Sem mim sua vida seria sem graça

Era inicio da tarde de domingo, Rose estava deitada no sofá de frente a lareira na sala comunal da Grifinória, seus olhos estavam vermelhos pelo choro. Mas não chorava pelo termino de namoro, ela admitia que seu relacionamento com Peter já estava desgastado há tempos, chorava pelas palavras ditas por ele.

“Todo mundo percebeu, Rose”

Ainda ecoava em sua cabeça.

- Ta ok, feche os olhos e beba isso! – Hugo disse a Lily em pé no tapete de frente a lareira ao lado de sua irmã.

- O que é isso? – a ruiva perguntou desconfiada olhando para um frasco de uma poção roxa – Está querendo me envenenar?

- Sua falta de fé me decepciona – ele disse fingindo estar chateado – Eu disse que te ajudaria a calar a boca e a única forma é você perder a voz, essa é uma poção para sonhar acordado.

- Sonhar acordado? – ela questionou erguendo as sobrancelhas.

- Você bebe um gole e enquanto ouve minhas palavras, com os olhos fechados, visualiza tudo o que digo.

- E onde isso vai ajudar eu perder a voz?

- Você verá! – ele sorriu lhe entregando o frasco – Beba!

Lily pegou o frasco a contragosto e com muito custo bebeu um gole da poção extremamente roxa.

- E agora? – ela perguntou ansiosa.

- Feche os olhos e deixe que as imagens se formulem em sua cabeça – ele sorriu animado sentando-se no sofá ao lado dela, sussurrando em seu ouvido – Você está vestida de preto, com uma maquiagem escandalosa no rosto. Está sendo empurrada e acotovelada por várias pessoas.

- Vê se enxerga onde pisa! – Lily gritou nervosa com os olhos fechados e Hugo segurou sua risada.

- Bem na sua frente, depois de um sacrifício enorme, está o palco aonde sua banda favorita irá se apresentar – ele continuou.

- AS ESQUISITONAS! – ela gritou apertando suas mãos deixando seus nós dos dedos brancos.

- Isso! – ele disse tampando os ouvidos com os dedos voltando a sussurrar no ouvido dela – Agora entra o vocalista...

- AHHHHHHHHHH! Myron Wagtail! Eu te amo! AHHHHHHHHHHHHH! – podia se notar que lágrimas escorriam dos olhos fechados da garota.

“Eu lembrei de tudo, porque esqueci os tampões de ouvido?” Hugo se perguntava com os ouvidos latejando pelas gritos da prima.

- Ok, agora eles começam a cantar...

Ele voltou a falar, mas Lily não o deixou terminar e ergueu os braços no alto gritando:

- CAN YOU DANCE LIKE A THE HIPPOGRIFF? MA, MA, MA, MA, MA, MA, MA!

Hugo não aguentou e enquanto a prima cantava empolgada dançando em cima do sofá, caiu no chão gargalhando de tanto rir.

- Você é malvado – comentou Rose se levantando no lugar que estava.

- Ah irmãzinha, como vou usar isso contra ela no futuro – ele respondeu em meio aos risos vendo Rose deixar a sala comunal.

Rose estava disposta a ir conversar com Peter e pedir desculpas por tê-lo deixado de lado nos últimos dias do namoro, ela acreditava que só tendo a amizade dele pudesse parar de se sentir um monstro. Mas ela não conseguiu sequer dar um passo além do quadro da mulher gorda, pois viu Scorpius parado a encarando.

- O que faz aqui? – ela perguntou surpreendida.

- Pensei que não iria sair nunca... – ele disse ignorando a pergunta dela.

- Deve estar feliz – ela desdenhou o empurrando tentando passar pelo corredor.

- To preocupado com você, o Peter foi um babaca gritando daquele jeito – ele disse segurando os braços de Rose.

- Pare de chamá-lo de babaca, ele não é! Ele só disse a verdade, e dói às vezes ouvir a verdade – Rose o encarou pela primeira vez esquecendo-se de empurrá-lo para passar – Ele disse a verdade, não disse?

O loiro suspirou e não respondeu.

- Ótimo! – ela exclamou raivosa se livrando as mãos dele começando a andar decidida no corredor – Ele só disse a verdade sobre mim!

- Sobre mim também! – Scorpius gritou a fazendo parar de andar – Tudo o que ele disse era verdade, cada palavra.

Rose virou voltando a encará-lo.

- E então...

- Vem comigo – ele sorriu pegando na mão dela a arrastando pelo corredor.

- Não vamos nadar no lago negro e nem adentrar a Floresta Proíbida não é? – ela perguntou receosa.

