir, ok? Não grite nem faça barulho alto, senão eu desço e mato todos vocês. -Disse a última parte sério, mas então um enorme sorriso brincalhão apareceu e ele riu. -Brincadeira, cara. Enfim, até mais tarde.

Ele se virou e caminhou em direção das escadas, subindo-as e desaparecendo no segundo andar. Suspirei, rezando para que meus colegas não suspeitassem de nada. Fui para cozinha e vi que eles já tinham arrumado tudo e até começaram.

Aproximei-me com um sorriso amarelo, dizendo:

-E então? O que faremos antes?

-Quem era aquele cara? Ele é muito estranho. E me irrita. -Lukas disse enquanto pegava uma régua e media o isopor.

-Ah, bem, ele é irmão do meu pai, só que não se lembrava de mim porque ele sempre morou no exterior e nunca nos visitou. -Inventei, tentando fingir ao máximo que estava falando a verdade. Lukas me fitou como se notasse a mentira, mas nada disse em relação a isso.

-Nossa, que grande irmão ele é. -Deu de ombros.

-Ele é estranho. -Stefán disse, pegando algumas canetas.

-Ah, ele tem um bom senso de humor. - Ri indo os ajudar.

O resto do dia até a chegada da noite nós ficamos fazendo o trabalho sem parar, e quando paramos, estávamos todos com fome, cansados, com dor de cabeça e com mau humor, principalmente Lukas.

Fizemos uma maquete do mapa do mundo apontando os países que lutaram na guerra e ainda colocamos suas bandeiras e seus nomes, e apesar de ter sido feito por mãos principiantes, ficou bastante legal.

Também decoramos um texto enorme e fizemos questão de repetir várias vezes para não esquecer de jeito nenhum. Guardei a maquete num armário vazio da cozinha assim como o material que sobrara e os acompanhei até a saída.

-Bem, vejo vocês na segunda, não é? -Eu disse, abrindo a porta e esperando que passassem por mim.

-Não se esqueça de levar a maquete nem do texto também, ouviu? -Lukas disse, passando por mim já com as mãos nos bolsos, levantando os olhos um pouco mais para atrás de mim enquanto eu ouvia passos apressados vindo da escada e então da sala. Virei o rosto, vendo Thomas se aproximar com um enorme sorriso no rosto, vestindo apenas uma bermuda.

-Ah, vocês já vão? Eu ia comprar uma cerveja pra gente. –Riu divertido, colocando as mãos dentro dos bolsos.

-Não seja estúpido. Nós não podemos beber. -Lukas respondeu e Stefán assentiu com a cabeça.

-Quem disse? -Thomas riu, se aproximando mais um pouco e ficando bem ao meu lado, mas os olhos pregados em Lukas.

-O seu rabo, idiota. Claro que foi a justiça. Não sabia que tinha gente burra assim na sua família, Tino. Ou quem sabe talvez seja doença. Cuidado para não pegar essa burrice crônica. -Lukas falou em total tom de deboche.

Thomas saiu do meu lado e atravessou a porta, ficando bem de frente para Lukas, e nessa hora eu realmente achei que meu colega fosse levar um murro, mas a única coisa que Thomas fez foi levar a mão até seu queixo e erguer o rosto dele, sorrindo numa expressão tão maliciosa quanto... Sexy.

-Você é bem fofo... -Thomas disse enquanto passava a língua pelos lábios.

-E você é um pé no saco. -Lukas respondeu, batendo na mão do irmão do meu professor e se afastando em direção a rua. Stefán me deu um último tchau e seguiu o outro, correndo para alcançá-lo na calçada.

Thomas entrou em casa e eu fechei a porta, vendo-o caminhar até a cozinha e abrir a geladeira procurando alguma coisa.

-Vou fazer o jantar. -Eu disse, o seguindo e me aproximando dele.

Ele se afastou um pouco para me dar passagem e foi até o balcão, subindo no mesmo e se sentando, um sorriso divertido no rosto. Thomas, nas horas que tive o “prazer” de passar com ele, parecia estar sempre sorrindo... O que me fez ponderar se ele realmente era irmão do Berwald.