- Muito melhor que isso – ele respondeu se encaminhando para o terceiro andar.

Scorpius se dirigiu a um ponto específico, de frente a uma estátua.

- Ah que romântico, vamos ficar olhando a estátua da bruxa corcunda de um olho só... – Rose disse chateada.

- Paciência Rose, paciência...

Ele apontou sua varinha na estatua dizendo:

- Dissendium!

A estatua se deslocou revelando uma passagem.

- O que é isso? – ela perguntou surpreendida.

- Passagem secreta para Hogsmeade.

- Como você...?

- Vi seu primo James a usar uma vez, ela dá direto ao porão da “Dedos de Mel”. Vamos! Quero te levar em um lugar... – ele segurou a mão de Rose que retribuiu o aperto.

Eles andaram pela passagem durante alguns minutos até que se depararam com uma porta pequena de madeira.

- Acho que aqui já dá.

- Já dá para o que? – ela perguntou apreensiva.

Não que Rose não estivesse gostando do passeio subterrâneo pelos terrenos de Hogwarts, mas é que ela esperava um cenário bem mais romântico para seu primeiro encontro oficial com Scorpius.

- Você confia em mim? – ele perguntou chegando mais perto dela.

- É...eu... – ela gaguejava inquieta – Eu confio, mas...

Ele sorriu não a deixando terminar de falar. Scorpius fechou os olhos imaginando um lugar especifico e aparatou com Rose.

- Você não fez o que acho que fez! – ela gritou.

- Eu aparatei oras! É para isso que servem as aulas no sexto ano.

- Louco! – ela gritou reparando em volta, estavam em um beco escuro, logo a frente podia se ver uma rua movimentada – Onde estamos?

- Lembra quando te disse que meu lugar preferido era um parque perto de casa? – ela confirmou com a cabeça – Então, aquele é o parque – ele apontou para frente onde se via um pequeno parquinho com árvores de cerejeira rodeando todo o lugar – E ali – ele virou seu dedo para o lado direito – É a livraria que passo a maior parte do tempo.

- E você me trouxe aqui para...

- Encare isso como um passeio, ok? – ela cruzou os braços carrancuda – Eu sei que isso é um pouco exagerado para você que é certinha, Rose, mas você vai amar quando entrar ali – ele voltou a apontar a livraria – Vem!

Scorpius com muito custo conseguiu a convencer de conhecer o lugar lotado de livros, com o argumento que depois de cinco minutos eles voltariam a Hogwarts, mas assim que Rose visualizou o local e viu prateleiras enormes lotadas de diversos exemplares, de variados autores, esqueceu completamente os cinco minutos, e começou a explorar o local com Scorpius ao seu encalço.

Ambos nem viram a manhã acabar e nem a tarde passar, só souberam que a noite tinha chegado, pois a livraria fechou.

- Você é maluca! – Scorpius exclamou andando com Rose pela calçada – Você tem quatro livros desse da Jane Austen!

- A mais a edição de bolso de “Orgulho e preconceito” eu não tinha – ela sorriu folheando seu novo livro – Obrigada por ter pagado para mim.

Ele deu de ombros.

- Estou me sentindo tão urbana hoje – ela sorriu.

- Sim, sua saia, e seu uniforme da Grifinória te deixam bem urbana, você não tira o uniforme nem no domingo? – ele perguntou quase rindo.

- É só que não estou acostumada com Londres, moro em Godric's Hollow.

- Eu sei...

- ...Uma vez viemos de carro para cá... Papai tinha acabado de tirar a carta de motorista e precisava estacionar no Shopping, só que ele não conseguiu, digamos, encaixar o carro no espaço reservado e ficava fazendo diversas manobras enquanto uma imensa fila de automóveis se formava atrás de nossa vaga, os outros motoristas começaram a buzinar frenéticamente e meu pai começou a gritar em plenos pulmões: “Não sabem que é proíbido buzinar dessa maneira, seus trouxas!?”... minha mãe começou brigar com ele falando para meu pai parar de xingar, meu pai contestava dizendo que “trouxas” não é xingamento, finalmente ele desistiu de tentar estacionar e saiu do Shopping, voltamos para Godric's Hollow, mas antes passamos num mercadinho e compramos pizzas, chegamos em casa e fingimos que era a pizza do Shopping. Foi hilário! – ela terminou de contar dando risada.

- Que aventureira! – ele riu.

- Só quero dizer que não sou nova aqui...

- Hum...

- De fato, quando estava pagando o livro, o cara do balcão me olhou meio que suspeitando e eu em vez de ignorá-lo o encarei de volta com meu olhar fulminante.