-O que você realmente é do meu irmão? -Ele perguntou então, sorrindo, mas com um rosto mais sério.

-Sou amigo. -Eu respondi, tirando algumas coisas da geladeira para fazer o jantar.

-Disso eu sei. Mas só sendo um amigo monumental para ele deixar você morar aqui, mas mesmo assim... Você não parece muito com apenas um amigo.

-E você não se parece nada com ele, sabe?

-Ah, é verdade! -Ele riu, balançando as pernas no balcão como uma criança. -Berwald sempre foi muito calado, mesmo quando éramos pequenos. Eu sempre fui o mais esportista, me dava bem em qualquer atividade física, mas ele sempre foi o mais inteligente. As melhores notas eram as dele.

Estava cortando fatias de queijo enquanto escutava Thomas. Era legal descobrir coisas sobre meu professor. Sobre esse assunto eu tinha uma estranha curiosidade.

-Nós crescemos e ele fez faculdade de medicina enquanto eu não queria nada da vida. Você sabia que ele passou em primeiro lugar em todo o país? -Thomas continuou. -Aos 18 anos ele nem morava mais em casa, morava em seu próprio apartamento, só, e até já tinha uma vaga de emprego garantida. Eu, na época, estava me afundando nas festas nas bebidas e nas drogas.

Virei meu rosto para ele e ele me fitou como se notasse que eu sentia uma leve pontada de pena.

-É, drogas. Mas, se acalme eu já parei com isso. – fungou, coçando o nariz.

-E você parou de verdade? -Perguntei enquanto terminava de fazer o jantar.

-Cara, eu parei sim... Mas tinha uns amigos meus que acabaram me fazendo voltar e... – deu uma pausa, para então me olhar rapidamente e soltar um suspiro. – Ah, deu uma história complicada aí. – terminou, encerrando o assunto a meu ver – Mas eu aposto que quando Berwald chegar aqui, ele vai sacar a arma que ele guarda no fundo da gaveta de cuecas e me matar! – e começou a rir, como se aquilo não o preocupasse.

-Ele não tem armas. – Disse enquanto colocava a comida sobre mesa.

-Você acha que não? Cara, você não conhece o Berwald direito. Ele é caladão e é meio bonzinho, mas tenho certeza que por dentro ele adora um sexo selvagem. -Thomas riu, logo olhando para mim. Fiz questão de virar o rosto para que ele não me vesse corar. Por que todas às vezes aquele assunto tinha que aparecer?

Foi então que eu ouvi a porta de entrada se abrir normalmente e, fechando-a, apareceu Berwald, logo jogando a maleta sobre o sofá assim como o sobretudo como de costume. Porém, no exato momento que ele ergueu o olhar até a cozinha e viu a silhueta do irmão sobre o balcão, uma expressão diferente apareceu em seu rosto.

Encontrou meu olhar, sem entender, e eu levantei as mãos, na defensiva. Então Thomas, que até aquele momento estava de costas para ele, saiu de cima do balcão e se virou, sorrindo simpaticamente enquanto dizia:

-Irmão! Estava com saudades de você!

-O que diabos está fazendo aqui? -Berwald perguntou, e no mesmo segundo, abriu a porta que acabara de fechar e com um dos braços apontou para a calçada. -Saia daqui. Não o quero em minha casa.


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Notas finais do capítulo

Eu sei, eu sei, eu sei, muita gente está querendo me matar pelo meu monumental atraso (eu mesma me mataria se fosse leitora) mas acho que grande parte de vocês sabem que as provas são as maiores inimigas de tempo e inspiração para escrever, então, por favor, me perdoem.

Claro que eu deveria postar um chap mega gigante para compensar esse atraso, mas tampouco tive tempo para fazer algo assim, então... Resolvi postar logo esse de tamanho normal mesmo.

Mais uma vez, por favor, não me matem!

Ah, pelo menos o Den apareceu! As fãs dele, por favor, me digam se eu o narrei bem ou não. Como nunca o narrei antes, acho que posso ter cometido um erro o outro (oumuitoserros).

Enfim, espero que tenham gostado!

Mereço reviews? (e não espancamentos?)