- Olhar fulminante? – ele olhou pra ela curiosa – Preciso ver isso!

- Não!

- Ah, qual é! Vamos, por favor! – ele insistiu.

- É perigoso! Pode te ferir! – ela contra-argumentou.

- Eu lanço o protego!

- Não! – ela finalizou a discussão.

Ele balançou a cabeça negando:

- Você me desaponta – ela sorriu mordendo os lábios – Está com fome?

- Morrendo!

Eles pararam em frente a uma barraquinha de cachorro-quente e Scorpius pagou por dois lanches.

- Sabe o melhor jeito de comer cachorro-quente?

- O mordendo... – ela respondeu abrindo a boca pronta para comer o lanche.

- Não! – ele roubou o sanduíche – Vamos voltar para Hogwarts que vou lhe mostrar!

Ele a arrastou para um beco escuro e aparatou para o porão da “Dedos de Mel”, entraram pela portinha no chão e começaram a caminhar pelo túnel voltando para Hogwarts.

- O lanche vai esfriar – ela disse.

- Paciência Rose, paciência...

Finalmente chegaram até o castelo, Scorpius saiu primeiro se certificando que ninguém estava no corredor, ajudou Rose a subir e fechou a passagem secreta.

- Agora precisamos ir lá fora, mas antes... – ele anunciou abrindo um armário na parede retirando uma vassoura velha.

- Você sabe todos os segredos de Hogwarts... – disse impressionada - Estou com fome! – reclamou.

- Paciência Rose, paciência...

- Scorpius a levou para fora se assegurando que ninguém os olhava e finalmente quando chegou ao campo de quadribol subiu na vassoura. Ele esticou a mão para a garota – Vem!

- Você está brincando! – ela gritou – Não quer que eu suba certo?

- Qual é o problema? Tem medo de voar?

Ela bufou esticando sua mão montando na vassoura sentando-se de frente a Scorpius com as duas pernas do lado esquerdo.

- Ok! – ele sorriu – A melhor forma de comer cachorro-quente é voando!

Ele subiu rapidamente com a vassoura no ar fazendo Rose gritar.

- Com medo, Grifinória? – ele zombou mordendo o lanche.

- Só não gosto de voar – ela respondeu finalmente comendo o sanduíche.

- Admita, é muito melhor assim!

Rose tinha que admitir, comer nos céus dava enjôo, mas com a companhia de Scorpius “vivendo no limite” era muito melhor comer cachorro-quente assim.

- Muito melhor assim – ela finalmente respondeu acabando de comer o lanche – Qual é o problema dos outros que comem no chão?

- Merlin! – Scorpius exclamou com a boca lotada de pão – Você come muito rápido!

- Só estava com fome – ela se defendeu.

- Oh Droga! – ele exclamou soltando as mãos da vassoura – a mostarda está escorrendo, segure a vassoura.

- O que? – ela gritou pasma olhando o objeto sem ser guiado – Scorpius! – gritou colocando as duas mãos no cabo – Eu não posso guiar a vassoura, a pessoa que está na frente é a que guia a vassoura, está é a primeira regra da aula de vôo no primeiro ano!

- Você está na frente – ele disse colocando o resto de seu lanche na boca.

- Eu estou do lado – ela justificou – Scorpius!- voltou a gritar enquanto via ele lamber os dedos calmamente – Ok! Você vai segurar o cabo e quando assim o fizer eu irei lhe matar! – ela tremia tentando manobrar a vassoura – SCORPIUS!

- Ok! – ele pronunciou voltando a guiar o objeto – Aposto que não me mataria, imagina como seria sem graça sua vida sem mim – ele olhou para ela sorrindo levantando as sobrancelhas.

Rose suspirou e colocou sua mão na face dele, aproximando seu rosto de Scorpius e o beijou de leve nos lábios.

- Rose o que está...? – ele perguntou surpreso se distanciando dela.

- Hogwarts inteira já está falando que estamos juntos mesmo... – ela respondeu.

Ele balançou a cabeça sorrindo abertamente e passou seu braço direito nas costas dela trazendo-a mais junto de si voltaram a grudar seus lábios, mas agora para um beijo de verdade.

Rose se perdia passando a mão pelos cabelos dele amando a sensação que fazia, deixava sua boca se aventurar na boca dele, pareciam que elas se conheciam, que ansiavam por isso há muito tempo, enquanto a língua de Scorpius explorava cada espaço, causando sensações nela que Rose jamais imaginaria sentir. 

Porém, enquanto se beijavam, Scorpius esquecia de guiar a vassoura e quando menos esperava, caíram no chão, em um enorme baque. Seus corpos foram rudemente separados e lançados longe um do outro.